Duas Faces no Espelho – 29 – Culpa

Capítulo 29 – Culpa

– É aqui? – perguntou Park Hae Soo para o Sr. Trevor quando o veículo parou em frente ao orfanato.

– Sim. É aqui, sim. No outro dia a porta da Secretaria estava aberta – falou ele, apontando para a única porta de entrada do orfanato que estava cerrada – É meio cedo para estarem fechados, não? – falou Tae Gun dando uma boa olhada no prédio cercado por muros altos.

No outro dia em que viera falar com a Ir. Ye Soo Jung, ele pôde escutar o barulho de crianças brincando no pátio interno. Agora parecia tudo muito silencioso – Você não acha que…

– Nhá! – falou Park Hae Soo, balançando a cabeça – Kim Tae Hoon era um policial esperto. Ele não as traria aqui, no único lugar que poderia ser ligado a ele, além da casa, traria?

Tae Gun e Park Hae Soo trocaram olhares. Aquela pergunta havia ficado no ar.

– Melhor pedir reforços – disse Park Hae Soo, segurando o interfone do rádio do seu Impala 79 modificado para receber a sirene e o rádio da polícia. – Central, aqui quem fala é Park Hae Soo, distintivo número 856243, responda!

– Aqui é a central, Tenente Park Hae Soo – respondeu uma voz feminina. – Em que posso ajudá-lo?

– Tenente, é? – perguntou Tae Gun com um sorriso.

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– Eu fui promovido! – falou Park Hae Soo, tampando o interfone com a mão para responder a Tae Gun. Em seguida, falou novamente no interfone – Central, estou entrando no orfanato “Santa Luzia” na rua St. Augustus, número 38 para investigar um possível 152 em andamento. Solicito reforços, copia?

Em seguida, a voz do outro lado respondeu:

– Aguarde, estou mandando reforços. Câmbio.

– Certo, câmbio! – disse Park Hae Soo, colocando o interfone novamente no gancho.


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– Isso tudo é culpa sua! – esbravejou Liz-Ah, depois de meia hora chorando nos braços de Ah-Lis. – Se eu morrer, terá sido sua culpa!

Ah-Lis deu um muxoxo, levantou-se e afastou-se de Liz-Ah. Em seguida, aproximou-se da Ir. Ye Soo Jung, mas esta também estava com uma expressão pesada no rosto.

– Ah, filha, quantas vezes eu tentei te ajudar, quantas vezes quis te tirar da situação em que você estava. Por que sempre foi tão orgulhosa? Por que deixou que chegasse a isso?

– Irmã, a senhora fala como seu eu realmente tivesse culpa pelas loucuras de Kim Tae Hoon – falou Ah-Lis, olhando aturdida para a Ir. Ye Soo Jung.

– De certa forma, tem.

Então Ah-Lis franziu o cenho, sem entender onde a irmã queria chegar.

– Você deveria ter dado um basta nisso há muito tempo atrás. Há quantos anos já vive nesse pesadelo que chama de casamento?

– Eu tentei irmã! – falou Ah-Lis, numa vozinha inaudível.

A Ir. Ye Soo Jung era quase uma mãe para Ah-Lis e sua opinião lhe importava muito e achava que estava sendo injusta para com ela.

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– A senhora sabe o que aconteceu comigo quando eu tentei dar queixa contra ele. Ko Eun Min e a senhora viram como eu fiquei. Vocês não tem ideia dos horrores que tive que aguentar. Como eu poderia ter dado um basta?

– IDO EM FRENTE, AH-LIS! É o que deveria ter feito. Kim Tae Hoon só fez o que fez porque você recuou, você teve medo. Se tivesse realmente dado queixa e denunciado, talvez hoje você estivesse livre e ele preso e ninguém teria que estar aqui, a mercê de um lunático. E o garotinho não precisava morrer…

Aquilo atingiu em cheio Alis que se sentia mal por tudo.

