Kim Eh Lis
Yumi acordou completamente curada no dia seguinte.
Ela se levantou e até rodopiou ao sentir que podia caminhar novamente, tomada pela felicidade que não sentia a muito tempo em sua vida.
Poder andar novamente, encheu seu coração de uma esperança renovadora que dava ânimo para tentar sair daquela mansão.
Imediatamente, ela correu para a janela e abriu as cortinas.
Para seu descontentamento, havia um cadeado na fechadura da janela. Provavelmente, Tae Joon Ki havia colocado ali, no dia anterior, quando ela adormecera.
Sem se dar por vencida, Yumi foi até a porta do quarto, mas estava fechada.
Desanimada, ela encostou na porta e se arrastou até cair sentada. Queria muito que a porta simplesmente se abrisse. Um segundo depois, milagrosamente, escutou o tilintar da fechadura. Quando tentou novamente, a porta estava aberta.
Imaginou que poderia ter sido Joon Ki ou a enfermeira, mas não havia ninguém no corredor.
Ela olhou para um lado e depois o outro, para ter certeza de que não havia ninguém ali. Depois disso, saiu cuidadosamente, para não fazer nenhum barulho. Por sorte, usava meias que abafavam o som de seus passos. Ela caminhou pelo corredor até o alto de uma escada que dava para o andar térreo. Estava prestes a descer quando escutou a voz de Tae Joon Ki e voltou, escondendo-se atrás da parede, enquanto os observava.
– Não vou fazer isso! Ela pode ser inocente! – gritou Tae Joon Ki. – Alguma coisa me diz que ela é inocente. E eu confio nos meus instintos, Dada.
Ele falava com uma mulher vestida com um vestido tradicional coreano da época de Joseon. A garota era uma pessoa extremamente peculiar. Seus cabelos eram grisalhos, quase brancos e seus olhos azuis. Mas ela não era estrangeira. Seus traços eram orientais. Havia um certo mistério em seu olhar. Ela era muito jovem, mas algo no olhar revelava uma maturidade que não fazia parte de seu jovem corpo. Parecia-se muito com aquelas xamãs antigas. Seria ela como Joon Ki? Uma suposta xamã?
– Estou lhe avisando, oppa. A garota pode ser um demônio. E você pode ter trazido para dentro da sua casa uma espiã da legião que a cada dia fica mais forte. Não podemos baixar a guarda. Você sabe o que isso pode custar para nós?
– Eu não tenho certeza! Ela reagiu bem à poção e viu Elborn sendo morto, mas fora isso, não há nada que indique que ela seja um demônio, ou esteja possuído por um. Há casos de Xamãs perdidas. Ela pode ser uma xamã nata, sem saber.
– Xamãs não se curam com essa velocidade, você sabe disso! – retrucou a garota chamada Dada- Faça o que tem que ser feito. Destrua o coração dela. Faça isso antes que ela desenvolva seus poderes e se torne uma encarnada.
– Não vou fazer isso, Dada. Não vou… eu sei que parece que ela é um demônio, entretanto, alguma coisa me diz que ela não é. E existe ainda uma outra possibilidade…
A garota chamada ‘Dada’ pareceu ponderar sobre o que ele dizia. “Bando de malucos”, pensou Yumi, “se é de mim que estão falando, estão planejando me matar!”
– Que possibilidade? – perguntou Dada. – Não se engane, oppa. Um rostinho inocente as vezes pode abrigar um demônio poderoso.
– Sim, eu sei… mas ela pode ser uma… – Joon Ki hesitou, parecia avaliar suas próprias palavras. – Ela… ela pode ser uma arcana.
Dada empalideceu… parecia que algo havia a atingido no âmago, pois seu rosto revelava uma preocupação exagerada.
– Não é…. há séculos que não nasce uma arcana. E nada nela indica isso…
– Ainda assim, precisamos testá-la, antes de destruir o seu coração…. se ela for um demônio, nós a destruiremos… se for uma xamã, nós a treinaremos… mas se for uma arcana…
– Se for uma arcana, então…. será o fim… – completou Dada, pálida e assustada, como se visse o próprio diabo.
