Capítulo 16 – Na Kyo
Tae Gun já havia desligado a luz do abajur quando escutou a voz desesperada de Ah-Lis chamando por ele.
Logo em seguida, escutou dois tiros altos, mas o som vinha de baixo.
Assustado, ele levantou-se num pulo e lançou-se ao corredor, buscando entrar no quarto de Ah-Lis, mas antes que pudesse fazê-lo, sentiu alguma coisa atingir suas costas e desequilibrando-se caiu no chão.
Tae Gun virou-se, rapidamente, pronto para revidar se precisasse, mas percebeu com horror que um homem vestido e encapuzado de preto apontava um rifle para ele.
– Desce! – falou o homem, indicando com a cabeça as escadas.
Tae Gun arqueou as sobrancelhas.
Era uma voz conhecida, mas não conseguia lembrar quem era o dono daquela voz.
Apesar da ordem bem expressa, Tae Gun hesitou e olhou para a porta do quarto de Ah-Lis. Ficou imaginando se poderia dominar o homem e salvar Ah-Lis, mas quando fez menção em levantar, viu outro homem surgindo nas escadas logo atrás do primeiro.
– Vamos, desça. – falou o homem novamente.
Não havia como resistir. Mesmo que dominasse o primeiro homem, o segundo certamente o atingiria. Tomado de medo, olhou novamente para a porta do quarto de Ah-Lis e em seguida para o quarto do bebê.
– Anda… Eun-Na e o bebê irão descer em seguida. – disse o bandido encapuzado.
Tae Gun novamente ficou intrigado.
Como o homem sabia o nome da babá?
Era mesmo alguém conhecido, mas quem? Não poderia ser Han Kyo, a voz de seu cunhado era mais melodiosa e alegre enquanto aquela voz era profunda e séria.
– Se eu tiver que falar mais uma vez, esse corredor será o seu cemitério…
Diante dessa ameaça derradeira, Tae Gun levantou-se e encaminhou-se para as escadas. Ele seguiu na frente e o segundo homem desceu logo atrás dele. Já nas escadas, viu que havia dois homens mortos no hall de entrada e um terceiro homem encapuzado aguardava na sala de estar com uma arma em punho.
– Sente-se e não tente nenhuma besteira!
Tae Gun esperou muitos minutos apreensivo com o que acontecia lá em cima. Seu bebê estava em perigo. Seu filho e Ah-Lis.
Escutou barulho, mas nada que pudesse indicar o que estava acontecendo. Tinha vontade de resistir, mas poderia arriscar ainda mais a vida dos que ele amava. Então, precisava ter paciência.
– Quem são esses homens que matamos? – perguntou o homem que o estava vigiando.
– Novos seguranças que eu contratei! – respondeu Tae Gun. Na verdade, ele julgava que eles eram policiais, mas como Park Hae Soo não estava ali, tinha esperanças de que ele estivesse observando tudo e os ajudasse de alguma forma.
– Acha que sou idiota. Eles não estão usando uniformes. São policiais? – insistiu o homem apontando a arma para a sua cabeça.
– Não… são apenas seguranças que estavam vigiando a mansão a paisana. Só isso. Eu os contratei hoje.
– E há outros seguranças passeando pela mansão que não sabemos? – disse o homem, encostando a ponta da mira da arma na têmpora de Tae Gun.
– Não. – disse Tae Gun, tentando parecer o mais seguro possível. Se o homem sequer soubesse que a polícia poderia estar vigiando, ele poderia ser morto.
No mesmo instante, os dois homens desceram trazendo consigo Eun-Na com o bebê no colo e Han Kyo que tinha um corte feio na testa.
Eun-Na e Han Kyo sentaram-se no mesmo sofá que Tae Gun que pegou o bebê no colo, abraçando-o. Por sorte, Tae Ji dormia tranquilamente, sem saber do perigo que estava correndo.
– Eu conheço o guarda da noite. Era aquele que estava na guarita. Então, quem são esses caras? – falou o homem cuja voz Tae Gun reconhecia.
– Já expliquei para seu comparsa: são seguranças, eu os contratei hoje… – respondeu Tae Gun e em seguida, virou-se para Han Kyo e Eun-Na – Onde está Ah-Lis?
– Quem? – perguntou Han Kyo, confuso. O irmão de Liz-Ah tremia e seus olhos estavam vermelhos.
– Liz-Ah… onde está Liz-Ah? – Tae Gun reiterou a pergunta.
– Não vi! – respondeu Han Kyo. Eun-Na apenas concordou meneando a cabeça – Você viu mamãe? Será que ela está bem? – Han Kyo parecia genuinamente preocupado com Na Kyo, o que a princípio descartava a sua participação naquela emboscada.
