Capítulo 6 – Os gêmeos
Park In acordou arrasado no outro dia. Depois de lavar o rosto, resolveu lavar o antebraço, lavado em sangue. Na noite anterior, aquela sombra apareceu-lhe novamente e arranhou seu braço. Depois de fazer um curativo, resolveu ir para o trabalho.
Ele não sabia o que pensar. Será que tudo o que aconteceu era pura coincidência?
Por que a sombra havia desaparecido quando HaNa lhe apareceu? Seria mesmo que o demônio que Hana insistia em dizer que vivia dentro dela, consumia a energia das pessoas a sua volta?
Foi só o Assassino morrer e a coisa retornara para lhe atormentar.
Será que o que aconteceu ao Assassino iria acontecer com ele? Como Hana lhe dissera?
Resolveu traçar um plano. Primeiro, porque era cético e precisava provar algo. Segundo, porque não queria acreditar que tudo aquilo fosse verdade.
Ao chegar em Jihan, chamou a metódica secretária Ah Ri:
– Ah Ri, na sua opinião, qual é o paciente mais desumano e cruel que temos aqui em Jihan.
– Isso é fácil: HaNa. – respondeu prontamente a sua secretária com uma cara de sonsa que lhe deu raiva, mas respirou fundo, revirou os olhos e refez a pergunta:
– Depois de HaNa?
– Uhm…
A secretária parou para pensar um pouco.
– Na verdade, não é um, mas sim, dois pacientes, pois são irmão gêmeos.
“Gêmeos? Aquilo era interessante”, pensou Park In.
– São os irmãos Baek: Baek Tae Hyun e Baek Tae Sun. Eles começaram desde o ensino fundamental a queimar pequenos animais e aquilo foi aumentando. Mataram um menino de 2 anos, quando eles tinham apenas 10 anos. Passaram alguns anos aqui em Jihan, mas depois foram soltos em condicional. Então, sequestraram, estupraram e queimaram uma menina da mesma idade que eles, 14, na época. Depois de passar mais alguns anos aqui, os dois foram soltos. Então, entraram em uma escola fundamental e mataram 24 crianças com um lança-chamas. Quando o psiquiatra perguntou, eles disseram que gostavam de ver a pele queimando e as pessoas agonizando. Foram diagnosticados como piromaníacos. A mãe deles colocou fogo no pai quando eles eram bebês. Acho que não podem lembrar disso, mas de alguma forma, souberam disso e isso os traumatizou, mas não sei direito. Só li o prontuário.
– Isso é interessante. Piromania é rara. Tratei apenas uma mulher assim em toda a minha carreira. Mas ela costumava atear fogo em objetos. Ela acabou se machucando um dia e por isso foi internada pela família. Um distúrbio tão destrutivo e agressivo como o dos dois, nunca tratei.
– Então… parece que Tae Hyun é o pior. Ele gosta de atear fogo para se masturbar. – explicou a secretaria ruborizada – Segundo o médico psiquiatra dos dois – a Dra. Mae – Tae Hyun só consegue o orgasmo em situações em que alguém é queimado na frente dele. O outro só obedece, tem medo do irmão.
– Quem é a Dra. Mae? Eu não a conheço.
– A dra. Mae é nova. Ela vem apenas uma vez por semana, pois mora numa cidade vizinha. Trata dos gêmeos por uma ordem do juiz. Como se tivesse tratamento para aqueles dois… – a secretária respirou. Realmente ela não gostava dos gêmeos – …bem, de qualquer forma, os gêmeos estão isolados. E não se pode dar nada elétrico, volátil ou de fácil combustão para eles. Ainda por cima, há dois extintores perto da cela deles, caso aconteça um “acidente” – complementou Ah Ri.
– Quando é que a Dra. Mae virá? – perguntou Park In.
– Hoje é quarta, né… você só vai vê-la na semana que vem, doutor. Ela só vem às terças.
– Entendi… mas não posso esperar até lá. Peça a transferência dos dois para a cela B-16, para ocupar a antiga cela de Choi Oh Dal. Quero fazer uma experiência de socialização com HaNa.
– Não faça isso, doutor. O senhor sabe o que irá acontecer se colocá-los ali.
– O que irá acontecer? – perguntou Park In, meio irritado com Ah Ri. Ela era uma mulher competentíssima. Sabia muito mais do que muitos psiquiatras com os quais teve que lidar, mas sua experiência com HaNa com certeza a deixara muito suscetível a acreditar em crendices.
– O senhor sabe… eles irão morrer. Se o senhor está fazendo isso para que a “coisa” o deixe em paz, apenas pare de ver Ha Na. Se os matar… ficará com a morte deles em sua consciência.
