Capítulo 3: Saruto Maike
Algumas horas depois, quando Han Kio finalmente chegou em seu pequeno apartamento no subúrbio de Incheon, sentiu que tudo o que queria na vida era uma ducha quente e um bom prato de Lamen.
Ela havia plantado alguns homens na orla das praias de Incheon, mas duvidava que o Psicopata da Lua Cheia fosse aparecer. Ele era esperto demais para ser flagrado dessa forma.
Como não quis perder o seu tempo e estava com muitas horas de sono atrasadas, resolveu ir para casa. O apartamento era pequeno, mas agora que sua melhor amiga havia se casado e deixado o imóvel só para ela, ela sentia que o espaço era grande demais para uma garota solteira e solitária como ela.
Depois do banho e do lamén, resolveu se jogar no sofá, tomando uma cerveja enquanto assistia um desses doramas engraçados. Já via muita desgraça no seu trabalho, em casa, só o que queria era relaxar.
Seu celular, por outro lado, tinha outros planos para ela e acendeu toda a sala na penumbra, lembrando que aquela era a terceira noite de lua cheia.
“Achamos a Saruto Maike”… era a mensagem que brilhava na tela do celular, mandada pelo seu parceiro Kim Min-O, um dos poucos detetives nos quais ela confiava.
Minutos mais tarde, quando entrou no necrotério do Instituto Médico Legal, arrependeu-se de ter comido lamen e tomado a cerveja, pois seu estomago parecia querer devolver o conteúdo assim que viu a cena:
Numa cama metálica e fria, estavam os restos mortais de uma garota de 17 anos, que teve os sonhos e a vida interrompida por aquele maníaco.
A pele que já fora brilhante e rosa agora tinha um aspecto azulado que não parecia ser humano. Os membros inferiores e superiores haviam sido decepados cirurgicamente em vários pontos, mas Kim San Joon, o legista, havia os montado lado a lado, como se ela fosse uma boneca desmontável.
A cabeça – também decepada – estava dentro de uma bacia de alumínio, mas era o tronco a pior parte.
Diferente das vítimas anteriores, ele havia retalhado a garota na área do ventre.
– A menina foi drenada lentamente como os outros, seu corpo foi dividido em sacos plásticos e seus restos jogado em uma caçamba de lixo qualquer. Pra melhorar, ele tirou quase todos os orgãos internos – informou San Joo. – Que maluco faz um negócio desse? É nojento.
– É mesmo a Saruto? – perguntou Han Kio, com uma tênue esperança de que não fosse a garota japonesa. Imaginando que no dia seguinte, a imprensa cairia sobre sua cabeça e o embaixador do Japão também.
– Sim… falta o teste de DNA, mas não tem como negar. – respondeu San Joo.
– Alguma ‘surpresinha’ na boca da garota? – perguntou Han Kio, imaginando se o assassino lhe daria outra pista como na vítima anterior.
– Sim… mas não estava na boca. Foi na barriga. A garota estava grávida. Achei isso costurado junto ao feto. Estava de 5 meses.
San Joo entregou-lhe um pacote de plástico transparente. Dentro havia um pedaço de uniforme escolar onde constava um nome bordado. O tecido estava ensopado de sangue.
– Doentio… você acha que o psicopata sabia da gravidez da Saruto? – perguntou Ji Han Kio, sentindo uma forte repulsa ao ver o pedaço de pano em sua mão. O sangue não deixava o nome muito claro, mas parecia ser “Cho Na Ra”.
– Não sei, não dá pra saber a intenção deste maluco – disse San Joo, ajustando os óculos em seu rosto – mas acho que é uma boa ideia investigar o namorado da Saruto.
– E o exame toxicológico?
– Saruto foi anestesiada. Não deve ter sentido muita dor. E o bebê tampouco… ainda assim…
Ao invés de voltar para casa, Ji Han Kio resolveu ir para a Delegacia, onde poucos estavam de plantão. Ela pesquisou no computador o nome de Cho Na Ra e não gostou nada do resultado. Veio a foto de uma garota ainda mais nova do que Saruto. E ela conhecia aquela garota. Havia visto o rosto dela antes.
Cho Na Ra era a mesma garotinha que viu nos retratos do Dr. Jack Cho, na diretoria do Hospital.
Cho Na Ra era sua filha!