– Estou bem! – disse uma voz no alto da escada. Han Kyo, Tae Gun e Eun-Na olharam para onde Na Kyo estava.
Ela descia calmamente a escada. Parecia completamente diferente. Antes ela tinha uma vozinha suave a agradável e parecia sempre tímida e recalcada. Agora, descia confiante e sedutoramente.
– Estou maravilhosamente bem, apesar dos contratempos. – respondeu ela, ao atingir o térreo da mansão, onde eles estavam.
– Então era você o tempo todo? – perguntou Tae Gun, devolvendo o bebê ao colo de Eun-Na.
– Era você o que? O que tá acontecendo? – cochichou Han Kyo, sem entender nada.
– Você sempre foi um idiota mesmo! – falou Na Kyo, aproximando-se de Han Kyo. – Era eu mesmo: eu tentei matar Liz-Ah, ou … devo dizer… a impostora?
– Impostora? – repetiu Han Kyo, sem entender nada.
– Você sabia da troca! – constatou Tae Gun olhando com raiva para Na Kyo. Ela o enganara o tempo todo fazendo o papel de mãe preocupada. Desconfiara de Liz-Ah, mas jamais lhe passou pela cabeça que a elegante esposa de Baek Ha Ri poderia ser uma bandida.
– Eu desconfiava da troca… mas só soube mesmo depois do acidente. É claro que eu tive uma ajudinha.
Na Kyo levantou os olhos em direção a um dos homem encapuzados. Era o que havia batido em Tae Gun no andar superior. O homem deu um sorriso irônico e em seguida tirou a máscara de esquiar.
– Sun Doo Yo! – falou Tae Gun. Era mesmo a voz de Sun Doo Yo que Tae Gun tentara reconhecer antes. – Por que um médico proeminente faria um papel desses?
– Por dinheiro, é claro! – disse o médico debochado.
– Sun Doo Yo! Mamãe… o que é isso tudo? O que vocês estão fazendo? – falou Han Kyo, confuso.
– Eu já tinha sacado a troca das duas garotas no dia da homenagem do velho Baek Ha Ri. – Explicou Sun Doo Yo, com um sorriso debochado no rosto – Eu peguei a impostora no labirinto e forcei um beijo. A idiota agiu como se fosse uma virgenzinha estúpida.
– Que impostora… alguém pode me dizer o que está acontecendo? – implorou Han Kyo que parecia cada vez mais desesperado.
– Além disso, Liz-Ah nunca faltou a um de nossos encontros amorosos. Ah, Tae Gun, sua esposinha tem fogo entre as pernas. Não tem ideia do que nós fizemos juntos. – Do Yoo deu uma gargalhada acompanhada por uma risada esdrúxula de Na Kyo.
– E Ah-Lis, onde ela está? – perguntou Tae Gun, preocupado. Não tinha visto Ah-Lis e havia escutado aquele grito. Será que havia mais algum dos homens de Na Kyo na casa?
– Ah, então esse é o nome da vadia? – perguntou Sun Doo Yo, aproximando-se de Na Kyo e, puxando-a, grudou em seus lábios, num beijo demorado.
A já senhora Na Kyo agarrou as nádegas de Sun Doo Yo e fez questão de puxá-lo para mais perto de si.
Na Kyo sempre foi elegante e nobre. Agora, parecia uma mulher completamente diferente. Anos de convivência poderiam ter ocultado sua verdadeira personalidade?
– Onde ela está? – perguntou Tae Gun, novamente, sentindo o medo se abater sobre cada fibra de seu ser.
– Está morta! – falou Na Kyo, separando-se de Sun Doo Yo para aproximar-se de Tae Gun. – Cianeto. É um veneno bem doloroso. Nem precisei forçar a segunda dose. A idiota estava tão abatida com o acidente que apagou logo.
Tae Gun abaixou a cabeça. Desejava ardentemente que aquilo tudo fosse mentira, pois se fosse verdade, havia falhado em proteger Ah-Lis.
Ela havia sofrido tanto durante toda a vida e agora que poderia ter uma chance de ter uma vida diferente, sob a proteção dele, ele falhara com ela.
Simplesmente não podia acreditar. Não podia acreditar que nunca mais veria aquele sorriso tímido, aqueles olhos sinceros e o jeito frágil e carinhoso que ela tinha.
– Ah-Lis… – balbuciou Tae Gun, olhando para cima, na direção do quarto ocupado por ela e sentiu seus olhos ardendo.
Não era um homem de chorar. Na verdade, nem lembrava da última vez que havia chorado, mas agora não pode controlar-se e sentiu os olhos marejados.
– Quem diabos é Ah-Lis? Que merda tá acontecendo aqui? – falou Han Kyo ao lado dele, tirando Tae Gun do devaneio.
