Capítulo 9: Kim Ah-Lis
Na Kyo e Han Kyo tinham acabado de sentar-se à mesa para tomar o café da manhã quando a empregada adentrou a sala de jantar acompanhada por dois policiais.
– Desculpe, Sr. Cha Tae Gun. – falou a empregada. – Mas esses homens insistiram em entrar, dizem que têm um mandato.
– Viemos aqui dar a voz de prisão para a Sra. Cha Baek Liz-Ah! –Falou um dos policiais, aproximando-se de Ah-Lis. Antes que ele pudesse a mão nela, entretanto, Tae Gun já havia se colocado a frente dela.
– O que diabos está acontecendo aqui? – Tae Gun falou, num tom bastante ameaçador. Ah-Lis não sabia direito o que estava acontecendo, mas sabia que não era boa coisa, por isso, começou a ficar nervosa. Tremia sem que pudesse se controlar.
– Temos um mandato. Ela será levada para a delegacia. Se não nos deixar prender a Sra. Cha Baek Liz-Ah, iremos prendê-lo por obstrução à Justiça, Sr. Tae Gun. – falou o policial, sustentando o olhar penetrante de Tae Gun. Apesar de sustentar o olhar de Tae Gun, o policial parecia respeitoso tanto quanto poderia.
– Posso saber do que ela está sendo acusada? – perguntou Tae Gun, sem mover um só músculo do lugar.
– Ela está sendo acusada de ser a mandante do assassinato de Baek Ha Ri.
– Oh, meu Deus, meu Deus… isso é um absurdo! – falou Na Kyo, levantando-se do lugar. – Minha filha jamais faria tal coisa… isso é um ultraje.
Apesar da comoção de Na Kyo e de Han Kyo que parecia tão abalado quanto a mãe, Tae Gun não conseguia se mover.
Tentava pensar rápido. Seu advogado conseguiria retirar aquela mulher da cadeia com fiança, sendo Liz-Ah uma ré primária.
O problema é que aquela mulher não era Liz-Ah. E se ela tivesse antecedentes? De qualquer forma, descobriria logo quem era a tal farsante.
A não ser que ela não tivesse registro na polícia. Isso dificultaria um pouco as coisas.
O mais preocupante era a tal acusação. Seria Liz-Ah capaz de matar o próprio pai?
As circunstâncias do assassinato de Baek Ha Ri foram bastante incomuns.
Han Kyo havia reportado que os assaltantes sabiam onde ficava o cofre e sabiam onde Liz-Ah e Na Kyo escondiam as próprias joias.
Mas ainda não podia crer que Liz fosse capaz de tal ato e, principalmente, não sabia até onde ia o envolvimento dessa ‘falsa Liz’ nessa história toda.
– Não há nada com que se preocupar – disse Tae Gun, depois de alguns segundos. – Vamos até a Delegacia e tenho certeza de que tudo irá se resolver. Agora, o melhor a fazer é obedecer ao policial. Venha, Liz… – disse Tae Gun, segurando-a pelo braço.
– Mas Tae Gun… ? – protestaram Han Kyo e Na Kyo.
– Tenho certeza de que meu advogado esclarecerá essa situação… – falou Tae Gun para abrandar Na Kyo e Han Kyo.
Ele, na verdade, não tinha tanta certeza do que poderia acontecer e se seu advogado, sempre tão competente nos problemas judiciais da empresa seria capaz de ajudá-los agora que tinha problemas criminalísticos.
– Seria possível que eu levasse Liz ao invés dela ser levada num carro da polícia? – perguntou Tae Gun aos policiais, mas nos rostos dos oficiais estava estampada a negativa.
Tae Gun não teve outra alternativa a não ser entregar a ‘falsa Liz’ aos policiais que a encostaram na parede e puseram algemas em seus pulsos.
– Cha Baek Liz-Ah, você está presa pelo homicício de Baek Ha Ri. Você tem direito a ficar em silêncio, tudo o que disser poderá e será usado contra você no Tribunal. Você tem direito a um advogado e se não tiver um, o estado indicará um defensor público para você… – disse o policial que mais tarde Tae Gun descobriria se tratar do detetive Park Hae Soo.
– Isso é realmente necessário, senhores? – perguntou Tae Gun, incomodado com toda a situação, principalmente, ao ler nos olhos da misteriosa moça o quanto ela estava confusa e amedrontada com a situação.
Não havia o que fazer e, impotente, ele deixou que a levassem para longe dele.
