Capítulo 14 – Arcana
Yumi estava sentada no sofá. O apartamento do Promotor estava completamente iluminado, pois ela se certificou de arredar todas as cortinas que eram pesadas e deixavam todo o apartamento na penumbra.
Ela pegou o notebook do promotor emprestado e agora pesquisava sobre arcanas no computador. Não havia muita informação, pois acabava sempre caindo em algum site de magia e elementais. Por fim, depois de muita garimpagem, achou um site chamado “Madame Elilis” que falava o que precisava ler:
“Arcanas são como anjos encarnados. São seres de luz que se alimentam de calor e de luz. Não podem ficar em lugares escuros, pois se enfraquecem. São chamadas de fadas em algumas culturas. Elas protegem os seres humanos e podem trabalhar em conjunto com bruxos. Só pode haver uma arcana a cada 500 anos, talvez mais, talvez menos. Elas surgem apenas em momentos de grande tensão com os seres das trevas. O que se sabe é que a natureza criou as arcanas para criar um equilíbrio, quando uma magia das trevas é invocada.
Se uma arcana perde a batalha, libera seu poder para destruir o exército do mal. Se vence a guerra, ela morre assim que a natureza encontra seu equilíbrio. Portanto, o destino da arcana é sempre a morte”.
Yumi fechou a tela do notebook. Não quis ler mais. Por alguns instantes quis acreditar que era uma arcana. Viu o que aconteceu com seu corpo. E a sensação de bem-estar ao ser iluminada pela luz do sol não poderia ser apenas coincidência. E também não poderia ser efeito das drogas que supostamente Joon Ki lhe havia dado pela comida que comera enquanto estava na mansão dele.
Entretanto, ler aquela informação não lhe melhorou o ânimo. “O destino da arcana é sempre a morte”. Que tipo de destino era aquele? Se perde a batalha, morre, se ganha a guerra, morre. Isso queria dizer que ela iria morrer de qualquer jeito, se fosse uma arcana?
“Eu não sou uma arcana, não existe isso, Yumi. Não caia na esparrela do Joon Ki.”, disse ela a si mesma. Entretanto, não poderia simplesmente esquecer o que aconteceu com seu corpo no minuto em que tocou a luz.
“Na luz, você fica forte”, foi o que Joon Ki lhe havia dito. E se fosse verdade? E se fosse tudo verdade?
Abriu novamente o notebook para ler mais um pouco:
“A arcana é uma guerreira que conjura luz para combater seus inimigos. Quanto mais energia ela tiver armazenada, mais forte será a conjuração”.
Talvez fosse isso que havia acontecido. Seu corpo se iluminou quando foi tocada pela luz do sol. Se um pouco de luz já foi o suficiente para iluminar todo o seu corpo, o que aconteceria se pudesse pegar bastante sol?
Ela se aproximou da janela onde o sol iluminava e ficou ali por mais alguns instantes. Antes, havia feito seu corpo se iluminar, sem se tivesse dado conta, agora, tentava replicar aquela experiência. Tentando concentrar todas as energias do sol, Yumi percebeu uma estranha vibração em sua mão e uma bola de luz se criou.
– Deus do céu… eu sou mesmo uma arcana… – disse ela, olhando para a bola de luz. Sentia-se bem e confortável e sabia que poderia manipular aquela bola da maneira que quisesse. Por fim, fechou a mão e a bola de luz e energia desvaneceu-se.
Entretanto, ela viu que sua mão começou a tremer do nada, uma estranha vibração a puxava para a estante de livros do Dr. Hong. Ali, a maioria dos livros era sobre Direito Penal e Criminal, mas sua mão simplesmente era atraída para um livro de capa dura.
Ao tirar o livro da estante, Yumi percebeu que havia um estranho símbolo na capa dele, toda de couro escuro. Estranhamente, no mesmo instante, a estante deslizou para o lado, revelando na parede uma porta escondida que se abriu instantes depois. Yumi não sabia o que pensar sobre aquilo, mas sua curiosidade foi mais forte e adentrou a escuridão.
Assim que seus olhos se acostumaram com o breu, percebeu que estava em um longo corredor escuro, mas a medida que ela começou a andar, os archotes que estava pendurados na parede, acendiam-se por magia.
Yumi estava boquiaberta. Quanto mais andava, mais longo parecia ser o corredor. Aquilo era impossível. O apartamento do Dr. Hong ficava em um prédio moderno, envidraçado e a estante era para a parede externa do prédio que ficava em uma esquina, ou seja, aquele corredor estaria agora sobrevoando uma larga avenida.