– Você não vai escapar dessa! Eu já sei de tudo, sei que milhões foram desviados de Baek Ha Ri. Foi você esse tempo todo não é? Eu achei que era Liz-Ah, mas era você, não é? – falou Tae Gun, tomado pela raiva.
– A ideia foi muito simples na verdade. – explicou Na Kyo – Quando eu percebi que o idiota do Baek Ha Ri iria desperdiçar todo o dinheiro em ações sociais, eu tive que desviar. É claro que ele sacou e eu tive que matá-lo. – explicou Na Kyo num tom melindroso e perigoso ao mesmo tempo – O problema é que Liz-Ah também descobriu.
– E ela descobriu onde estava o dinheiro, o que foi pior. – respondeu Sun Doo Yo – Ela me confessou enquanto transávamos. Ainda bem, pois eu sabia de todo o plano de Na Kyo.
– Eu fui tola em guardar o dinheiro num cofre de banco em títulos ao portador. Ela descobriu a chave e me roubou e depois colocou Ah-Lis aqui no lugar dela, porque sabia que eu tentaria matá-la. – Só que não era Liz-Ah e sim a impostora que foi fichada na polícia.
– Se ela morresse, Liz-Ah ficaria viva e com o nosso dinheiro. – adicionou Doo Yo.
– Eu não podia imaginar que esse era o plano e inutilmente tentei o maldito acidente. – explicou Na Kyo. – Fiquei uma semana com dor de cabeça por causa do maldito acidente e a idiotinha continuou viva, bem… não por muito tempo.
Tanto Na Kyo, quanto Sun Doo Yo sorriram.
– Foi no hospital que eu tive a prova de que Liz-Ah havia trocado de lugar com uma impostora. O registro médico da impostora era completamente diferente de Liz-Ah que nunca havia quebrado um só osso antes. – explicou Sun Doo Yo. – Então soubemos que havia chegado a hora de tentar algo mais radical, agora que descobrimos que Liz-Ah não é a garota que está aqui.
– Liz-Ah virá essa noite e vai me entregar todo o dinheiro. Depois, eu matarei todos e Liz-Ah será a única culpada. Não é perfeito? – Na Kyo disse, gesticulando como se ela estivesse contando uma piada.
– Esse seu plano não vai dar certo. – falou Tae Gun.
– E porque não? – perguntou Na Kyo e Sun Doo Yo juntos.
– Por que Liz-Ah não vai vir! Por que ela cairia nessa armadilha besta? – perguntou Tae Gun, tentando provocar Na Kyo.
– Ora, querido. Eu mandei uma mensagem ao e-mail da Liz-Ah. Eu sei que ela tem monitorado as mensagens dela. Disse a ela que se ela não viesse até a meia-noite, eu iria matar a coisa que ela mais ama nesse mundo.
– Bem, está enganada! – replicou Tae Gun. – Liz-Ah não liga para mim e nem para o próprio filho. Liz-Ah não liga para ninguém a não ser para si mesma.
– Sinto dizer isso, mas não é você, amor! Nem mesmo esse bebê – explicou Na Kyo e seu olhar virou em direção a Han Kyo. – Liz-Ah é uma filha da puta ingrata, mas na verdade, ela adora esse idiota e sei com certeza que ela virá. Sabe que os dois transaram? Isso é doentio. Eles foram criados como irmãos!
– Nós somos irmãos, sua bruxa! – falou Han Kyo, com olhos lacrimejados. – Tivemos as nossas brincadeiras, mas ela é minha irmã e eu a amo. E se não fosse por Liz-Ah, minha vida teria sido um inferno, pois você nunca foi uma mãe decente. Sempre querendo que fossemos os filhos perfeitos. Que eu não fosse gay e Liz-Ah fosse a esposa perfeita de um magnata.
Na Kyo sorriu, levantou o braço e desferiu um golpe no rosto de Han Kyo que choramingou assustado.
– Cale a sua boca, idiota! Eu nunca quis ter filhos mesmo. Foi Baek Ha Ri me obrigou a adotar vocês.
– Eu não acredito que você mandou matar o papai! Não posso acreditar! Não acredito que você pode ter fingido esse tempo todo.
– Mas isso tudo vai mudar. Eu não aguento mais esse fingimento, essa vida dupla que tenho vivido a tanto tempo. – falou Na Kyo, com uma sombra no rosto que jamais havia demonstrado – É como se eu tivesse duas faces. Duas malditas máscaras o tempo todo. Eu não aguento mais… mas agora vou mostrar a minha verdadeira face, Han Kyo. E vou adorar ver você morrer, você e sua amada irmã… que deve estar chegando em breve – adicionou Na Kyo, olhando para o relógio de pulso. – Aproveite os últimos minutos de vida.