Salva Pela Maldição – Cap 20- O contrato

Capítulo 20 – O contrato.

No dia seguinte, Irene como sempre seguiu a sua rotina até as 7 h.

Então, quando o caçula saiu para entregar os salgadinhos, trocou de roupa .

Em seguida, estava indo para a porta, quando sua mãe lhe pergunta.

o contrato

– Aonde vai tão cedo? Nem tomou café! Precisa comer, filha. – disse a mãe, segurando uma xícara fumegante.

– Vou resolver esse problema do despejo antes que piore!

– Aquela ratazana de igreja! Como pode fazer algo como isso? Eu gostaria de estrangular o pescoço dela.

Sua mãe torcia uma toalha de louça, depositando ali toda a sua fúria. Irene não a condenava, pois sabia que estava devendo.

– Tudo bem em pedir a casa. Era só vir aqui e falar conosco. Quando ela precisou encomendar salgadinho pela metade do preço, ela veio e te achou! Agora para trazer as intimações para as audiências, aí não te achou!? Nem aqui e nem no mercado!? – disse a mãe, revoltada, enquanto entornava o café quente – É cara de pau!

– Deixa mãe! Talvez seja melhor sairmos daqui mesmo! A vizinhança é fofoqueira demais. Eu não me meto na vida deles, mas a fofoca correu tanto que a dona Maria me ligou ontem, antes de eu dormir, perguntando o que estava acontecendo!

– E agora o que vai fazer? – interpelou a mãe, visivelmente preocupada.

– Vou negociar outro emprego. – mentiu Irene, pensando no encontro com o tarado – É temporário, mas vou receber um bom salário. Com isso já podemos nos mudar logo.

– Boa sorte então! – abençoou a mãe, sem saber no que Irene estava se metendo.

Minutos depois, Íris abriu a porta quando ouviu a primeira batida de Irene.

De camisola puxou Irene para dentro. E em seguida, fez a amiga se sentar à mesa da cozinha. Estava fazendo café.

– Sabia que era você, para vir tão cedo! Então, quer dizer que marcou o encontro, né!? O Secretário ligou uma hora depois que você saiu, então. Diga-me, você conhece o secretário? Ele é apresentável como a voz dele? Parecer bem sério! Tudo formal. – Irene estava se servindo, enquanto Íris falava sem parar. – Vai ser quando o encontro? Com a palidez e olheiras, pelo jeito teve uma noite mal dormida!?

A amiga responde sem forças.

– Hoje! Às 9: 30.

– Sim ! E ainda não se arrumou?

– Estou arrumada! O quê? Quer que eu coloque um vestido de festa para ver aquele tarado?!

– Tem que ir meio apresentável, pelo menos! Está com a cara de um defunto! Sem falar da roupa, que parece pano de chão! Até um mendigo se veste melhor que você! – Irene estava tão desanimada que não tinha forças para retrucar a amiga.

– Se eu me arrumasse, iria chamar a atenção lá em casa! Trouxe umas roupas na sacola. Então, escolhe aí qual fica melhor para essa ocasião! – disse ela, jogando a sacola para Íris.

Íris remexeu em tudo mas só gostou da calça que Irene tinha colocado ali. Então, foi até o seu quarto e deu na mão de Irene uma blusa de lã, mesclada de bege e marrom, combinando com a calça jeans e o calçado.

Em seguida, Irene tirou o casaco de fio puxado, trocando pela blusa. E a amiga fez questão de maquiar, disfarçando as olheiras.

Sem jeito, Irene faz o pedido a amiga.

– Empresta uma grana para pegar um Uber? Poderia chamar para mim? Não quero me atrasar. Para voltar, eu pego um ônibus. Se der certo, eu te pago o dobro!

– Não precisa se preocupar com isso! Mas não seja boba! Negocie o valor que ele te propôs no Supermercadão. Assim você pode ficar livre do aluguel!

Um pouco depois, Irene pegou o Uber na frente do salão.

Entretanto, a irmã de Íris já estava como sempre na janela. E quando Íris se virou, foi interrogada.

Íris tentou disfarçar, olhando as plantas, foi chegando perto da porta. Mas não conseguiu sair de fininho.

– Aonde a ‘sem teto’ está indo?

– Não é da sua conta! – replicou Íris. – E o nome dela é Irene e não ‘sem-teto’.

– Fiquei sabendo que ela foi despejada! É verdade? – a caçula tentou ignorar a irmã fofoqueira e venenosa. – Arrumada daquele jeito deve estar indo chorar na imobiliária! Talvez convença o seu Joaquim a pagar os aluguéis! Falam as más línguas que os dois tem um caso!

– A pior das línguas, infelizmente, é da minha irmã! Não tem vergonha!? Não tem mais o que fazer? Fica na janela que nem a Fifi fofoqueira! – irritada Íris entra para o salão.

Minutos depois, o Uber deixou Irene na frente da Cafeteira.

Era muito chique o ambiente, que Irene sentiu desconforto.

