Capítulo 4 – Acordo
Joo Mi acordou sentindo o corpo todo dolorido. Por um segundo, não sabia onde estava. Parecia estar de novo em seu apartamento, mas a dor em seu peito a fez lembrar logo do que havia acontecido. Lembrou-se do acidente e imediatamente em seu pensamento veio a figura de Park Oh Nam com um sobressalto.
– Acordou, bela adormecida? – era a voz grave e debochada de seu captor, avisando-a de que ele ainda estava por perto.
Joo Mi olhou para o lado, tentando entender o que estava acontecendo. A última memória que tinha era a de estar num ônibus a caminho de JinJu, agora estava deitada sobre uma cama. Havia cobertores sobre ela e Oh Nan estava sentado numa poltrona ao seu lado. No chão, as duas bolsas pretas com bandagens e com armas estavam jogadas cada uma a um lado de Oh Nan. Ele estava sentado confortavelmente com uma perna cruzada sobre a outra e recostado preguiçosamente como se aquela fosse sua própria casa. Com parte do quarto em penumbra, o rosto dele estava coberto pelas sombras, o que dava a ele um ainda mais perigoso.
– Onde estamos…? – perguntou ela, com dores para puxar o ar.
– Você desmaiou. – disse Oh Nam mexendo a mão. Só então Joo Mi percebeu que ele portava o revólver. – Achei que você não iria resistir, então invadi essa casa e coloquei você aí…
– Quanto tempo eu dormi?
– Dois dias! – respondeu ele.
– Dois dias? Parecem minutos…
– Não pareceu pra mim… – respondeu ele – você teve febre e alucinações. Disse meu nome algumas vezes. Acho que sou um monstro nessa sua cabecinha.
– Você mata pessoas, Oh Nan… Tortura e mata pessoas…– respondeu Joo Mi, tentando não ser tão agressiva. Não queria aborrecê-lo, nem o provocar, mas essa era a verdade, uma verdade que agora a assombrava. Por quanto tempo mais ela estaria a salvo ao lado dele?
– Tudo bem… eu assumo: sou um monstro. Mas esse monstro aqui é a sua única chance de sobrevivência agora… – respondeu ele, brandindo o revólver e apontando para si mesmo.
– Eu acho que é o inverso. Se eu continuar com você, você vai acabar me matando, não é? Se eu fizer ou disser algo errado, você me mata, não é? – perguntou ela, sentindo o medo cruzando sua espinha.
– Talvez sim… – respondeu ele, como se quisesse provocá-la. – Talvez não… quem sabe.
Ela tentou se sentar, mas seu peito ainda doía.
– Eu achei que estaria morta a esta altura! – disse ela, levando a mão até onde doía.
– Eu também achei, mas você é mais resistente do que eu imaginava… para uma princesinha como você…
– O que vai fazer comigo, Oh Nan? – perguntou ela, ao perceber o olhar dele sobre ela. Era um olhar diferente. Sabia que ele poderia fazer o que quisesse com ela, nas condições em que se encontrava, não havia nada que pudesse fazer, pois estava completamente frágil nas mãos dele. Não queria ser torturada. Esperava uma morte breve e indolor, mas, se tratando de Oh Nan, não era algo a se esperar.
Lembrou-se do dia do julgamento dele e do quanto ele a encarava enquanto ela descrevia as torturas que Oh Nan infligia em suas vítimas antes de matá-las. “Um psicopata sádico, sem remorso e com prazer em torturar física e psicologicamente suas vítimas antes de finalmente as matar”. Agora era ela que estava ali, nas mãos dele: uma vítima. – Vamos, Oh Nan, fale logo, quais são seus planos pra mim? Nem sei se quero mesmo saber… mas…
– Quero fazer um acordo com você. Você é advogada. Gosta de acordos, então vamos fazer um! – respondeu ele, simplesmente, sem largar o revólver na mão.
– Que acordo? – Joo Mi se sentiu um pouco esperançosa, mas não muito, pois ele já fizera isso antes: oferecer esperança para uma vítima, para depois torturá-la ainda mais.
Ele fez isso a Andrea Pineau: uma francesa, diretora da escola que Oh Nan frequentara quando adolescente. Ele a prendeu por dias, deixou-a sem comer e beber e depois disse que se ela conseguisse fugir dele, ele a deixaria viva. Pineau não conseguiu. Ele a perseguiu e decepou um dos seus pés.
