Salva Pela Maldição – Cap 26 – Vergonha

Capítulo 26 – Vergonha

No caminho para o hotel, o Sr. Kim a observava pelo espelho. Assim, percebeu quando Irene colocou suas peças íntimas no envelope, e enrolou esse com o jeans, ficando fácil para carregar.

Seria constrangedor entrar no hotel, mostrando sua calça naquele estado.

Ela observava as luzes da cidade tentando disfarçar sua vergonha. Mas há uma altura, não conseguiu mais segurar. Começou a enxugar as lágrimas e mais um pouco começou a soluçar convulsivamente.

O Sr. Kim, ouvindo o choro, parou o carro no acostamento. Em seguida, virou-se para ela.

— Sra. Tomaselli! A senhora está bem? – fungando e soluçando, ela esforça-se para responder.

— Pode continuar! Eu estou bem!

— Mas, a senhora está aos prantos? O Sr. Goon a machucou?

— Não! Ele não fez nada além do que foi combinado! Então, podemos ir! – ele tira do seu bolso um lenço e oferece para ela… Sem cerimônia Irene pega o lenço, que tanto era necessário naquele momento.

— Obrigada motorista!

— Pode me chamar, de Sr. Kim pois eu não sou motorista! Sou o responsável por toda segurança da família do senhor Choi Goon Yoon. Então, estou aqui como guarda-costas a pedido do senhor Choi, pai do Sr Goon.

Irene admirou-se com aquilo, pois não sabia exatamente nada da história de Goon.

– O pai dele, meu patrão, estava receoso, que seu filho fizesse algo imaturo. Então pediu-me para acompanhar ele de perto, cuidando que ele, não se meta em confusão. Assim, espero que guarde segredo! – ela balançou a cabeça positivamente. – O Sr Goon, não sabe que está sendo vigiado! Então, fiquei preocupado, quando ele pegou a faca! E depois ouvia a senhora gritando! Foi ele que cortou a sua calça?

— Sim! O zíper não abria! – falou ela, corada de vergonha.

— Está chorando por causa disso? Imagino que esteja assustada com tudo que aconteceu?-

Fungando, ela falou:

— Não é por isso! Ele me pagou pelo prejuízo! – dizendo isso voltou a chorar soluçando. Mas tenta explicar. – É que sou uma filha horrível! Minha mãe vai ter um ataque do coração se souber o que fiz hoje! Além de mentir, para ela e para os meus filhos, cometi um ato pecaminoso! Mas as coisas estavam estão tão ruins lá em casa, e eu só encontrei essa saída! Que vergonha!

Dessa vez, quem se sentiu mal foi o senhor Kim, nesse momento. Pois sabia do motivo daquele choro tão amargo! E por não poder contar a verdade para aquela mulher aos prantos.

— Não se culpe! Pois estou certo de que fez pensando no melhor para a sua família! O Sr Choi Goon poderia ter feito algo pior!

Irene ergue a cabeça para olhar nos olhos dele, e o encarou por uns segundos. Então, se lembrou do bilhete que recebeu no seu trabalho. Incrédula perguntou.

— Por acaso foi o Senhor que me mandou aquele bilhete, naquele dia?- ele não queria se expor, mas confessou.

— O Sr Goon é um pouco impulsivo! Primeiro age e depois o irmão, ou o seu pai tem que o socorrer. Livrando das confusões que ele se mete! Se eu lhe mandei aquele conselho, é porque temia que ele pudesse fazer algo de ruim com a senhora! Pedi para aceitar se encontrar com ele, e entrar em um acordo. Assim evitaria problemas maiores! – ela escutava atenta e lembrava da cartomante. Tudo estava se encaixando. Contudo, também lembrou da doença. Mas concluiu.

— Deve ser difícil para a família! Principalmente para os pais ter um filho esquizofrênico!?

— Esquizofrênico? Não sei o que significa no seu idioma? – indagou o Sr. Kim.

— Ah! Problema psicológico! – o Sr. Kim lembrou que Goon fez terapia, por tentar o suicídio.

