Capítulo 3 – Presa
Yumi abriu os olhos devagarinho. Uma onda de dor a invadiu, fazendo-a se arrepender de ter acordado. Olhou para o próprio corpo, mas não conseguiu se mover. Todo o seu corpo doía como se mil agulhas estivessem sendo penetradas em sua carne.
Olhou ao redor para tentar saber onde estava. Era o hospital, sem dúvidas, mas estava sozinha no quarto, o que era incomum. Ela não tinha plano de saúde e quando ficava doente, tinha que dividir o espaço com milhares de outros pacientes, até no corredor ela costumava ficar. Será que seu caso era tão grave assim? Nervosa, tentou mover os pés, com medo de que pudesse ter ficado paraplégica. Conseguia se mover um pouco, mas a dor se agravava, simplesmente, não podia tentar mais.
– Ora, ora… então estamos acordados? – falou a enfermeira, que havia entrado no quarto com uma prancheta na mão.
– Não consigo… mexeu meu pé! – reclamou Yumi a beira do choro.
– Fique calma, menina. Isso é comum. Você fraturou o quadril e várias vértebras. Dormiu por uma semana. É normal que tenha perdido o movimento dos pés, mas seu médico falou que a senhorita deve andar em seis ou oito meses.
– Meses?
– Sim, terá que ficar em repouso até então e fazer fisioterapia.
– Oh, Deus! Isso não pode estar acontecendo. – disse ela, sentindo as lágrimas desfocarem sua visão.
– A senhorita teve sorte. – explicou a enfermeira. – A violência do acidente foi grave. A senhorita poderia ter morrido. E teve mais sorte ainda de ter sido o Dr. Eun quem fez sua cirurgia.
– Minha cirurgia?
– É sim. O Dr. Eun não atende qualquer um. Sorte sua que seu plano pagou por ele.
– Meu plano? Mas eu não tenho nenhum plano. – falou Yumi, desesperada – Como vou pagar por isso?
– Não tem? – falou a enfermeira, olhando no prontuário. – Oh, é mesmo. Aqui está escrito que é particular.
– Meu Deus, isso não me ajuda. O único dinheiro que tenho está no bolso da minha calça.
– O seu acompanhante levou seu celular e o dinheiro que estava na calça. Acho que foi ele quem pagou pelo tratamento. A senhorita está no lucro. O seu tratamento já custou mais de um milhão de wones.
Yumi se encolheu ao escutar aquele valor. Certamente o “acompanhante” de Yumi deveria ser o Dr. Park. Na certa, ele havia levado o dinheiro para ajudar no pagamento do seu tratamento. Se fosse isso, devia a vida ao advogado e nem sabia como iria pagá-lo. E ele nem precisava ter feito nada. Ela não era sua responsabilidade. Precisava entrar em contato com ele urgentemente para que ele a tirasse daqui, antes que Tae Joon Ki a encontrasse.
– Eu vim aqui pra preparar a senhorita. O seu acompanhante irá levá-la daqui a meia hora. Normalmente, o tipo de lesão que a senhorita sofreu requer mais tempo no hospital, mas parece que o seu acompanhante já preparou tudo em casa…
– Em casa?
Yumi não podia acreditar que o Dr. Park ia levá-la para casa. Certamente, o advogado fizera isso para protegê-la. Ela estava exposta no hospital. Se ficasse em sua casa, estaria a salvo de Tae Joon Ki e seus capangas. Mas sabia que ele era um importante promotor e que provavelmente isso traria muitos problemas para ele e Yumi não queria ser mais um fardo.
A enfermeira ajudou-a a se vestir. Ela ainda sentia muitas dores, apesar de ter tomado uma dose cavalar de analgésicos. Depois de vestida, a pior parte foi sair da cama para a cadeira de rodas. Dois enfermeiros a ajudaram, e quando estava pronta, Yumi suava de dor, imaginando que os próximos meses seriam de muito sofrimento para ela.
– Vou chamar seu acompanhante…
A enfermeira saiu um instante, deixando Yumi sozinha. Ela não conseguiu vencer as lágrimas, então. Estava ainda pior do que no dia do julgamento. Ela deveria ter conseguido fugir. Poderia estar a salvo em outra cidade, tentando construir uma nova vida. Agora, ela era um estorvo ainda maior para a única pessoa que já fora boa para com ela.