Depois, disse novamente que se ela conseguisse fugir, ele a deixaria viva. A tortura continuou até que a mulher não tivesse mais membros para serem mutilados. Oh Nan gargalhava no julgamento enquanto contava essa história, fazendo um dos homens do júri vomitar.
Quanto a Joo Mi, ela ficou mais empenhada do que nunca em buscar a pior pena para ele, por isso, sabia que agora ele iria querer se vingar dela de alguma maneira.
– A situação é muito ruim lá fora. Ruim pra caramba. – iniciou ele, descruzando a perna e se empertigando no assento. – Eu não sei como você conseguiu sobreviver tanto tempo por aí sem ter sido atacada. Quando fugi da prisão, passei no centro de Iksan e vi coisas que você nem imagina. E olha que eu mesmo já fiz coisas que você não imagina. Então, eu sei que você vai precisar de mim se quiser sobreviver. – explicou ele, calmamente.
– Entendi. Eu vou precisar de você, mas o que você quer de mim? – perguntou ela, receosa. Não queria imaginar o que ele poderia pedir a ela. Sabia que a mente dele era sinistra e perigosa, havia sombras em Oh Nam que ela não fazia questão de conhecer.
– O plano é ir para JinJu. Lá as pessoas não me conhecem. Nem quero que conheçam. Eu não seria bem recebido. Então, o que proponho é que nos tornemos um casal.
Joo Mi levantou os cobertores até o queixo com a proposta de Oh Nan.
– Não, princesa. Não dessa forma. – disse ele, sorrindo, enquanto Joo Mi ruborizava – Só iríamos fingir. Eu te protejo e, em troca, você me faz parecer inofensivo. Que tal?
– Só isso? Não vai… você não vai… – disse ela, ainda receosa.
– Não, amor. Primeiro, porque você não faz o meu tipo. Já tive princesas como você. São bonitinhas e gostosinhas, mas chatas e frescas e eu prefiro mulheres intensas e interessantes ao meu lado. Mas a verdade é que você pode vir muito bem a calhar. Se eu chegar a JinJu sozinho, nem sei se vão me deixar entrar. Eu encontrei um homem que veio de lá que me disse que eles estão desconfiados porque um grupo tentou invadir a cidade para roubar comida. Então, eles não vão deixar ninguém que pareça perigoso entrar.
– Você não parece perigoso, Oh Nan… você é perigoso. E ainda, o seu julgamento foi televisionado. Muita gente conhece você.
– Tem certeza?
Oh Nan se levantou da poltrona que estava e se aproximou de Joo Mi. Só então, ele saiu das sombras em que estava até então.
Oh Nan parecia outro homem: Havia arrumado os cabelos sempre desalinhados, tirou o macacão da prisão para colocar um perfeito terno, que lhe cobria as tatuagens dos braços e adicionou óculos que lhe davam ar de intelectual. Parecia ser um amigo advogado ao invés de um perigoso serial killer.
– Está bem, então. – respondeu Joo Mi, achando que de fato, ninguém o conheceria desse jeito. No julgamento, Oh Nam sempre apareceu com os cabelos revoltos e o macacão da prisão – mas eu tenho uma condição muito importante Oh Nam.
– E qual é, florzinha? – disse ele, coçando a têmpora com o cano do revólver.
– Você deve me prometer que não vai me matar, nem matar ninguém mais. Se fizer isso, eu ficarei quieta e não direi a ninguém quem você é.
– Isso não posso prometer, princesa. – respondeu ele, com um sorriso. – Eu prometo não matar ninguém, a não ser que esse alguém tente me matar, ou matar você. Nesse caso, eu terei que matar novamente. É dessa forma que nós sobreviveremos…
Joo Mi deu um muxoxo. Era o melhor que poderia conseguir vindo de Oh Nan. De qualquer forma, aquele acordo era só uma forma de ganhar tempo.
Assim que ele se distraísse, ela fugiria dele e procuraria por ajuda. Tinha certeza de que havia mais pessoas por aí e talvez alguns policiais. Oh Nan precisava ser preso e isolado da sociedade e não integrado a ela.