Os condenados – cap 8 – Pesadelos

Capítulo 8 – Pesadelos

AVISO: Capítulo com descrições fortes de violência sexual. Pule o capítulo, se for sensível a esse tema.

Joo Mi acordou no meio da noite. Alguma coisa estava acontecendo com Oh Nam do seu lado. Ele ainda estava virado para o outro lado, mas dava de ver que a camiseta estava toda molhada e grudada em suas costas largas. Ele ofegava e tremia como se estivesse tendo o pior pesadelo de toda a sua vida.

– Oh Nam? – Sussurrou ela, mas ele permanecia da mesma forma. Então, estendeu a mão e tocou levemente em suas costas.

Foi o suficiente para que ele levantasse de súbito e agarrasse sua mão, a ponto de quase quebrá-la.

– Oh Nam! Oh Nam! Sou eu… – falou ela mais alto a ponto de alertá-lo, mas não a ponto de alguém escutá-la no outro quarto.

Ele a largou, quando finalmente percebeu a situação.

Parecia lívido, pálido, os lábios arroxeados como se estivesse prestes a ter um grave ataque de pânico. Sua respiração estava oscilante. Ele se encolheu, abraçou seus joelhos e fez movimentos para frente e para trás.

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Era muito irônico a situação. Isso era o tipo de coisa que ELA fazia. Nunca imaginou que um psicopata, assassino e sádico teria um comportamento daquele. Mas solidarizou-se, pois sabia quão ruim era ter um ataque de pânico, então, estendeu a mão novamente e deu-lhe tapinhas no seu ombro. Ela não gostava de tocar em pessoas e não gostava que tocassem nela, mas achava que ele precisava muito do toque de alguém naquele momento.

– Vai ficar tudo bem! Vai ficar tudo bem… – dizia ela, num tom condescendente.

Aquilo teve um efeito imediato em Oh Nam. Aos poucos, sua respiração foi se normalizando.

– O que é que fez você ter esses pesadelos?

– Pesadelos? – disse ele, com um sorriso enigmático e triste no rosto. – Há pesadelos que ficam permanentemente encrustados em sua alma… Pesadelos que uma florzinha como você jamais sequer imaginaria.

– Pode contar pra mim, se você quiser… – disse ela, meio sem jeito. Não era o tipo de pessoa que sabia ser confidente de alguém. Mas na atual situação, sabia que ele não poderia contar com mais ninguém a não ser ela, assim como ela não poderia contar com mais ninguém a não ser ele. A ironia não cessava.

– Tenho medo de lhe contar e passar meus pesadelos para você, princesa. – disse ele, recostando-se na parede, agora mais calmo e em seu estado usual de sarcasmo.

– É arrependimento pelo que você fez às suas vítimas? – perguntou ela, inadvertidamente.

– Vítimas? – disse ele, quase gargalhando – E se eu lhe disser que foram minhas vítimas que me passaram esses pesadelos, amor… o que você diria?

– Eu não entendo, Oh Nam.

– Então, eu vou lhe contar, mas se for demais pra você, apenas me diga e eu paro… – disse ele, olhando seriamente para ela. – Você sabe que eu cresci num orfanato, não é?

– Sim, eu sabia… vi na sua ficha. Era um bom orfanato. Tinha bons professores. Você fez aulas em escolas privadas, pagas pela prefeitura.

– Claro… o prefeito era realmente muito caridoso, naquela época. – disse ele, carregado de sinismo.

– Ainda não estou entendendo…

– Meu irmão e eu tivemos uma boa infância até eu completar 12 anos e meu irmãozinho 10. Então, uma nova diretora assumiu o orfanato. Numa noite, ela levou meu irmão, eu e mais três garotas a um galpão. Disse que se fôssemos, ela nos daria sorvete. Quando se é uma criança pobre, um sorvete é uma pequena fortuna. Então, chegaram algumas pessoas ilustres: o prefeito, alguns professores, o juiz, alguns vereadores e até alguns policiais da nossa cidade. No início, foram apenas abusos. Foram difíceis, vergonhosos, confusos para crianças, mas eu era o mais velho e disse aos menores que tudo ficaria bem. Que foi apenas um castigo e que a diretora não permitia que nos machucassem mais. Aquela demônia ganhava dinheiro para que eles nos usassem.

– Meu Deus, Oh Nam… mas foi só uma noite?

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– Não, princesa… não foi uma noite somente. Era uma noite por semana. E os abusos se tornaram mais intensos. Eles nos batiam, nos torturavam, nos humilhavam. Enfiavam coisas em nós e nos obrigávamos a fazer coisas… e se nos recusássemos, eles nos queimavam…

Ele tirou a camiseta, como que para confirmar sua história.

Joo Mi levou a mão à boca, completamente aturdida com o que via. O corpo de Oh Nam, bem esculpido por músculos, possuía diversas cicatrizes de cortes e queimaduras que não eram naturais.

