Os condenados – 6 – Direitos Iguais

Capítulo 6 – Direitos Iguais

Quando o portão foi manualmente retirado da muralha feita de barricada, Joo Mi viu o espaço de uma grande fábrica. O estacionamento estava lotado de carros onde Oh Nam também estacionou.

Na frente da fábrica, havia dois grandes banheiros públicos: um feminino e outro masculino.

Ao saírem do carro, o guarda que os recepcionou e uma mulher loira se aproximaram.

direitos iguais

– Sejam bem vindos a Jinju: eu sou Kim Geum Dal e essa é minha namorada, Kang Jan Da.

– Obrigado. Meu nome é Ji Kang e essa é minha esposa Joo Mi – falou Oh Nam.

Ji Kang?, pensou Joo Mi, então esse era o nome que ele usaria em JinJu?

 – É muito bom dar as boas vindas a uma mulher grávida. – disse Geum Dal, curvando-se para o dois.

– Grávida? – repetiu Jan Da. – Que novidade! Logo teremos um bebê entre nós, então? Essa é uma boa notícia.

– Sim, sim… é o início de uma nova era para JinJu. Você pode acompanhá-los, Jan Da?

– Claro, querido… não se preocupe… – disse Jan Da.

– Desculpe por não poder acompanhá-los, mas temos pouca gente na segurança hoje, então, eu devo conversar com vocês mais tarde, mas deixarei vocês com minha namorada. – Desculpou-se Geum Dal.

Em seguida, Geum Dal fez mais uma reverência e voltou para o portão.

– Bem, esse lugar pode parecer muito feio para ser chamado de lar, mas com o tempo, vocês vão se acostumar. – falou Jan Da, apontando a fábrica com a mão – Pelo menos, aqui temos comida. Atrás da fábrica, há uma fazenda. A família do fazendeiro morreu, então, nós nos apropriamos dela, por isso, temos ovos, leite, frutas e verduras que apanhamos de lá. – Disse Jan Da, enquanto andava em direção a entrada principal da fábrica: um portão de correr verticalmente que estava totalmente recolhido.

Estava escuro para ver lá dentro, com o sol estando alto, mas Joo Mi viu que era um grande espaço e havia movimento. Então, havia outras pessoas ali.

– Aqui fora são os banheiros. E no prédio da fábrica, fica o nosso abrigo. A velha fábrica de leite foi completamente transformada. Tiramos quase todo o maquinário para fazer um refeitório aqui no galpão. – explicou Jan Da, passando pelo portão e entrando no galpão. – Trouxemos mesas e cadeiras das casas abandonadas ao redor.  Venham comigo.

Jan Da subiu por escadas para outro piso. Ali, Joo Mi viu vários colchões jogados no chão. Havia algumas pessoas dormindo e outras sentadas. A bagunça era geral. Só a visão da desorganização já deixou Joo Mi ansiosa.

– Não se preocupem, vocês não vão ficar aqui. Só os homens ficam aqui. Os casais ficam nos quartos. Quero dizer… eram repartições da área administrativa, mas colocamos colchão e até alguns móveis em cada um deles.

direitos

– Casais? E as mulheres? Onde ficam as mulheres?

– Bem… aqui todas as mulheres possuem namorados, querida. Você deve imaginar porque. Eu tive sorte. Geum Dal é um homem bom. Nenhuma mulher chegou aqui sozinha. Mas, numa reunião, foi definido que toda mulher deverá escolher um homem assim que chegar. Por isso, quando um casal de mulheres gays chegaram aqui, elas foram separadas e cada uma teve que escolher um homem.

– Isso é horrível. Não temos direitos a escolha de uma orientação sexual diferente, só por sermos mulheres?

– Pense pelo lado positivo: você já tem o seu marido. Não terá que ficar com alguém que mal conhece.

