Duas Faces no Espelho – 10 – Pobre moça

Capítulo 10: Pobre Moça

– Moça, acorde, moça?

     Ah-Lis escutou uma voz e forçou seus olhos a se abrirem contra a maravilhosa ideia de permanecer quieta e no escuro confortador da inconsciência.

A consciência significava dor, uma dor aguda e agora que esforçava as pálpebras a se abrirem, a onda de dor parecia vir com mais violência, querendo quebrar seu corpo em dois.


Quando por fim, conseguiu abrir totalmente os olhos, ela viu os olhos de Tae Gun olhando para ela com preocupação e não pode deixar de sentir um certo alívio ao vê-lo bem. Mais ou menos bem.

Ele tinha sangue escorrendo no rosto.

E um corte profundo no queixo que vertia o sangue que pingava sobre Ah-Lis, misturando-se ao seu próprio sangue.

Foi então que ela viu. Fincado em alguma parte da sua barriga, um enorme pedaço de vidro, provavelmente da dianteira do carro que havia se espatifado.


– Precisamos sair daqui… – disse Tae Gun, num tom urgente que, a princípio, Ah-Lis não compreendeu, mas depois sentiu um forte cheiro de gasolina e também o barulho de faíscas sendo produzidas em algum lugar dos escombros que um dia foi o esportivo carro de Tae Gun.


Ele tentava como um desesperado abrir o cinto de segurança de Ah-Lis que parecia emperrado enquanto ela tentava desesperadamente manter a consciência.


– Droga… droga… inferno…


Era a primeira vez que Ah-Lis se lembrava de ter visto Tae Gun falando palavrão e teve a súbita vontade de rir.

Uma onda de dor a atacou novamente. Ela, inadvertidamente, havia tentado mover o braço, para tentar ajudar Tae Gun.

Essa dor Ah-Lis meio que conhecia. Havia quebrado aquele mesmo braço esquerdo havia três vezes. Bom, na verdade, ela não. Kim Tae Hoon o quebrou três vezes.


Uma pequena labareda acendeu-se sozinha sobre o capô no carro. Apesar de não estar virado para fora, Tae Gun sabia o que aquilo significava: que ele tinha poucos segundos para retirar Ah-Lis do lugar.

Tomado de assalto pelo medo, fez o que fez sem pensar direito: arrancou da barriga de Ah-Lis o vidro de uma só vez, sem aviso, sem pedidos de desculpas pela dor avassaladora que causou na “falsa Liz-Ah” e usando o objeto passou a atacar o cinto de segurança num vai e vem frenético.

As gotas de suor no rosto misturam-se ao sangue que escorria pelo queixo. Pingavam sobre a mão de Tae Gun agora cortada com o vidro que ele usava para desprender Ah-Lis. Ela não gritou. Aprendeu durante a vida a controlar a dor, a sofrer calada e o fez de novo.

Se fosse morrer, morreria calada, mas não queria morrer e a dor era tão forte, agora que Tae Gun havia retirado o vidro de sua barriga, que não podia deixar de chorar.


– Está quase! – falou Tae Gun, desesperado na sua tarefa enquanto a labareda no lado de fora aumentava.

That Winter, the Wind Blows Korean Drama – Jo In Sung | Kdrama Kisses


De repente, o cinto se partiu e tão rápido quanto pôde, Tae Gun agarrou Ah-Lis no colo e saiu com ela do carro, correndo o mais rápido possível para longe quando uma grande explosão arremessou o carro quase dois metros para cima.


Uma onda de calor atingiu os dois e Tae Gun abaixou-se, apoiando Ah-Lis no chão, mas protegendo-a com as costas enquanto destroços voavam para todo lado.


– Moça…? Você está bem? – perguntou Tae Gun, olhando com preocupação para Ah-Lis.

Pobre moça

Ah-Lis sentia que estava prestes a perder a consciência, mas uma nova onda de dor alertou-a e ela se agarrou em Tae Gun, enterrando-se no peito do marido da sua irmã.


– Ir. Ye Soo Jung… – balbuciou Ah-Lis, atormentada com o medo de que pudesse falecer, que não resistisse como de tantas outras vezes em que ficara machucada. – Se eu morrer…


– Você não vai morrer… eu já liguei para a emergência – falou Tae Gun, com um tom de voz suave, tentando em vão acalmá-la.


– Mas… se acontecer… avise a irmã Ye Soo Jung, Tae Gun… por favor… ela é única família que tenho… avise a irmã…


Ah-Lis pendeu a cabeça desmaiando de novo nos braços de Tae Gun que observava a pobre moça com carinho.

Ela estava muito mal e temia que o corte da barriga tivesse atingido algum órgão vital. Era uma moça sem sorte aquela. Primeiro fora acusada da morte de Baek Ha Ri e agora, um acidente…?


Tae Gun olhou para cima, para a estrada de onde o carro caíra. Não havia sinais de ninguém. Quem bateu em seu carro havia desaparecido, ou pelo menos, deveria estar olhando para baixo se tivesse boas intenções.

Não, não fora um acidente. Era claro, agora que se lembrava de tudo. A velocidade, a guinada na direção do carona. Aquele acidente tinha apenas um alvo: a ‘falsa Liz’.

Se ele tivesse morrido seria apenas um dano colateral e tudo aquilo era muito misterioso. Teria algo a ver com a morte de Baek Ha Ri? Teria algo a ver com a troca de Liz pela pobre moça?

De uma coisa tinha certeza agora: a menina em seus braços, que tinha o rosto de Liz, era apenas uma inocente vítima e um alvo. E pensando nisso, algumas coisas se encaixavam. Tae Gun escutou o barulho de sirenes se aproximando. A ajuda estava a caminho.

Precisava ajudar a pobre menina e tentar protegê-la de alguma forma, mas estava sendo perigoso fazer isso sozinho.

Então enfiou a mão no bolso e tirou o celular e um pequeno cartão. Era o cartão de um dos policiais, aquele mais corajoso que havia prendido a falsa Liz.

No cartão estava escrito: Park Hae Soo, Divisão de Homicídios.  Precisava de um aliado, e rápido. Antes que fosse tarde demais.