12 – O poder de Yumi – Exorcismo

Capítulo 12 – Exorcismo

Enquanto a limusine andava pelas ruas de Hadong-ri, Yumi pensava que aquela noite se avizinhava uma oportunidade para fugir que ela não poderia perder. Ela estava entre Joon Ki e Dada e imaginava planos para tentar escapar. Talvez quando chegassem ao destino, talvez quando eles se distraíssem, talvez…

Tudo o que precisava fazer era ficar alerta e aproveitar quando a oportunidade chegasse.

– Eu quero que você preste muita atenção em tudo o que ver hoje – falou Joon Ki, num tom quase mórbido.

– E o que é que vou ver? – perguntou ela, com medo do que poderia ser.

– Um exorcismo.

– De verdade? Tipo aqueles dos filmes de terror?

– É um pouco diferente, mas tão assustador quanto, então, há algumas regrinhas para você: primeiro, não toque no possuído. Demônios são seres das trevas, se tocarem em você, podem tirar sua energia. Segundo: não tenha pena do possuído, ela vai dizer coisas que farão você duvidar do ritual.

– Ela? É uma mulher, então?

– Sim, o possuído é uma mulher, mas o demônio que está dentro dela é masculino, até onde sabemos.

– Ok, e qual é a terceira regra?

– A terceira regra é jamais interromper o ritual. Pois um ritual interrompido pode dar mais força ao possuído.

Ela deu um muxoxo sem acreditar numa palavra. Balelas, pensou ela. Malucos e mais malucos, balelas e mais balelas.

Quando a limusine entrou em um bairro de periferia muito afastado do centro e muito escuro, Yumi começou a ficar preocupada. Sem dinheiro e sem seu celular, não poderia chamar a polícia, teria que pedir ajuda a algum vizinho e aquilo era problemático.

Depois de muito tempo, entraram por uma ruazinha vazia, apenas umas poucas casas e algumas árvores de cada lado, quase como uma floresta ou bosque.

– Não estamos mais em Hadong-ri. – constatou Yumi. No mesmo instante, Joon Ki sorriu. Parecia que estava lendo seus pensamentos.

– Ainda pensando em fugir, Yumi? Depois desta noite, tenho certeza de que acreditará em cada palavra que eu disser.

“Eu vou fugir de qualquer jeito”, pensou ela, olhando para fora, assustada com aquele lugar isolado.

– Chegamos – disse Dada, quando a limusine parou em frente a uma casinha de madeira muito pobre.

Depois de Tae Joon Ki, Yumi saiu, mas antes que pudesse pensar em algo, ele a segurou pelo braço e a guiou para dentro da casa.

Na pequena casinha, havia mais três pessoas: um homem, uma mulher que se vestia como uma xamã, assim como Dada e ainda uma outra mulher, deitada no chão, amarrada com as mãos nas costas. A corda se ligava com a amarração dos pés. Era uma cena horrível.

exorcismo

Ela tinha cortes nos pulsos, nos pés. O rosto estava torcido como se ela estivesse em uma grande dor. Seus lábios estavam cortados, a pele tão ressecada e esverdeada que parecia a de um jacaré e os olhos estavam completamente amarelados. Nenhuma crise de hepatite poderia causar olhos como aqueles.

– Deus, o que é isso…?

– Ela está possuída, Yumi – explicou Tae Joon Ki. – Não é fácil para um demônio possui um humano. Mas se o humano estiver fraco, doente, ou se for propenso a atividades maléficas, esse humano fica vulnerável. No entanto, os demônios possuidores podem ser exorcizados com rituais performados por Xamãs de entoação, como minha irmã. Quem descobriu o demônio, foi Tang Xi – disse ele, apontando a outra mulher xamã – ela é uma xamã espiritual. Ela fez o exorcismo, mas não conseguiu expulsar o demônio. Quando uma  xamã espiritual não consegue, uma xamã de entoação deve tentar o exorcismo. E se isso não der certo, então, o demônio já encarnou e não há outra coisa a fazer. É por isso que estou aqui.

– Você vai matar essa mulher? – perguntou Yumi, assustada. – Não quero testemunhar mais um assassinato. Não quero participar disso. Se você é um assassino, eu não sou. Por favor, me poupe disso.

– Gostaria de poupá-la, Yumi, mas você precisa saber. No futuro, você terá que fazer o que fazemos e muito mais… terá que ser uma verdadeira assassina de demônios, a ponto de todos os demônios temerem você.

– Isso é loucura, Sr. Tae Joon Ki. Por favor, esta mulher está gravemente doente e precisa de ajuda médica e psicológica. Por favor, você precisa ajudá-la.

– Eu estou ajudando… Dada, comece o ritual.

O ritual começou sem que Yumi pudesse fazer nada. Dada começou a dançar e entoar um canto que Yumi desconhecia e aquela dança continuou por muitos minutos.

