Capítulo 12 – No hospital
Tae Gun voltou ao hospital mais devastado do que tinha saído. Na frente da porta do quarto de Ah-Lis, havia dois policiais.
O policial Park Hae Soo, o detetive que ele contatara após o acidente, havia feito o seu trabalho e providenciado proteção a pobre moça.
Depois de cumprimentar os oficiais, Tae Gun entrou no quarto. Ah-Lis parecia do mesmo jeito que ele a havia deixado. Estava inconsciente ainda, desde que fizera a cirurgia.
Depois do acidente, Ah-Lis foi tratada rapidamente e assim que ambos chegaram no hospital, trazidos pela ambulância, Tae Gun foi separado dela.
Ele foi para o setor de Pronto-Socorro do Hospital receber os primeiros socorros, limpezas e suturas aqui e ali e uma infinidade de raios-x, ressonância e tomografia computadorizada.
Tudo para saber que não havia nada de errado com ele. Valia a pena pagar um bom plano de saúde.
Mas enquanto ele passava por todo o processo de atendimento não conseguia parar de pensar na pobre moça.
Ah-Lis havia ido direto ao Centro Cirúrgico do hospital onde fizeram uma série de intervenções.
Ela havia rompido o estomago e o pulmão, o que causou um pneumotórax. Não havia sequela mais grave, mas ela tinha dificuldades para respirar.
Na mesma cirurgia, acertaram seu braço esquerdo que havia se partido em três pontos.
O cirurgião ortopedista havia chamado Tae Gun a essa altura para dizer que seria necessário retirar já o fixador de titânio que havia nessa área para implantar outro.
O médico pediu autorização para fazer a intervenção com um estranho olhar para Tae Gun.
Depois da conversa com a Ir. Ye Soo Jung, ele compreendeu que era óbvio para um ortopedista que Ah-Lis tinha cicatrizes e implantes de titânio demais para uma mulher da idade dela e que tantas cicatrizes evidenciavam sinais de maus tratos.
Tae Gun teve muito medo, principalmente durante a segunda cirurgia, de perder a pobre garota.
Tanto o cirurgião geral quanto o ortopédico avisaram que a cirurgia era de risco pelo estado em que ela se encontrava.
Quando eles anunciaram que ela havia sobrevivido, Tae Gun respirou aliviado. Foram horas de tensão intermináveis aguardando por alguma notícia numa sala fria de hospital.
Mesmo que ela estivesse mentindo sobre quem ela era, mesmo que ela fosse uma vigarista, ainda assim, aquela Ah-Lis estava sob seus cuidados quando o acidente acontecera e se ela morresse, ele jamais se perdoaria.
Apesar da extensão dos problemas médicos de Ah-Lis, ela ficou apenas um dia na UTI e depois foi transferida para o quarto mas ficou dopada o tempo todo.
Tae Gun solicitou autorização para permanecer no quarto dela como acompanhante e como seu plano de saúde era mesmo excelente, ele pode ficar todo o tempo com ela.
Além disso, manteve a garota na ala vip do hospital em que o atendimento era de excelência.
Havia horas em que Ah-lis parecia estar agonizando, tinha dificuldade para respirar e choramingava. Depois uma enfermeira entrava e dava-lhe mais uma dosagem de anestésicos.
E assim foi por dias…
Só quando ela melhorou um pouco, é que Tae Gun resolveu deixá-la sozinha do hospital e ir visitar a Ir. Ye Soo Jung a fim de coletar mais informações sobre Kim Ah-Lis.
Agora que olhava para ela, parecia que parte da cor havia voltado a sua face, mas ela ainda dormia profundamente, respirando com dificuldade, entubada em um aparelho de respiração.
Depois de ficar alguns minutos observando-a assim, Tae Gun sentou-se no sofá ao lado da cama. Não podia esquecer de tudo o que Ir. Ye Soo Jung havia lhe dito.
As palavras da religiosa ainda retumbavam em seus ouvidos e ele não podia evitar sentir compaixão pela pobre mulher. Pobre e doce mulher…
Não conseguia imaginar como alguém poderia ter passado tudo aquilo em completo silêncio e sabia que havia algo realmente muito errado psicologicamente com aquela menina deitada ali, lutando para permanecer entre os vivos apesar da vida de agonia e medo que até agora levara.
