Duas Faces no Espelho – 1 – Gêmea

Capítulo 1 – Gêmea

Liz-Ah apertou o pequeno botão na porta de sua limusine fazendo o vidro escurecido abaixar-se até o ponto em que poderia observar melhor o lado de fora.

Um bafo de ar quente impregnou-lhe o ar, mas ela não se importou. Seu sorriso alargou-se, mas não se abriu, retorcendo-se numa careta que misturava graça e sarcasmo.  Não podia simplesmente acreditar que aquela figura lá fora – completamente ridícula – era a sua irmã – gêmea!

Nunca aquela figura poderia ser sua irmã… tinha a mesma face, isso era óbvio: mas Liz-a mantinha a madeixa lisa e brilhante, enquanto os cabelos daquela mulher eram opacos, sem franjas e um pouco mais claros, quase imperceptivelmente mais claros.

Por sua vez, Liz-Ah possuía elegância, graça, sensualidade na sua postura, já aquela mulher aparentava ter sido resgatada de algum mosteiro para moças, pois vestia saia e blusa longas e pesadas naquele calor insuportável.

Nem sabia por que estava tão surpresa.

As fotos que o detetive lhe enviara no relatório não eram diferentes. Parecia que todas as roupas eram iguais, só mudavam as cores: sempre em tons pasteis sem graça.

Kim Ah Lis
Song Hye Kyo And Song Joong Ki - Home | Facebook
Cha Baek Liz-Ah

Como é possível uma mulher de 30 anos, jovem, bela e esbelta, vestir-se assim? Era muito estranho. Aquela mulher era ainda mais magra que Liz-Ah, que fazia dietas rígidas e duas horas de academia por dia para manter-se sempre desejável.

Sorriu. Seu marido ficava à distância, mas precisava continuar linda para seu amante, o terrível Sr. Sun Doo Yo. Liz-Ah sorriu novamente para si mesma, lembrando-se da noite passada. Sun Doo Yo era um homem abominável, mas não nas mãos de Liz-Ah. Nas mãos dela, aquele homem conhecido entre as mulheres como um amante exigente, tornava-se um cordeirinho… Liz-Ah tinha suas artimanhas… aprendeu-as com seu irmão de criação, Han Kyo.

Havia tantas coisas que gostava em sua vida, mas Sun Doo Yo e Han Kyo eram especiais para ela. Sentiria falta deles, sentiria muito, mas não havia outra alternativa. Sua única solução era colocar aquela figura esdrúxula e ridícula no seu lugar e esperar até que tudo estivesse terminado.

Liz-Ah olhou mais uma vez para fora, pensando se seu plano daria certo. Sua irmã não era exatamente como ela, mas era um risco que ela precisava tomar. Então, resolveu abrir a porta, colocou os óculos escuros e aproximou-se do pátio da escola, onde sua irmã estava rodeada de adolescentes.

– Professora Ah-Lis? – falou Liz-Ah, forçando uma simpatia que não fazia parte da sua personalidade.

– Sim, posso ajudar? – falou a garota que tinha a mesma face que Liz-Ah. Ela, entretanto, tinha uma pequena cicatriz na têmpora direita (“talvez maquiagem resolva”, pensou Liz-Ah).

– Certamente poderá me ajudar, será que podemos conversar em algum lugar em particular…?

– Sim, claro… vamos até a minha sala… – falou Ah-Lis, com suavidade.

Quando as crianças se afastaram das duas, Liz-Ah escutou uma menina falar : “Viu só aquela mulher, era a cara da professora…!”.

“Menina esperta”, pensou Liz-Ah, sacou a semelhança na hora. Sua irmã, tão idiota quanto ela pensou que seria, nem havia percebido.

Talvez por conta dos óculos escuros que eram bem grandes e cobriam grande parte de seu rosto. Mas seus lábios e o queixo bem demarcados denunciavam a semelhança entre elas.


Liz-Ah entrou com um certo nojo na sala de Ah-Lis. Era repleta de desenhos, cartazes e fotos de jovens. Pelo que  havia lido no relatório do detetive, Ah-Lis era orientadora escolar durante a manhã, e, a tarde, lecionava artes em duas turmas. Liz-Ah, pelo contrário, detestava crianças.

– Sente-se aqui, por favor. – Ah-Lis disse, apontando a uma cadeira diante de sua mesa. – Em que posso ajudá-la? Você é mãe de algum aluno?

