Capítulo 23 – Chá de ternura e amor
Enquanto Raul dirigia com destreza rumo a mansão Trevor, Tae Gun olhava com preocupação e ternura para Ah-Lis, encolhida a um canto da limusine.
Ela chorava baixinho, esfregando a bochecha onde uma grande mancha roxa começava a aparecer.
Ele não sabia o que fazer para aliviar a dor que ela sentia agora. Sabia que ela desconfiava de todos a sua volta e com razão. Já havia sofrido e sido magoada muitas vezes.
Não foi a intenção dele tratá-la como um objeto de compra-e-venda, mas era a maneira mais rápida e fácil e tirá-la da situação em que ela se encontrava.
Ele bem gostaria de ter socado Kim Tae Hoon, mas ele era policial e Tae Gun poderia ser preso e Ah-Lis poderia voltar para as garras daquele mostro.
Ele preferia ver Kim Tae Hoon preso ao invés de ter dado muito dinheiro de bônus para um troglodita que batia na própria esposa infinitamente menor e mais fraca do que ele.
Contudo, Ah-Lis havia chegado a uma situação limite e como não deixou que ele a ajudasse, forçou-o a tomar uma medida drástica.
A irmã Ye Soo Jung havia alertado que Ah-Lis era uma mulher de princípio.
E ele sabia o que ela pensaria dele, mas não podia simplesmente deixar que Kim Tae Hoon colocasse as mãos nela.
Raul parou na frente da mansão e antes que Ah-Lis tentasse novamente fugir, Tae Gun segurou-a pela cintura e guiou-a para dentro. Ela estava gelada e Tae Gun gostaria de poder abraçá-la e confortá-la, mas achou que uma mão na cintura dela era todo o contato que ela poderia aceitar naquele momento.
Quando entraram na sala de visitas, Eun-Na, que assistia a televisão, levantou-se e aproximou-se de Tae Gun e Ah-Lis.
– Sr. Tae Gun, que bom que está de volta do hospital. O bebê estava com saudades. – falou a babá, simpática.
– Está dormindo? – perguntou Tae Gun olhando para cima, em direção ao quarto de Júnior.
– Sim, como um anjinho…
Foi então que Eun-Na olhou para Ah-Lis e percebeu a mancha roxa no rosto dela.
– Tudo bem, Sra. Cha? – perguntou Eun-Na, com preocupação.
– Esta não é Liz-Ah, Eun-Na. Ela é Kim Ah-Lis, é a irmã gêmea de Liz-Ah.
– Mas são iguais… – falou Eun-Na e como se tudo fizesse sentido, adicionou – Então, a senhora é que estava… quando o bebê teve a infecção no ouvido… foi a senhora que…
– Sim, Eun-Na… – falou Tae Gun, num tom grave, quando Ah-Lis virou o rosto, enxugando as lágrimas com as costas das mãos. – Estou confiando isso a você, mas deve manter essa situação em segredo, por enquanto.
– Sim, senhor… quer que eu prepare um chá para ela, Sr. Tae Gun? – perguntou a babá, prestativa.
– Acho que sim, Eun-Na… erva-doce com camomila, se não se incomodar…
Depois disso, Tae Gun, puxou Ah-Lis levemente para si e guiou-a para cima. Tentava fazer tudo com ternura e suavidade, mas Ah-Lis parecia se encolher a cada degrau que subiam.
– O que vai fazer comigo, Sr. Cha? – perguntou Ah-Lis, sem conseguir segurar as lágrimas que vertiam livremente pelo rosto.
– Já lhe disse que não sou uma canalha, Ah-Lis… – falou Tae Gun, envolvendo-a ao perceber que ela intencionava se esquivar dele.
– Então para que me comprou? – perguntou ela, quando chegaram ao quarto que fora de Liz-Ah por alguns anos.
Tae Gun acendeu a luz do quarto, puxou as cobertas e fez Ah-Lis se deitar, cobrindo-a novamente.
