Duas Faces no Espelho – 24 – Toque

Capítulo 24 – Toque

Ah-Lis acordou quando o sol começou a esquadrinhar seu rosto. Escutava o barulho suave de um coração batendo e quando percebeu, viu que dormia abraçada a Tae Gun, seu ouvido sobre o peito do homem que a comprara.

Com a ponta dos dedos, deslizou sua mão pelo peito de Tae Gun, sentindo uma doce sensação com aquele toque tão simples, um toque tão carregado de amor e até de desejo.

Quanto não havia desejado ter ficado assim, nos braços daquele  homem, protegida e amada? Mas agora, parecia que tudo havia se partido. Ele a tratou como um objeto. Arrastou-a de sua casa e ainda a trancara no quarto que fora de Liz-Ah.

Lembrando dos últimos eventos, Ah-Lis sentiu-se tremendamente triste e uma gota de lágrima escapou do canto de seus olhos. O que mais ele lhe faria? Será que a maltrataria como Kim Tae Hoon? A doce imagem de Tae Gun como um perfeito cavalheiro havia se espatifado no momento em que ele ofereceu dinheiro a Kim Tae Hoon. Ela não era uma mulher, com direito a própria liberdade.  Era sua propriedade agora.

Ainda assim, não conseguia se levantar e se afastar dele. Preferiu ficar parada ali, sentindo os braços de Tae Gun a envolvendo como se ele a amasse, como se ele se importasse com ela. Que vida era aquela que levava? Que insustentável condição de vida havia atingido?

– Ah-Lis? – escutou Tae Gun dizer, quando ele acordou. 


Foi só então que ela se virou e se encolheu.

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– Sinto muito por isso. Eu não queria ter dormido aqui. Acho que estava mais cansado do que imaginei. – disse ele, sem graça.

Um pouco inseguro, com a mão, ele fez um pequeno toque no ombro de Ah-lis, tentando consolá-la.

– Está tudo bem? Está mais calma, querida? – perguntou ele. Como ele gostaria de fazê-la se virar para ele.

Ele a envolveu um pouco mais em seus braços e desta vez, o que foi em seu pulso.

Como gostaria de beijá-la e tê-la em seus braços como sua verdadeira esposa, mas sabia o caminho que tinha pela frente até que ela confiasse nele novamente.

– Você não imagina o quanto eu gostaria de ver você sorrir. Mas não se preocupe, querida. Não vou te assustar e nem fazer nada que você não queira. Eu só quero te ajudar. E você precisa de ajuda, então me deixe ajudá-la.

Ah-lis escutava atentamente ao que ele dizia e tentava pensar sobre tudo aquilo. Ela parecia miserável aos olhos dele. Ele tinha pena dela. Era isso? Apenas pena?

– Quer que lhe traga o café? – perguntou ele, fazendo agora um cachinho com longos cabelos negros dela.

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– Não… eu prefiro descer, se não se importar, Sr. Cha! – respondeu Ah-Lis, ainda sem se virar para ele. Mas a voz dela parecia mais calma agora, o que parecia ser uma boa notícia.

– Certo… eu vou na frente, imagino que queira se arrumar.

Quando Tae Gun saiu do quarto, Ah-Lis se entregou às lágrimas novamente. Mas depois de um tempo, sentou-se e achou que deveria enfrentar a situação, fosse qual fosse.

Ela ainda vestia a roupa do dia anterior e, meio sem graça, achou que Liz-Ah não se importaria se usasse uma de suas roupas mais simples. 

Por isso, resolveu tomar uma ducha rápida, em seguida amarrou os cabelos, vestiu-se e depois desceu.

Lá embaixo, não havia sinal de Tae Gun, mas uma das empregadas limpava o saguão de entrada, onde Han Kyo havia falecido.

Ela pensou por alguns segundos se deveria fugir dali, mas realmente não sabia para onde ir se fugisse.

Além disso, o Sr. Cha era um homem muito mais poderoso e influente do que Kim Tae Hoon, o que tornaria sua fuga bem difícil.

Por isso, ao invés de querer sair, tomou o corredor para o salão de jantar.

Não havia mais Han Kyo ou Na Kyo para fazer-lhes companhia, mas além do Sr. Cha, Eun-Na, a babá, estava sentada à mesa e dava uma papinha para o bebê que estava sentado numa cadeirinha de bebê.

