Capítulo 22 – O preço de uma mulher
Ah-Lis observou a limusine do Sr Baek se afastar com uma tristeza profunda no coração. Nunca imaginou que pudesse sofrer tanto ao vê-lo se afastar de sua vida.
As lembranças dos dias que vivera na mansão Baek ainda estavam vivas na sua mente. Nunca fora tão feliz, nunca se sentira tão protegida e amada, como quando pertencia a família de Tae Gun.
E no entanto, parecia que tudo se dissipava no ar.
Ela voltou a seu humilde lar, do qual até sentia falta. Ah-Lis era simples e lhe incomodava um pouco aquela vida fútil que Liz-Ah vivia.
Preferia sua vida simples, o problema mesmo era o que acompanha seu humilde lar: Kim Tae Hoon.
Suspirando com tristeza, Ah-Lis deu três passos que foram o suficiente para cobrir toda a casa e abriu a porta do quarto com estrondo:
– Pode sair! – falou Ah-Lis, observando a irmã, sentada melindrosamente com as pernas cruzadas sobre a cama que costumava dividir com Kim Tae Hoon.
– Você fez o certo! – falou Liz, levantando e passando uma mão pelo rosto de Ah-Lis. Ah-Lis, entretanto, virou o rosto rejeitando aquele contato da irmã.
– Não sei porque está brava consigo. Você sabe que eu só estou defendendo a minha família. – Liz falou com cara de inocente.
– Não me engana mais, Liz. Não está fazendo isso para salvar a sua família. Você está fazendo isso porque é mesquinha e fútil.
– E você é o que? Tentando conquistar o meu marido? Ele é MEU marido, Ah-Lis. – retorquiu Liz, voraz, como Ah-Lis nunca a vira. Ou será que ela sempre fora assim?
– Pouco me importa, Liz. De qualquer forma, eu vou cumprir a minha promessa, se você cumprir a sua. – agulhou Ah-Lis.
– Não se preocupe! Eu prometo que não vou brigar pela guarda do meu filho. Prometo que Tae Ji ficará com o pai – mentiu Liz, sem conseguir evitar um sorriso no canto dos lábios.
Sabia que não tinha chance de tentar tirar Tae Ji de Tae Gun, mas Ah-Lis não sabia disso
– De qualquer forma, isso é temporário. Logo estarei de volta ao lado do meu marido. Afinal, somos uma família e você não é nada para Tae Gun…
– Ok! Eu já entendi. Agora saia e finja que nunca teve nenhuma irmã – respondeu Ah-Lis, com amargura.
– Não seja tão má! – disse Liz, melindrosa – Você estava implorando para morrer, irmã, quando eu te conheci. Eu só quis dar um empurrãozinho.
– Você me enganou! – esbravejou Ah-Lis, sentindo seu rosto ferver. – Fingiu que seria minha irmã e só me manipulou.
– Não se faça de pobre coitada! Eu também perdi muito nessa história: os meus milhões foram confiscados pela polícia e ainda perdi meu irmão que era a única pessoa que eu tinha no mundo. E tive que conviver com aquele brutamonte que você chama de marido.
– Você tinha a mim. Se tivesse me dito a verdade, eu teria te ajudado. – respondeu Ah-lis.
– Como Ah-Lis? Você nem consegue SE AJUDAR. Você está com um homem horrível, violento, agressivo e nem consegue se livrar dele. Como é que você conseguiria me ajudar, hein? Eu tinha uma verdadeira ‘Carminha’ no meu pé. Na Kyo era profissional. Ela só estava com o meu pai por dinheiro.
– E você? Não é por dinheiro que está com Tae Gun? – provocou Ah-Lis, nervosa.
– Eu amo meu marido. Do meu jeito, mas amo o Tae Gun – disse Liz-Ah, irritada. – E agora que Han Kyo está morto, ele é tudo o que me resta e você não vai tirar isso de mim.
– Já lhe disse que não. Agora saia da minha casa. Saia agora!!!
Liz ainda queria dizer algo, mas calou-se e deixou Ah-Lis a sós, que se deixou cair sobre o sofá, a cabeça entre as mãos. Escutou o ranger da porta e imaginando se tratar de Liz-Ah, Ah-Lis levantou-se prestes a gritar quando viu a figura de seu marido em pé, diante dela, com uma expressão de confusão.
– Achei que você tinha saído da casa. Jurava que você havia saído agora mesmo. – falou Tae Hoon.
– Deve ter sido a minha irmã! – esclareceu Ah-Lis, simplesmente, sentindo seu coração disparar. – Teria que contar para Tae Hoon toda a verdade de um jeito ou de outro.