– Oh, Deus… claro que não! – respondeu Liz-Ah, prontamente. Morreria de vergonha se seu filho estudasse numa escola pública. – O que me traz aqui é um assunto pessoal envolvendo nós duas…

– Não entendo? – falou Ah-Lis, franzindo o cenho. Liz-Ah sorriu. Era o mesmo jeito que ela tinha em franzir a testa quando ficava intrigada com alguma coisa.

– Achei que me reconheceria logo, irmã… – disse Liz-Ah, sorrindo forçadamente, enquanto tirava os óculos escuros.

Ah-Lis arregalou os olhos incrédula. Ali na sua frente, aquela mulher elegante tinha a sua face. Os mesmos olhos, o mesmo formato do rosto, dos lábios. O mesmo sorriso.

Entretanto, a mulher era maquiada, compridos brincos e os cabelos lisos e brilhantes. Usava um vestido preto com saia curta e mostrava as pernas bem torneadas, apesar de usar uma meia transparente. Era alguém tão igual a ela e, ao mesmo tempo, muito diferente. Ficou imaginando se eram tão díspares na personalidade.

– Eu nunca imaginei que encontraria minha irmã gêmea… – falou Ah-Lis, depois de muitos segundos.

Dessa vez foi Liz-Ah quem franziu o cenho, intrigada pela reação de não-tão-surpresa-assim.

– Como assim? Você sabia que tinha uma irmã gêmea? Você contou isso a alguém? – perguntou Liz-Ah, imediatamente. Para que seu plano desse certo era extremamente importante o sigilo dessa informação.

– Não… ninguém sabe que eu tenho uma irmã gêmea… ao menos, eu acho que não comentei isso com ninguém. Mas eu sabia sim. A irmã Ye Soo Jung, que trabalha no orfanato em que eu estive, contou que os registros mencionavam duas irmãs gêmeas, mas ela não sabia o que havia acontecido com você… Hoje em dia, não é possível adotar somente um irmão ou irmã sem o outro, mas acho que na nossa época, isso era possível, eu creio. Ou, talvez possa ter acontecido algum problema com os nossos registros para nos separarem…

– Bem… – Liz-Ah sorriu novamente. – Acho que sim. Eu fui adotada por uma família maravilhosa – mentiu Liz-Ah. Sempre detestou sua mãe fraca e seu pai viciado em jogos. Seu irmão era o único por quem tinha algum afeto. – E você? O que aconteceu com você?

– Eu fui adotada também… mas não deu certo…- falou Ah-Lis, parecendo esquiva – e eu voltei pro orfanato.

– Ah… que pena! – falou Liz-Ah, fingindo-se surpresa. O detetive informou no relatório que adoção de Ah-Lis fora conturbada. Ao que parecia, a mãe adotiva era boa e caridosa, mas o pai abusava de Ah-Lis quando a mãe não estava.  Depois de dois anos sofrendo abusos, uma assistente social descobriu e tirou Ah-Lis dos pais adotivos. Eles ainda brigaram na justiça para reavê-la, mas depois disso, Ah-Lis não retornou a nenhum lar adotivo. – Então, você resolveu se transformar numa professora…

–  É. A irmã Ye Soo Jung era uma professora maravilhosa. Ela me ajudou a fazer faculdade. Na verdade, eu fiquei no orfanato, trabalhando como assistente, cuidando das crianças. Depois da faculdade, consegui passar num concurso público e trabalho aqui. Mas não perdi totalmente o contato. Sempre vou aos finais de semana no orfanato, brinco com as crianças, ajudo a irmã Ye Soo Jung… faço o que posso…

– Legal! – falou Liz-Ah, esforçando-se para não cair na gargalhada. Sua irmã era uma santa… uma maldita santa. Que ironia!

– E você? Eu nem sei seu nome… o que você faz… como chegou até mim? – perguntou Ah-Lis, alegre por finalmente ter alguém de sua família. Sua irmã gêmea que considerava sempre uma história inventada, agora lhe aparecera.

– Nossos nomes são estranhamente parecidos. Creio que alguém deve ter nos nomeado antes da minha adoção. Meu nome é Liz-Ah… Cha Baek Liz-Ah. Eu fui adotada pelos Baek, você deve ter ouvido falar deles…

– Ah, bem. Só ouvi falar de Baek Ha-Ri, o homem que foi prefeito há 5 anos atrás.