– Isso continuou por mais de um ano e por mais que nós nos opuséssemos, tudo piorava ainda mais. No início, eram apenas nós cinco, mas a diretora ficava cada vez mais ambiciosa e trazia as crianças menores também. Numa noite, eu vi um homem de 130 quilos pressionando seu corpo obeso sobre uma menininha de apenas 6 anos e menos de quarenta quilos. Eu escutei aquele barulho de galho se quebrando quando o homem a estuprava com força. Quando ela desmaiou, um outro homem chutou a garotinha em sua vagina para que ela acordasse. Ela morreu naquele dia. E no dia seguinte, foi meu irmão. Ele não aguentou. Se jogou do alto do orfanato, enquanto eu me distraía ajudando outra menina que havia sido estuprada.

– Eu sinto muito… sinto muito mesmo… – disse Joo Mi com lágrimas nos olhos. Aquela história era a pior que já ouvira.

– Quando eu vi meu irmão morto, seu corpo espalhado no chão e juntado em um saco de lixo, alguma coisa aconteceu comigo. Eu simplesmente desabei. Estava tentando ser forte até aquele momento por ele e pelas crianças menores, mas depois daquilo… simplesmente aconteceu alguma coisa comigo, Joo Mi…

– O que… o que aconteceu? – perguntou ela, com medo do que poderia ouvir. Já estava arrependida de tê-lo feito a contar aquela história. Era horror demais para ela suportar.

– Eu fugi. Abandonei as crianças e fugi. Vivi nas ruas, roubando aqui e ali para poder comer. Até que eu consegui um emprego para ajudar um mecânico. Ele era um cara legal. Me deu um lugar pra ficar, comida e ainda me ensinou muitas coisas. Enquanto eu trabalhava, tinha apenas uma coisa em minha mente: vingança.

“Eu guardei todo o dinheiro que ganhava, enquanto isso, acompanhei cada um dos homens e mulheres que participaram dos abusos”.

Ele respirou fundo. Aquela parte da história, ela conhecia. Sabia exatamente o que ele fez com suas vítimas, mas agora, não tinha mais tanto desprezo por ele. E não o julgava tão seriamente. Se fosse ela, no lugar dele, ela teria feito o mesmo? Ela não queria nem pensar. Sabia que não era tão forte quanto ele.

– Depois disso, cacei um a um e matei todos. Todos… Torturei todos eles… fiz ele provarem um pouquinho da dor que infligiram em mim e nas outras crianças. 17 crianças ao todo morreram nas mãos daqueles monstros, incluindo meu irmão. Eu senti prazer ao ver a vida daqueles demônios se esvaindo dos seus corpos enquanto eles estavam em minhas mãos… então… NUNCA… jamais irei me arrepender do que fiz a eles.

– Oh Nam… meu Deus… por que… por que você não disse isso no seu julgamento… por que não usou essa história para amenizar sua pena?

– Por que eu amenizaria, princesa? Aqueles monstros me transformaram em um monstro também. Depois que eu terminei minha missão… depois que eu os matei, achei que o melhor era ficar na cadeia.  Estava resignado com minha sentença…

Joo Mi começou a chorar. Não era muito de chorar, mas não conseguia se conter. Ficou imaginando em Oh Nam e em sua triste história e como tudo aquilo foi tão injusto com ele e com as outras crianças. Não podia imaginar porque havia pessoas tão más no mundo e como a sociedade não conseguia punir pessoas assim e proteger crianças tão inocentes.

– Não chore, princesa… eu falei que a história não era bonita… – disse ele, colocando a mão em seu ombro e fazendo uma pequena carícia com seu polegar. – Coisas assim sempre aconteceram no mundo e acho que sempre irão acontecer… só que agora pode ser ainda pior…

– Mas não deveria acontecer… nunca… nunca… Oh Nam… meu Deus, oh Nam. Eu sinto muito… sinto muito por isso ter acontecido… sinto muito…

– Não foi sua culpa, florzinha… – disse ele, puxando-a para si. Ela não resistiu. Apenas apoiou sua cabeça no peito dele, sentindo o calor da pele desnuda dele contra sua bochecha, enquanto ele a acariciava nas costas com suavidade.

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– Por isso você disse que nunca mataria ninguém que não merecesse? – perguntou ela, secando as lágrimas com as costas das mãos. – Você não é um psicopata. É um justiceiro que fez justiça com as próprias mãos. E isso está muito errado… muito errado, mas agora eu sei que você não é um psicopata.

– Eu sou, amor. E tenho consciência disso. Não hesito em matar, nunca hesitarei. Matarei sem pestanejar. Mas não faria isso com pessoas inocentes… Porém, isso não me isenta de ser o que sou: um monstro.

Ele tinha razão, pensou Joo Mi. No entanto, agora, sentia menos medo dele. Pelo contrário, gostaria de poder confortá-lo, mas não queria que ele visse isso como pena. Não tinha pena dele. Tinha orgulho. Porque ele passou por todos aqueles pesadelos e de alguma forma, sobreviveu ao inferno.