Joo Mi chorou por alguns minutos, sem saber o que fazer. Só havia uma saída do ônibus: a porta da frente. Havia uma porta no fundo do ônibus, mas Joo Mi podia ver uma pesada corrente fechando-a. E se quisesse sair pela frente, com certeza, Oh Nam a impediria. Estava presa.
Limpou o rosto com outra bandagem, molhando-a na água e depois bebeu alguns goles. A dor no peito começou a ser insuportável. Tentou ver por onde Oh Nan estava dirigindo. Viu uma placa que indicava JinJu.
– Está indo pra JinJu? – perguntou Joo Mi, pregando os olhos na estrada. Sentia dificuldade para falar também. Sua voz estava embargada e sentia gosto de sangue em sua garganta.
– Há pessoas lá! Não que eu goste de um bando de gente ao meu lado. Eu e você sabemos que eu não sou bom com gente… – disse ele, dando uma risadinha. – Mas um homem precisa sobreviver. Percebi isso quando todo mundo morreu na cadeia. Celas e mais celas lotadas de gente morta ou agonizando. Tive sorte que o velho carcereiro Barney resolveu abrir minha cela antes de morrer, bem na minha frente. Se ele tivesse demorado um pouco mais, teria ficado preso para sempre… e morreria em poucos dias sem água e comida. Só vamos sobreviver, se acharmos mais pessoas imunes como nós.
Joo Mi soltou um muxoxo. De tantas pessoas que poderiam ser imunes como ela, tinha que ser Oh Nam? Que tipo de azar era aquele?
– Eu consegui alguns mantimentos na cadeia. Comida e armas, principalmente.
– Armas… Oh, Deus… – disse Joo Mi, mas teve um sobressalto, talvez houvesse alguma arma na bolsa preta que havia em seus pés. Fez um movimento para tentar pegá-la, mas uma pontada no peito a impediu.
– É melhor não se mover muito, Joo Mi! De qualquer forma, as armas estão aqui comigo – falou ele, com um tom debochado, apontando para outra bolsa no lado esquerdo da direção. Parecia que ele lia seu pensamento – Aí só há coisas que encontrei na enfermaria da prisão: bandagens, faixas, seringas. Não achei nenhum remédio. Tinha uma outra sala e estava fechada e Barney não tinha a chave. Se você ficar com muita dor, eu posso saquear uma farmácia.
– Eu estou com muita dor! – disse Joo Mi, olhando para a rua, esperando ver uma farmácia em breve. Ela poderia tentar fugir quando ele saísse. – Acho que eu quebrei uma costela. Não consigo respirar direito… por favor, Oh Nan.
– Tudo bem… tem uma farmácia ali na esquina… – disse ele, estacionando.
Joo Mi grudou novamente na janela. Havia uma viela ali perto, talvez, se corresse para lá, conseguisse chegar até outra rua ou se esconder em algum apartamento ou casa.
Já estava pensando em como faria para correr, quando sentiu Oh Nam se aproximar. Antes que pudesse perceber, ele algemou seu pulso e em seguida atou-a ao braço da cadeira.
– É só pra você não se arriscar por aí… eu não quero ter que correr atrás de você. – disse ele, deixando a mostra seus dentes alinhados num belo sorriso: Oh Nam era um demônio com cara de anjo.
– Ah, por favor, Oh Nam… por favor, eu imploro. – disse ela, esticando as mãos presas. Ela havia lido o relatório das mortes de Oh Nan e as palavras agora brotavam a sua frente: tortura, sadismo, requintes de crueldade, sem ligar para o apelamento das vítimas, assassino sádico sem remorso…
– Não perca seu tempo. – disse ele, tirando de algum lugar de suas costas um revólver.
Joo Mi segurou a respiração, achando que ele atiraria nela, mas ao invés disso, ele saiu do ônibus e entrou na farmácia.
Joo Mi puxou o pulso e tentou se livrar da algema, mas era impossível. Desesperada, caiu novamente no choro e seu corpo dolorido chacoalhava com os soluços. Depois de algum tempo, enxugou as lágrimas, pensando que talvez ele não a matasse. Se ele realmente fosse para JinJu, Joo Mi poderia ficar segura lá, com as outras pessoas. Se ele não a matasse no caminho.
Escutou um tiro e se assustou. Olhou para fora e em seguida, Oh Nam saiu com uma sacola de farmácia, carregada de remédios.
Na camisa de Oh Nam, havia sangue.
– Você se machucou? – perguntou ela.
– Não… não é meu sangue.
– Oh, Deus, você matou alguém?
– O cara estava agonizando. Estava infectado. Só agilizei o processo. – respondeu Oh Nam, abrindo a sacola e retirando um frasco de comprimidos. – Você comeu hoje cedo?
– Comi… – respondeu ela, ainda pensando no pobre homem da farmácia. Oh Nam havia assassinado uma pessoa como se abate um animal.
– Tome dois comprimidos então… – disse ele, desalgemando Joo Mi, que o obedeceu prontamente. A verdade é que a dor no seu peito estava difícil de segurar.
– Onde é que dói? – perguntou Oh Nam.
– Aqui… – Joo Mi apontou o peito do lado esquerdo, logo abaixo do coração.
– Vou levantar um pouco a sua blusa. – disse ele e de fato o fez, para a surpresa de Joo Mi que logo enrubesceu. Havia uma grande mancha roxa onde ela havia apontado, um pouco abaixo das costelas, mas não havia nenhum ferimento visível.
– Isso não parece bom. Está me parecendo com uma hemorragia interna.
– Como você sabe disso? – perguntou ela, mas logo imaginou que sua experiência em matar havia lhe dado algum conhecimento de anatomia e medicina. – Eu vou morrer?
– Talvez não… Talvez sim, quem sabe…? – respondeu ele, simplesmente.
Em seguida, Joo Mi tentou focar o rosto de Oh Nan que ia e vinha. Será que os remédios já estavam fazendo efeito tão rápido?
– O que foi que você me deu? – perguntou ela, sentindo-se estranha.
– Umas coisinhas legais… – disse ele, novamente sorrindo. – Diga tchau, florzinha…
Ela ainda tentou resistir, mas seu corpo todo ficou leve. Não queria dormir, não queria fechar os olhos diante de um homem capaz de abater pessoas como porcos, mas não conseguiu mais… a escuridão parecia tentadora demais.