– Então… Baek Ha-Ri é meu pai… que Deus o tenha! Um dos homens mais amáveis que conheci. – sua mentira doeu na alma. Liz Ah odiava o pai com todas as forças e o amaldiçoava a passar os dias de sua eternidade no inferno.

– Ah.. eu ouvi o noticiário quando ele morreu. Faz uns quarenta dias, não é? Deve ter sido duro para você! Eu sinto muito!

– Você não imagina o quanto! – disse Liz-Ah, fingindo lágrimas nos olhos. – Eu fico lembrando das vezes em que ele me colocava para dormir, lia histórias… eu ainda fico me perguntando quem seria terrível a ponto de tirar a vida de alguém tão caridoso, tão generoso?

– Ah, eu estou me lembrando… ele foi assassinado, não é? – perguntou Ah-Lis, preocupada com a irmã gêmea. Que história trágica a dela. Isso, ambas tinham em comum.

– Um assalto infeliz. Meu irmão Baek Han Kyo quase foi assassinado junto com ele… eu morreria se o perdesse também. – Isso lá era verdade. Liz-Ah sentia um afeto muito grande por Han Kyo. Se fosse ele o atingido e não seu pai, ela não saberia o que fazer.

– E descobriram os assassinos? – perguntou Ah-Lis, curiosa. Sabia um detalhe ou outro dos jornais. Os Baek pertenciam a uma das famílias mais antigas, respeitadas e ricas da cidade.

– Não… foi uma equipe profissional. Assaltaram o cofre da casa. Roubaram as minhas joias e as da mamãe e mais de três milhões de Wones em dinheiro. Sabe, pouco me importa o dinheiro, mas não podia imaginar que naquela tarde fatídica, perderia meu pai… – Liz-Ah apertou os olhos. Esperava que lágrimas pudessem sair de algum lugar da sua alma mas era difícil, pois o ódio que nutria por Há-Ri a impedia. Ha-Ri era um fraco idiota. Liz-Ah herdaria milhões se ele não tivesse perdido metade da fortuna com um projeto social que não resultou em nada. Tudo para que voltasse a ser prefeito. E sua carreira política acabou numa mesa de cassino.

– Bem, de qualquer forma… eu achei você e quero lhe apresentar a minha família, quero que sejamos irmãs de verdade.

– Isso seria um grande prazer… – disse Ah-Lis, sorrindo graciosamente – Eu sempre sonhei em ter uma família. Isso seria muito importante para mim… Você… nem imagina… o quanto.

– Ótimo! Isso é ótimo… eu mal posso esperar… mas, na verdade, eu esperava que você pudesse fazer um grande favor para mim antes.

– Um favor? – perguntou Ah-Lis, intrigada.

– Sim, bem. Nem sei por onde começar. E estou muito envergonhada só em propor algo assim, mas é algo que me faria muito bem, um alívio para minha alma.  – falou Liz-Ah, titubeando propositalmente. Tinha dúvidas se aquele era o momento propício. Talvez sua proposta devesse vir depois de alguns dias, mas não podia correr o risco de Ah-Lis sair contando por aí que tinha uma irmã gêmea. Esse segredo era importante para que nunca ninguém ligasse as duas.

– O que é? Pode falar o que quiser… Se eu puder te ajudar, eu não hesitarei…- falou Ah-Lis, curiosa, e ao mesmo tempo, solícita.

– Sabe, Ah-Lis. Eu sou casada. Já sou casada há três anos com um homem por quem sou apaixonada. Sei que é raro na Coreia, mas mudei meu sobrenome, adicionando o Cha por causa do meu amor pelo meu marido. E temos um filhinho de seis meses chamado Tae Ji. – falou Liz-Ah, escolhendo cuidadosamente as palavras no intuito de convencer sua irmã gêmea.


– Um filhinho! Então eu sou tia! Meu Deus! Que notícia maravilhosa… que alegria você está me dando hoje… nem imaginei que encontraria minha irmã e agora um sobrinho!

– Mas não é só isso… – falou Liz-Ah, irritada com a interrupção.

– Oh, desculpe… continue…

– A verdade é que a situação com meu marido não está muito bem. Eu o amo, muito. Mas ele tem se distanciado de mim e eu descobri que ele tem uma amante.