Claro que qualquer oportunidade para sair de perto de Kim Tae Hoon teria sido agarrada por ela e Liz-Ah deve ter percebido o desespero da menina e aproveitado a situação.
Ah, Liz-Ah. Esperta Liz-Ah. Confiante, sedutora e extremamente perigosa Liz-Ah.
Ele dizia isso com uma certa admiração, apesar de saber que Liz-Ah era a versão feminina do diabo na terra.
E Tae Gun pensava isso com propriedade: havia sido casado com ela durante três anos.
Liz-Ah o levou ao céu com seus jogos sensuais, mais também o levara ao inferno.
E sabia que, por mais que a admirasse, ele não poderia concordar com certas coisas.
O ódio de Liz-Ah pelo próprio filho era algo que havia terminado com qualquer tênue tentativa de Tae Gun de fazer o casamento dar certo.
E agora aquilo: ela havia trocado de lugar com a pobre moça. Não havia dúvidas de que Liz-Ah estava por trás de tudo aquilo, mas como fazer para expor Liz-Ah e inocentar Ah-Lis?
Era preciso armar a arapuca e deixar Liz-Ah ser presa na própria tramoia. O problema é que isso representava um grande risco para Ah-Lis.
Havia conversado sobre isso com o policial Alex. Meio a contragosto, Tae Gun contou-lhe tudo o que sabia: que Ah-Lis e Liz-Ah haviam trocado de alguma forma.
Claro, isso foi antes de ter sabido da história de vida de Ah-Lis, mas já então Tae Gun havia declarado que julgava a pobre moça inocente e que duvidava de Liz-Ah.
Obviamente, ele não sabia onde ela estava, mas havia a suspeita de que elas tivessem trocado de casa e, enquanto Tae Gun foi atrás da Ir. Ye Soo Jung, deixou que o policial Alex investigasse outras informações a respeito de Kim Ah-Lis, nome que Tae Gun havia escutado do outro policial que os abordara na Delegacia.
A essa altura, Alex já deveria ter chegado a Kim Tae Hoon. Isso fazia o sangue de Tae Gun girar. Queria muito poder ficar cinco minutos com esse tal Kim Tae Hoon.
Sabia que ele era policial, mas Tae Gun tinha treinamento. Apesar de treinar Box apenas por diversão, sabia que poderia dar uma bela lição no marido de Ah-Lis.
Era alguém forte que Kim Tae Hoon deveria enfrentar, não uma coisinha miúda e frágil como Ah-Lis. Ah, pobre Ah-Lis.
Tae Gun queria poder minimizar o sofrimento da pobre menina, mas não sabia o que fazer. Tudo o que lhe restava era ficar ali, de acompanhante, zelando a moça e mais um sofrimento desta fez causado talvez pela própria irmã.
Não, certamente, a moça não era de boa sorte. Cabia a ele, agora, tentar mudar essa situação.
No horário de visitas da tarde, vieram Han Kyo e Na Kyo para o hospital.
Os dois pareciam abatidos. Não era a primeira vez que estavam no hospital, é claro.
Eles haviam estado durante todo o tempo acompanhando Tae Gun enquanto Ah-Lis estava na cirurgia e só foram para casa quando Ah-Lis foi transferida para o quarto no qual só poderia ficar um acompanhante.
– Como ela está? – perguntou Han Kyo, os olhos vermelhos, como os de alguém que chorou por muito tempo.
– Recuperando-se lentamente, mas os médicos disseram que agora ela está estável. – falou Tae Gun, imaginando o que Han Kyo diria se soubesse que aquela não é a verdadeira Liz-Ah.
Ao mesmo tempo, Tae Gun imaginou que deveria prestar mais atenção ao cunhado. Ele e Liz-Ah eram muito próximos, as vezes próximos demais.
Tae Gun desconfiava de que os dois pudessem ter algum envolvimento sexual, pois uma vez flagrou os dois se beijando sensualmente no ateliê de Liz-Ah.
