O ritual
Yumi chorava copiosamente, esfregando as mãos em oração, suplicando para que eles a mantivessem viva.
Horas depois de toda a explicação de Tae Joon Ki, ele a arrastou para baixo, para a sala onde estava Dada, vestida em um outro vestido tradicional coreano de cor vermelha e azul.
A sala que antes era decorada minimalistamente, agora, tinha estandartes vermelhos e talismãs em papel amarelo por todo o ambiente.
Havia também um forte cheiro de incenso e uma tigela com alguma coisa que borbulhava, mesmo sem estar no fogo.
Yumi foi colocada em um cadeira, bem no centro daquele circo armado para sacrificá-la e seus pés foram amarrados, cada um em um pé da cadeira. Depois que a enfermeira terminou de amarrá-los, ela segurou o pulso de Yumi com força e amarrou também cada pulso em um braço da cadeira.
Apertou tanto, que marcas vermelhas surgiram instantaneamente.
Dada dançava e entoava um canto estranho ela balançava uma espécie de bastão prata com vários sinos em uma ponta. Ela nunca havia visto ou estado em um ritual xamânico antes, mas sabia que rituais assim eram comuns na Coréia, só não imaginava que seria sacrificada em um.
– Por favor, eu imploro… me deixem ir… – Como não podia mais juntar as mãos em oração, ela fincava as unhas no braço da cadeira da mão nervosamente, arranhando a madeira.
Yumi começou a gritar “socorro” desesperadamente, como se alguém pudesse ajudá-la. Quanto mais alto gritava, mas alto Dada cantava. Enquanto isso, Tae Joon Ki cravava seus olhos nela, como se pudessem atravessá-la. Ele vestia uma túnica preta que o deixava ainda mais sombrio.
Dada aproximou-se de Yumi com uma adaga. Yumi tentou se movimentar, mas a enfermeira passou uma echarpe vermelha em seu pescoço e a imobilizou para trás, quase sufocando-a.
A xamã enfiou o punhal no pulso de Yumi e seguiu cortando por alguns centímetros. Yumi chorou de dor, mas Dada não parou.
Depois a xamã colocou uma outra tigela sob o braço da cadeira. O sangue fluía a vontade, enchendo com rapidez a tigela. Depois, ela se aproximou da outra tigela onde havia a poção borbulhante e jogou o sangue de Yumi.
Uma fumaça densa e perfumada encheu o ambiente e as narinas de Yumi que começou a passar mal. Sentia que se continuasse a sangrar como estava não iria sobreviver por muito mais tempo.
– Aqui está, Oppa! – falou Dada, entregando a tigela a Tae Joon Ki. – Tem certeza de que quer fazer isso? Você sabe que pode morrer. Podemos parar agora o ritual.
– Preciso ter certeza. Se o pior acontecer, você sabe o que fazer, Dada. – disse ele, bebericando o conteúdo da tigela.
Por alguns segundos, pareceu haver um silêncio sepulcral na sala. Dada e a enfermeira estavam vidradas em Tae Joon Ki, enquanto Yumi imaginava uma maneira de escapar. Sentia-se tonta e enjoada. Se não estivesse sentada, certamente, já teria caído no chão.
De repente, Joon Ki largou a tigela e caiu de joelhos, com nítida falta de respiração.
– Oppa! Oppa! – gritou Dada, desesperada, indo ao encontro dele. – Eu sabia que não poderíamos fazer esse ritual.
– Ele está infectado! – gritou a enfermeira – A garota é um demônio!
– Não… não é! – falou Tae Joon Ki, com dificuldade. Tossindo e se apoiando em Dada para se levantar. – Yumi é uma arcana.
– Não… não pode ser oppa – falou Dada, levando a mão a boca.
– Eu tenho certeza absoluta. O sangue dela é luz… eu pude sentir isso em cada fibra do meu ser…