Tudo muito bem decorado e organizado, ela não combinava com aquele ambiente.

Ficou na porta parada sem saber como entrar, apenas sentindo aquele delicioso cheiro de café. Ela não havia comido nada e agora seu estômago dava sinais de que realmente precisava fazer o desjejum.

Em seguida, o senhor Kim que estava no carro, saiu e foi até a porta, acionando o sensor liberando a entrada. Ela se virou meio sem graça.

– Muito obrigada! – disse ela, meio de cabeça-baixa.

– Não foi nada senhora! – respondeu o Sr. Kim, com uma certa pena do desconcerto de Irene.

A parte da frente da cafeteria era espelhada.

As pessoas de fora não podiam ver as de dentro. Mas lá dentro Goon estava rindo da ignorância de Irene. Falou para o primo.

o contrato

– Vai receber aquela burra! É capaz de não nos achar aqui! Que vergonha! O pessoal que viu a tança parada na porta, vai pensar o que de mim?!

Jun Ho, meio contrafeito, foi ao encontro de Irene.

– Bom dia, senhora Irene Tomaselli!?

– Bom dia, senhor Park Jun Ho! – respondeu ela, reconhecendo sua voz.

– Como a senhora pediu o lugar é bem frequentado. Contudo, reservamos uma sala separada para que o Sr. Goon e a senhora possam conversar com privacidade. É só me seguir.

– Sim!

Enquanto ela se aproximava, Goon avaliava o seu castigo. Em pensamento dava pontos para as partes do corpo. Era um costume, desde que começou a sair com garotas. Nunca saiu com uma que a nota geral fosse menor que ’70’.

“Vejamos! Rosto: boca 1,5; olhos 2,0 (Olhos bonitos, mas a cara não ajuda!); nariz, parece uma batatinha 1,0. Sobrancelhas 1,0. Ela não tem pinça em casa?

A baixa pontuação de Irene só piorava a situação, mas ele continuava com o seu ritual:

“Corpo: braços, com esse blusão não dá para ver. Mas, não deve passar de 1,0. Os seios são de bom tamanho 3,0. Cabelos 1,0. Sempre desse jeito!? Ela tem alergia a pente? E ainda trabalha em um salão de beleza! A coitada da dona vai à falência com ela!”

Ele sorria pensando naquela figura esdrúxula, imaginando o que fizera para merecer aquilo.

“Quem vai querer fazer o cabelo lá se a funcionária tem um cabelo desse jeito?! Pernas, como saber se está usando calças! 1,0 para combinar com os braços!”

Ele nem sequer se deu conta de que Irene estava em sua frente. Jun em pé ao seu lado, fez um sinal.

Ele se levanta para cumprimentá-la. Do outro lado da mesa, faz sinal para ela se sentar, enquanto falava.

— Bom dia! Senhora Irene Tomaselli! Sei que deve estar nervosa. Foi uma má impressão que dei no Supermercadão. Mas pretendo corrigir esse meu erro! Pode se sentar! As damas primeiro! – Irene se virou um pouco para se sentar no seu lugar, então Goon pode observar o seu traseiro.

“Bumbum. Au! 30,0. É um desperdício de um bumbum, nesse corpo, por isso vou dar 10,0”, pensou ele, zombeteiro.

Goon chama o primo para fazer os pedidos. Foi servido café, com uma fatia de bolo Marta Rocha para cada. Desde, que chegaram no Brasil.

Ele e o primo se viciaram no café brasileiro. E ao provar o Bolo Marta Rocha, não queriam outra coisa para acompanhar o café, ou a laranjada do seu dejejum.

Irene arregalou os olhos com o bolo. Fazia tempo que não provava uma Marta Rocha mas tentou não parecer gulosa. Além disso, o café era delicioso.

– Gostaria de saber se a senhora está disposta a fazer um favor para mim?

– Dependendo do favor!? – respondeu ela, saboreando o pedaço da torta em sua boca.

– Não sei como me expressar, sem chocar a senhora?

– Pode falar, tentarei ser compreensiva! – disse ela, adorando o creme que haviam colocado sobre o café. Era como aqueles cafés da TV com canela e raspas de chocolate sobre o creme.

– Como dizer em sua língua.- olhando para Jun que, estava sentado em outra mesa, atrás de Irene. O primo fazia gestos, dando apoio moral para Goon. – Então ele respirou fundo e continuou – Eu sou esquizofrênico! Suponho que já deu para perceber no nosso primeiro encontro. – ele ficou intrigado com a feição de Irene para ele. O que ele disse fez impacto.

– Esquizofrênico! Isso explica muita coisa! – respondeu ela, entendo aquele comportamento estranho dele.

– E como esquizofrênico, tudo que me chama atenção eu quero provar. Quero ter para satisfazer a minha curiosidade. Não sei se dá para me entender?- a mulher olhava-lhe com dó. Deixando ele ainda mais Intrigado. Será que ela não estava entendendo o que ele dizia?