Um túnel quase infinito e que remetia ao tempo medieval era fisicamente impossível de haver ali. Entretanto, Yumi continuou o seu caminho, pois sabia que precisava descobrir toda a verdade sobre o submundo no qual ela começava a acreditar.
Ela era uma arcana e havia xamãs, bruxos, seres do mal e outras coisas. Acreditar em tudo isso, era algo novo para ela que sempre foi descrente, ainda assim, sua curiosidade era mais forte e ela não conseguia parar de andar.
Depois de caminhar muitos minutos, Yumi chegou em uma grande câmara com uma abóbada gigantesca.
Na parede feita com pedras enormes, havia estranhas inscrições em outra língua e no centro do cômodo, havia um altar de pedra. Nele, e ao redor dele, no chão e até na parede, havia sangue, já coagulado e o cheiro era de morte.
O medo percorreu a pele de Yumi até chegar a sua nuca, pois apesar de não saber exatamente o que era aquilo.
Ainda assim, ela resolveu tocar no altar. Imediatamente, em sua mente, ela viu crianças sendo sacrificadas ali. Sentiu em cada fibra do seu ser, o medo que acorria o olhar das vítimas dos sacrifícios, mas o pior, foi quando ela viu nessas visões, o autor das atrocidades: o seu querido defensor, o Dr. Hong Park.
Com um choque, ela largou o altar, caindo desajeitadamente no chão. Seu tornozelo virou sem jeito, acometendo-a de dor.
Sem a luz, ela sentia sua energia se dissipando. O poder que ela tinha, desvanecia pouco a pouco. Ela se levantou como pôde e mancando, ela fez o caminho de volta. Ela recolocou o livro na parede e quando a estante retornou a seu lugar, escutou o tilintar da fechadura e o Dr. Hong Park entrou.
– Está tudo bem? Você está pálida! – falou o Dr. Hong com o seu sorriso simpático e acolhedor.
– S-sim… – disse Yumi com a voz um pouco trêmula. – Eu acabei caindo no chão sem jeito e torci o tornozelo. Talvez seja por isso.
– Ah, Yumi, eu falei que você deveria descansar. – Disse o Dr. Hong, aproximando-se dela. Ela sentiu todo o seu corpo retesar, mas forçou um sorriso.
– E-eu…sou mesmo… desastrada…
– Não se machuque, querida! – disse ele, dando um beijo em sua testa. – Eu resolvi vir almoçar com você. Eu pedi comida. Vou tomar um banho. Você atende a porta, quando o entregador chegar, tudo bem?
– Sim… claro… estou com fome. – falou ela. Realmente ela estava com muita fome.
Entretanto, assim que Dr. Hong entrou no banheiro do quarto, ela aproveitou para fugir. Como o elevador estava demorando, ela resolveu descer as escadas correndo. Seu tornozelo direito fervia e ardia, mas ela não parou nem por um segundo.
Quando chegou ao hall de entrada, viu o entregador chegando. Aquilo era muito ruim. Assim que ele batesse a campainha do apartamento, o Dr. Hong saberia que ela havia fugido. Nervosa, pensou em pedir um táxi, mas no mesmo instante em que saiu, viu que a porta de um carro prateado estacionado na frente do prédio se abriu para ela.
– Entre… precisamos fugir rápido! – disse Joon Ki, olhando para ela, como se soubesse o que ela havia acabado de testemunhar. Mas ela hesitava, em choque. – Entre, Yumi… é sua última chance para escapar dele.
Yumi não sabia o que fazer. De um lado, Joon Ki, o homem que ela viu assassinando um homem. O homem que lhe contara coisas que ela jamais supôs existirem. Por outro, havia o Dr. Hong Park que, parecia ser um homem bom e simpático, mas era um assassino voraz de criancinhas. Em quem poderia confiar?
Embora quisesse pensar melhor sobre o assunto, viu uma estranha luz atingindo o interior do carro de Joon Ki, como se convidasse a entrar. “Confie na luz”, falou uma voz em sua mente.
Sem hesitar mais, ela simplesmente entrou. Assim que o carro deu a partida, olhou para cima, sabendo que em algum lugar dali, Dr. Hong, o bom dr. Hong saberia que ela havia descoberto a verdade: e ele não era bom, ele era algo muito, muito ruim.