– Você não tem irmã. Se não fosse por mim, você não teria ninguém pra tomar conta de você. – falou ele como se lhe fizesse um favor. – Isso está me soando muito estranho… Aliás, tudo ultimamente está me soando estranho em você. E agora chegou a hora de você começar a contar, antes que eu perca a estribeira…
Ali estava nítida a ameaça que Ah-Lis aguardava desde ontem.
No dia anterior, Kim Tae Hoon havia feito um escândalo no hospital, obrigando o médico a dar-lhe alta e depois, durante o trajeto para casa, seu marido respirava fundo, contraindo o maxilar.
Ah-Lis sabia que logo ele explodiria com ela, mas antes mesmo de chegarem em casa, ele havia sido chamado ao trabalho.
Parando no meio do nada, ele mandou que ela saísse do carro e partiu para longe.
Ah-Lis andou, com um pouco de dificuldade, até a sua casa e ficou ali aguardando o momento que ele chegasse. Mas a noite passou e ele não havia chegado.
Algo muito importante havia acontecido no trabalho, mantendo-o longe dela. Agora, contudo, ali estava ele e ela sabia o que a aguardava.
– Pensa que sou otário? Eu percebi que ultimamente você tem se esquivado de mim, deixado a casa uma imundície. Não tem mais limpado a casa, nem tem feito as coisas da forma que eu gosto.
– Calma, Tae Hoon – disse ela, falando baixo para não irritá-lo.
– Depois, some com o meu carro e eu nem sabia que você dirigia. Sabe onde encontrei o meu carro? Na porra do meu trabalho! Na garagem da PM. Dois PM’s falaram que o carro foi envolvido na merda de um caso de tiroteio.
– Tae H… – ele não dava atenção a ela. Não queria de fato uma explicação. Queria apenas castiga-la. E por algo que Liz andou fazendo. Ela havia pegado o carro do Tae Hoon? Liz era louca?
– Disseram que havia títulos ao portador dentro da merda do carro. Eu tive que pagar uma multa do cacete pra retirar o carro. – Continuou ele, vociferando tanto que até cuspe saia da boca. – Foi quando eu descobri que você havia participado do tiroteio na casa de um grã-fino.
Isso lá era verdade. E ela não poderia esconder.
– Ah, Ah-Lis… você sabe que eu odeio te machucar, mas as vezes, você pede por isso. Estava pensando o que? Que o teu amante rico ia te livrar do castigo que eu vou te dar…?
– Eu posso explicar – disse Ah-Lis, tentando controlar a respiração. Sabia o que a aguardava. Sabia exatamente o que ele faria.
– Então, explica! – disse ele, aproximando dela e agarrando-a pelo pulso que não estava engessado. – Explica logo que a minha paciência tá no limite…
– Foi a minha irmã-gêmea! Minha irmã é que estava com você nos últimos dias. Minha irmã pegou o carro. – disse Ah-Lis, tentando se livrar das mãos dele. O pulso ficou automaticamente vermelho.
– Claro… depois vai dizer que o teu amante é a porra do papai Noel… – disse ele, com um sorriso sarcástico no rosto.
– Me larga, Tae Hoon. Me largue, agora! – falou ela, num tom baixo, mas decidido. Com a outra mão (a do braço engessado), ela tentava se libertar.
– Acabou a palhaçada! Você sabe que eu tenho tentado ser bom pra você. Você sabe que você não tem nada, nem ninguém. Eu tenho sido a única companhia que você tem. – respondeu ele, com a velha e boa chantagem emocional que todo homem agressivo exerce – Mas parece que você gosta de me provocar. Gosta de me ver bravo com você. Gosta de me fazer de bobo!!! Eu deveria ter te mandado pro teu papai… aposto que ele ia dar um corretivo em você.
– Você não é melhor do que ele… – falou Ah-Lis, amargurada.
Ela deveria ter fugido quando Kim Tae Hoon a deixara ontem para ir trabalhar.
Mas o Policial Park Hae Soo deu-lhe ordens para que não saísse da cidade. De qualquer forma, Kim Tae Hoon a encontrou todas as vezes que ela tentou fugir.
Agora era tarde para se lamentar. Mas não queria ser uma vítima nas mãos dele novamente.
Depois de ter estado nos braços de Tae Gun, um homem que a fez sentir que o amor entre um homem e uma mulher poderia ser terno e maravilhoso, era impossível para ela, deixar que Kim Tae Hoon a tocasse novamente.
E por isso, juntou suas forças e empurrou-o.
Kim Tae Hoon cambaleou para trás e olhou surpreso para Ah-Lis.
– Você deve estar louca!! – falou ele, e aproximou-se mais agressivo.
