Angelical – Cap 8 – Feridas

Capítulo 8 – Feridas

Park In acordou renovado no outro dia, mas seu humor não estava melhor. Na tela do seu celular, pululavam mensagens que ele não viu na noite anterior. Também haviam chamadas que ele não escutara.

Simplesmente desmaiou na cama, alucinou e dormiu.

Em Jihan descobriu que um novo incidente aconteceu na noite anterior. No vídeo, a cama de um dos gêmeos simplesmente entrou em combustão do nada. O outro gêmeo conseguiu tirar o irmão a tempo da cama, antes de ser tarde demais.

Os gêmeos foram transferidos imediatamente depois daquilo, com a ordem de Ah Ri, que na ausência de Park In e Peter era quem mandava.

Aquilo tudo era estranho demais para ele aceitar, mas tudo fechava perfeitamente com o que Há Na lhe dissera. Era verdade? Seria verdade tudo aquilo? A coisa, a alucinação, os incidentes… tudo era causado pela coisa que vivia em Há Na. Não… não podia aceitar… simplesmente, não podia aceitar.

– O senhor fará o que eu lhe pedi ontem? – perguntou Há Na, tirando Park In do devaneio.

– Você não me pediu nada ontem, Há Na…. – falou ele, inutilmente. Era óbvio que ela sabia exatamente o que a alucinação lhe falara na noite anterior. Só não sabia como. Que tipo de poder de sugestão era aquele?

– Não sei se o teu ceticismo te protege ou te prejudica, doutor… – falou ela, parecendo mais abatida do que o comum.

– Como você faz isso, Há Na. Como é que consegue sugerir uma alucinação como a que eu tive noite passada?

Ele não deveria dizer nada do que estava em sua cabeça, mas achava que era inútil negar que ele estava sob a influência dela.

– O senhor ainda pensa que sou eu? Não escutou o que eu disse? O senhor não tem visto aquela coisa? Ela não tem te machucado? O que mais precisa acontecer para o doutor acreditar?

– Não, Há Na. Eu tenho sofrido de terrores noturno, eu tenho me automutilado, eu tenho tido alucinações… somente EU…. nada de coisas demoníacas… Mas é você quem tem sugerido isso de alguma forma. Talvez seus desenhos… talvez alguma palavra que desencadeia… eu não sei direito, mas vou descobrir…

– Quando descobrir será tarde demais… – disse ela, levantando-se da cama. Ela estava indo na sua direção, para perto da porta de vidro, quando se desequilibrou, e na mesma hora, caiu ajoelhada. Parecia estar com dores.

– O que foi? O que aconteceu?

– Estou bem… vou ficar bem…são feridas… já estou acostumada.

– Não… você não está bem, Há Na.

Park Hong usou o seu cartão magnético na fenda eletrônica que fechava a cela.

Assim que a porta de vidro se abriu, Há Na gritou e se afastou dele, arrastando-se no chão, até o outro lado da cela, o mais longe possível dele.

– Fique longe… fique longe ou o senhor irá se machucar…

Park In deu dois passos para se aproximar de Há Na, quando estava quase tocando nela, uma coisa aconteceu. Ele foi levitado por alguns metros e em seguida, foi jogado contra a parede do corredor com violência.

Park In ficou alguns segundos parado, apenas aguardando que a dor nas costas sumisse para que pudesse se levantar.

Em seguida, o enfermeiro-chefe apareceu e o ajudou a se levantar.

– O senhor está bem? – perguntou o enfermeiro – eu vi pela câmera o que aconteceu. O senhor não deve tocar na garota. Isso sempre acontece.

Park In olhou para o enfermeiro ainda incrédulo do que havia acontecido.

– Você viu acontecer? Não fui eu que me joguei contra a parede do corredor? Não fui eu que fiz isso, você tem certeza? Eu devo ter alucinado.

– Não, doutor. Se quiser, pode ver o vídeo o senhor mesmo.

Park In olhou para Há Na ainda encostada na parede. Tremendo de medo, chorando copiosamente.

– O senhor não deve se aproximar de mim, doutor, por favor… eu não quero machucá-lo.

– Isso é bobagem. Uma menina que não deve nem pesar 40 quilos, pode arremessar um homem de 90 quilos assim? Não… não…

Ele novamente entrou na cela. Agora, com calma. Deu um passo e depois outro e depois outro, abaixando-se lentamente na direção de Há Na.

