Os condenados – Cap 1 – Assassino

Capítulo 1 – Assassino

Park Oh Nam irritava-se com a voz estridente do âncora de TV, com as últimas e alarmantes notícias:

– Aumenta a contagem de mortos infectados com o vírus H2V2. O Ministério da Saúde admite que a vacina distribuída apenas mascara os sintomas e retarda o progresso da doença. Os sintomas iniciam com fortes dores de cabeças e dores fracas pelo corpo e evoluem para vômitos hemorrágicos, convulsões, febre intensa e alucinações. Se você experimentou um desses sintomas, deve evitar o contato com as outras pessoas.  De acordo com a Organização Mundial da Saúde, há mais de um terço da população mundial infectada e a quantidade de fatalidades ultrapassa os 5 milhões. Só em Iksan, temos a notícia de que 210 mil…

Quando a tela da TV simplesmente ficou sem sinal, os detentos da Penitenciaria de Iksan reclamaram, mas não Oh Nan.

Park Oh Nam não era o tipo de pessoa que se impressionava. Segundo a Dra. Kim Joo Mi, ele era incapaz de sentir qualquer coisa por outra pessoa, em outras palavras, um psicopata assassino.  Até Oh Nam chegou a acreditar nessa balela. Joo Mi era ótima em discursos, retórica irrepreensível, Promotora Público numero 1, futura prefeita da cidade… coisinha bonitinha que Oh Nam adoraria ter em seus braços…

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O Assassino – Park Oh Nam

Oh Nam também não poderia negar o fato de que matara deliberadamente 36 homens e 12 mulheres com requintes de crueldade, mas isso não queria dizer que ele era isento de sentimentos, queria?

Ele era uma assassino. E pronto. Tinha seus motivos, só não os abriria para a certinha promotora.

Os outros detentos se levantaram da área de lazer que poderiam ocupar por algumas horas por dia e logo entraram nos corredores das celas. Oh Nam foi o último a se levantar. Nenhum outro detento tinha contato com ele. Todo mundo o conhecia, mas desviavam olhares e ficavam nervosos em sua presença. Melhor assim.

Ele não era o único assassino ali, mas por alguma razão, mesmo os outros assassinos o temiam.

 O caso de Oh Nam ocupou os jornais durante muitos meses, até que seu veredicto finalmente veio: culpado e condenado a 116 anos sem direito a condicional. Homicidio doloso, cárcere privado, ocultação de cadáver, atentado violento contra a humanidade, bla-bla-blá… bla-bla-blá!!!! Nem mesmo Oh Nam sabia por quantos crimes havia sido condenado.  “C’est lá vie”, diria seu professor de francês! A vida é uma porra de merda!, diria seu padrasto e vítima número 3.

Foi um milagre não ter sido condenado à morte.

Prisão em flagrante, e agora: relaxamento da prisão ou liberdade provisória?

Agora levava uma vidinha mais ou menos, sem muita excitação. Entretanto, poderia ir a Biblioteca uma vez por semana e isso era mais do que quisera em toda a sua vida.

Acrescentando que ninguém o aborrecia na Penitenciária de Segurança Máxima , com exceção, é claro, da Dra. Kim Joo Mi. A doce e recalcada promotora que lhe colocara atrás das grades.

–  Park! – disse um dos agentes de segurança, chamando sua atenção – Visita!

Era ela de novo. 

Oh Nam sabia que ela era a única pessoa no mundo que o visitava. A única pessoa que tinha coragem o suficiente para chegar perto dele. Até mesmo os guardas tinham medo dele e se afastavam quando ele passava. Sua fama lhe concedeu esse tratamento.

Ao invés de tomar o corredor das celas, Oh Nam entrou noutro corredor, indicado pelo guarda. Era um longo corredor. Enquanto caminhava, dois guardas passaram a acompanhá-lo às suas costas. Oh Nam parou de repente, apenas para testar os dois homens que levaram suas mãos trêmulas ao cassetete, como se isso pudesse pará-lo se ele realmente decidisse matá-los.

Depois de se divertir com a reação dos guardas, Oh Nan voltou a caminhar. Havia outro guarda esperando por ele diante de uma porta.