– Oh, sinto muito, Liz-Ah. – falou Ah-Lis, baixinho, para não interromper.

– Eu estou com a minha alma repartida, pois não sei se devo confrontá-lo, se devo abandoná-lo ou se devo aceitar tudo isso. Estou tão estafada que estou viciada em remédios para dormir e minha vida está um caos. Tenho vergonha de dizer, mas até já tentei pensei em tirar minha vida. Só não fiz isso, por causa do meu pequeno Tae Ji.

– Oh, Deus, Liz-Ah… isso é muito grave. Você deveria esclarecer a situação com seu marido, ter uma conversa franca com ele… – opinou Ah-Lis, querendo ajudar sua irmã gêmea que parecia aflita, sem imaginar que era apenas encenação.


– Esse é justamente o problema. Meu marido é muito bom e amável, mas também é teimoso e machista. Tenho medo de enfrentá-lo e ele me deixar depois disso. Eu não sei se quero deixá-lo. Não sei se suporto perder meu marido depois da perda do meu pai. É por isso que eu preciso de um tempo afastada do meu marido e da minha família para pensar e resolver de uma vez por todas. 

– Eu não deveria me meter, mas eu acho que se afastar dele não vai simplesmente fazer o problema desaparecer.

– Eu sei, mas eu preciso tentar ficar longe dele, para refazer a minha vida e não ficar tão dependente. Minha relação com meu marido é muito tóxica. Preciso muito me afastar. O problema é que não posso me afastar agora.  Daqui a três dias, haverá um evento em nossa casa para homenagear meu pai e celebrar os 49 dias de sua morte. Minha mãe está em frangalhos, meu irmão também. Não posso deixá-los. E ainda há o meu bebê, não posso levá-lo comigo, pois meu marido jamais permitiria e não posso deixá-lo sem ninguém de confiança para cuidar dele. Por isso que pensei que talvez você pudesse ajudar, Ah-Lis…

– E-eu… – falou Ah-Lis, surpresa. – Mas como?

– Somos gêmeas por isso temos o mesmo rosto! Se usarmos as mesmas roupas, tenho certeza de que ninguém notará a diferença. EU QUERO MUDAR DE LUGAR COM VOCÊ. Eu irei para a sua casa e você irá para a minha. Meu marido e eu dormimos em quartos separados há muito tempo, então, não haverá nenhum problema. Meu filho tem uma babá, só precisa estar lá por ele. Você também deve estar na homenagem do meu pai, pra confortar minha mãe, que, nesse momento, precisa da minha presença… Você nem precisa dizer ou fazer nada, só aparecer. É tudo o que eu peço…

– Você quer que eu finja ser você? – perguntou Ah-Lis, desnorteada, sem saber se estava escutando o que estava. –  Quer que eu minta para seu marido e sua família, antes mesmo de conhecê-los.

– Não precisa mentir. Não precisa dizer nada, se não quiser. Fique quieta no quarto por três dias e depois apareça na homenagem do meu pai. Só isso! Não estou pedindo muito, estou, minha irmã? Você é minha última esperança.

– Eu não sei… não sou muito boa para mentir ou fingir…

– Eles nunca saberão, Ah-Lis. – Falou Liz-Ah, tentando convencê-la. “Maldita santinha do araque”, pensava Liz-Ah, lutando para manter aquele rostinho de pobre coitada. – Não seria nenhum sacrifício para você e seria de incrível ajuda para mim. Eu preciso muito de um tempo longe de tudo para pensar e decidir. Por que eu sei que a minha decisão não terá mais volta. Não quero perder meu marido sem antes pensar se é isso mesmo que eu quero, você entende, Ah-Lis? E ao mesmo tempo, preciso dessa distância para me refazer e me preparar para viver sem ele, se nos separarmos. É por poucos dias, até o evento, somente. No máximo, uma semana. Você é minha irmã gêmea! Precisa fazer isso por mim.

– Minha irmã… eu até faria, mas há uma complicação. Eu sou casada também. E não posso abandonar meu marido.

Liz-Ah sorriu internamente. O relatório do Detetive havia escrito umas duas páginas sobre a relação de sua irmã gêmea com o marido, um sujeito chamado Kim Tae Hoon.  Não era à toa que Ah-Lis vestia-se com saia e blusas longas no ápice do verão. O detetive tirou várias fotos do marido de Ah-Lis grudando em seus braços, chutando a sua perna, dando socos no seu estômago. A idiota sofria abusos do marido.