– Bom dia! – disse Ah-Lis, sorrindo ao ver o bebê.

– Achei que não se incomodaria se Tae Ji e Eun-Na tomassem café conosco! – falou Tae Gun, levantando-se quando Ah-Lis se aproximou.

– Não… será um prazer… – disse Ah-Lis e sentou-se em frente ao bebê que olhava para ela com um sorriso lindo nos lábios.

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– A Sra. Cha não permitia que nós nos juntássemos à mesa. Sempre comíamos na cozinha, não é mesmo Tae Ji?… – falou Eun-Na para o bebê que emitiu um daqueles sons de bebê.

– Que lindo! – falou Ah-Lis, contente por ter tomado a decisão de descer para o café. Amava aquele bebê… tanto quanto amava o Sr.Cha.

Aquele era um pensamento assustador e franzindo o cenho, olhou para o Sr. Cha que não tirava os olhos dela.

– Tudo bem, Ah-Lis? – falou ele, percebendo que ela havia ficado séria de repente.

– Sr. Cha… – disse uma outra empregada, surgindo na sala – O policial Park Hae Soo está aqui…

– Mande-o entrar…- falou Tae Gun e em seguida, Park Hae Soo entrou no recinto, com ar preocupado.

– Desculpe, Sr. Cha, por entrar assim, mas  é que… – Park Hae Soo parou de falar quando olhou para Ah-Lis. No início achou que era a Sra. Cha, mas então viu a cicatriz na têmpora e uma marca roxa na bochecha. – Ah-Lis… achei que estava no hospital!

– Eu também achei, mas o marido dela tirou-a do hospital e a agrediu – falou Tae Gun, explicando suscintamente tudo o que havia acontecido de verdade.

– E porque não me chamou, Sr. Cha? – falou Park Hae Soo, parecendo aborrecido. – Como é que tirou Ah-Lis de lá.

– Paguei a Kim Tae Hoon para que a deixasse ir e ainda lhe desse o divórcio! – confessou Tae Gun, como se fosse algo casual.

– Você o que? – falou Park Hae Soo, nervoso – Você sabe que isso pode melar o caso contra ele, não sabe? De qualquer forma, é melhor eu levar Ah-Lis para o hospital, para fazer o corpo delito.


– Ela não vai sair daqui! – falou Tae Gun, sem nem olhar para Ah-Lis, que estava detestando aqueles dois conversando sobre ela  e sua vida com Kim Tae Hoon como se ela não estivesse presente.  – Não vai haver nenhum caso contra Kim Tae Hoon, pelo menos, não da parte de Ah-Lis. Para isso, seria necessário que ela testemunhasse contra o troglodita do marido e não vou subjugá-la a isso. Ela já sofreu demais, Park Hae Soo. 

– Mas sem o testemunho de Ah-Lis, eu não tenho nada contra ele. – retorquiu Park Hae Soo, aborrecido.

– Então investigue e arranje alguma coisa! – falou Tae Gun, decidido – Essa história com Ah-Lis já acabou.


Ah-Lis abaixou a cabeça, mas agradeceu por aquilo de alguma forma.

Não suportaria ter que fazer exame delito novamente, como da outra vez em que dera queixa contra Kim Tae Hoon.

E também não suportaria ter que testemunhar contra o marido num tribunal.


– O que ele fez com ela, o maldito vai fazer com outra mulher se não o impedirmos… – falou Park Hae Soo, tentando convencer Tae Gun. – E o Senhor ao invés de me ajudar a prender aquele canalha ainda lhe dá um bônus em dinheiro! Desde quando isso está certo?

– Eu não ia ficar parado olhando aquele idiota machucar a minha mulher…!!! – falou Tae Gun, tomado de ódio por Kim Tae Hoon.

– Ah-Lis não é a sua mulher!

Tae Gun olhou para Park Hae Soo quando percebeu o que havia falado e depois olhou para Ah-Lis que o observava calada.

– Sei que não é… – disse ele, abaixando a cabeça, meio sem graça. – Mas isso é o que eu sei fazer e se meu dinheiro não é o suficiente para livrar a mulher que eu… a mulher pela qual sou responsável, então não sei pra quê ter dinheiro… Ela está salva, Park Hae Soo, é tudo o que importa. É só o que me importa.

