Capítulo 21 – Medo
Tae Gun colocou o terno, ajeitou-se como podia e saiu para o corredor.
Havia acabado de ganhar alta do seu novo médico particular, o Sr. Thomas, agora que Sun Do Yo havia morrido.
Seu ombro doía um pouco, mas ficar 2 dias havia sido o suficiente para ele, pois já estava ansioso para resolver tudo o que precisava resolver.
Estava saindo na sala de visitas do setor em que estava no hospital, quando teve um sobressalto.
Viu uma mulher igual a Ah-Lis ao lado do seu motorista Raul. Mas quando a mulher se levantou, encaminhando-se na sua direção com um sorriso insinuante, ele soube no mesmo instante que se tratava de Liz-Ah.
– Oh, querido! – disse ela, envolvendo seu pescoço com ambas as mãos. – Não sabe como estou contente por você estar bem!
– Imagino! – falou Tae Gun, afastando os braços de Liz-Ah. – O que você quer?
– Ora… ora, querido… só quero você, nossa casa, nosso filho…
– Ah… nosso filho? – falou Tae Gun, com um tom irônico. – Agora ele é NOSSO filho?
– Oh, querido. Você sabe que eu amo você e o nosso filho mais do que tudo no mundo. Sei que agi mal antes, mas agora, depois de tudo o que aconteceu, eu finalmente compreendi o quanto te amo e o quanto quero a nossa família juntos.
– Ah, é? – falou Tae Gun, no mesmo tom – Então não é porque Park Hae Soo confiscou os títulos ao portador como evidência e você está sem um tostão, não é?
Tae Gun sabia que esta era a verdade. Park Hae Soo havia acabado de ligar para ele e contado as novidades: Na Kyo estava no hospital e logo seria enviada para a cadeia e os títulos ao portador que Liz-Ah tinha consigo haviam sido todos confiscados.
– Ora, qual é? – falou Liz-Ah, mudando de tom rispidamente. – Eu sou a sua mulher…você tem obrigação de me sustentar.
– Não será por muito tempo. – falou Tae Gun, num tom sério agora. – Eu quero o divórcio! E se você não concordar, vou entrar com o litígio.
Liz-Ah olhou para Tae Gun com ódio nos olhos, parecia irritada.
– Tudo bem! – falou ela, depois de alguns segundos. – Eu lhe dou o divórcio, mas quero dinheiro. Eu quero 5 milhões! E saio da sua vida para sempre!
– Ah, claro! – falou Tae Gun, num tom bem incisivo. – Como se você merecesse. Nós temos um contrato pré-nupcial, amor, deve estar lembrada disso. Eu não preciso lhe dar um centavo, porque você me traiu com Sun Do Yo e eu tenho vídeos que comprovam isso.
Liz-ah arregalou os olhos, duvidando daquela informação.
– Eu coloquei um detetive atrás de você há alguns meses. – Informou Tae Gun – Mas serei bom pra você, coisa que você não merece depois do que tentou fazer com a sua própria irmã: eu lhe darei o apartamento do centro e é só o que eu te darei.
Era lá que Liz-Ah estava ficando, Tae Gun tinha certeza, pois os empregados avisaram que ela não retornara para casa. Era neste apartamento que Liz-Ah havia mantido o caso com Sun Doo Yo durante meses.
– Eu sei que você não precisa me dar nada. Mas se não me der o que eu estou pedindo, eu vou fazer da sua vida um inferno. Vou pedir a guarda de Tae Ji. E juro que não vou desistir enquanto não conseguir.
Tae Gun olhou para Liz-Ah. Aquela realmente era Liz-Ah: imoral e mesquinha. Negociando a guarda do bebê como se ele fosse uma moeda.
– Você está envolvida na morte de Baek Ha Ri. Park Hae Soo falou que você está sendo investigada e agora que o dinheiro foi confiscado com você, haverá muita coisa para você esclarecer. E eu ainda tenho o testemunho de Park Hae Soo de que você trocou de identidade deliberadamente com Ah-Lis e esperava que ela fosse assassinada. Você acha que algum juiz seria louco de conceder a guarda do menino a alguém como você?
Liz-Ah pareceu titubear.
– Ora, Tae Gun, por favor, o que é 5 milhões pra você? Seu filho não vale isso? Hein? 1 milhão, então…
Tae Gun se aproximou e segurou Liz-Ah pelos braços, fazendo-a olhar para ele.
– Eu lhe dou 2 milhões e você vai assinar um contrato abrindo mão da guarda de Tae Ji e ainda vai desaparecer da minha vida, está entendendo?
– Está bem! – disse Liz-Ah, um pouco assustada com o tom ameaçador de Tae Gun – E o apartamento? Posso ficar com o apartamento, não é?
– Sim… vá amanhã ao meu escritório, na empresa, não na mansão. Agora, finja que não me viu e suma daqui!
