Capítulo 3 – Labirinto.
Ah-Lis acordou cedo. Nunca tivera uma noite tão maravilhosa. Os lençóis eram macios, os travesseiros cheirosos e suaves, além disso, o tempo que passara ninando seu fofinho sobrinho fora extremamente prazeroso.
Entretanto, o que mais lhe comprazia era a ausência de Kim Tae Hoon. Só isso, dava-lhe uma paz incomparável, mas tinha preocupação com a irmã. Teve que resistir a tentação de ligar para ela.
Geralmente, as notícias ruins chegavam muito rápido, então, se ela não havia ligado até aquele momento, é porque conseguira lidar bem com Tae Hoon, por isso, tranquilizou a si mesma.
Levantou-se e arrumou a cama, terminava de alisar a última dobra da colcha rendada quando Tae Gun surgiu no quarto.
A princípio ele veio falar algo, mas ao ver que ela arrumava a cama, parou boquiaberto.
– Eu vim acordar você… sua amiga Yoona está aí… parece que o resultado do divórcio saiu e ela está chorando lá embaixo, fazendo o maior escândalo… Sabe, em três anos de casamento, nunca vi você acordando antes das 10 e nunca vi você fazendo sua própria cama. Acho que algo de muito importante está acontecendo com você… – falou Tae Gun, visivelmente desconfiado.
– Er… – Ah-Lis não sabia o que dizer. Sua irmã não falou nada sobre horários, agora percebeu que ela não lhe falara porque não havia horários na vida de sua irmã. E também sua irmã não lhe falara nada sobre essa tal de Yoona, como amiga. – São nove horas… já é tarde pra mim – falou Ah-Lis, sorrindo graciosamente. E passando por ele, saiu do quarto.
Já no hall da escada viu a tal amiga no sofá no piso inferior. Era uma mulher loira e bem vestida, mas chorava exageradamente, chacoalhando todo o corpo. Han Kyo estava no sofá ao lado da amiga de Liz e, olhando para Ah-Lis, fez uns trejeitos gozando da mulher que parecia desesperada.
Ah-Lis desceu rapidamente a escada e quando pisou o último degrau, a amiga já estava sobre ela, enlaçando seu pescoço.
– Ah, Liz… Liz-Ah… você não vai acreditar… – disse a mulher chorando. – Nós precisamos conversar. Será que podemos conversar em particular?
Ah-Lis olhou para Han Kyo que ria ironicamente, imitando a mulher às suas costas.
– Claro, vamos até meu quarto. – falou Ah-Lis, querendo ser amigável.
– No seu quarto? – falou a mulher, estranhando a sugestão. – Sempre vamos ao ateliê.
“Ateliê?”, pensou Ah-Lis, desconcertada, “Liz-Ah não comentou sobre nenhum ateliê”.
– Er… claro, vamos… você na frente. – falou Ah-Lis, nervosa. Felizmente, a mulher passou a sua frente e entrou por um corredor que havia embaixo da escadaria. Passaram por muitos aposentos que Ah-Lis teria que visitar depois até chegar a um enorme ateliê.
Era um quarto grande, recheado de telas e quadros pendurados por todo o lado.
Havia tintas e telas inacabadas e muitos dos retratos mostravam Liz e Han Kyo juntos, abraçados. Finalmente havia descoberto o que fazia sua irmã: era uma artista plástica… e seus quadros eram belíssimos. Cores em tons escuros com jogo de luz nas faces retratadas. Mas eram todos quadros tristes. O rosto da irmã aparecia sempre com um olhar distante e entristecido. Aquele lugar era mágico, e, tocada pela aura daquele ambiente, seus olhos encheram-se de lágrimas.
– Ah, amiga, está chorando por mim? Eu não podia imaginar que você ficaria tão chateada quanto eu. – Eun Ki falava, ainda banhada em lágrimas. Parando uma vez ou outra para respirar ou assoar o nariz num pequeno lenço – É um desastre. Eu estava quase ganhando. Arrancaria milhões daquele muquirana. Mas o desgraçado apareceu com fotos de mim com o Ruan. Que droga, Liz-Ah, como Bae Gil descobriu que eu tinha um caso com o Ruan? Somente eu e você sabíamos. Você não diria isso a Bae Gil, não é?
– Não.. não, óbvio. Eu jamais faria isso a uma amiga. – falou Ah-Lis, sinceramente, mas não tinha a certeza se Liz-Ah seria capaz de fazer algo do tipo.