– Isso não ajuda em nada. Eu era advogada antes disso tudo acontecer. Nós temos direito a liberdade, mesmo que sejamos a minoria. Devemos criar leis e regras que garantam direitos iguais para todos.

– Se eu fosse você, não mencionaria isso com ninguém. Eu sei que pode parecer horrível para você, mas aqui nós estamos seguras. Lá fora, mulheres são estupradas e esquartejadas, como o que aconteceu em Iksan. Vocês ouviram falar disso, não é? E não é só lá. Todos que chegaram aqui contam coisas horríveis. Se o preço que eu tenho a pagar para ficar segura é esse, estou disposta a pagar. E as outras mulheres daqui também. Leis e regras não existem mais…

Joo Mi ficou estarrecida. Em outras palavras, era a mesma coisa que Oh Nam havia falado a ela na estrada.

– Eu não posso aceitar isso…

– Meu amor… é melhor aguardarmos e conhecermos o lugar, antes de sair por aí querendo fazer uma revolução – falou Oh Nam, colocando uma das mãos em seus ombros. Aquela era uma ameaça velada. – Você deve desculpar minha esposa. Ela é uma advogada apaixonada por direitos humanos. Então, você deve entender…

– Isso é louvável, mas as coisas são diferentes agora. Por favor, não nos julgue. Agradeça aos céus que seu marido é imune como você. Você é abençoada. Meu namorado de antes da pandemia, não sobreviveu. Pelo menos, Geum Dal é um homem bom. Ele não permite que nenhum homem maltrate uma mulher aqui. Além do mais, os homens fazem tudo aqui: lavam a roupa, fazem a comida, cuidam da fazenda e da segurança. Somos tratadas como princesas. Isso é uma vantagem. Imagina se fossemos como escravas.

– Vocês são escravas! Isso é escravidão! Nós merecemos direitos iguais!! – declarou Joo Mi, levantando a voz.

– Por favor, abaixe sua voz. Se os homens escutarem você falando isso, não sei o que pode acontecer…

– Fique quieta e seja discreta, princesa – cochichou Oh Nam em seu ouvido.

– Bem… venham comigo, vocês terão direito a um quarto.

Joo Mi acompanhou Jan Da até um pequeníssimo quarto improvisado. Ao entrar naquele espaço, ela finalmente se deu conta de que teria que dormir ao lado de Oh Nam.

– Descansem um pouco. O jantar é sempre servido às oito da noite, então, vocês têm algum tempo para dormir e se organizar, se quiserem. Daqui a pouco, alguém deve trazer as coisas de vocês para cá, quando terminarem de revistá-las.

– Obrigado. – falou Oh Nam acompanhando Jan Da até a porta. – Nós estamos gratos por vocês terem nos recebido aqui.

– Espero que vocês sejam felizes aqui. Mas você deve aprender a não falar “certas coisas” por aí, Joo Mi, certo?

Quando Oh Nam fechou a porta e se virou para ela, Joo Mi finalmente teve consciência de que ele poderia ter se irritado com ela, quando ela se exaltou com Jan Da, mas ao contrário do que pensou, ele começou a sorrir.

– Você é uma peça rara, princesa. – falou ele, com um tom debochado.

– Parece que sim, já que somos em minoria.

– Não me refiro a isso. Você compra brigas que não pode ganhar. Mas eu te admiro por isso. Pelo menos, você luta pelo que acredita. – falou ele, complacente. – Olha, sei que é difícil para você, mas, por favor, tente ser discreta e agir pelas regras deste lugar. E não fale em “Direitos Iguais” por aí…

– Mas…

– Sobre dormirmos juntos, não se preocupe. Não tocarei um dedo em você. Como você sabe, princesa, você não me atrai nem um pouco. – disse ele, mostrando um sorriso alinhado e debochado. – Vou dar uma saída por aí e conhecer o lugar, caso tenhamos que fugir rapidamente. Eu sugiro que agora você tome um banho e se prepare para o jantar.