13 – O poder de Yumi – Descrença

Capítulo 13 – Descrença

– Por favor, socorro, eu preciso de ajuda! – gritou Yumi com todas as forças, batendo na porta da casinha que havia encontrado no meio da floresta. Havia uma pequena estradinha que dava acesso para o casebre, mas certamente, não havia nada nos arredores.

– Socorro, por favor…

Depois de alguns minutos que pareceram horas para a exausta Yumi, a porta se abriu. Um casal de velhinhos estava assustado.

– O que aconteceu minha filha – disse a mulher aproximando-se de Yumi.

– Eu fui sequestrada, preciso ligar para a polícia, vocês têm um telefone?

O casal rapidamente colocou Yumi para dentro da casa e fechou a porta. A mulher a levou até o telefone fixo, enquanto o velhinho olhava pela janela, tão assustado quanto Yumi. Ela ligou o 115 (número da polícia na Coréia do Sul), mas antes que a ligação completasse, ela desligou.

Pensou por um minuto que talvez devesse ligar para o Dr. Park Hong. O advogado a alertara uma vez que Joon Ki tinha aliados na força policial. Por isso, resolveu ligar para o promotor. Por ter vivido quase um ano em proteção de testemunha sob a tutela dele, ela tinha o número dele memorizado. Não demorou muito para ele atender.

– Alô.

– Dr. Hong…

– Yumi – disse ele, reconhecendo sua voz imediatamente – Estava preocupado, você não me ligou. Você está bem?

– Dr. Hong, eu não consegui fugir. Fui atropelada e depois sequestrada por Joon Ki. Por sorte, eu consegui fugir. O senhor pode me ajudar, por favor, doutor?

– Sim, claro. Diga onde você está que eu irei te buscar.

– Vou passar para a senhora que me ajudou, ela vai lhe dar o endereço.

Yumi passou o telefone para a mulher e depois foi até a janela, onde o velhinho estava.

Ela tinha medo que Joon Ki a tivesse seguido, apesar de ter se certificado de que ele estava bem longe.

Apesar do medo congelante que sentia, não demorou muito para se sentir aliviada, ao ver as luzes do farol do carro do Dr.Hong. Quando ele chegou, ela saiu da casa e praticamente se jogou nos braços do promotor.

– Obrigada, doutor, obrigada…

– Não se preocupe, Yumi, você está salva agora! – disse ele, confortando-a com um tapinha em suas costas.

Dr. Hong ofereceu dinheiro ao casal de velhinhos, mas eles recusaram. Depois de abraçá-los em gratidão, Yumi entrou no carro do Dr. Hong que deu logo a partida.

– Então, Yumi, me conte o que aconteceu… – disse o promotor, dirigindo habilmente, pela estradinha de chão.

– Enquanto eu estava tentando chegar na rodoviária, eu sofri um acidente. Eu não lembro direito o que aconteceu, mas acordei no hospital. Eu fraturei o quadril, doutor. Foi terrível acordar no hospital, sem poder andar, totalmente à mercê de Joon Ki.

– O quadril? Você disse que fraturou o quadril? – perguntou ele, olhando para a cintura de Yumi – Isso é impossível, Yumi, se você tivesse fraturado o quadril, como me disse, estaria ainda numa cama, sem poder andar, por vários meses, talvez anos.

– Então, isso é o que é mais incrível. – respondeu Yumi, sem saber se seria capaz de explicar todas as coisas que viu – Aliás, eu vi muitas coisas inacreditáveis. Joon Ki disse que era um xamã. Ele me deu uma poção e eu me curei em três dias.

– Não, Yumi… – disse o Dr. Hong, incrédulo – Você foi muito ingênua em acreditar nisso. Provavelmente, você não fraturou o quadril, deve ter apenas se machucado. Joon Ki é rico o suficiente para comprar médicos e um hospital inteiro se quiser. Eles te enganaram. Provavelmente, deram algum anestésico para que você não conseguisse andar.

– O senhor acha? – perguntou Yumi, repensando tudo o que Joon Ki lhe havia dito.

– Eu tenho certeza, mas não me chame de senhor, Yumi. Por favor, me chame de Hong.

– Mas, isso não foi tudo. Eu abri uma porta, apenas porque eu queria muito que a porta se abrisse. Sabe, com a força do meu pensamento. E, também, eu vi uma mulher levitando.

– Você comeu ou tomou alguma coisa que eles lhe deram?

– Sim, doutor… mas o que isso tem a ver? – perguntou ela, achando difícil convencer o Dr. Park do que havia testemunhado.

– Eles podem ter te drogado e você pode ter tido alucinações ou ter sido facilmente sugestionada. Isso é fácil de fazer, Yumi. 

– Pensando bem, talvez você tenha razão, Dr. Hong.

– Só Hong, Yumi, por favor. Mas afinal, o que ele queria com você, por que te sequestrar e ter tanto esforço para te enganar?