– Ha Na… eu vou tocar em você, agora – disse ele, tocando em seu braço. Assim que a tocou, sentiu uma estranha sensação em seu corpo, como se fosse um choque, mas não se afastou. Ela estava sangrando. Havia uma mancha em seu pijama.  – Acho que você machucou suas costas. Eu preciso que você se deite na cama, para que eu possa te examinar.

Há Na parecia surpresa, por ele ainda estar bem. E se levantou. Novamente, ela pareceu tonta e cairia se Park In não a segurasse. Os dois trocaram olhares intensos. Os lábios rosados e inocentes de Ha Na pareciam convidá-lo a beijá-la,mas ele se conteve. Depois, levou Ha Na com cuidado até a cama, onde a deitou de bruços.

Ele levantou o pijama e ficou assustado com o que viu. Feridas… muitas feridas. Feridas inflamadas, antigas e recentes.

O dr. Peter havia falado alguma coisa sobre aquilo.

Ele disse que ela tinha feridas que os pais fizeram quando ela era uma menina e que nunca cicatrizaram.

Entretanto, aquilo era impossível: suas feridas eram muito profundas. Havia marcas de pontos e parecia que os pontos haviam se rasgado várias vezes.

feridas

– Meu Deus, Há Na… a quanto tempo você está assim? – parecia que faltava muito pouco para ver sua coluna vertebral exposta.

– As vezes, as feridas melhoram… às vezes pioram… – respondeu ela, com uma voz quase inaudível. Estava visivelmente abatida e uma lágrima dolorosa escapou dos olhos dela.

Park In enterneceu-se. Queria muito poder abraçar Há Na e confortá-la, dizer que tudo ficaria bem, mas sabia que seria uma falsa esperança para ela.

– Deve doer muito… – disse ele, colocando a mão sobre a cabeça de Há Na. Instintivamente, ele afagou os cabelos dela. Era só uma menina e tantos problemas a rodeavam.

– Sim… dói muito, doutor… eu já estou acostumada… mas as vezes… as vezes… as feridas doem demais… – disse ela, tentando controlar o embargo na voz.

– Tudo bem, Há Na… vamos resolver isso primeiro. – disse ele e em seguida, virou-se para o enfermeiro-chefe – Traga os materiais de sutura, agora, por favor…

– Doutor… é melhor que siga o meu conselho: nós precisamos sair daqui agora… – disse o enfermeiro, tremendo de medo.

– Faça o que eu estou mandando. – disse Park Hong, aborrecido.

O enfermeiro obedeceu, saiu e voltou em minutos. Em seguida, assim que entregou os materiais, saiu correndo antes que Park Hong pedisse para que ele fizesse a sutura.

– Vou ter que fazer isso eu mesmo… – disse ele, irritado com a postura do enfermeiro-chefe. – Não se preocupe, ok? Vou te dar uma anestesia.

Ele aplicou anestesia local em vários pontos de suas costas, limpou as feridas cuidadosamente e suturou todos os cortes profundos. Depois disso, colocou uma pomada para aliviar os sintomas da infecção e da dor e cobriu tudo com gaze limpa. Por último, passou uma faixa pelo corpo esguio e pequeno de Ha Na.

Por último, baixou a blusa do pijama e a virou com cuidado na cama, colocando-a de lado para que não se machucasse mais.

– Ha Na, vou te dar um analgésico. Tome um comprimido agora e um daqui a 6 horas. Não vou deixar para o enfermeiro fazer isso, pois eu duvido que ele entre aqui para te medicar. Amanhã, eu mesmo vou te medicar, está bem? Você vai ficar bem – disse ele, fazendo uma nova carícia nos cabelos de Ha Na, que parecia mais aliviada, quase adormecendo.

– Espere, doutor – disse ela, segurando seu pulso, quando ele fez menção em sair. – Por favor… por favor… faça o que eu lhe pedi.

– Como é que essas feridas estão desse jeito, Há Na? Me diga isso e eu farei o que você me pediu.

– Ele me machucou… porque eu tentei te avisar…

– Ele quem? – perguntou ele, embora já soubesse a resposta.

– A coisa… – disse ela, fechando os olhos… adormecendo ou desmaiando, pois quase não havia diferença. Ela estava pálida, cansada, exausta. Pobre garota.

Ele queria poder fazer algo mais… mas era inútil.

Deixou-lhe a sós na cela, depois de fechar a porta de vidro e sair.