– Ah Ri, minha consciência está muito limpa. Não tem nenhuma criatura atrás de mim. E eles não irão morrer só porque vão ficar ao lado de uma garotinha com distúrbios. Ela está muito tempo sozinha e o suicídio de Choi Oh Dal não a está ajudando. Penso que é importante manter pessoas ao lado da garota.
– É por isso mesmo, doutor? Se é por isso, porque não escolher outros pacientes? Por que escolher os piores pacientes daqui? Não faz mal se forem psicopatas terríveis, não é… Por isso escolheu eles? Porque se os gêmeos morrerem, isso não ficará tão pesado em sua consciência, não é?
– Acho que você está passando dos limites, Ah Ri. – respondeu Park In, irritado com a perfeita leitura de Ah Ri.
– Estou? Então me diga se o que estou pensando não é verdade.
Park In pensou por um minuto se deveria confiar em sua secretária. Ela parecia genuinamente preocupada.
– Está bem… eu assumo que considerei a possibilidade de os gêmeos morrerem ao lado da cela de Ha Na. Mas não é porque eu acho que tem alguma criatura invisível que irá matá-los. O que eu acho é que os gêmeos, assim como todo mundo, podem ser influenciados de alguma forma e quero observar como isso acontece. É uma experiência, Ah Ri. Porque não importa o que seja, alguém precisa fazer alguma coisa para ajudar HaNa. E eu acho que realmente a minha consciência ficará mais leve se eu usar pacientes bem… que não farão tanta falta para a humanidade, caso alguma coisa aconteça. Mas deixarei um enfermeiro de olho neles.
Ah Ri ficou observando-o vomitar tudo aquilo. Tudo era no mínimo antiético e qualquer pessoa no mundo acharia que ele estava enlouquecendo. Mas para sua surpresa, ao invés de ser repreendido pela secretária, Ah Ri somente assentiu com a cabeça.
– Vou providenciar a transferência.
Como prometeu, Ah Ri solicitou a transferência que foi imediatamente realizada. Naquele dia, Park In resolveu não ir até a ala B, mas ficou observando atentamente o corredor de HaNa pelo circuito de câmeras internas. A jovem parecia muito curiosa com a movimentação ao lado. Depois que os dois foram instalados, HaNa olhou alguns minutos para a câmera como se soubesse que ele a estava vigiando. Ela meneou a cabeça e parecia contrariada. Com certeza, ela não gostara daquele plano, mas ele precisava daquilo. Precisava provar que era apenas uma histeria em massa com um alto poder de sugestão, que poderia ser inocente ou não.
Por incrível que parecesse, não aconteceu nada demais. Os dois conversavam, e não encostavam na parede esquerda, que dividia a celas deles com as de Ha Na.
Pela câmera, deu para ver eles tirando a sorte para ver quem dormiria na cama mais perto da cela de Ha Na.
Ha Na, por outro lado, puxou sua cama para o outro lado, o mais afastada da cela dos gêmeos e sentou-se nela, com os braços ao redor dos joelhos. Ela parecia muito triste e com medo. Mas Park In sabia que não era medo dos gêmeos, mas sim do que ela acreditava que havia dentro dela.
Quando saiu do Instituto, deixou um enfermeiro observando as câmeras com a instrução de ligar para ele, se acontecesse qualquer coisa.
Mais tranquilo, por considerar toda aquela experiência interessante para provar sua teoria de que tudo se tratava de sugestão e histeria, ele foi para um bar.
Tomou Soju, comeu um lamén e depois foi para casa.
Adormeceu assim que desabou na cama.
E então, todo o seu mundo, desabou com ele, porque instantes depois, uma nuvem azulada e perfumada apareceu em seu quarto e com ela, a imagem daquela garota que lhe tirava o sono e a paz.
– Por que fez isso, doutor?
Era Ha Na. Não… Há Na, não. Era a alucinação de Há Na, sentada na beirada de sua cama com os olhos tristes, marejados.
– Sabe que os gêmeos irão morrer…
– Você é só uma alucinação. Não irá acontecer nada. – afirmou ele, mais para si mesmo do que para Há Na que o observava com reprovação.
– Você precisa fazer algo para mim… mais precisa ser em segredo. Minha tia está com um livro que foi do meu pai.. O livro tem um símbolo wicca na capa: uma estrela de proteção. Se o encontrar, poderá me ajudar, pois sei que há uma forma de tirar essa coisa de mim. Eu sei disso, pois li o livro. Meu pai era admirador da fé wicca, por isso, tinha esse tipo de livro em casa. Mas eu não acreditava em nada daquilo doutor. Como o senhor, eu era uma menina cética. Contudo, isso não me protegeu, nem protegerá o senhor. O senhor é um homem muito forte, por isso, está resistindo. Mas não poderá resistir durante muito tempo. Já que não quer ir embora, por favor, ajude-me com isso… por favor. Ou vá embora… ou me traga o livro… são suas únicas opções agora…