– Eu não sei… não faço ideia. Eu achei que ele iria me matar, por eu ter testemunhado contra ele. Pensando melhor, acho que ele quis mesmo me enlouquecer, já que foi isso o que a defesa dele falou: que eu era uma louca. E eu quase acreditei no que ele falou. Ele disse que eu era uma pessoa especial… que coisa idiota.

– Uma pessoa especial… uhm… acho que Joon Ki ficou obcecado por você… –  respondeu Dr. Hong, continuando a dirigir.

Yumi acordou com uma grande dor de cabeça. No dia anterior, o Dr. Hong ofereceu a ela uma sopa quente e depois ela acabou desabando no sofá do promotor. Como seu corpo todo parecia fraco, imaginou que estava tendo uma espécie de crise de abstinência do que quer que seja que Joon Ki estivesse lhe dando. Agora estava mais convencida de que fora drogada por Joon Ki e tudo o que viu, ou o que pensou que havia visto, era mero ilusionismo e alucinação por drogas.

Como pode ser tão tola a ponto de acreditar numa palavra sequer daquele monstro capaz de matar sem nem pestanejar? Laço, uma ova, Xamã, uma ova, Arcana, bulhufas… ele era um assassino e ela, uma simples testemunha.

Agora, precisava descobrir o que faria a partir de agora. Não poderia tentar fugir da cidade novamente, pois sabia que Joon Ki poderia interceptá-la. Também não poderia abusar da bondade do Dr. Hong que já havia feito muito mais por ela, do que qualquer outra pessoa. Tinha com ele uma grande dívida. Só não sabia o que iria fazer.

– Eu fiz o café da manhã… – falou o Dr. Hong, aparecendo na sala. – Você não parece muito bem. Eu falei que você deveria ter ficado com a cama. O sofá não é muito confortável.

– Acho que você tinha razão sobre eu ter sido drogada por Joon Ki. Acho que estou com crise de abstinência. Não é só uma noite mal dormida. Estou com dores em todo o corpo. Nunca tive uma crise de abstinência antes, mas acho que pode ser isso…

– Uhm… é melhor você descansar. Fique na cama de agora em diante, Yumi. Eu preciso ir até o Tribunal. Tenho um julgamento. Devo chegar só a tarde, então beba bastante água e fique na cama, descansando… Depois nós iremos conversar sobre o que podemos fazer sobre o teu caso, mas eu tenho uma ideia.

– Estava pensando sobre isso, Hong. Eu não quero perturbá-lo mais do que já fiz. Acho injusto com você. Mas eu não consigo pensar em nenhuma solução…

– Não se preocupe, Yumi, apenas descanse… vamos resolver isso juntos.

Quando Hong saiu, Yumi resolveu seguir o conselho dele, comeu alguma coisa e depois seguiu para o único quarto do pequeno mais luxuoso apartamento.

O quarto era enorme, mas estava na completa escuridão. Ela se arrastou até a enorme cama e se deixou cair ali, cedendo a descrença, achando-se uma tola por ter acreditado em tudo o que Joon Ki lhe falara.

Sua cabeça piorava a cada segundo. Parecia que havia uma bomba explodindo em alguma artéria de tão forte que estava.

Quando seus olhos se acostumaram com a escuridão, viu uma réstia de luz vindo da janela que estava coberta por pesadas cortinas escuras. Ficou olhando pra lá por alguns segundos. Parecia que a luz dançava à sua frente, mostrando partículas no ar.

Descrença. E ainda assim, uma leve dúvida.

Levantou-se com muito esforço e se aproximou da janela. Lembrou do que Joon Ki falou para ela sobre a luz.

Novamente, descrença.

Achou tudo aquilo uma besteira e fechou mais a cortina, cortando a réstia de luz. Um segundo depois, pensando melhor, abriu um pouco a cortina e deixando a luz invadir o quarto na penumbra.

Dentro de si, uma batalha entre a fé e a descrença se encerrava.

Levantou a mão, num gesto quase mecânico. Na sua mente, uma pequena batalha era travada. Parte de si, dizia que ela era uma tola por acreditar nas palavras de um psicopata, a outra parte, dizia-lhe para tocar na luz.

descrença

Por fim, esticou a mão até o corte de luz e deixou que o sol iluminasse a palma de sua mão. Alguma coisa aconteceu em todo o seu corpo imediatamente. Uma sensação de bem estar alastrou-se pela sua coluna, expulsando as dores no corpo e aliviando sua cabeça.

Reanimada com aquela sensação, puxou de uma só vez a cortina e se viu tomada inteiramente pela luz do sol.

Ela respirou fundo e fechou os olhos, deixando-se levar pela estranha sensação que lhe dizia que a luz era parte da sua alma, como se fosse tudo o ela precisasse para viver, não era água ou comida, mas a luz, o calor da luz a lhe abraçar o corpo em uma carícia terna e amigável.

E quanto mais se deixava levar, mais forte se sentia. Seus músculos pareciam se modelar e ela sentia que poderia levantar uma bigorna de 100 quilos como se fosse apenas uma pena. Sorrindo, ela abriu os olhos. Percebeu, atônita, que todo o seu corpo estava brilhando, ainda mais forte do que a luz que invadia o quarto.