– Um dia, você vai entender que o que eu fiz foi para o seu bem. – falou ele, preocupado, puxando a cadeira da cômoda para sentar-se no lado dela.
Ele aproximou sua mão dela para tocar levemente no lugar onde Kim Tae Hoon a havia golpeado. Ela se encolheu o máximo que pôde na cama, pois temia que ele a machucasse.
– Ah-Lis… você não imagina o quanto eu queria ter evitado isso… – disse ele, escorregando o dedo levemente por seu rosto – Eu nunca mais vou deixar que ninguém te machuque, Ah-Lis, por favor, confie em mim… Eu sei que já te machucaram além da conta, mas eu não vou fazer isso.
– Você está mentindo! – falou Ah-Lis. Uma lágrima escorregou de seus olhos e caiu sobre a mão de Tae Gun que acariciava seu rosto. – Você vai me machucar também… é só uma questão de tempo.
– Senhor… aqui está o chá! – disse Eun-Na, entrando no quarto, entregando o chá nas mãos de Tae Gun e saindo em seguida.
Tae Gun colocou o chá sobre a cômoda. Se pudesse temperar a bebida com sua ternura, com certeza o faria, mas era difícil para ela perceber sua verdadeira e honesta intenção de protegê-la.
Depois de um tempo, levantou-se e saiu também do quarto, deixando Ah-Lis sozinha.
Ela levantou-se no mesmo instante e aproximou-se da janela. Uma vez havia saído por ali. Saiu para salvar a Tae Gun e ao bebê, acreditando que ele era um bom homem.
Com um pouco de dificuldade, abriu a janela, sentindo o vento açoitar seu rosto já machucado, fazia menção em pular para o parapeito, quando sentiu uma mão segurando-a pela cintura.
– Eu sabia que tentaria isso! – falou Tae Gun, fechando de novo a janela. Dessa vez, ele passou uma corrente pelo corrimão e trancou-a com um cadeado. – É para sua própria proteção, Ah-Lis…
Ah-Lis ficou ali, olhando a janela trancada com uma profunda tristeza e sentou-se no chão, movimentando-se para frente e para trás, como se estivesse em choque.
Tae Gun olhou para a cena com um aperto no coração.
Como provar a Ah-Lis que ele a amava, que ele só queria protegê-la, que não lhe faria mal?
Só o que ela tinha conhecido até agora era gente ruim que a havia enganado. Tocado, ajoelhou-se do seu lado e tentou abraçá-la, mas ela gritou e se afastou dele, encolhendo-se num canto do quarto.
Como passar a ela toda a ternura que sentia? Como abrandar seu sofrimento?
Tae Gun levantou-se, aproximou-se de Ah-Lis e agarrando-a pelo pulso, levantou-a no colo.
Ela novamente resistiu, gritando e tentando afastá-lo dela, mas ele a colocou novamente na cama e a cobriu com os cobertores. Ela agora estava totalmente transtornada, mas não queria que ela passasse a noite encolhida num canto do quarto.
– Tome o chá! – disse ele, firmemente, estendendo-lhe a xícara.
Ela encarou a xícara por vários minutos, antes de segurá-la. Da última vez que aceitara chá de alguém, fora envenenada.
Em seguida, como se estivesse vencida e cansada demais para pensar, começou a bebericar o conteúdo de pouquinho em pouquinho, mas logo bebeu todo o chá.
Ele tirou a xícara dela, mas permaneceu ali, vigiando-lhe o sono. Aos poucos, viu que os cílios dela começaram a pesar e depois de muitos minutos, ela finalmente adormeceu.
Enternecido, Tae Gun deitou na cama ao lado de Ah-Lis beijou sua testa, abraçando-a e certificando-se de que estava totalmente coberta e aquecida.
– Você vai ficar bem, Ah-Lis… sei que vai… – sussurrou ele nos ouvidos dela com ternura e, antes que pudesse controlar o cansaço que se abatia sobre ele, também adormeceu.