Park Hae Soo olhou para Ah-Lis que parecia abatida, mas de fato, estava salva do marido troglodita.

De certa forma, a garota tinha sorte, porque Kim Tae Hoon não se meteria com o Sr. Cha Tae Gun. Se fosse qualquer outro, Kim Tae Hoon jamais deixaria ela viva.


– Tudo bem! Vou lidar com Kim Tae Hoon depois, mas o que vim fazer aqui é algo sério, Tae Gun: antes de ontem houve um problema na Delegacia. Alguns presos fugiram. Há indícios do envolvimento de Tae Hoon. E o pior: eles me informaram hoje que Na Kyo estava entre os fugitivos.

– Achei que ela estivesse no hospital. – falou Tae Gun, sentindo uma sensação desagradável de perigo.

– Não. Ela tinha dado entrada na prisão da delegacia no mesmo dia em que houve a tal rebelião. Eu também não sabia. Mas quatro presos fugiram e entre eles Na Kyo. E sei que ela deve estar muito longe daqui agora, mas, só por precaução, coloquei uma viatura na frente de sua casa e queria saber se o senhor sabe onde se encontra a Sra. Cha Baek Liz-Ah, já que ela não está aqui… – disse Park Hae Soo, olhando para Ah-Lis.

– Liz está no meu apartamento do Centro. Na Av. Kim Bae, 258 B. 6 O apartamento é na cobertura. É um apartamento de luxo e a segurança é ótima, não creio que Na Kyo possa…

– Só por precaução, vou atrás de Liz-Ah. Se tiver algum problema, o senhor deve me ligar.

– Certo – falou Tae Gun.

– Também há outra coisa que preciso informar: a promotoria resolveu abrir um processo contra a Sra Cha Baek Liz-Ah e Kim Ah-lis.

– Por eu ter assassinado…

– Não… o hospital mandou o relatório do corpo delito. A promotoria resolveu aceitar a alegação de legítima defesa. Haverá uma audiência, mas isso não será problema. O problema é a acusação de falsa identidade. Por sorte, você deve resolver isso pagando uma multa e prestando serviços comunitários. Pelo que investiguei, Ah-Lis já faz isso no Orfanato local, então, tudo isso irá depor a seu favor.

– Não se preocupe, detetive, eu cuidarei disso. – respondeu Tae Gun, incisivo, enquanto Ah-Lis ficava tensa com aquela situação. – Meu advogado já havia me informado… então ele já está escrevendo a defesa. Vou resolver isso o mais breve possível.

– Para a sra. Cha também? Por que no caso dela, é mais grave.

– Sim… vou pagar o que for preciso para livrar minha ex-mulher e minha cunhada dessa situação.

– Uhm… está certo então.

Depois que Park Hae Soo saiu, Tae Gun passou a comer em silêncio, visivelmente preocupado.

– Tae Gun? – disse Ah-Lis, chamando sua atenção.

– Sim… – disse ele, olhando para Ah-Lis.

Em seguida, ela colocou a pequena mão sobre a mão dele e fez uma pequena carícia com seus dedos.

Ele olhou para a mão de Ah-Lis sentindo uma estranha emoção dentro de si. Nunca em toda a sua vida um gesto tão simples e singelo como aquele toque havia agido tanto em seu coração.

– O Senhor acha que Na Kyo pode vir atrás de nós ou da minha irmã? – perguntou Ah-Lis, tão inadvertida sobre o efeito que causava sobre ele.

Era um toque tão simples, um toque tão carregado de amor e de desejo.

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Entretanto, ele precisava reprimir esse desejo, para não assustá-la ainda mais.

– Talvez, Ah-Lis… não sei – disse Tae Gun, observando a mão de Ah-Lis. Havia escoriações nas costas na mão e manchas rochas no pulso. 

Como alguém tão doce e amável poderia ter sido tão maltratada?

Então, ficou lembrando de uma frase da Ir. Ye Soo Jung: Ah-Lis havia nascido para ser uma vítima. A velha religiosa disse ainda que temia que Ah-Lis sempre o fosse.

Pensar em Na Kyo tramando contra a vida de Ah-Lis era algo que tirava sua paz, mas o que mais poderia fazer?