O Prédio
Íris estacionou, e ambas saíram do carro, ficando perplexas olhando o imóvel. Irene tirou da pasta o envelope e despejou em sua mão esquerda as chaves, eram no total 17 chaves contendo uma etiqueta numerada em cada uma. Depois colocou de volta as chaves no envelope.
— Juro que pensei, que fossem chaves de cômodos de uma casa como: portão, lavanderia, cozinha, assim por diante. Nunca pensei ser dona de um prédio! – elas se olharam meio duvidosas. — Tem certeza de que esse é o endereço Íris?
— Claro Irene! Eu segui certinho o GPS. – nesse momento um luxuoso carro, para na frente do prédio próximo delas. Um senhor alto e grisalho saiu do carro. Estava bem-vestido e carregava uma pasta de couro invejável. Andou na direção delas e perguntou.
— Bom Dia! Das senhoras! Quem é a senhora Tomaselli? – Íris apontou para amiga e Irene automaticamente deu um passo para frente.
— Deixe -me apresentar! Eu sou o Dr. Juliano. Fui contratado pelo senhor Kim. Ele me deixou a par de toda a situação. Após vermos o imóvel, podemos ir ao cartório registrar e transferir tudo para o seu nome. A senhora já assinou os documentos?
— Sim, estão todos aqui. É esse mesmo o imóvel?
— Sim! Esse mesmo! É um prédio de arquitetura mais antiga! Os apartamentos são maiores que os atuais. Tem 6 andares, cada andar tem 4 apartamentos. Um com 3 dormitórios, dois com 2 dormitórios e um com 1 dormitório. O elevador também é antigo, podendo ser trocado, ou manter a manutenção a cada 6 meses. A senhora pode fazer o que achar melhor, a empresa que cuida da manutenção, garantiu que a troca por um elevador novo, não fica caro, e nem vai demorar muito para trocar.
— Mas é preciso?
— O senhor Kim, achou que se colocar na ponta do lápis, a manutenção custa caro.
— Nesse caso vou pensar!
— O Senhor Kim fez questão de deixar todos os impostos desse ano pagos. Até as dívidas. Vamos entrar? – o homem fez sinal para elas. — Pode ser pelo portão ao lado ou pela galeria?! Têm as chaves, né?
— Tenho várias, não sei qual pode ser?
— O senhor Kim deve ter numerado por função!
— Irene não havia notado, dentro do envelope tinha uma folha de papel dobrada. Escrita à mão. A letra era de forma. (A letra do senhor Kim!? Bonita como ele! Pensou Irene). Era uma lista com os números das chaves correspondentes a função. Ela pegou as chaves da grade da galeria, (eram duas presas em um só elo) e deu ao Dr. Juliano.
O homem foi na frente e abriu a grade. deixando elas passarem por ele. Depois só encostou a grade no chão, sem fechar com chave. Entregou as chaves para Irene.
— Enquanto olhamos o imóvel, eu vou explicando. Qualquer dúvida pode interromper! Combinado?
— Sim! – Irene fez sinal para Íris ficar do lado. Acompanhando o advogado que falava mais que o “homem da cobra”, detalhando tudo!
— Na galeria há 4 salas, as maiores são as da frente. E estão mais de um ano vazias. Em uma funcionou por anos uma loja de grife. Na outra funcionou uma seguradora de automóvel e depois uma loja de artigos de decoração. Nessas do fundo – apontou para a porta da direita. — Aqui é o consultório de uma dentista, e na da frente é uma loja de semi-joias e prata. – apontou para um balcão no canto esquerdo do corredor ao lado da loja.
— Nesse balcão fica o recepcionista, que também atua como selador. Ele recebe um salário-mínimo, vale-transporte e o almoço. Começa às 9 horas e vai até as 18 horas, com uma hora para o almoço. O dono da loja de joias tem as chaves da grade da galeria. Ele abre a galeria as 8:30, quando chega. A dentista começa às 9 horas e fecha às 20 horas. Ela é a responsável de fecha a galeria.
— Entendi
— Antigamente o prédio tinha um síndico que recebia para cuidar disso. Morava no primeiro andar. Faz 4 anos que se mudou. Desde então, ninguém quis assumir essa responsabilidade. Em consenso resolveram fazer do jeito que está agora.
— Parece serem responsáveis os inquilinos aqui!
— Não todos. Houve um problema dois meses atras. Um inquilino que devia 3 meses, num feriado fez a mudança de madrugada, sem ninguém ver. Deixando a dívida. O senhor Kim, achou melhor retirar todas as placas de (aluga-se). Deixando a senhora decidir o que fazer. Pode deixar os aluguéis com essa imobiliária ou dar para outra. No total são 11 apartamentos alugados pela mesma imobiliária.
— Eu tenho alguém de confiança, vou passar os aluguéis dos apartamentos vazios para ele.
— Por favor a chave dessa porta? – Irene revirou no envelope e achou, entregando ao senhor.
— Como estão vendo essa porta separa a galeria do prédio. Só os moradores e o selador têm essa chave. Geralmente é dado uma cópia, das chaves mediante ao número de moradores de cada apartamento. Exemplo: Um casal com dois filhos adolescentes ou adultos, recebem 4 cópias dessa chave, do portão da frente e uma cópia do portão eletrônico da garagem. Tem câmeras de segurança na frente do prédio, na galeria, na lateral e dentro do pátio do prédio.
— Isso é ótimo. – falou sem querer. Tudo ainda era confuso.
