Capítulo 8 – A Falsa Liz
Ah-Lis não sabia o que dizer, nem o que fazer, mas aquela proximidade de Tae Gun que a sustentava firmemente em seus braços a desconcertava. Ainda sentia em seus lábios o beijo que ele surpreendentemente lhe dera. Nunca havia sido beijada daquela forma.
Não com aquela ternura e carinho e imaginava que Liz era uma mulher abençoada por tê-lo como esposo.
Não podia imaginar isso dele, logo de Tae Gun que parecia um homem tão ameaçador e inquisidor, observando a tudo e a todos como se fosse um falcão prestes a atacar uma presa.
Mas agora não. Ele a observava, sim, cautelosamente, Ah-Lis podia sentir os olhos de Tae Gun em seus rosto, esquadrinhando-a, tentando desvendar seus maiores segredos, mas ao mesmo tempo, passava-lhe calma, ternura, preocupação.
Algo havia mudado nele. E Ah-Lis agradeceu a Deus por isso. Estava se sentindo fraca, exausta, e não poderia participar de uma guerra psicológica naquele momento, pois, desmaiaria, ou acabaria contando toda a verdade sobre ela e sua irmã.
– Você está melhor? – perguntou Tae Gun, sem tirar os olhos de Ah-Lis.
Ah-Lis assentiu com a cabeça. Mantinha seus lábios bem grudados um no outro, com medo que ele tentasse novamente beijá-la e ao mesmo tempo, secretamente, desejando que o fizesse.
Uma vozinha na sua consciência, entretanto lhe dizia: “o que está acontecendo com você? Ele é o marido de sua irmã e seu marido a aguarda em casa!”.
Ela sentia-se como a Cinderela a aguardar pela última badalada da meia-noite, quando todo o encanto se dissiparia e ela voltaria para a miséria.
– Vou levá-la para a sua cama, então… – comentou Tae Gun e antes que Ah-Lis pudesse fazer qualquer coisa, já havia sido erguida nos braços daquele homem que a sustentava como se ela fosse não mais pesada do que uma pena.
“Essa mulher deve ter uns dez quilos a menos que Liz-Ah!”, pensava Tae Gun enquanto atravessava o corredor de sua mansão e adentrava no quarto de Liz-Ah.
“Como eu não percebi antes que se tratava de outra mulher?”, continuava Tae Gun a pensar, enquanto colocava a sua falsa Liz delicadamente sobre a cama.
Aquela mulher estava tão fraca que tinha medo de machucá-la.
Não conseguia entender como essa mulher poderia ser tão parecida com Liz-Ah, mas agora que havia constatado a diferença, estava cada vez mais claro para ele.
Era alguma armação de Liz. Não havia dúvida.
Provavelmente Liz havia contratado essa mulher para que se passasse por ela. O problema era descobrir até onde essa falsa Liz estava envolvida e qual o seu propósito.
E enquanto não conseguisse descobrir, manteria aquela farsa. De qualquer forma, tinha pena daquela moça.
Algo muito errado havia acontecido com ela para que ela se acuasse apavorada ao menor sinal de enfrentamento.
E havia também a cicatriz na têmpora que indicava que alguém a havia machucado. Sendo uma farsante ou não, era seu dever ajudá-la.
– Quer que lhe traga um chá? – perguntou ele, enquanto cobria a garota com os cobertores. Ela parecia estar muito nervosa ainda, mas já não respirava com a dificuldade de antes.
– Não, obrigada. Não quero dar trabalho… – falou Ah-Lis, sinceramente. Agradecendo o cuidado de Tae Gun.
Tae Gun saiu do quarto que estava na penumbra. Ah-Lis imaginou que ele não voltaria mais, mas depois de alguns minutos, ele retornou, com uma xícara na mão.
– Oh… eu não queria que se incomodasse… – falou Ah-Lis, ajeitando-se na cama para receber o chá.
– É camomila e erva-doce, Liz! Vai ajudá-la a se acalmar. – Falou Tae Gun, sentando-se na beirada da cama. Tae Gun percebeu que cada vez que ele chegava perto dessa ‘falsa Liz’ ela parecia mais nervosa, como se tivesse medo dele, ou de homens em geral.
Ela concentrava-se firmemente em tomar o chá, evitando olhar para ele. Não poderia mesmo ser Liz-Ah. Sua esposa só tomava chá com xerez, muito xerez. Mas era muito fácil confirmar essa teoria da “falsa Liz”.