É claro que ela disfarçou e disse que gostava de beijar o irmão na boca, que era algo da cultura da família Baek, mas ele jamais flagrou um beijo como aquele entre ela e o pai ou entre Han Kyo e Na Kyo.
Agora que pensava melhor, havia notado que nos últimos dias eles não estavam mais tão colados.
Será que Han Kyo havia descoberto que Liz-Ah não era na verdade Liz-Ah?
Como parecia abatido agora, a tendência era acreditar que não e que ele era inocente na jogada, mas ele poderia estar fingindo.
Liz-Ah parecia ser muito boa em fingir, talvez tivesse aprendido com o irmão.
Han Kyo era homossexual declarado. Liz-Ah uma vez lhe disse que o irmão era amante do prefeito, o que não era algo tão difícil assim de se acreditar.
Mas também era verdade que às vezes Han Kyo havia dormido com mulheres, geralmente em farras e orgias que gostava de ficar narrando em momentos familiares o que sempre desagradou a Tae Gun, mas parecia alegrar Liz-Ah que soltava altas gargalhadas diante das indiscrições do irmão.
Uma vez Liz-Ah até o chamara de careta, porque ele não topava participar desse tipo de situações.
Entretanto, Tae Gun não se considerava careta. Havia tido muitas mulheres antes de se casar com Liz-Ah. Mas perto dos quarenta, sentia que precisava constituir família.
Ele era rico desde os 20 anos. O pai Cha Tae Hyung havia construído indústrias importantes. Tae Gun as expandiu e passou a fornecer seus produtos para o mundo todo.
Durante toda a vida, viveu para a empresa e para o legado Cha, depois sentiu que precisava de pessoas com as quais compartilhar seus ganhos.
Ele sempre fora amigo de Baek Ha Ri que, na época, seis anos atrás, era prefeito da cidade.
Quando viu Liz-Ah pela primeira vez, Tae Gun decidiu que precisava casar com ela.
Foi difícil conquistá-la, mas no fim, eles haviam se apaixonado – assim pensava Tae Gun – e se casaram dentro de poucos meses.
Três difíceis anos que passara ao lado de Liz-Ah, cada vez mais envolvido pelos problemas da família Baek.
Primeiro, foi o sonhador Baek Ha Ri. Um visionário e certamente, um homem maravilhoso e admirável, infelizmente, sem um bom senso de negócio.
Afundado nas dívidas de seus projetos sociais, Baek Ha Ri procurou resolver seus problemas da pior forma possível: apostando em jogos de azar e corridas de cavalo.
Antes mesmo de Tae Gun se casar com Liz-Ah, a família de Baek Ha Ri, uma das mais tradicionais da cidade, já havia se afundado em dívidas e, em parte, Tae Gun sabia que era por isso que Liz-Ah havia decidido se casar com ele tão rapidamente.
Mas Tae Gun achou que os dois seriam felizes juntos, por isso, passou a sustentar toda a família que perdeu a mansão Baek para o banco.
Baek Ha Ri ficou doente, em depressão e levou Na Kyo também a uma terrível depressão e foi difícil para Tae Gun ter que lidar com os dois, tentar animá-los.
Tae Gun perdeu muito dinheiro com Baek Ha Ri e suas dívidas, mas por fim, parecia que as coisas iriam melhorar.
Infelizmente, em seguida, veio o assalto. Tae Gun estava no trabalho e Liz-Ah e Na Kyo estavam no cabelereiro.
Um grupo invadiu a mansão Cha, rendeu Baek Ha Ri e Han Kyo e assaltou a casa. Por fim, mataram Baek Ha Ri sem que ele tivesse resistido e deixaram Han Kyo vivo.
Aquilo sim era estranho, pensou Tae Gun na época, mas não poderia imaginar que Liz-Ah ou Han Kyo estivessem por trás daquilo.
Entretanto, parecia haver muitas peças naquele quebra-cabeça antes que pudesse tirar uma conclusão.
Apesar de tudo, não podia imaginar Han Kyo por trás daquilo tudo. Ele era um bon vivant, isso era verdade, mas tinha muito do pai, gostava de Liz-Ah e sempre estava preocupado com a mãe, cuidando dela muito mais do que Liz-Ah.