Com agilidade, ela desviou dele e correu para a porta. Quando abriu a porta para fugir dali, ele empurrou novamente a porta, fechando-a com estrondo e levantando o braço, desferiu o primeiro golpe em seu rosto.
Ah-Lis caiu com a violência do soco. Sabia o que a esperava e protegeu o rosto. O chute chegou com força ao estômago, mas ela se encolheu para proteger as costelas. Os outros chutes foram na cocha e nas pernas. Ela choramingava e implorava para que ele parasse, mas aquilo parecia pior e cada golpe parecia mais forte.
– VOCÊ VAI SE ARREPENDER, PUTA!!!
Kim Tae Hoon se preparava para um golpe mais forte no rosto de Ah-Lis quando uma mão surgiu no seu campo de visão. Tae Gun segurou o braço de Kim Tae Hoon e o empurrou.
– QUE MERDA É ESSA? – falou Kim Tae Hoon, olhando assustado para Tae Gun. Raul também havia entrado na casa e os dois olhavam para Kim Tae Hoon.
Tae Gun estava tomado de raiva. Kim Tae Hoon era um homem grande e forte. Era, para dizer o mínimo, uma covardia sem tamanho ameaçar uma mulher pequena como Ah-Lis.
– EU SOU POLICIAL, E ISSO É INVASÃO!! SAIAM DA PORRA DA MINHA CASA! – esbravejou Kim Tae Hoon, mas manteve-se a distância.
– Escute aqui! – falou Tae Gun, segurando a vontade de socar aquele monstro até fazê-lo parar de respirar – Eu sou um homem de negócios! E podemos resolver isso sem violência! Quanto quer para deixar sua esposa em paz e ainda assinar o divórcio? Qual é o preço para entregar sua esposa para mim?
Ah-Lis levantou a cabeça com dificuldade para olhar para Tae Gun e seus olhares se cruzaram. Ela marejou os olhos ao perceber o que estava acontecendo.
– Quer comprar essa daí? – falou Kim Tae Hoon, com um sorriso zombeteiro, olhando para a Ah-Lis. – Essa puta não vale a merda que investi nela. Mas é a minha puta e você não vai conseguir ela assim sem pagar muito dinheiro, grã-fino do caralho! Vai pagar um alto preço… fique avisado.
– Ótimo! – falou Tae Gun, mantendo a classe – Raul, leve a Sra. Kim Tae Hoon para a limusine enquanto eu e o Sr. Kim Tae Hoon chegamos a um acordo.
Raul ajudou Ah-Lis a se levantar e começou a arrastá-la para fora. Ah-Lis tinha dificuldades para andar, mas quando estava lá fora, fez menção em fugir, correr para longe dali, mas Raul a segurou.
– Fique calma, senhora – falou Raul, puxando Ah-Lis para a limusine. – O chefe vai cuidar de você agora!
Quando entrou na limusine, Ah-Lis tentou abrir a porta do outro lado, mas Raul foi mais rápido e a travou.
– Escute aqui, menina! – falou Raul, segurando os pulsos de Ah-Lis – Eu fui fiel a sua irmã e serei fiel a você, e estou fazendo isso pra o seu próprio bem! O chefe vai cuidar de tudo. Você deveria estar grata!
– Eu não sou uma mercadoria! – gritou Ah-Lis, debatendo-se contra Raul. – Me deixe sair… me deixe sair…
– Pode deixar, Raul, já estou aqui – falou uma voz atrás de Raul e quando o motorista saiu, Tae Gun entrou na limusine e se sentou ao lado de Ah-Lis. – Isso foi necessário, Ah-Lis… foi necessário…
– É isso… sou apenas um preço… odeio você por isso! – disse ela, em seguida, sentindo as lágrimas correrem pelo rosto.
Estava dolorida, mas o que sentia na alma era muito pior. Sentia que tudo o que Tae Gun era para ela havia se partido no momento em que ele colocou um preço nela, como se ela você uma coisa.
– Você, Kim Tae Hoon, Liz-Ah.. são todos iguais… são todos iguais… pois é só dinheiro a linguagem que vocês sabem falar…
– Então queria que eu visse o que aquele idiota estava fazendo com você sem fazer nada? Que cretino acha que eu sou, Ah-Lis? Será que você não consegue entender que eu estou tentando te ajudar???
– Se quer me ajudar, me deixe ir embora. Eu vou fugir e você e nem Kim Tae Hoon jamais ouvirão falar de mim…
– Você pode me odiar para sempre se quiser, Ah-Lis… mas jamais deixarei você sair de perto de mim, novamente… JAMAIS!!!