Capítulo 5 – Caminho para Jinju
Joo Mi e Oh Nam só saíram da casa abandonada dez dias depois que ela havia acordado. Tudo isso, porque Joo Mi não estava tão bem para fazer uma viagem, ainda que de poucas horas. Tinha a certeza de que havia quebrado alguma costela, mas pelo jeito, não teve hemorragia interna, como havia pensado, pois senão, estaria morta.
Cumprindo sua palavra, Oh Nam até cuidou bem de Joo Mi. Ele preparou as refeições e fazia questão de servir Joo Mi que ainda estava muito fraca. Ela ainda ficava assustada quando ele aparecia no quarto, mas aos poucos, foi percebendo que ele não tinha a intenção de matá-la, pelo menos, por enquanto.
No dia em que deixaram a casa, Oh Nam recolheu tudo o que havia de comestível na casa e colocou em suas sacolas.
Ele havia arrumado um carro menor, pois eles não poderiam chegar em Jinju dirigindo um ônibus da penitenciária.
Depois de ter arrumado tudo, ele a ajudou a caminhar até o carro.
Não que ela não pudesse caminhar sozinha, mas tinha um pouco de dificuldade. Se alguém os visse, pensaria facilmente que ele era seu marido ou namorado.
Entretanto, Joo Mi não tirava de sua mente a ideia de fugir.
Numa das noites que passou na casa abandonada, Joo Mi aguardou até que Oh Nam dormisse e foi até o quarto ao lado, onde ele estava. Sua intenção era pegar as armas dele, mas ele foi mais esperto pois não havia sinal da bolsa preta.
Aproximando-se dele, ela percebeu que ele dormia com uma das mãos sob o travesseiro, mas ainda se podia ver uma parte do revólver. Oh Nam dormia com a arma em punho.
Muito assustada, Joo Mi retornou para o seu quarto e tentou reconciliar o sono.
Por que Oh Nam dormia com a arma? Ela não representava nenhum risco para ela, muito menos agora que estava tão frágil.
Tentou descobrir onde estava a bolsa preta, procurando em alguns lugares da casa nos outros dias. Mas não havia sinal de arma nenhuma, a não ser do revolver que ele sempre levava enviado na calça, na parte detrás das costas.
Enquanto tomavam a estrada para JinJu, Joo Mi estava até contente, pois imaginou que em poucas horas ela estaria com outras pessoas, mas não sabia direito como Oh Nam iria reagir. Só queria sobreviver, mas tinha medo do que ele poderia fazer com as outras pessoas em JinJu.
Ao olhar para trás, pensou no seu pai e em tudo o que ele significava para ela. Deixou em Iksan o corpo do pai perdido em algum hospital e seguiu rumo a Jinju com a esperança de poder encontrar algum tipo de normalidade entre outras pessoas.
No caminho para Jinju, porém, ela descobriria o pior da humanidade em uma situação de caos.
A estrada estava deserta e o caminho era apenas ladeado por árvores, montanhas e campos, nem um só carro ou pessoa aparecia. Porém, após alguns minutos, viu uma coisa.
Ao longe, parecia apenas um acidente, e ela pediu para Oh Nam parar, a fim de ajudar as pessoas acidentadas.
Quando chegaram perto, Joo Mi viu que havia uma menina desmaiada no meio da rua e um carro parado no acostamento com o capô aberto.
Mesmo com alguma dificuldade, ela desceu do carro para se aproximar daquela cena.
– Espere, Joo Mi, não vá – falou Oh Nam que ficou no carro, apenas observando a cena.
Joo Mi ignorou seu captor e se aproximou da menina, se abaixando com dificuldade. A garota tinha um grande hematoma na testa e havia muito sangue em seu vestidinho rasgado, principalmente, perto da virilha.
Quando pensou em segurá-la nos braços, um homem surgiu do nada e a atacou. Ele a arrastou pelos cabelos até o meio fio, e depois disparou socos no seu estômago enquanto rasgava sua camiseta, violentamente. Gritando de dor, uma vez que já estava machucada, ela tentou se defender como pôde, mas era inútil.
Antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, viu Oh Nam perto dele. Um tiro bastou para matar o homem insano instantaneamente. O sangue do homem espirrou no rosto de Joo Mi e ele caiu morto ao seu lado, os olhos esbugalhados e ensandecidos olhando para ela.
– Você é estúpida? – falou Oh Nam, zangado. – Não percebeu que a garota era uma isca? Ela está morta. Ele deve ter estuprado e matado a garota e provavelmente iria fazer a mesma coisa com você também.