– Eu sinto muito por estar agindo como um idiota nos últimos dias. – começou Tae Gun – Sei que Tae Ji é seu bebê e como mãe, você tem o dever e o direito de estar com ele.
O rosto da falsa Liz se iluminou de repente.
Era algo que jamais empolgaria Liz-Ah que fazia questão de deixar claro o quanto repudiava o bebê. Mas não bastava para ele. Ele precisava ir mais fundo nessa história.
– E para compensar pelo meu comportamento ultimamente, estava pensando que já é hora de tirarmos a nossa segunda lua de mel e tentar resolver nossos problemas. – falou ele, soltando a isca para pegar a mentira – Você tem cobrado tanto isso de mim e agora que já fizemos a homenagem a seu pai, poderemos desfrutar de umas férias com mais tranquilidade.
– A-acho que sim… – respondeu Ah-Lis, sem saber direito o que dizer. Mas férias era uma boa coisa. Talvez fosse a solução para os problemas conjugais de Liz-Ah e Tae Gun passarem tempo juntos em férias.
– Então… que tal irmos para o mesmo lugar? – perguntou Tae Gun, de forma bem capciosa, notando cada expressão no rosto da garota. – Você se apaixonou pela Índia na nossa primeira lua de mel. Achei que aquele país paradisíaco poderia fazer bem a nós dois.
– Er… sim… creio que sim… – falou Ah-Lis um pouco insegura.
Liz-Ah não havia comentado a ela onde passara a lua de mel com Tae Gun, mas achava que qualquer lugar seria perfeito para que um casal pudesse se reencontrar e se Liz havia se apaixonado pela Índia, ficaria muito satisfeita com aquelas férias.
Assim que a viagem fosse marcada, Ah-Lis deveria alertar a irmã. Talvez devesse fazer isso antes que ela tomasse qualquer decisão.
Precisaria fazer a troca com Liz o mais rápido possível para dar a chance que aquele casamento merecia.
Sentiria falta dos cuidados que tinha na mansão Trevor, mas era seu dever para com sua irmã que a colocara ali em primeiro lugar.
– Acho que uma viagem a Índia seria muito legal! – falou Ah-Lis, inocentemente.
Tae Gun sorriu tentando fingir apenas um leve contentamento.
Na verdade, ria sarcasticamente por dentro.
A sua lua de mel com Liz-Ah fora em Paris. Era ele quem queria ter ido para a Índia, mas Liz falou que ‘jamais poria os pés naquele país horroroso e fedido’.
Liz-Ah estava muito mais interessada em gastar dinheiro nas lojas de roupas e perfumes da Champs Elysses do que passar o tempo com Tae Gun.
Já na lua de mel, teve a primeira briga com Liz que não parou desde então.
– Ótimo… assim que marcar, eu lhe direi… – falou Tae Gun, levantando-se satisfeito: havia constatado e confirmado que aquela garota não era Liz-Ah.
Agora só faltava descobrir quem era ela e o que ela fazia ali, na cama de sua esposa, tentando se passar por alguém que não era.
——–
Ah-Lis acordou um pouco mais tarde do que o seu habitual, remexendo-se preguiçosamente na cama macia e confortável da sua irmã.
Também pudera o dia anterior havia passado num turbilhão de emoções.
Primeiro, havia cantado e tocado piano na frente de uma pequena multidão, dentre os quais, estavam as figuras mais importantes da cidade.
Depois, foi ameaçada pelo suposto amante da irmã, o Dr. Sun Doo Yo; em seguida, ajudou seu querido sobrinho Tae Ji e quase desmaiou duas vezes nos braços de Tae Gun.
Bem, se a segunda vez não desmaiou foi graças ao marido da irmã que, repentinamente, mudou o comportamento para com Ah-Lis de inquisidor para preocupado e até terno e carinhoso.
E aquele beijo? Ainda podia sentir aquela energia perpassando seu corpo como se ela pertencesse somente a ele.
Sentia-se mal por pensar desse jeito. Seu marido era Kim Tae Hoon.
Ah, como queria que Kim Tae Hoon fosse como Tae Gun. Que fosse preocupado com ela, que a acalmasse, que lhe trouxesse chá no meio da noite, que a sustentasse nos braços quando ela se sentisse fraca.