A conversa com Eun Ki durou quase toda a manhã. Ela chorou e reclamou e ficou contando detalhes sobre seu caso com um tal de Ruan que era seu motorista e segurança e, não por coincidência, era irmão de Raul, o motorista de Liz-Ah e único que sabia quem era ela.
Muito perto do meio-dia, uma mulher de meia idade veio anunciar que o almoço estava servido. Ah-Lis convidou Eun Ki para almoçar, mas ela resolveu ir embora.
– Eu preciso ir. Preciso empacotar tudo e voltar para o apartamento de mamãe, afinal. Bem, só passei aqui para conversamos mesmo. Mas vou embora um pouco preocupada com você, você está distante, distraída, magra e esse cabelo cheio de pontas? O que está acontecendo com você, querida? Você precisa tomar cuidado com as dietas malucas que você está usando e não deixe Tae Gun desconfiar do seu affair, não seja idiota como eu.
Ah-Lis arregalou os olhos surpresa com aquela informação. Estaria Liz-Ah tendo um caso com alguém, assim como Eun Ki?
Sua irmã deveria ter lhe dito.
Mas é claro, poderia ser apenas uma brincadeira de Eun Ki e, por isso, sorriu, abraçou a nova amiga e deixou-a partir.
Foi fácil descobrir onde era a sala de jantar, bastou escutar o tilintar dos pratos e talheres, mas ficou um pouco apreensiva ao entrar na sala, por ver que todos já almoçavam. Na mesa, Tae Gun estava sentado a cabeceira. No lado direito, havia um lugar vago que provavelmente seria para Liz-Ah. Defronte ao lugar de Liz-Ah, uma senhora de meia idade estava sentada. Era a mãe de Liz-Ah, uma mulher muito elegante, magra, de cabelos loucos e olhos verdes, muito parecida com Han Kyo que estava ao seu lado.
– Com licença – falou AhLis e sentou-se ao lado de Tae Gun. A comida era muito estranha e toda enfeitada e teve um pouco de dificuldade em saber o que fazer. Mas, observando Tae Gun, comeu o que podia, saboreando os pratos.
– Que bom que resolveu se juntar a nós, querida. – falou Na Kyo, mãe adotiva de Liz-Ah. – Você está tão magra. Deve parar com suas dietas. Há dias que não vejo você comer com tanto gosto quanto agora.
– Está tudo delicioso…er… mãe.. – falou Ah-Lis, sorrindo, mas percebeu que cometera uma gafe, pois tanto Tae Gun, quanto Han Kyo e a mãe de Liz-Ah pararam o que comiam para olhar para ela.
– Mãe? – Na Kyo disse, parecendo surpresa e ao mesmo tempo contente. – Você não me chama assim… desde que era uma garotinha…
– É muita dieta, mãe. – falou Han Kyo, debochado. – Ela deve estar com tanta fome que está delirando.
Ah-Lis olhou para os três. Na Kyo parecia emocionada. Han Kyo ria-se, divertido e Tae Gun parecia sério estranhando o comportamento da mulher.
Ah-Lis respirou fundo. Por mais que tentasse, não poderia ser como Liz. Todo o tempo alguém ficava lhe dizendo que não estava agindo como Liz. Então havia chegado a hora de parar de tentar ser como sua irmã e tentar ser como ela mesma.
– Porque não chamaria minha mãe de mãe? Eu sou mãe agora, também. Acho que isso muda qualquer pessoa, não é?
– Seis meses depois do nascimento de um filho? – falou Tae Gun, parecendo amargo. – Só agora percebe que é mãe?
– Acho que nunca é hora de tentar fazer o certo, você não acha?
– Ok… quem é você e o que fez com a minha irmã? – perguntou Han Kyo, olhando sério para Ah-Lis.
Ah-Lis suspendeu a respiração, sem saber direito o que responder, mas, no instante seguinte, Han Kyo caiu na gargalhada, levando Ah-Lis e Na Kyo também a sorrirem. Somente Tae Gun continuou sério, alimentando-se silenciosamente.
Quando o almoço acabou e Tae Gun levantou-se da mesa, Ah-Lis resolveu fazer o mesmo. Esperou, olhando pela janela do seu quarto, até que o carro de Tae Gun sumisse na estrada que levava para fora da mansão, para descer rapidamente e sair pela porta da frente.