Ali, nos quatro cantos da sala, havia um guarda. Geralmente, não havia guardas nas visitas com advogados ou com familiares, mas como Oh Nam havia matado a mulher de uma de suas vítimas durante uma visita, por isso, passou a ser monitorado com mais rigor.

Oh Nam notou que Joo Mi já estava sentada atrás de uma mesa branca que havia argolas preparadas para ele. Os guardas colocaram a algema nele e o prenderam às argolas, fundidas na mesa.

Oh Nam deslocou o polegar, sem que os guardas vissem. Assim, ele poderia se libertar das algemas quando quisesse. Em sua mente, ele calculou os segundos que levaria apagando os guardas. Se conseguisse trancar a porta, teria alguns minutos à sós com a promotora antes que alguém pudesse arrombar a porta. Enquanto imaginava os deliciosos minutos torturando Joo Mi, Oh Nam sorriu.

– Oh Nan! – disse Joo Mi, sem nem mesmo olhar para ele.

– Joo Mi! – retorquiu Oh Nam, analisando o rosto da promotora que o condenara.

Era uma mulher bonita, sempre tensa, séria, preocupada. Sempre vestia terninhos finos e tinha uma aparência bem cuidada. Deveria ter por volta dos 25 ou 30 anos, mas tinha um rostinho de 15 e pose de 50.

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A promotora Kim Joo Mi

– A Família Tae está desesperada. O Estado resolveu retirar 20 anos de sua pena se você informar onde enterrou Tae Kim Gil, Oh Nan!  – disse ela numa voz séria, suave, mas não suplicante. Quando Oh Nan tinha uma vítima, gostava de ouvi-la suplicar. Joo Mi não agia como vítima. Ela suplicaria se ele estivesse à sós com ela?

– Fico imaginando se o Estado negociaria se os Tae não fossem ricos. – agulhou Oh Nan.

– A oferta está na mesa. É só o que vamos te ofertar. O estado não está disposto a afrouxar demais para um assassino como você! – falou ela, sem muita paciência.

– Claro… vinte anos. Veja, eu tenho 32, mais 86, isso dá 118 anos. Realmente acha que isso faz alguma diferença pra mim?

– Eles querem um encerramento, Oh Nam. Já não os fez sofrer o suficiente?

– Não. Na verdade, eu os libertei de Tae Kim Gil. Eles deveriam me agradecer.  E Kim Gil está melhor onde está! Sou um assassino com um código de honra, apesar do que você pode pensar. E pra mim, é uma honra deixar aquele velho podre onde está – disse Oh Nam, sorrindo sarcasticamente.

– Você é diabólico! – respondeu Joo Mi, visivelmente aborrecida. Depois de empacotar os papeis em sua valise, Joo Mi ergueu-se, mas quando ia passando por Oh Nam, ele segurou uma das suas mãos. Os dois guardas que estavam presentes na sala moveram-se tensos na direção dele, mas Joo Mi fez um gesto para eles se acalmarem.  Oh Nam se livrara facilmente da algema, mas não se moveu na direção dos guardas. Se ele a matasse agora, não receberia novamente uma visita dela. Deixaria aquele prazer para outro momento. Agora, bastava-lhe ver o olhar assustado dos guardas enquanto a pequena Joo Mi arqueava a sombrancelha, desafiando-o. Seria mesmo delicioso vê-la suplicar…

– O que você quer? – perguntou ela. Talvez ela fosse a única pessoa na face da terra que não o temia. Por ora.

– Eu só queria tocar em alguém! – respondeu ele, fazendo um círculo com o polegar sobre a mão de Joo Mi.

– É melhor me largar, Oh Nan! – respondeu Joo Mi, séria, tensa, mas não suplicante. Que coisinha bonitinha era ela para ele a quebrar delicadamente. Nem tinha medo de um assassino violento condenado a prisão perpétua.

– Larga ela, Oh Nan! – falou um dos guardas, com uma das mãos no cassetete preso ao cinto. O guarda parecia prestes a sofrer um ataque de tão vermelho que estava.

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Park Oh Nam

Oh Nan largou e esperou que Joo Mi saísse para sentir o perfume em seus dedos, em seguida. Joo Mi era mesmo uma florzinha cheirosa, pensou Oh Nan sorrindo.