Ah-Lis já havia estado na Delegacia de Polícia. Claro que nunca passara do segundo andar que era o setor de atendimento especial a mulheres e crianças vítimas de abuso e violência doméstica.
Kim Tae Hoon trabalhava no sétimo andar, no setor de entorpecentes. Agora, na pele de Cha Baek Liz-Ah, fora encaminhada ao quarto andar que era a central de Homicídios.
Primeiro ela foi levada a uma sala toda fechada, onde esperou por muitos minutos.
Depois de quase uma hora, os dois homens que a prenderam entraram na sala e passaram a lhe fazer perguntas sobre o que ela havia feito no dia em que Baek Ha Ri fora assassinado.
Ah-Lis não sabia o que responder. Mas aquela brincadeira entre Liz-Ah e ela já havia ido longe demais.
Entretanto, entre revelar a verdade e aguardar, decidiu pela última opção e com o pouco que sabia sobre leis, disse que não falaria nada sem a presença de um advogado.
Depois disso, os policiais registraram Ah-Lis, colhendo suas digitais.
Ela ficou um pouco apreensiva nesse momento, pois não sabia como tudo aquilo funcionava, mas se suas digitais estivessem registradas em algum lugar, os policiais descobririam que ela não era Liz-Ah na verdade.
E a situação poderia ficar ainda mais complicada para sua irmã que estava sendo acusada de homicídio e para ela que, com certeza, seria acusada de falsa identidade.
Ah, gostaria que Liz-Ah pudesse estar ali, certamente sua irmã já teria esclarecido toda aquela situação.
Apesar de suas apreensões, nada de novo aconteceu e Ah-Lis então foi encaminhada para a cadeia interna da Delegacia. Segundo lhe disseram, ela ficaria ali até ser julgada e enfim encaminhada para a Penitenciária Regional.
Ela ficou numa cela separada das outras detentas. Até onde sabia, Liz-Ah não tinha faculdade e, portanto, não tinha direito a uma cela só para si.
Entretanto, Liz-Ah era uma Cha-Baek e aquele nome deveria estar fazendo alguma diferença, o que era meio injusto, pensava Ah-Lis, mas estava tão assustada e amedrontada que, ao invés de se levantar contra essa injustiça, agradeceu aos céus por ela.
Não foi a pior noite da sua vida. Certamente o mês que ela passara algemada na cama e sendo constantemente torturada por Kim Tae Hoon foi coisa muito pior do que passar a noite numa cela gelada, mas também não poderia dizer que a noite fora boa.
Estava preocupada, pois não sabia exatamente o que estava acontecendo.
Cedo, porém, um policial veio tirar-lhe da cadeia da Delegacia. Depois de passar por muitos corredores, Ah-Lis finalmente veio dar numa sala, onde Tae Gun a esperava ao lado de um homem aparentemente mais velho, que ela imaginou se tratar do advogado da família.
– Você está bem? -Tae Gun perguntou, envolvendo-a com um abraço.
Ah-Lis não respondeu, apenas assentiu com a cabeça e tentou esboçar um sorriso.
Depois, deixou a cabeça pender para o lado dele que a puxou para mais perto de si. Ele pareceu ter entendido que ela não podia ou não queria falar no momento pois não repetiu a pergunta.
Ainda envolvendo a ‘falsa Liz-Ah’, Tae Gun saiu da sala em que a aguardava e encaminhava-se para o elevador da Delegacia quando um outro policial do nada, interrompeu o caminho, olhando curioso para a garota.
– Ah-Lis? Kim Ah-Lis? O que está fazendo aqui novamente? Se seu marido descobre ele te mata dessa vez, você sabe! – falou o policial que parecia genuinamente preocupado.
Ah-Lis gelou no mesmo instante e Tae Gun percebeu que ela havia ficado mais tensa. Seria esse o verdadeiro nome da garota? Kim Ah-Lis?
-N-não… m-meu nome não… não é A-Ah-Lis… – falou Ah-Lis, enrolando-se com as palavras. – Meu nome é C-Cha Ba-Baek Liz-Ah. Este é meu marido. –Ah-Lis olhou para Tae Gun como se pedisse ajuda. Seus olhos levemente marejados.
– Algum problema, policial? – perguntou Tae Gun, intervindo em favor da garota. – Ela tem um habeas corpus, mas meu advogado pode falar com você, caso queira…
O policial franziu o cenho e aproximou o rosto da face da ‘falsa Liz-Ah’ como que para avaliar seu rosto. Tae Gun percebeu que Ah-Lis jogou o cabelo sobre a cicatriz que ela tinha na têmpora. Certamente aquilo a implicaria.
