Angelical – Cap 6 – Incidente

Capítulo 6 – O Incidente

Park In estava de bom humor. Não poderia deixar de estar, pois havia conseguido dormir profundamente depois daquela alucinação com HaNa. Nada de ver criaturas sombrias se arrastando pelas paredes, nem agarrando-lhe o braço.

Ji chang wook images on Favim.com

O sono reparou bem mais do que o seu humor, mas também a sua consciência. Estava mais esperto e alerta e agora conseguia fazer uma análise mais profunda de si mesmo.

Ele se sentia atraído por Ha Na. Só agora havia percebido isso. Essa atração só aumentou em seu subconsciente a sensação de culpa pela morte de In Na, sua esposa.

Agora que isso estava mais claro, ele precisava aceitar o fato de que era um homem jovem que tinha desejos e que se apaixonar no momento em que mais se sentia frágil era algo normal, saudável até.

Só o que precisava era manter aquele sentimento em segredo, pois Ha Na era uma criança perto dele e ela mesma tinha expectativas sobre ele. Afinal, ele era seu médico.

Envolver-se romanticamente com ela, era, no mínimo, antiético da parte dele.

Entretanto, uma vez chegando a essa conclusão, Park In começou a pegar leve consigo mesmo. Se evitasse Ha Na, espairecesse e saísse por aí com outras mulheres, tinha a certeza de que esse sentimento que tinha por ela, seria controlado, talvez até extinto dentro de si.

Só que ele não tinha ânimo para sair por aí, nem conhecer outras mulheres.

“Vamos com calma, Park In”, falou ele a si mesmo, “é preciso também dar tempo ao luto… tudo vai ficar bem…”.

Enquanto revivia os últimos acontecimentos em sua mente, nem percebeu que já havia entrado no corredor de Ha Na. Oh Dal ainda estava no mesmo estado catatônico. Babava e resmungava alguma coisa sem sentido. Parecia muito abatido, diferente do dia anterior.

O enfermeiro havia avisado que Oh Dal havia tido um ataque a noite. Foram necessários 3 enfermeiros para contê-lo e aplicar uma alta dose de Zolpidem. Ele deveria ficar assim pelas próximas horas, até estar consciente o suficiente para iniciar algum tipo de conversa, não que fosse fazer algum efeito. Ele não iria criar empatia do nada. Na verdade, o tratamento para Oh Dal resumia-se em mantê-lo calmo, isolado e sem ocorrências.

Já Há Na estava absorta, terminando uma belíssima obra pintada.

Como pintar Pêssegos em pano de prato passo a passo Pintura em tecido -  YouTube

Ao observar, viu que ela desenhava pêssegos. No mesmo instante, lembrou-se da noite passada. Por que, de todas as frutas, tinha que ser pêssego?

– Por que você está desenhando pêssegos? – perguntou Park In, tirando Ha Na de sua concentração.

– Para que você acreditasse… – respondeu ela, simplesmente.

– Acreditasse em que?

– Em mim, doutor…quando irá fazer o que eu pedi? Vá embora! – disse ela, olhando de soslaio para a câmera.

– O que isso tem a ver com pêssego? – perguntou ele, cada vez mais intrigado. Como ela poderia saber sobre a alucinação que ele tivera na noite passada? A não ser que não fosse uma alucinação?

– É a palavra-chave… eu lhe falei ontem à noite! – disse ela, sussurrando.

– Você não me falou nada ontem a noite. Eu estava em casa. Você estava aqui. – retrucou Park In, visivelmente abalado. Sua voz e seu corpo tremiam.

– Sim, claro… eu não saí daqui… – disse ela, olhando para a câmera como se estivesse com medo de falar algo.  – Como poderia? Acho que me enganei, Doutor… só isso.

Park In não sabia se acreditava ou não no que tinha acabado de acontecer. Ha Na falava como se soubesse o que havia acontecido na noite passada com ele. Como se ela mesmo tivesse ido visitá-lo no seu quarto. Mas isso não era possível.

Ele tivera uma alucinação. Uma simples alucinação.

O humor dele decaiu drasticamente. Não conseguiu mais se concentrar no trabalho, pois não conseguia deixar de pensar em Ha Na e no que havia acabado de acontecer.