– Eu não me importaria em assumir o seu lugar, Ah-Lis. Você não abandonaria seu marido. Eu ficaria lá por ele.

– Não, você não entende. Meu marido Tae Hoo é violento e não dormimos em quartos separados, Liz-Ah. E ele com certeza vai querer dormir com você, forçá-la, se necessário. – disse Ah Lis, preocupada com o plano de sua irmã gêmea.

– Ele faz isso com você? – perguntou Liz-Ah, fingindo não saber da resposta – Meu Deus, Ah-Lis… porque você não o denuncia?

– Eu o denunciei, Liz-Ah. Três vezes, já. E as coisas não saíram como eu pensei. Por causa dele, fui ameaçada pois ele é policial. É muito respeitado no delegacia onde trabalha, uma vez que já salvou muitas pessoas. Fomos do mesmo orfanato. Depois de muitos anos, nós nos apaixonamos e nos casamos e no início ele era um homem maravilhoso. Mas depois que se tornou policial, começou a ficar irritado, nervoso e a brigar por qualquer coisa. Quando eu tentei deixá-lo, ele começou a ficar violento e até hoje é assim.  Dez anos de casamento, oito anos de tortura. Eu não desejo isso nem a minha pior inimiga, com certeza, não quero que minha irmã gêmea passe pelo que eu tenho passado.

– Ah, irmã… eu sinto muitíssimo, mas… acho que posso lidar com isso. Posso lidar com ele por alguns dias, enquanto você lida com meu marido e minha família.

– Como assim, Liz-Ah… eu te disse… ele é violento. Eu tenho muito medo dele e sempre acho que um dia eu posso acordar morta. Não quero que nada lhe aconteça.

– Não se preocupe com isso, Ah-Lis. Meu psiquiatra me receitou um remédio que adormece até um elefante e que não tem gosto. Basta misturar meio comprimido na comida ou na bebida que ele dormirá como um anjinho e ainda irá ajudá-lo a ficar mais calmo.

– Você acha mesmo? – perguntou Ah-Lis, surpresa. Ela mesma nunca tinha pensado em fazer isso antes. Parecia ser uma boa ideia, mas ainda tinha preocupações em deixar sua irmã com seu marido. Ela conhecia Kim Tae Hoon e sabia que ele era perigoso. Sua irmã poderia ser agredida. Jamais se perdoaria se isso acontecesse.

– Claro que sim, Ah-Lis. E vamos trocar nossos celulares. Ao menor sinal de problemas, uma contatará a outra e destrocaremos. E depois que nós destrocarmos, você vai morar comigo, na minha casa. Vamos novamente a Delegacia denunciar seu marido, duvido que eles não ouçam a esposa do presidente do grupo Cha.

Ah-Lis assentiu com a cabeça, ainda titubeante.  Era um plano arriscado o de Liz-Ah. E achava injusto ficar fingindo para a família dela que em breve seria também a sua. Mas a simples ideia de poder ter uma família e de poder ficar livre do seu marido era tentadora para ela.

Era jogar sua irmã gêmea no fogo, mas ficar alguns dias separada de Tae Hoo era uma ideia reconfortante. Merecia isso… sabia que merecia.

Tinha medo, contudo. Se não desse certo, se seu marido descobrisse e se Liz-Ah não lhe desse o apoio que agora prometia, então teria piorado ainda mais a sua situação com Kim Tae Hoon.  Mas tinha esperanças, Ah-Lis era pobre e os policiais na Delegacia pressionaram ela a retirar as queixas contra Kim Tae Hoon.

Sozinha no mundo, sem ninguém a quem recorrer, Ah-Lis resolvera se calar, aceitar a humilhação e a violência, em silêncio. Já estava tão acostumada que já não sabia o que era viver sem isso. Agora, teria o apoio de sua irmã gêmea, filha do ex-prefeito, esposa de um homem rico. Talvez, aquele fosse o momento que ela esperara durante toda a vida, o momento em que tudo mudaria, o momento em que deixaria de ser sozinha no mundo e pertenceria a uma família que, enfim, poderia amá-la.

Se assumir a identidade de sua irmã gêmea fosse o preço para isso, ela o pagaria…