Salva Pela Maldição – Cap 21 – A conta

Capítulo 21 – A conta.

Assim que desceu do ônibus, Irene correu para o banco.

Em seguida, ficou sentada esperando sua vez de ser atendida por um bom tempo.

O suor corria pelo rosto então tirou a blusa de lã. E ficou com uma blusa de malha, nada combinando com seu traje anterior.

a conta

A blusa parecia bem surrada, já meio desbotada por tanto uso, por isso os dois funcionários, auxiliares da gerência, estavam desdenhando da sua aparência.

Por julgarem sua aparência, não faziam questão em serem simpáticos pois ela não era uma cliente importante. Então, atenderam outros na sua frente. Sempre pediam desculpas, dizendo que os clientes já haviam vindo antes, e voltaram só para trazer documentos.

Até os outros clientes estranhavam, mas Irene não reclamava, pois estava ansiosa para tirar o dinheiro antes que a sogra descobrisse que ela havia ganhado uma boa grana.

Quando não tinha mais ninguém, tiraram, às escondidas, par ou ímpar, para ver quem a atenderia. Para eles, pobres só vinham trazendo problemas. O mais novo deles perdeu e teve que atendê-la. Então fez sinal para ela, se sentar em frente de sua mesa.

– Bom dia senhora!? Como posso ajudá-la? – perguntou ele, sem entusiasmo.

– O negócio é o seguinte: Eu tenho uma conta nesse banco, contudo, eu quero fechar essa conta e abrir outra.

– Qual o problema com sua conta? Nós podemos solucionar!

– Nada contra o Banco mas é a minha ex-sogra! Aquela jararaca, também tem acesso à conta. Foi meu ex-marido, que Deus o tenha que a colocou, na conta conjunta comigo. Não quero ela, raspando as minhas economias! Pra mim, chega!

– Podemos mudar a senha, ou tirar ela da conta!?

– Nada disso! Aquela deve ter pacto com o capeta! Já mudei várias vezes a senha, e sempre ela conseguiu entrar na conta e pegar até as merrequinhas (Irene usava esse termo, para pouca quantia de dinheiro), que eu deixava. Por isso quero tirar tudo! Raspar todo o dinheiro! Toda minha merrequinha! Não quero deixar nada. Nem pista. – enquanto falava o frio voltou a incomodar. Se levantou e vestiu o blusão.

O rapaz já estava entediado com a conversa.

– Em primeiro lugar, tenho que abrir outra conta. Trouxe os documentos necessários?

– Precisa de comprovante de residência?

– Claro! Vou precisar sim. Não trouxe?

Irene pensou, sabia que tinha na bolsa. Mas estava com aviso de atrasado, tinha um prazo para pagar até o final do mês. Caso contrário seria cortado o fornecimento de energia. Portanto, mentiu.

– É que estou para me mudar essa semana! Posso trazer depois?

– Sim! Agora poderia me dar o cartão da sua conta? – ela tirou da bolsa a carteira e pegou o cartão que fazia tempo que não usava, e entregou ao moço.

– Pelos seus dados aqui, a senhora mora na Rua: Presidente Celso Ramos n.º1526. Edifício Marrocos. Fica próximo daqui!?

– Sim! Isso mesmo! – deu um sorriso amarelo para o funcionário. – aquele era seu antigo endereço.

– Posso deixar nesse mesmo?! Depois a senhora atualiza o endereço, quando mudar. Pode ser?

– Sim. Eu venho aqui e atualizo.

– Não precisa! Faça isso pelo site ou aplicativo do banco.

– Ótimo!

Depois de um tempo, o rapaz pede para digitar uma senha para nova conta e escaneia a digital de seu dedo. Mas um pouco, e estava tudo certo.

– Então agora vamos retirar as suas merrequinha da conta antiga e fechar totalmente.

– Já disse, quero tirar tudo! Até os centavos!

gerente da conta

– A senhora tem… – o homem ficou espantado olhando o valor. Ele quase não acreditou. Pegou novamente o cartão para conferir o número da conta. Agora quem deu um sorriso amarelo foi ele.

Ele anotou o valor num papel e entregou para ela. No mesmo instante, se levantou, e mudou da água para o vinho. Agora sorridente e simpático, conduziu Irene até o caixa.

Em seguida, conseguiu com que ela passasse na frente dos outros, para fazer a transferência do dinheiro para a nova conta.

Feito isso, levou ela até sua mesa, e entre conversas e sorrisos, jogava charme para ela. Irene começou a ficar desconfiada e sem jeito, com toda aquela bajulação, pois isso nunca acontecia com ela.

Agradeceu a atenção, e saiu assim que deu uma desculpa de que estava atrasada para o trabalho. O outro atendente, ficou espantado com o comportamento do colega.

– Eu vi bem!? Você estava cantando aquela mulher pobretona?

– Sim! Tudo por ela ser uma cliente em potencial. E por causa das merrequinhas dela. Pois sabe quanto ela têm?!

– Nem faço ideia!?

– R$100.018,30

O colega dele apontou para Irene que estava saindo pela porta giratória.

– Aquela Mulher!? Que na testa está escrito “Sou Pobre”! Tem tudo isso na conta?

– Para você ver! Quem diria!? Perder no par e ímpar, não foi meu azar pois agora serei o gerente da conta dela.

Mais tarde, na hora da janta, Goon sai do seu quarto e vai para a cozinha reclamando. Estava a beira de um ataque de raiva.

– Sabia que você é um incompetente! A feiosa me olhou com dó! Deu para ver, que o que eu disse, lhe comoveu! Seu idiota! – beliscou o primo no ombro.

– Aiiiiiiiiii, isso doeu! – reclamou o primo, em seguida, esfregando o braço.

– Mas é para doer mesmo! – reclamou Goon.

– O que fiz de errado? – perguntou Jun sem entender o comportamento do primo.

– Olha aqui?- mostrou no celular o significado da palavra esquizofrênico em coreano.

– O que tem isso? – recebeu um cascudo na cabeça.

– O que tem?! Agora ela pensa que sou um doente mental! Ao invés de esquizofrênico, era para ser essa palavra! – mostrou novamente o celular. No visor estava escrito a palavra: excêntrico.

– E qual é o problema ela pensar que você é um doente mental? É melhor ela pensar que você é um doente assim, do que um mau-caráter!

Goon ia bater no primo, mas o senhor Kim apareceu na porta da cozinha, com as entregas de comida que Jun havia pedido minutos antes.

Professora de Arte Pós-Graduada. Nascida em Joinville. Signo: Libra