Ela tinha culpa, sim, mas não era tão fácil como elas pensavam.

– E talvez eu estivesse MORTA, irmã! – defendeu-se Ah-Lis. – Ele iria me matar, a senhora sabe que ele iria me matar.

– Talvez sim. Mas ao menos você morreria com orgulho, com a sensação de que sua morte não foi em vão, pois estaria lutando por um ideal contra aquilo que julgava ser injusto. Agora, você vai morrer de qualquer jeito, Ah-Lis. Mas como um cãozinho assustado.

– Irmã?? – reclamou Ah-Lis, então assustada com a agressividade da religiosa.

– É melhor morrer com confiança, sendo fiel a si mesma, do que ter uma semivida, com medo da própria sombra.

– Eu sou fraca, Irmã – falou Ah-Lis, sentindo raiva da irmã por estar dizendo tudo aquilo e de si mesma, pois no fundo, sabia que era verdade. – Mas eu não sou responsável por isso…

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– Sim, Ah-Lis, você é a responsável e não, você não é fraca.  Se há algo que eu aprendi nessa minha vida, querida, é que Deus só nos dá a cruz que podemos carregar. Seu fardo é pesado e eu não o queria para mim. Mas se isso aconteceu a você é porque de alguma maneira, você tem a força necessária para lidar com isso e para dar um basta nessa situação.

Em seguida, Alis enxugou as lágrimas, sentindo o peso daquela culpa. Será que Tae Hoon tinha algum sentimento de culpa? Por que culpabilizar as vítimas? Esse era sempre o que todos fazem, porque é fácil: culpar a vítima.

Ela era uma vítima também. Odiava ser, mas o era.

– Coragem, filha, é preciso ter coragem para enfrentar as consequências de nossos atos. Não ter ido em frente naquela queixa causou essa situação. E talvez pessoas inocentes possam morrer hoje, como o pobre garoto.

Ah-Lis olhou para irmã totalmente transtornada porque sabia que a irmã tinha a razão. Quantas vezes quis enfrentar Kim Tae Hoon sem ter sucesso. E, no entanto, conseguiu enfrentar Sun Doo Yo quando Tae Gun estava em perigo.

Aquilo lhe dizia muito, pois lhe dizia que Ah-Lis não ligava se ela estivesse em perigo, mas se outra pessoa que ela amasse estivesse sob ameaça, ela sentia a força necessária para enfrentar o que precisava enfrentar.

Olhou para fora tentando divisar uma ave que cruzou o céu. Queria poder ser aquele pássaro. Queria poder voar livre e solta, sentindo nada além do vento em seu rosto. Depois, Ah-Lis voltou a concentrar-se no velho rosto da irmã que olhava para ela com uma seriedade de assustar.

Resoluta, Ah-Lis cruzou a sala e em seguida bateu com força na porta que os mantinha presos ali.

– KIM TAE HOON! ABRA ESSA MALDITA PORTA, AGORA!!!

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– Você escutou isso? – falou Tae Gun e no minuto seguinte, saiu do carro, prestes a correr para o orfanato, quando sentiu a mão de Park Hae Soo o segurando pelo braço. – É a voz da Ah-Lis, eu sei que é!

– Tudo bem, amigo, mas você não vai entrar lá. Vamos esperar pelos reforços. – falou Park Hae Soo, em seguida, tentando puxar Tae Gun, mas antes que pudesse dissuadi-lo, Tae Gun desvencilhou-se dele e, correndo, esbarrou com toda a força na porta de entrada, usando o ombro para tombá-la.


– AH-LIS!!! AH-LIS!!! – sumiu ele, gritando para dentro do orfanato.

– Maldito, ricaço mimado! – falou o tenente Park Hae Soo, tirando a Colt automática calibre 38 com pente de 10 balas no gatilho, escondida sob o paletó.

Em seguida, cruzou a rua, aproximando-se do orfanato.