Eles entraram numa sala espaçosa com 3 sofás de modelo antigo, os braços eram de madeira envernizada, um tapete rústico e vários vasos com plantas bem cuidadas. Ele seguiu até chegar na outra da porta, que dava para o pátio.
— Por favor! A chave? – Irene leu no papel e pegou a chave indicada. Deu na mão do Dr. Juliano. Ele abriu e olharam da porta o pátio.
— Cada apartamento tem uma garagem coberta, tem moradores com dois automóveis. Eles deixam nas vagas dos apartamentos vazios. Caso contrário estacionam no pátio. Como o medidor de água aqui embaixo é do prédio. É proibido lavar os carros aqui.
— É bom saber!
— Nessa porta o senhor Kim sugeriu colocar interfone.
— Vou pensar nisso!
— Vamos pelo elevador agora. E saberá por que o senhor Kim achou melhor trocar por um novo! – ao lado do elevador estava a escada. O elevador balançava meio esquisito. Fazia um barulho alto e assustador. Aquele som de madrugada deveria perturbar o sono de qualquer um. Eles foram para o último andar, saíram do elevador e subiram a escada.
— Não tem cobertura! Quero mostrar o terraço! – ao entrar viram 10 varais giratórios de metal e com suas hastes encolhidas. Vários canteiros improvisados em caixas de madeiras. Mínis hortas bem cuidadas.
— Esses varais!? São comunitários?
— Os varais são para todos! Usa quem chegar primeiro.
— É bom saber!
— Dependendo do tempo, são disputados! Uma semanada de chuva, faz todos correrem para o terraço no dia de sol.
— Eu sei como é! – ela lembrou do seu apartamento com seus filhos pequenos, era difícil.
— Mas não são todos que utilizam esse espaço. Como viram as hortas tem identificações. Nome ou número do apartamento. São dos moradores mais antigos, eles têm certas regalias, ocupando os espaços do prédio como querem. As parabólicas lá atrás são dos inquilinos. Faz tempo que compraram, e provavelmente levaram ao sair. A internet, cada apartamento contrata a sua.
— Interessantes essas hortas! Boa ideia!
— Vamos descer, eu mostrarei os apartamentos. — ao descerem e ficarem no corredor, esperando Irene pegar as chaves dos apartamentos, o Dr. comenta. — Todo nesse andar os apartamentos estão desocupados, já fazem 6 meses. Algo curioso! Por a localização ser boa. Só os apartamentos da frente têm sacada. Todos têm lavandeiras espaçosas, eram abertas. Mas a maioria agora é fechada com janelas, para evitar a ventania e a chuva.
— Por que esse andar está desocupado?
— São os mais caros: os apartamentos com 3 dormitórios, com sacadas, e os do 5º e 6 º andar!
— E as salas do térreo?
— São alugadas conforme o valor da localização e outros requisitos. Em termo de segurança. O prédio tem um contrato de 2 anos com uma empresa de vigilância. Tem câmeras de segurança, na frente do prédio, dentro da galeria, e no pátio, monitoradas pela empresa. Esse contrato está pago. Como já informei o senhor Kim acertou tudo que estava pendente.
Eles viram os apartamentos, desceram cumprimentando os inquilinos da loja de semi-joias, combinaram de se encontrar na frente do cartório. Foi feito a transferência e tudo que era necessário fazer no cartório. Na despedida o Dr Juliano comenta.
— Bem! Sra. Tomaselli espero que se dê bem com o seu novo empreendimento. Aqui está o cartão do contador que faz toda a contabilidade do prédio. Deve conversar para estar a par de todo lucro e gastos! Aqui estão os documentos que o Sr. Kim pagou. Ele deixou comigo, pois não confiou nesse contador. Creio que pode avaliar o trabalho e se achar necessário procurar outro escritório de contabilidade.
— Não vai ser preciso! Eu sou contadora formada! Muito Obrigada Dr. Juliano! Agradeço pelas suas orientações, e vou fazer o mais rápido o que me indicou.
— Caso precise do meu trabalho o meu cartão está com os documentos que lhe entreguei. Não hesite em me ligar, se aparecer dúvidas.
— Sim senhor!
— Fiquei muito intrigado quando o senhor Kim apareceu e fez essa compra para alguém que ele mal conhecia. E curioso perguntei o motivo.
— E qual foi a resposta? – ela também estava curiosa.
— Ele disse que o patrão dele, tem uma grande dívida com a senhora. Pelo que eu entendi a senhora salvou a vida filho mais novo dele. Eu duvidei! Mas ao conhecer a senhora hoje, creio ser uma pessoa de boa índole! Acredito sim! Que de alguma maneira, a senhora tenha feito algo significativo na vida do filho do Sr. Choi. – as duas se olharam espantadas. Se despediram do Dr. Juliano, que deixou elas pensativas. “Como Irene salvou a vida do Sr. Goon?”
Chegaram, em casa com a novidade. Mas, a mãe e os filhos já estavam ansiosos. A fofoca se espalhou rápido, e eles já estavam sabendo que ela havia ganho no jogo. Claro que uma mentira foi planejada. E Irene contou que comprou um apartamento bem localizado, no caminho da faculdade. Assim o mais velho poderia fazer o próximo vestibular: ela colocou na poupança o dinheiro das mensalidades. Para todos se acalmarem, disse que ganhou o suficiente para pagar todas as dívidas, comprar o apartamento, para garantir um ano de faculdade e investir abrindo um salão de beleza com a Íris, numa sala alugada no próprio prédio em que comprou o apartamento. Na empolgação tudo foi aceito sem questionamento. Era realmente um milagre!