— Sim! Ele passou por um período bem difícil, assim que sua esposa morreu! Fez várias sessões de terapia!

— Ah!? Ele foi casado?

— Foi! Sua esposa morreu num acidente de carro! O Sr Choi Goon chegou a ver o carro onde ela estava, capotar e bater, de frente com um caminhão de carga! Desde então, têm tido crises!

— Nossa! Deve ser difícil esquecer essas lembranças! Meu marido também morreu num acidente de carro, então eu sei como é sofrido, aceitar que alguém que saiu de casa com saúde e feliz! Voltar, para nós em um caixão! Ficamos impotentes diante da morte! – ela enxugou as lágrimas. Mas não soluçava. Estava mais calma. O Sr. Kim teve vontade de consola-la com um abraço. Seu semblante era de uma criança amedrontada com tudo em sua volta.

— Compreendo! Entendo o que quer dizer! A vida deve ter sido dura com a senhora, após a morte do seu marido! Não foi?!

— Sim! Fiquei com dois filhos pequenos e uma mãe doente para cuidar! Minha mãe já não podia trabalhar fora! Então cuidou dos meus meninos, e eu tenho trabalhado para dar conta de tudo.

— Sra. Tomaselli! Não se julgue! Não estar cometendo um ato pecaminoso! Se o seu objetivo, não é luxuria!? Acredito que Deus não a condenará! Fez tudo pensando em dar o melhor para a sua mãe e para os seus filhos.

— Claro! Só aceitei pensando nos meus filhos! Minha mãe e meu pai com muito esforço ajudaram a pagar a minha faculdade. Então, gostaria de poder ajudar os meus filhos a fazer um ensino superior! Esse acordo que fiz com o Sr Goon, vai me dar a chance de pelo menos ter condições de resolver o problema que está acontecendo lá em casa!

— Não se preocupe! Tenho certeza que terá condições de melhorar muito mais! Mas vou lhe perguntar outra vez! O senhor Goon lhe machucou? Pode ser sincera comigo!?

— Pode ficar tranquilo Sr. Kim! Ele foi muito cuidadoso! Eu gritei por ter me assustado com a faca!

— Está melhor? Podemos ir?

— Sim! Estou bem melhor! Eu vou ficar, ficar para lavar! Então, e lhe devolvo depois – falou mostrando o lenço.

— Não precisa me devolver pois pode precisar novamente! Fique consigo!

Quando o Sr. Kim acabou de falar, se virou para frente e ligou o carro. Contudo, continuou o trajeto até o hotel. De vez em quando, a observava pelo espelho. Em seguida, pode perceber que ela respirava mais leve. Foi bom chorar! Tirou uma carga, que Goon pôs em seus ombros, com a farsa do despejo.

Íris estava no hall do hotel conversando com um grupo de pessoas que voltaram do festival. Todavia, colhia todas as informações possíveis. Caso sua irmã perguntasse, teria o que contar. Ela constatou pela porta de vidro, quando o carro estacionou.

Em seguida, pediu licença e saiu para receber a amiga e observar o bonitão. Ficou na frente da porta.

O Sr. Kim que foi conversar com ela.

— Boa noite! A senhora Tomaselli, está um pouco abalada emocionalmente! Então, seria bom entrarem e conversarem um pouco. Por favor tente acalmá-la!

— O que aconteceu com ela? Não me diga que aquele esquizofrênico a maltratou?

— Não! Claro que não foi isso! Não tem nada a ver com o senhor Choi, pelo que me contou. É uma crise emocional, referente aos familiares. Está se sentindo culpada e com vergonha! A senhorita, é bem chegada, poderia conversar e tirar dela esse sentimento de culpa!?

— Coitada! Sempre foi certinha em tudo! Para certas coisas é esperta! Mas nessa situação é ingênua! Até agora só tivera um parceiro sexual! Não casou virgem! Mas, o marido até hoje foi o primeiro e o único!