Tae Gun largou Liz-Ah. Ela queria dizer alguma coisa ainda, mas depois resolveu obedecer a Tae Gun e sumiu no corredor para a saída do hospital.
Quando ela desapareceu, Tae Gun fez um sinal para Raul para que este o esperasse e caminhou até a recepção.
– Olá! Gostaria de saber o quarto da Sra. Ah-Lis… er… Kim Ah Lis. – falou Tae Gun para a recepcionista atrás de um balcão – Ela está no quinto andar, me parece.
A recepcionista utilizou o computador, digitando algumas letras, depois virou-se para Tae Gun:
– Ela recebeu alta ontem, Senhor.
Tae Gun franziu as sobrancelhas, sem saber direito o que fazer. Park Hae Soo havia lhe dito que Ah-Lis estava fora de perigo, mas não estava muito bem. Como então ela já havia recebido alta?
– Você tem certeza? – insistiu Tae Gun, preocupado. – Me disseram que ela não estava muito bem e que o tratamento seria demorado.
– Sim, Senhor. Quem lhe deu alta foi o Dr. Lau Ki Joo e… – a mulher voltou o olhar para o monitor do computador mais uma vez antes de terminar a frase – … aqui consta que ela foi liberada com a assinatura do marido.
– O QUE? O MARIDO? KIM TAE HOON? – perguntou Tae Gun, sentindo um embrulho no estomago, só de pensar em Ah-Lis com o monstro que era o marido dela.
– Sim, Senhor!!! Kim Tae Hoon…
Meia hora depois, Raul acelerava cada vez mais o carro ante o pedido do chefe. Tae Gun, ao lado de Raul, parecia nervoso e agradeceu por Raul saber onde ficava a casa de Ah-Lis. Pouco tempo depois, a limusine estacionou.
– É aqui? – perguntou Tae Gun olhando para a humilde casa lá fora.
Era um casebre, para falar a verdade. Uma casa pequena num terreno pequeno rodeado por uma pequena cerca de madeira.
Ao menos o jardim era bem cuidado. Diferentes flores ornavam um canteiro bonito ao redor de uma árvore.
Certamente, aquela era a casa de Ah-Lis.
Ele saiu do carro e caminhou em direção a casa, pulou a cerca que se erguia até um pouco mais que seu joelho, foi até a porta da frente e bateu. Como ninguém atendeu, ele bateu novamente.
– Só um minuto! – falou uma vozinha lá dentro e Tae Gun respirou aliviado, ao reconhecer a voz de Ah-Lis.
Quando a porta se abriu, Tae Gun ficou atônito, tanto quanto Ah-Lis que o olhava sem saber direito o que fazer.
– Sr. Cha… ? – falou ela, olhando em volta. Parecia com medo.
– Posso entrar? Precisamos conversar, Ah-Lis… – falou ele, contendo a vontade de abraçá-la, beijá-la e mantê-la segura e cativa em seus braços.
Sabia que isso a assustaria se o fizesse.
– Bem… – falou Ah-Lis, parecendo mais nervosa, com medo. Por fim, saiu da frente para que Tae Gun pudesse passar.
Internamente, a casa de Ah-Lis era ainda mais humilde, mas bem ajeitada.
Havia uma pequena sala com um sofá pequeno. Ela indicou a Tae Gun que se sentasse e se sentou na poltrona ao lado.
Ela esfregava nervosamente as mãos e olhava o tempo todo para o relógio.
– Você está bem, Ah-Lis? Park Hae Soo falou que você não estava muito bem, imaginei que ficaria mais tempo no hospital…
– Estou bem… – respondeu ela, simplesmente, ainda de olho no relógio.
– E onde está o seu marido?
– Trabalhando… – falou Ah-Lis, meio sem jeito. – Como sabia que eu era casada? E como descobriu meu nome? E como soube onde eu morava?
– Eu sei de tudo, Ah-Lis. Sei que seu marido é violento com você e é por isso que eu estou aqui… vim para te ajudar. Você vai pegar as suas coisas e nós vamos sair daqui agora. Não vou deixar você aqui… – falou Tae Gun, de uma vez só.
Sabia que precisava ter cautela com Ah-Lis, mas estava preocupado demais para deixá-la ali.
Ah-Lis, por outro lado, parecia inquieta. Observava-o com os cenhos franzidos, mas parecia aborrecida.
– E depois, Sr. Cha…? – falou ela, num tom distante e frio – Deixe-me dizer: depois, o senhor irá dizer que vai me proteger. Que jamais me machucará. E eu, como uma tola, vou acreditar. Vou me sentir protegida e segura, até que as humilhações comecem. Um pequeno empurrão hoje, um tapa na cara amanhã e quando der por mim, estarei algemada numa cama !!! – disse ela, num tom sombrio e distante.