Em determinado momento, a mulher começou a de debater e a soltar estranhos gritos guturais com uma voz grave que não era compatível com uma mulher.

Depois disso, a mulher levitou. Bem na frente de Yumi. Levitou alguns centímetros do chão, como se fosse uma pena.

Yumi arregalou os olhos, sem poder acreditar no que via. Aquilo contrariava tudo o que acreditava. Nenhuma lei da física poderia explicar. Seria mais um truque? Ilusionismo que ela não conseguia detectar?

No segundo seguinte, a mulher caiu com um baque. Então seus olhos se transformaram. Ela parecia bem, apenas assustada.

– Por favor, me ajude. Eles querem me matar… me solte, por favor, eu imploro! – disse a mulher, numa voz normal, feminina, olhando fixamente para Yumi.

Yumi não hesitou, deu dois passos na direção da mulher e estava quase tocando nela, quando sentiu um puxão para trás. Joon Ki a agarrara pela cintura e a arrastou para trás.

– Continue, Dada, continue, não pare.

– Me solta, me solta! – disse Yumi, tentando se desvencilhar, mas Joon Ki era infinitamente mais alto e mais forte do que ela.

– Pare… apenas pare e observe. – falou ele, com a boca quase encostada em seu ouvido.

O ritual continuou, apesar do desespero de Yumi que parou de se debater, sentindo os braços de Joon Ki, envolvendo sua cintura. Novamente, os olhos da mulher voltaram a ficar amarelos e sua voz gutural proferiu:

– Ele está aqui… e já escolheu sua noiva Cha Yumi… O Mestre da Escuridão, o Rei dos Infernos, o pai da devassidão encarnou para encontrar com você… YUMI, YUMI, YUMI…

Yumi se assustou ao escutar o seu nome naquela voz demoníaca, sem saber direito o que pensar ou fazer, mas Tae Joon Ki falou em seu ouvido.

– Não se preocupe, eu estou aqui, vou manter você a salvo. – E quando ela se encolheu em seus braços, ele adicionou – Não acredite nas palavras dos demônios. São mentirosos.

– Desta vez, não estou mentindo, assassino… – disse a estranha mulher possuída – O gelo derreteu, o arcanjo negro já se libertou… e vocês humanos logo serão escravos…

exorcismo

Então tudo aconteceu em um só segundo. A janela do casebre se abriu como se um grande vento a puxasse para fora. Depois, fechou com violência, quebrando os vidros. Tae Joon Ki protegeu Yumi com suas costas, mas no mesmo instante, o demônio lançou-se no teto da casa, desamarrando os pés e as mãos. Depois disso, saltou na direção de Yumi, mas Tae Joon Ki a empurrou e os dois lutaram por alguns segundos.

Tae Joon Ki começou a falar alguma coisa que ela não conseguiu ouvir, mas um segundo depois uma estranha bolha de energia se formou ao redor dele e da mulher possuída.

EXORCISMO

Então aquilo era um laço, pensou Yumi, sem ação.

Tae Joon Ki, habilmente, girou em seu próprio corpo, jogando a mulher no chão e enfiando com força,  um punhal em seu peito. O exorcismo dera errado e ele assassinou a mulher sem nem mesmo piscar.

Apavorada com tudo o que aconteceu diante de seus olhos, Yumi gritou, deu dois passos para trás, abriu a porta da casa e correu para longe.

Embrenhou-se no mato e continuou a correr. Correu tanto que seus pés fritavam de dor. Tropeçando em um cascalho, Yumi caiu com estrondo, mas permaneceu deitada, seus olhos marejando de dor, desespero e medo depois de ter visto tudo o que vira.

Então, escutou a voz de Tae Joon Ki.

– Yumi…? Onde você está? Por favor, não tenha medo… você precisa confiar em mim…

Yumi colocou ambas as mãos na boca, para não emitir nenhum som. Como ela havia caído em uma relva, Tae Joon Ki não conseguia enxergá-la. Ele passou bem perto dela, mas não a enxergou.

– Yumi… Você precisa confiar em mim… sua vida depende disso…

A voz dele foi se afastando até quase sumir. Yumi ainda esperou algum tempo antes de sequer se mover.

Depois de um longo período que lhe pareceu mais de uma hora, Yumi se levantou e começou a andar na direção contrária de onde a voz de Joon Ki havia se dissipado.

Entre cascalhos e raízes das árvores, ela caiu mais de uma vez e arranhou as mãos e os pés. Estava exausta. Não havia caminhado tanto assim, mas parecia exaurida de qualquer força que um dia já esteve em seu corpo. Quanto pensava em desistir de uma vez, viu uma luzinha bruxuleante ao longe. Ao aproximar-se, viu que era uma outra casinha.