Não era o tipo de homem supersticioso, que acreditava em coisas sobrenaturais e inexplicáveis. Era um homem da ciência, um médico psiquiatra renomado no estudo da mente humana. Tudo, absolutamente tudo, tinha uma explicação.

E agora… parecia que todo o seu mundo ruía pouco a pouco…

Ele se trancou em sua sala, abriu o armário de remédios e tomou ele mesmo alguns ansiolíticos. De agora em diante, tomaria todos os dias, a fim de estabilizar seu humor e seus pensamentos cada vez mais transtornados. E teria que falar com Peter, já havia passado da hora… Outro médico precisava saber o que estava se passando com ele.

– Ah Ri! – falou ele, no interfone, com a secretária – você poderia pedir ao Dr. Peter para vir à minha sala.

– Ele não está no instituto, Doutor. O senhor não soube? Um tio dele muito distante faleceu e deixou para ele uma pequena fortuna. Ele foi para a cidade do tio, a fim de transferir a herança.

– Droga! – resmungou Park In, em voz alta – Desculpe Ah Ri.

– Sem problemas, senhor. Mas acabei de receber um alerta da Ala B. Parece que houve um incidente e o paciente Choi Oh Dal faleceu, senhor.

Incidente? Aquilo foi muito mais do que um simples incidente.

Park In não sabia o que dizer.

Ele correu para a ala B e agora estava na sala de controle, onde dois enfermeiros estavam. Ele já vira o vídeo do momento do falecimento do “Assassino” mais de cinco vezes e ainda não conseguia explicar exatamente o que havia acontecido.

Ali estava o Assassino e ele parecia completamente dopado. De repente, ele se levantou, aproximou-se da parede que o separava da cela de Ha Na e ali começou a bater sua cabeça.

Só parou quando caiu no chão tremendo em convulsão. No mesmo instante, na cela ao lado, HaNa gritou e parecia extremamente nervosa. Provavelmente escutara o barulho.

Segundos depois, entraram os enfermeiros, só para constatar que o Assassino havia morrido.

– A polícia foi chamada para investigar esse incidente? – perguntou Park In ao enfermeiro-chefe da ala B.

– A polícia não vem a ala B, senhor. – respondeu o enfermeiro-chefe da ala B – O delegado sempre manda o médico legista do IML para buscar os corpos. Todo “incidente” da ala B é registrado na polícia como suicídio.

– Então, não será feita uma investigação? E quanto aos remédios de Choi Oh Dal? Não é prudente verificar se algum remédio pode ter algum efeito colateral que explique o que aconteceu?

– Não é primeira vez, senhor. E enquanto a Srta. Gil Há Na estiver na ala B, outro “incidente” continuará a acontecer.

Park In nem revidou, pois sabia que esse era o comportamento padrão ali em Jihan para todo incidente: culpar a pobre Ha Na. E todo mundo, inclusive a polícia, parecia estar conivente com aquilo.

Ele estava mais preocupado com Ha Na. Ao entrar no corredor da cela B17, viu que o médico legista do IML já estava retirando o corpo de Oh Dal em um saco preto. Na cela do Assassino, a mancha de sangue na parede e no chão indicavam o “incidente” terrível que ali ocorrera.

Entretanto, Park In estava mais interessado agora no que estava acontecendo na sala ao lado. HaNa estava encolhida no canto da parede, sentada sobre sua pequena cama, com o rosto lavado em lágrimas.

– Ha Na… está tudo bem?

Naquele instante, Park In teve uma grande vontade de entrar naquela cela e abraçar sua doce paciente, acalentando-a. Queria muito poder dissipar um pouco da culpa que ela agora sentia.

– Eu já deveria estar acostumada! – balbuciou ela, enxugando lágrimas em seu rosto. – Achei que ele duraria um pouco mais, ele parecia tão forte…

– Esse incidente não tem nada a ver com você.  Você não deve se sentir culpada. Eu lhe trouxe alguns calmantes. Você gostaria de tomá-los? – disse ele, mostrando o pequeno copinho branco de plástico descartável com dois comprimidos coloridos dentro dele.

– Por favor, doutor, eu lhe suplico. Eu não quero que o que aconteceu com o Assassino aconteça a você também. Vá embora. Enquanto o senhor vir aqui, aquela coisa irá atrás do senhor… quer acredite ou não.