Pensou em achar Raul, mas não sabia onde ficava a garagem, ou mesmo a ala em que ele poderia estar.
Andou ao redor da casa e ficou ainda mais perplexa com o tamanho daquela mansão, agora que tinha a luz do sol brilhando sobre os jardins.
Encontrou um homem que cuidava de rosas. Ela o cumprimentou e ele retribuiu, mas em seguida, voltou a trabalhar, com uma expressão de surpresa pelo gesto de Ah-Lis, que se aproximou.
– Ah… o senhor… er… pode me dizer onde está o Raul, meu motorista.
O homem arregalou os olhos, ainda mais surpreso.
– Na garagem, dona… depois do labirinto.
– Labirinto? – perguntou ela, automaticamente, sem pensar muito.
– É… no labirinto verde. O que o seu Tae Gun criou. A senhora nunca vai lá, então, cuidado pra não se perder. O labirinto é meio confuso e uma vez, a sobrinho do seu Tae Gun se perdeu e deu o maior trabalhão pra encontrar a piazinha.
– Labirinto Verde… tipo… um jardim? Desse tipo de labirinto? Não sabia que havia um aqui…
O homem parecia ainda mais desconfiado.
– O seu Tae Gun mandou plantar. Está aqui há mais tempo que a senhora. A senhora deveria andar mais pela sua própria residencia. Assim pegaria um solzinho… está muito branca madame.
– Obrigada… – disse ela, meio sem jeito.
Não demorou muito para encontrar o tal labirinto. E que labirinto.
Passou por uma estufa e uma casa de máquinas. Depois disso, viu um pórtico belissimo de flores dando entrada ao labirinto verde.
O labirinto ficava grudado ao lado esquerdo da casa.
Divertiu-se passeando por ele e sentindo o cheiro de capim recém-cortado e a brisa fresca.
De certa forma, sentia que aquele labirinto era a imagem de sua vida. Havia tantos caminhos, a tomar, tantas encruzilhadas. Mas não conseguia achar a saída para a situação em que entrara. Como sair de um casamento com Kim Tae Hoon? Um homem violento e instável?
Ela o amara um dia… mas há muito tempo, aquele sentimento havia se extinguido. Não queria pensar nisso. Pensar no seu casamento a entristecia. Preferia pensar no casamento de sua irmã. Liz precisava voltar para casa, voltar para o marido e para o bebê e resolver as coisas. Sua presença ali, só colocava mais distância entre a irmã e sua família.
Finalmente, depois de ter errado alguns caminhos no tal labirinto encontrou a saída e logo a garagem.
Era no pátio posterior da casa que também era enorme. Havia, pelo menos, seis carros e três motoristas. Felizmente, Raul estava entre os motoristas de plantão que jogavam baralho numa mesinha, na cozinha da garagem.
– Vai precisar dos meus serviços, madame Liz-Ah? – falou Raul ao vê-la, levantando-se rapidamente. Assim como ele, todos os motoristas se curvaram automaticamente. – Deveria ter mandado a governanta atrás de mim.
– Eu queria dar uma volta por essas áreas… Faz tempo desde a última vez que estive aqui.- mentiu ela, enrubescendo um pouco.
– A senhora nunca esteve aqui… – falou outro motorista, mais jovem que Raul.
– Bem… vamos logo Raul, estou com pressa… – falou Ah-Lis, tentando disfarçar, saindo para o pátio.
Minutos depois, a limusine parou logo ao seu lado e Ah-Lis entrou.
O vidro de separação da cabine do passageiro estava aberta e Raul preocupado, virou-se para ela.
– A senhora não deve ir nas áreas dos empregados. A Sra. Liz-Ah nunca se mistura com os empregados. Vão desconfiar.
– Já estão desconfiados à beça. – Falou Ah-Lis, desabafando. – Isso não vai dar certo. Foi tolice trocarmos de identidade. Não posso ficar aqui nesta casa e minha irmã não saberá lidar com… com a minha vida. Leve-me até a minha escola, por favor.
– Não é uma boa ideia. A Sra. Liz-Ah não irá gostar… – retrucou o motorista.
– Não me interessa, Raul. Não posso fingir ser algo que não sou. Leve-me, por favor… – Disse Ah-Lis, resolvida. Já tinha labirintos demais em sua vida, não podia entrar em mais um.
Raul franziu o cenho, pensando por alguns segundos no que fazer. Por fim, virou-se para frente e a limusine começou a andar.