– Por que ele me atacou? E a menina, meu Deus, por que ele fez isso com uma menininha? – disse ela com a voz embargada, em choque.
– Por que quis, Joo Mi. Simplesmente, porque ele quis. O mundo é mais sombrio do que você imagina. E agora que as frágeis regras que sustentavam o mundo parecem ter acabado, tudo ficará ainda mais selvagem e violento. Então, não baixe sua guarda. NUNCA! Não faça nada, sem que eu diga. Isso pode significar a sua vida ou sua morte, entendeu?
Joo Mi sentiu uma lágrima cruzar seu rosto. Tinha dores no estômago onde o homem a havia atacado e não se sentia bem… não se sentia nada bem. Queria chorar. Queria muito o seu pai. Sem seu pai, parecia que ela não poderia suportar tudo o que estava lhe acontecendo.
– Quanto antes você entender que a situação é muito ruim aqui fora, melhor será para você sobreviver… eu sinto muito, princesa… Esse mundo é para mim, não para você.
Aquelas palavras pesaram em Joo Mi que ficou ainda mais abalada. Talvez ele tivesse razão. Talvez ela devesse ter morrido junto com seu pai e todos os outros. Por que ela tinha que ser imune? De tantas pessoas, por que tinha que ser um serial killer e uma garota com síndrome de asperger a sobreviverem? Por que duas pessoas com danos, ao invés de pessoas normais e saudáveis.
– Venha, princesa, não podemos ficar aqui muito tempo… aqui somos alvos fáceis.
Oh Nam ajudou Joo Mi a se levantar. Ela se apoiou nele pois suas pernas tremiam e ela temia que fosse desmaiar.
– Oh Nam… meu Deus… Oh Nam…
– Venha… vamos… – disse ele, levando-a até o carro.
Depois disso, Oh Nam pegou o corpo da menina jogado no meio da rua e a colocou no meio fio, ao lado do homem maluco.
– Não é melhor enterrá-la? – falou Joo Mi, descendo o vidro da janela. – Ela merece um enterro digno.
– Não temos tempo, princesa! – respondeu ele, simplesmente e voltou para o carro.
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Meia hora depois do ocorrido no meio da estrada, Joo Mi ainda tremia.
– Você está bem?
– Não sei… – disse ela, esfregando as mãos. – Minhas mãos não param de tremer. Eu sinto que vou vomitar a qualquer momento.
– Você deve estar em choque. Eu vi muito isso nas minhas vítimas.
– Você é uma pessoa detestável Oh Nam. Por que me lembrar disso agora?
Oh Nam deu um sorrisinho.
– É melhor limpar o seu rosto, estamos quase chegando em Jinju. – recomendou ele, tocando em seu rosto levemente, sem desacelerar, o que a surpreendeu.
Joo Mi olhou no espelho atrás do quebra-sol e viu que seu rosto estava todo respingado de sangue.
Oh Nam deu para ela um paninho que ela usou para limpar a face. Infelizmente, sua camiseta também estava manchada.
– É melhor trocar. – respondeu Oh Nam.
– Aqui?
– Não posso parar, florzinha… já te falei que na estrada somos alvos fáceis. Apenas troque de roupa, eu não vou olhar… já te disse que não sinto nenhuma atração por você.
– É melhor não olhar mesmo. – falou Joo Mi, um pouco tensa.
Com as mãos ainda trêmulas, Joo Mi revirou as bolsas que Oh Nam havia colocado atrás no carro. Ela achou uma camiseta em uma delas, mas continuou a ver o que havia nas outras bolsas. Tinha a esperança de encontrar a bolsa com armas, mas ela não estava ali, entre as outras.
– Por favor, não olhe! – disse ela, tirando a camiseta, ao seu lado.
Ele parecia estar com os olhos grudados na estrada, mas tinha um sorriso no canto dos lábios que era enervante. Ela usava um top pequeno, mesmo assim, não queria que ele visse mais do seu corpo para não lhe dar ideias erradas.
Entre os casos de Oh Nam analisados por ela, não havia um único que indicasse violência sexual. Ainda assim, não queria dar chance ao azar.
Em poucas horas, passaram pela divisa de municípios e um grande pórtico indicando que eles haviam chegado a Jinju.
Oh Nam saiu da rodovia e entrou na cidade que parecia completamente abandonada.
– O que você acha? – perguntou ela, sentindo-se nervosa. Ela havia criado expectativas. E se não houvesse nada em Jinju? O que seria dela? Será que ele ainda a manteria viva? – Onde você está indo?
Oh Nam havia tomada uma estradinha menor e acelerou forte.