– Ah-Lis… – falou Tae Gun, com calma. Por que diabos Ah-Lis estava daquela maneira?, pensou Tae Gun, preocupado, pois via o medo em seus olhos. – O que o seu marido fez com você?
– Eu só queria ser amada. Eu queria poder me sentir segura… mas não posso… sabe por que, Sr. Cha? Todos os homens mentem: meu padrasto mentiu para mim quando disse que seria o pai que eu nunca tive. Meu marido mentiu para mim quando disse que me amaria e o senhor mentiu para mim quando descobriu tudo sem me dizer. Sabe o quanto eu sofri? Sabe quantas vezes quis dizer a verdade? Você, minha irmã, Kim Tae Hoon.. . – disse Ah-Lis, com tristeza, fechando os olhos. – Por que todos só querem me machucar??? Estou cansada de ter medo de tudo…
– Ah-Lis, por favor, deixe-me ajudá-la – disse Tae Gun, saindo do seu sofá para aproximar-se dela, mas quando ele tocou em seus braços, Ah-Lis se afastou, assustada, como se ele fosse machucá-la, em seguida, se encolheu na poltrona.
Estava muito óbvio para ele que Kim Tae Hoon havia feito alguma coisa para ela.
– Vá embora! – disse ela, por fim, parecendo muito perturbada. – Vá embora, Sr. Cha.
– Eu não vou deixar você aqui… vem comigo, Ah-Lis… por favor… – disse Tae Gun, já quase desesperado. – Eu juro que não vou machucá-la. Não tenho medo de mim…
– Foi o que Kim Tae Hoon disse… ele jurou… prometeu que jamais faria comigo o que meu padrasto fez e, no entanto, ele conseguiu ser muito pior, em todos os sentidos. – revelou Ah-Lis e quando piscou, uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
– Eu vou chamar a polícia. Park Hae Soo vai prender esse canalha! – disse Tae Gun, tirando o celular do bolso, mas Ah-Lis atacou-o, arrancando o celular de sua mão.
– Não… por favor, você não sabe do que ele é capaz. Ele vai me matar se você chamar a polícia, ou vai fazer algo muito pior.
– Não vai não, Ah-Lis! – falou Tae Gun, resoluto. – Você não está sozinha agora. Eu estou com você… não vou abandoná-la.
– NÃO! NÃO!!! – gritou Ah-Lis… – Eu tenho medo… muito medo…
Tae Gun olhou para Ah-Lis completamente confuso. Não sabia o que fazer. Simplesmente não sabia o que fazer.
– Ah-Lis…. por Deus, apenas me escute – disse ele, calmamente. – Não precisa ter medo. Pense no que fez enquanto estava naquela mansão. Você sobreviveu a um acidente horrível. Sobreviveu quando quiseram te envenenar. Você sobreviveu quando Sun Doo Yo quis matá-la. E você ainda foi forte o suficiente para me defender… Você matou Sun Doo Yo para me salvar Ah-Lis. Então, não me diga que tem medo, porque eu sei que dentro de você há uma verdadeira fera prestes a sair… E se você pôde me defender de Sun Doo Yo, eu posso defendê-la de Kim Tae Hoon.
Ah-Lis parecia titubear, mas ainda não quis lhe entregar o celular.
– Eu sei o que parece, Ah-Lis. Sei que a você parece que todos os homens são iguais. Mas nem todos são iguais. Nem todas as pessoas são cruéis e mesquinhas… mas se você pensar que são e se enfiar numa casca sem deixar que as outras pessoas se aproximem de você, então jamais saberá que existem pessoas boas, pessoas que fazem a nossa existência ter sentido…
Tae Gun parou de falar, mas tinha seu olhar fixo em Ah-Lis. Ela parecia estranhamente calma agora.
– Eu entendo. E acho que o senhor tem razão. Ir. Ye Soo Jung sempre foi boa pra mim. E ela faz parte da minha vida – falou ela, entregando o celular para Tae Gun. – Mas o senhor não! E não deve se intrometer em assuntos que não lhe dizem respeito. Agora saia, ou eu mesmo chamo a polícia…
– Ah-Lis…
– Saia! – falou ela, num tom sério.
Tae Gun respirou fundo. Ela parecia resoluta e não poderia simplesmente arrancá-la dali contra a vontade dela, podia?
– Tudo bem… eu vou, agora – disse ele, vencido. – Mas se você tiver qualquer problema, qualquer ínfimo problema que seja, basta me ligar, Ah-Lis. Você é a tia do meu filho e minha cunhada. Você é minha família e mesmo que ache que não, eu agora faço parte da sua vida. Não precisa mais ter medo.
Contrariado, Tae Gun saiu da casa, atravessou a rua e entrou na limusine.
– Para casa agora, Sr. Trevor? – perguntou Raul.
– Não! Dê a volta, Raul e estacione mais a frente. Vou esperar aquele desgraçado chegar…
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