– Nossa! Você é igual a alguém que eu conheço. – falou o policial. – Mas a Ah-Lis que eu conheço jamais usaria essa roupa chique…
Depois de avaliar Ah-Lis ainda uma última vez, o policial sorriu, pediu desculpas e depois sumiu num corredor.
Tae Gun ainda perdeu um minuto ou dois observando a garota que agora Tae Gun havia descoberto que se chamava Kim Ah-Lis. Ela parecia lívida, prestes a desmaiar novamente.
Tae Gun a guiou até o carro que ele costumava dirigir e abriu a porta do lado do passageiro para que ela entrasse.
– Você está abatida, Liz. Tem certeza de que está bem? –perguntou ele, ao entrar no carro, antes mesmo de dar a partida.
– Estou bem, sim. Apenas com fome e um pouco cansada. –respondeu ela, ainda preocupada com a desconfiança daquele policial.
Ela não o conhecia direito na verdade. Era um dos amigos de Kim Tae Hoon, chamado Lee alguma coisa, um dos que a convenceram a não prestar queixa contra ele quando ela tentou fazer isso no passado.
Foi apenas uma vez que ela juntou todas as suas forças para denunciar Kim Tae Hoon. Ao chegar na delegacia, todos os amigos de Tae Hoon trataram-na como uma vagabunda que deveria ser grata ao marido.
Apesar dos hematomas, do lábio cortado, da marca roxa e profunda sobre os olhos, os amigos de Tae Hoon nem quiseram registrar sua queixa ou mandá-la fazer o “corpo delito”.
Disseram que ela seria ridicularizada pelos advogados e no fim, Tae Hoon ficaria ainda mais furioso com ela, intensificando os constantes castigos.
Entretanto, de todos os policiais, que foram na sua maioria coercitivos, o tal de Lee alguma coisa foi o mais bondoso, o único que levou água para Ah-Lis e perguntava o tempo todo se ela estava bem.
No fim, com medo daqueles homens e da reação de Tae Hoon, Ah-lis resolveu desistir de prestar a queixa e voltou para casa ainda mais derrotada e depressiva.
Naquela noite, Ah-lis tentara o suicídio.
Já havia cortado um pulso e abriria o segundo, quando Tae Hoon a encontrou no banheiro.
Tae Hoon enfaixou seu braço, mas não a levou no hospital, com medo de que os médicos o denunciassem, pois não era a primeira vez que ela aparecia no pronto socorro com as marcas da sua violência no corpo.
Ela ficou três dias na cama, sem nem mesmo ir para o trabalho.
– Logo estaremos em casa. Preparamos Tofu para você. Você poderá comer e descansar, então. Se precisar, chamaremos o Dr. Sun Doo Yo.
Sun Doo Yo era a pessoa que menos precisava ver naquele momento, mas obedientemente Ah-Lis não respondeu nada.
Tae Gun guiava o carro com destreza apesar de estar um pouco acima da velocidade que Ah-Lis estava acostumada.
Claro que também andara de ônibus sua vida inteira e depois, só andara de limusine que Raul guiava numa velocidade bem inferior que Tae Gun usava.
Entretanto, era gostoso sentir o vento no rosto como se estivesse lavando a sua alma de ter passado a noite na cadeia, assustada com a ideia de ter sua liberdade mais uma vez tolhida pelo destino.
Tae Gun diminuiu um pouco a velocidade ao entrar na rua que desembocava na mansão Trevor, afinal, a rua circundava uma pequena colina com alguns trechos de barranco.
Ao longe, Ah-Lis avistou um carro que vinha em alta velocidade. Nem Tae Gun nem Ah-Lis poderiam ter adivinhado o que iria acontecer, mas o carro bateu com força no lado do carona, o lado de Ah-Lis.
Ah-Lis foi jogada para frente, mas o cinto travou-a no lugar ao mesmo tempo em que Tae Gun tentava controlar o carro que se perdeu e, atingindo o limite entre a rua e o barranco, despencou.
Com a violência, o carro capotou enquanto rolava o morro abaixo. Apavorada com o que acontecia, Ah-Lis tentava em vão segurar-se em algo e só pensou em Tae Gun.
Não queria que ele se machucasse. Foi um segundo, e o quando o carro finalmente encontrou o chão, Ah-Lis sentiu uma forte dor em algum ponto de seu corpo. Ela entreabriu a boca e quis gritar, mas nada saiu além de um breve sussurro, e de repente a escuridão tomou-a de assalto, trazendo imediato alívio.