– Ela está aqui… pode entrar…
Yumi enxugou as lágrimas como pôde, apesar de saber que seu rosto deveria estar vermelho e inchado. O problema é que quando a porta do quarto se abriu e Yumi viu quem na verdade era seu ‘acompanhante’, toda a cor que havia em seu rosto simplesmente desapareceu.
– Bom dia, Yumi! É bom vê-la acordada. – disse aquele homem, com um sorriso cordial, como se fossem bons amigos.
Yumi encolheu-se na cadeira de rodas, enquanto suas mãos agarravam o braço da cadeira com todas as forças, a ponto dos nós dos dedos ficarem esbranquiçados.
– Sr. Tae Joon Ki. – falou a enfermeira – Ela já está preparada. Só estou esperando a ambulância.
– Não há pressa. Mas gostaria de ficar um pouco a sós com ela, se não for incômodo. – falou Joon Ki, com um sorriso no rosto.
– É claro, Sr. Tae – falou a enfermeira, com uma voz melindrosa.
– Por favor, não me deixe sozinha com ele. – Implorou Yumi, sem conter as lágrimas que escorriam por ambos os lados do rosto.
– Que besteira é essa, menina? Pois se tem ficado a sós todos os dias com o Sr. Tae? Ele não tem saído do seu lado. É um verdadeiro anjo! Deveria ser mais grata depois de ter feito aquele papelão no julgamento.
Claro, a enfermeira conhecia Yumi e conhecia também Tae Joon Ki. Afinal, aquele foi o julgamento do ano da cidade de Hadong-ri e como Tae Joon Ki era uma figura ilustre da cidade, o maior filantropo que havia na sociedade, Yumi fora reduzida a uma mulher louca e senil que só sabia fazer confusão.
Tae Joon Ki sorria agradavelmente conquistando a enfermeira que lhe retribuiu o sorriso e saiu em seguida, deixando-os a sós.
Yumi baixou os olhos e se encolheu. Não podia fazer nada. Estava completamente frágil e a mercê daquele homem amedrontador. Ele, por sua vez, parecia saber do efeito que causava nela e sorriu. Depois, ajoelhou-se diante dela e colocou uma mão sobre a mão de Yumi.
– Então, você é a testemunha que supostamente me viu assassinando Elborn?
– Eu sei o que eu vi… – disse ela, levantando os olhos para encarar a escuridão nos olhos de Joon Ki.
– Sabe mesmo? – perguntou ele, sorrindo.
– Você sabe que eu tenho a razão.
– Ninguém acredita em você, Yumi. Às vezes, eu penso que nem você deve acreditar em si mesma.
Yumi sentiu um arrepio ao ouvir Joon Ki falando seu nome. Imaginou que ela era tão insignificante para ele que ele já deveria ter esquecido quem ela era, mas pelo jeito, Joon Ki ainda se preocupava com o que ela podia fazer e aquilo era uma ameaça velada.
– O que vai fazer comigo? – perguntou Yumi, trêmula e nervosa. Não podia fazer mais nada a não ser implorar por misericórdia.
– Agora, eu vou levá-la para minha casa e vou cuidar de você. Então descobrirei quem ou o que você é?
Yumi franziu o cenho sem entender o que ele queria dizer com aquilo.
– Quem eu sou? – perguntou ela, sem entender.
– Estou deliciado com sua inocência, Yumi – disse ele, num tom baixo, quase sussurrante. Depois disso, levantou-se e passou a empurrar sua cadeira de rodas pelo o corredor do hospital.
Um médico os abordou e passou uma prescrição para Joon Ki que a guardou no bolso do paletó.
– Eu cuidarei disso, pessoalmente. – disse ele, colocando uma das mãos no ombro direito de Yumi. Aquele contato fez com que ela se encolhesse ainda mais na cadeira de rodas. Ela se sentia como um passarinho frágil e miúdo preso numa armadilha. Joon Ki, por outro lado, era como um gato selvagem e feroz brincando com sua presa antes do abate.