– E o senhor fez aquela proposta por causa disso? Deve ser difícil para o senhor viver assim? Ainda bem que é rico e pode satisfazer as suas curiosidades. Senão, seria trancado em um manicômio.

– Manicômio? O que é isso? – perguntou ele, pois nunca havia ouvido aquela palavra, apesar de saber português com fluência.

– Um lugar que o senhor não gostaria de conhecer! – respondeu ela, simplesmente – Mas pode falar o que pretende comigo? E por quê?

– Não sei se assistiu ao filme ” Proposta Indecente”? – tentou ele, explicar de uma forma racional.

– Não! Mas sei, do que se trata! – disse ela, em seguida.

– Bem! É isso! Eu pretendo ter 7 noites com a senhora! E pagarei 500mil reais, por essas 7 noites.

Nesse momento ela só pensou no dinheiro pois era uma quantia, que garantia um teto para ela e seus filhos nesse momento tão difícil pelo qual ela passava.

Dava de comprar uma casa razoável e ainda sobraria para fazer umas aplicações. Disso, ela entendia, conseguiria multiplicar o que sobrasse. Talvez até abrir um escritório de contabilidade, como era seu plano quando era mais jovem.

– Só 7 noites? Vai ter fantasia? Vou ter que satisfazer de formas esquisitas? Porque isso eu não faço! – respondeu ela, lambendo o creme que havia na xícara do café.

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– Não! Vai ser só o básico! Nem beijo vai rolar! Não quero beijá-la. – desde que ela começou a conversar, ficou observando seus dentes, para dar nota, mas eram escuros. Nota 1,0. Até se sentiu mal ao se imaginar beijando-a.

– Então podemos negociar, sim. Mas para quando vai ser isso? – fazendo sinal, Goon chama o primo.

– Jun, por favor, dê o contrato para a senhora Irene Tomaselli ler e assinar!

– Contrato, para isso? E precisa? – perguntou ela, achando tudo tão estranho e formal.

Jun pegou da maleta uma pasta e depois o contrato, em seguida, entregou-o nas mãos de Irene.

– Sim! Eu gosto de ter tudo ao meu controle! Vai que a senhora volte atrás!? E é uma garantia para a senhora também! Caso eu quebre o contrato! A parte que desistir terá o prejuízo! – ela começou a ler e questiona.

– Então, está escrito aqui que só é para a próxima semana? – perguntou ela, apontando a data no contrato.

– Sim! Nessa semana, tenho uma negociação em São Paulo! – mentiu ele, pensando que seria impossível fazer aquilo na lua minguante.

– Como pode garantir que voltará e cumprirá esse contrato? – perguntou ela, bebericando o finalzinho do café.

– Como disse! O contrato é uma garantia para ambos. (Goon fala em coreano com o primo. “- Não falei que está louca pelo dinheiro! Desse jeito tudo ficou fácil!)

Irene ficou um bom tempo tentando entender o contrato.

O contrato estava escrito com palavras difíceis de pronunciar e esquisitas. Mesmo sendo em português, algumas palavras ela nunca viu, nem imaginava do que se tratava.

Seu coração começou palpitar forte, parecia ter uma voz em seu ouvido dizendo”não assina”. Mas quando Goon pediu o número da sua conta-corrente, e diante dela fez um depósito de 100mil reais. Não viu, nem ouviu mais nada!

Em seguida, assinou o contrato. Mas logo lembrou, que àquela conta a sua ex-sogra também tinha acesso. Só pensou em correr para o banco, para pegar o dinheiro antes que a cobra roubasse ela novamente.

Depois das assinaturas ambos apertaram as mãos. Irene ficou desconfiada. Afinal, Goon não tirou as luvas.

– Vou registrar em cartório e depois te dar uma cópia do contrato! – falou Jun para Irene, antes de saírem.

Se despediram na frente da cafeteria. Jun ofereceu carona, mas Goon fez careta para ele dispensar ela logo.

Antes deles saírem de carro, ela correu para o ponto de ônibus mais perto e foi ao banco.

– Poderíamos ter dado uma carona, qual o problema? – perguntou Jun.

– Já não chega a vergonha que eu passei lá dentro! E não esqueça que aquela caipira me chamou de idiota!

– Não achei ela horripilante como você contou! Assim, vendo, agora de perto, até que é uma mulher bem simpática!

– Desde quando simpatia significa beleza? Para mim ela é horrível!

– Mas foi pura maldade o que você fez! Nunca pensei que você poderia ser tão cruel Goon!?

– Deixa de ser coração mole pois foi melhor assim! Ou você preferia o plano B? – o primo iria falar, Goon mais que depressa, fez sinal para Jun fechar o bico. Mesmo dirigindo, Goon percebeu que o Sr. Kim estava prestando atenção na conversa e ainda não confiava completamente no guarda-costas.

Professora de Arte Pós-Graduada. Nascida em Joinville. Signo: Libra