Kim Tae Hoon não era assim, pelo contrário.
Era depois que Ah-Lis caia no chão, fraca, assustada e desesperada, que ele costumava intensificar os castigos que dava a ela.
Eram chutes, arranhões, puxões. Uma vida de terror que vivia.
O problema é que se habituara. Achava por fim que tinha sorte em ter Kim Tae Hoon, pois sem ele não teria mais ninguém – a não ser é claro a Ir. Ye Soo Jung.
Sabia que fora levava a pensar daquele jeito, mas as torturas psicológicas de Tae Hoon eram tão efetivas quanto as físicas.
Agora que descobrira, através de Tae Gun, que um homem poderia ser forte e ao mesmo tempo carinhoso e protetor é que percebeu o quanto sua vida fora da mansão Trevor era miserável.
Não em questões financeiras, pois não ligava para isso, mas em questões românticas e emocionais.
Ainda assim, aquela vida é que era a sua e não essa de lençóis finos e cobertores confortáveis.
De homenagens chiques e chás servidos à cama durante a madrugada.
Sua vida era trabalho e sobrevivência e ela, mesmo aos trancos e barrancos, era uma sobrevivente.
E pensando assim, tomou coragem para finalmente levantar-se, arrumar a cama e aprontar-se.
Já era quase dez horas quando desceu as escadas. Por sorte, conseguiu pegar Tae Gun na sala de jantar tomando o desjejum antes que ele saísse.
– Uhm… finalmente acordando um pouco mais tarde. Deve estar melhor – falou Tae Gun, tentando ser cordial.
– Sim, estou. Obrigada por ter me dado chá ontem a noite. Eu dormi muito bem depois disso.
– Não há de quê! – falou Tae Gun, imaginando que Liz-Ah jamais tomara um gole de chá sem alguma coisa alcoólica junto em toda a sua vida.
Ah-Lis olhou para Tae Gun tentando memorizar seu rosto. Depois do café, iria para a escola novamente e então, contaria sobre a viagem para Liz-Ah e destrocaria com ela. Estava decidida a fazer isso.
Já era tempo e a homenagem já havia passado. O trato inicial era esse. Ficar para a tal homenagem.
Mas não queria esquecer Tae Gun. Não sabia direito porquê, mas se não retornasse àquela casa, se Liz-Ah não quisesse apresentá-la como sua irmã à sua família, então teria que se afastar de uma vez por todas de Tae Gun, de Na Kyo, do bebê e de Han Kyo.
Era verdade que com Han Kyo tivera pouco contato, mas Na Kyo, a mãe de Liz-Ah, o bebê Tae Ji e o próprio Tae Gun ficariam para sempre na memória dela, apenas dos poucos dias de contato.
Imaginar que talvez nunca mais fosse ver o rosto bem delineado de Tae Gun faziam-na suspirar tristemente, como se estivesse prestes a perder algo muito valioso.
– Você está bem, Liz-Ah? – perguntou Tae Gun, percebendo que a ‘falsa Liz’ suspirava desanimada, olhando para ele com admiração.
– Não é nada… só que… – Ah-Lis parou. Não poderia completar aquela frase “… só que não sou Liz-Ah, sou a irmã dela”. – não é nada…
A garota parecia prestes a lhe contar algo. Talvez o fizesse se tivesse mais pressão, mas Tae Gun precisava ser cauteloso.
– Vou ficar o dia inteiro na empresa. Tenho uma reunião atrás da outra, Liz. Mas à noite, gostaríamos que jantássemos juntos, se não se importar. – falou Tae Gun, olhando atentamente para ver a reação da ‘falsa Liz’. Ela não parecia aborrecida.
– Acho que será bom, passarmos um tempo juntos. – comentou Ah-Lis, meio tristonha, imaginando que à noite, Liz-Ah já estaria de novo em seu lugar e que ela, Ah-Lis, voltaria a Kim Tae Hoon, tão diferente de Tae Gun. Seu marido violento e brutal.
Ao mesmo tempo, Tae Gun sorria vitoriosamente.
Era mentira que passaria o dia na empresa. Já havia ligado para o escritório e desmarcado todos os compromissos.
Naquele dia, Tae Gun concentrar-se-ia em seguir a “falsa Liz” e descobrir quem era aquela mulher misteriosa e frágil.
O que ambos não sabiam é que seus planos iriam mudar drasticamente…