– Durante dias, apareceu na TV e na rádio aquela mensagem para ir a Jinju. Eu sei que existe uma repetidora aqui, em cima de um morro, onde há uma grande antena. Se existe algum sobrevivente, sei que estão lá.
Oh Nam estava certo. No final daquela estradinha, havia uma grande muralha feita com móveis velhos como se fosse uma grande barricada. No que parecia ser um grande portão de entrada, havia quatro homens que usavam escopetas e revólveres.
Por isso, Oh Nam estacionou a uma boa distância e desceu do carro.
– Fique aí, por enquanto. – ordenou ele.
– Pare aí mesmo, amigo – Falou um dos homens, brandindo a arma, quando Oh Nam se aproximou dos portões. – O que quer aqui?
– Eu e minha esposa somos de Iksan. Nós ouvimos a mensagem que era para vir para Jinju.
– Esposa? Você é casado? Tem filhos?
– Não, senhor, mas minha esposa está grávida. Precisamos de abrigo, senhor.
Joo Mi não queria que ele mentisse assim tão descaradamente, mas pensou que deveria confiar nele, se quisesse ser aceita em Jinju.
– Uhm… grávida, é? – disse o homem, olhando na direção de Joo Mi. – São só vocês dois?
– Sim, senhor.
– Você tem armas, senhor? – perguntou o homem.
– Sim, tenho apenas um revólver para proteger minha mulher. – disse Oh Nam, tirando o revólver das costas e colocando-o no chão.
Joo Mi sabia que isso era mentira. Ele tinha outras armas que estava escondidas em algum lugar do carro. Se aqueles homens descobrissem, talvez os matassem.
– Certo, podemos revistar o carro, senhor? – perguntou o homem.
– Claro! Fiquem a vontade?
Joo Mi saiu do carro e se aproximou de Oh Nam furtivamente.
– Se eles descobrirem as suas armas, vão nos matar. – Cochichou ela no ouvido de Oh Nam.
– Fique calma, princesa… não vão descobrir…
Os homens vasculharam o porta-malas. Havia uma mala preta ali, mas quando o homem a abriu, viu que eram bandagens e remédios que Oh Nam havia roubado na farmácia. Não havia sinal da outra bolsa.
Entretanto, quando eles olharam o interior do carro, descobriram a camiseta suja de sangue que Joo Mi havia trocado.
– O que é isso, senhor? Vocês estão machucados? – perguntou o homem.
– Não, senhor. Nós fomos atacados na estrada. Um homem tentou machucar minha esposa e eu tive que atirar. Infelizmente, tive que matá-lo ou ele iria matar minha esposa grávida. Ela ainda está em choque e estamos preocupados que isso possa ter afetado o bebê. Mostra para ele o seu estômago, amor.
Joo Mi obedeceu e levantou a camiseta. As marcas roxas do acidente se mesclavam com as novas marcas dos socos que ganhara do homem na estrada.
– Isso parece bem feio. Não temos nenhum médico na casa, mas há um enfermeiro que talvez possa ajudar. É só o que podemos fazer por hora. Espero que fique tudo bem com o bebê. Ter uma mulher grávida aqui é uma grande esperança. Pelo que notamos, a quantidade de mulheres imunes é muito inferior, se comparada com a dos homens. Isso quer dizer que há muitos homens por aí e poucas mulheres, então, você já pode imaginar o que acontece. Soubemos que algumas mulheres que sobreviveram em Iksan foram estupradas e depois esquartejadas no centro da cidade. É uma sorte vocês terem saído de lá em segurança.
Joo Mi sentiu um grande peso em seu coração com aquela informação. Oh Nam havia falado de coisas horríveis acontecendo “lá fora”, mas ele não contou o que realmente ele viu. Talvez tenha sido isso.
– Não foi tanta sorte assim, amigo, já que no caminho para cá nós fomos atacados e eu tive que matar um homem. Acho que eu também estou em choque. Nunca imaginei que um dia eu iria matar alguém. Eu só comprei esse revólver para atirar em latinhas. Graças a Deus que resolvi fazer isso, ou minha esposa e meu bebê estariam mortos agora.
Joo Mi olhou para Oh Nam surpresa com a habilidade que ele tinha para mentir descaradamente. Mas isso era uma característica dos psicopatas. Eles sabem como encantar e enganar suas vítimas.
– Não se preocupe, senhor – falou o homem, com uma cara compassiva – vocês são bem-vindos à nossa cidade. Aqui vocês ficaram seguros.
Joo Mi não tinha tanta certeza daquilo. Afinal, eles estavam dando as boas-vindas a um assassino frio e calculista.