O Sr. Kim ruborizou com a revelação. Sem jeito pediu licença e foi até o carro, abriu a porta para Irene e comentou.

vergonha

— Conversei com sua amiga! Expliquei porque está com os olhos vermelhos. Então não precisa ter vergonha de mostrar seus olhos inchados! Ela é compreensiva. Acredito que  seja  experiente o suficiente,  e pode lhe convencer que, não há nada de pecaminoso no seu ato!

Irene saiu do carro com ajuda dele. Assim que ela saiu, Íris veio até ela e a abraçou! Era o abraço que o Sr Kim desejou fazer, dar aquele abraço de consolo! Pois pelo seu caráter, ele se sentia mal sendo cúmplice do Sr Choi Goon.

Mesmo não concordando com o seu patrão, não pode impedir. Então, teve que aceitar a armação do despejo, que para ele era jogo sujo!

Ao chegar na casa, ligou para o pai de Goon, relatando todo o acontecimento. Em seguida, forneceu com detalhes a conversa que teve com a senhora Tomaselli.  Comovido com a situação o Sr. Choi deu instruções  para o Sr. Kim realizar algo por ele.  

Íris e Irene entraram no hotel, no quarto contava para a amiga o que aconteceu.

— Em primeiro lugar, me conta: por que chorou?

— Estou me sentindo mal! Com muita vergonha! Não fiz nada que me orgulhe! Isso não é comum para mim! Como vou encarar minha mãe e meus filhos amanhã?

— Irene!? Você pensa que é perfeita!? Quer que eles te vejam como filha e mãe perfeita!? Você é humana! Então, tem todo direto de errar!

Íris tentava animar Irene que parecia desolada.

– Vai encarar eles amanhã como a filha dedicada e a mãe responsável como sempre foi! O que fez! Fez! Pelo bem deles! Não cometeu nem um crime! A bíblia está cheia de história cabeluda! Rute quando viúva se aproximou de outro homem para ela e a sogra não passarem necessidades! Ester foi ser esposa do rei, sem amor! Só pelo bem do povo! E Abraão com medo de morrer ofereceu a esposa para outro homem. Ele não se preocupou se estava cometendo pecado! Só pensou em salvar a vida!  E você! Vai se sentir culpada por quê?

Em seguida, ela cobriu o rosto e começou a chorar novamente. Íris ficou espantada com  a ação da amiga

— Deus meu! O que eu falei de errado? Por que está chorando agora?

— É que sou uma pervertida!

— Claro que não! Você é uma mulher desesperada apenas!  

— Nada disso! É que eu gostei! Quando eu estava com ele na cama, não pensei em nada além de como estava gostoso tudo aquilo! Nem da camisinha eu lembrei! – chorou escondendo o rosto de vergonha.

— Irene! Você se apaixonou por aquele esquizofrênico!?

— Não! Claro que não! É que foi tão bom! Faz tempo! Você sabe muito bem! Foi bem diferente do tempo do João! – chorou mais um pouco. – Que o João me perdoe!

— O João já está morto a mais de 8 anos! Então, deixa de se preocupar com isso! – a amiga sentou ao seu  lado na cama, e ficou bem perto. Falou num tom malicioso.

— Conta-me como foi? Para você ter gostado tanto!? – ela ficou duvidosa, parou de chorar e seu semblante corou. Falou como quem conta um segredo.

— Íris! Eu nem te conto pois isso não é coisa para contar para os outros!

— Irene! Se não me contar, eu não saio hoje daqui! Então, não me esconda nada! Quer dizer que o maluquinho é bom de cama? Ah! E o tamanho?! Dizem as más línguas, que não são bem dotados!? É isso mesmo?!

— Não vi nada de errado! Aliás é de bom tamanho! – ficou vermelha. – Assim, vamos embora?

— Me conta desde o início! Eu não vou arredar meus pés! Enquanto você não me contar tintim por tintim!

Irene ficou receosa, mas logo começou a falar emocionada.    

   

Professora de Arte Pós-Graduada. Nascida em Joinville. Signo: Libra