Por isso, não imaginava que Han Kyo estivesse atrás daquilo tudo, o que sobrava para Liz-Ah. Mas ainda havia outras peças para encaixar.
A principal peça era a própria Ah-Lis ali, numa cama de hospital, passando-se por Liz-Ah.
Se Han Kyo soubesse que ela não era Liz-Ah não estaria chorando. Mas eram conjecturas que esperava resolver antes que atentassem novamente contra a vida de Ah-Lis.
Além do mais, havia a grande questão: porque Liz e Ah-Lis haviam trocado de lugar? Era óbvio o motivo de Ah Lis agora. Certamente, seria para se livrar do marido, mas e quando a Liz?
– Tae Gun… o que são esses policiais aí fora. Eu achei que você tinha me dito que Liz fora liberada da cadeia. – perguntou Na Kyo, tirando Tae Gun de seu devaneio.
– E foi… mas ela ainda é suspeita da morte de Baek Ha Ri e por isso, os policiais a estão vigiando. – mentiu Tae Gun. Depois da longa conversa com o policial Alex, Ah-Lis já não era suspeita.
Pelo menos, não de homicídio. Ela seria indiciada por falsa identidade, mas bastaria pagar fiança ( o que ele faria) e talvez pagar alguns serviços comunitários.
Entretanto, era essa a desculpa que ele deveria dar para qualquer um, como haviam combinado: a de que ela era suspeita.
Quem havia atentado contra a vida de Liz-Ah e/ou Ah-Lis, precisava acreditar que a situação continuava a mesma, que Tae Gun não desconfiava da troca e que ninguém desconfiava de Liz.
Por isso, apesar de sentir muita pena de Na Kyo e querer tanto lhe contar a verdade, Tae Gun foi firme e não disse uma palavra a mais sobre o caso.
Na Kyo não parecia estar tão abatida quando Han Kyo e isso era estranho. Na Kyo e Liz nunca foram próximas uma da outra, mas nos últimos dias, Ah-Lis havia se aproximado de Na Kyo.
Achou que Na Kyo sentiria mais o acontecido com Liz-Ah do que Han Kyo, mas ela parecia distraída. Talvez soubesse de algo ou estivesse em choque.
– Está tudo bem, Na Kyo! Meu advogado disse que vai ficar tudo bem, você não precisa se preocupar com Liz-Ah, ela será absolvida. Tenho certeza que há outra explicação sobre a acusação e assim que Liz-Ah voltar… dessa situação em que se encontra… tudo será explicado.
– Sim, sim, claro… o mais importante agora é a recuperação de Liz-Ah.
Na Kyo e Han Kyo não ficaram muito tempo e saíram antes que a hora da visita do hospital acabasse e isso foi bom, pois Tae Gun ficou novamente sozinho com Ah-Lis, tentando organizar os pensamentos.
Tentando achar mais peças para aquele quebra cabeça. Estava recostado na poltrona quando escutou um chiadinho baixinho. Olhando para Ah-Lis, viu que ela balbuciava algo. Tae Gun se aproximou dela, colocando o ouvido bem próximo a seus lábios para escutar o que ela dizia:
– Não me machuque, por favor… não me machuque mais…
Tae Gun foi tomado de compaixão por aquela lamentação. Não que fosse sensível, mas saber de toda a história de Ah-Lis, fazia o estomago de Tae Gun se revirar e tentando confortá-la, segurou a mão da pobre moça, fazendo uma leve pressão nos seus dedos para que ela soubesse que ele estava ali.
Aos pouquinhos, resolveu deitar ao seu lado na cama de hospital, como se pudesse confortar Ah-Lis ainda que um pouquinho.
– Você está a salvo, querida… – falou ele, bem baixinho para ela, fazendo pequenos círculos com os dedos sobre a mão de Ah-Lis. – Eu não vou deixar ninguém te machucar…
Como se estivesse escutado, Ah-Lis respirou fundo e parou de choramingar, parecendo entregar-se novamente a doce e neutra inconsciência.