Os filhos do Mal – Cap 5 – O Partido

Capítulo 5 – O Partido

Um pouco depois, Han Kio chegou no hotel Pacific. Havia levado menos de 15 minutos. O bom de trabalhar durante a madrugada era o trânsito livre que encontrava nas ruas.

A recepcionista do hotel ficou olhando para ela, de alto a baixo, mas não fez nenhuma pergunta quando ela simplesmente apertou o botão do elevador.

Era um hotel de luxo, mas certamente, alguns dos clientes contratariam os serviços de prostitutas de luxo, por isso, não seria surpresa se ela fosse uma.

Só que ela não se vestia como uma prostituta.

Pelo contrário. Usava Jeans, Jaqueta de Couro e camiseta, o velho clichê de detetives.

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Pensando bem, talvez fosse por isso que o bom doutor a tenha chamado para o hotel. Talvez ele fosse um desses homens que contratavam prostitutas. Talvez o ‘programinha’ dele já tenha acabado, por isso, ele mandou-a vir.

Que ele estivesse muito bem satisfeito, pois se tentasse alguma coisa com ela, logo descobriria que ela era faixa preta em Muai Thai com um chute de esquerda que era difícil revidar. E ainda tinha uma Beretta pronta para ser utilizada e ela tinha uma ótima mira.

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Beretta

Sentindo-se nervosa, apesar de tudo, ela finalmente chegou no nr. 1306 e apertou a campainha.

Em questão se segundos, escutou os passos e então a porta se abriu.

– Ah… é você! – falou o Dr. Cho, parecendo levemente aborrecido.  – Entre.

Dentro do enorme quarto de luxo, descobriu, para sua surpresa, que havia outro homem ali, mas os dois estavam vestidos. Alias, notoriamente vestidos, de terno e gravata. E o outro homem parecia muito mais velho e conhecido. Tinha certeza de que já o vira antes.

– Este é o meu advogado. – falou ele, apontando o sofá para que sentasse.

– O senhor está esperando alguém além de mim, Dr. Cho? – Perguntou ela, achando estranho a maneira como ele a recebera.

– Sim, o líder do nosso partido. O seu chefe criou um pequeno caos dentro do meu partido. O caso é que eu lançaria minha candidatura na próxima semana, mas por conta do ‘vazamento’ de informações para imprensa, minha imagem ficou manchada. Alguns comentários bem grotescos me pintando de psicopata na página do partido fez com que minha carreira política fosse bem prejudicada.

– Sinto muito, por isso.

– Não é sua culpa… quero dizer, a não ser que tenha sido você quem tenha orquestrado isso. – falou Dr. Cho, parecendo um pouco cansado.

– O seu Chefe Song Yong Ko faz parte do partido conservador, oponente do nosso. Estamos movendo um processo contra ele e contra o partido dele. Se você está envolvida nesse caso, é melhor não conversar com o meu cliente – falou o advogado do Dr. Cho de forma bem agressiva.  – Há motivos para acreditarmos que essa tal ‘evidencia’ tenha sido plantada pelo Song Yong Ko.

Agora se lembrava dele. Ele foi o advogado de um homem muito rico que ela prendeu como suspeito do assassinato da esposa. Por causa do escroto do advogado, aquele filho da p*** foi solto. Meses depois, foi preso novamente por ter assassinado a amante. Como o advogado era outro, daquela vez o suspeito não teve tanta sorte e conseguiu 30 anos.

Aquele era o advogado Park Jin Ko, um idiota inescrupuloso de marca maior, dono da maior empresa de advogados de Incheon.

Ele venderia a mãe para ganhar um caso.

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Park Jin Ko

– Não orquestrei nada disso, mas posso garantir que a evidencia não foi plantada, pois quem descobriu foi o legista Kim Sam Joo que analisava a cena. – explicou Han Kio aborrecida. – Eu estava presente e testemunhei o exato momento em que isso aconteceu. Song Yong Ko não deveria ter vazado essa informação para a imprensa, mas ele não faltou com a verdade.

– Está aqui para defender o seu chefe? – vociferou o advogado.

– Não, eu estou aqui para falar com o Dr. Cho. Gostaria de fazer isso em particular, se for possível. – respondeu ela, mantendo a calma mas de forma firme e altiva.

– Se for algo que me envolva no caso do psicopata da lua cheia, prefiro que meu advogado esteja presente. Espero que entenda – falou o Dr. Cho, alisando os cabelos negros com as mãos. Apesar de toda aquela confusão, ele parecia estranhamente calmo.

– Está bem, então. – disse ela, vencida – Encontramos uma nova evidencia na última vítima.

– É a garota japonesa? A tal da Saruto Maike? – perguntou o advogado, rapidamente.

– Não posso dar essa informação. O que posso informar é que o nome da sua filha estava nessa vítima. Sua filha se chama Cho Na Ra?

A cor do Dr. Cho simplesmente desapareceu.

Em seguida, ele piscou várias vezes e sua mão começou a tremer.

– O que está dizendo?

– Uma parte de um uniforme escolar com o nome “Cho Na Ra” foi encontrado junto com a última vítima. Então, penso que isso pode ser um indício das intenções do psicopata.

– Mas é realmente o uniforme da minha filha? – perguntou ele, com a voz levemente trêmula.

– Ainda não descobri, Dr. Cho, mas acho que é coincidência demais, o senhor não acha, encontrarmos o seu cartão pessoal em uma vítima, e o nome da sua filha, em outra?

– Deus do céu! – falou ele, e vasculhou o bolso do chique paletó atrás de seu celular. – Espere um pouco – disse ele, com o dedo indicador voltado para ela. – Sra. Baek. Por favor, vá imediatamente ao quarto da Na Ra e veja se está tudo bem com ela.

Alguns segundos se passaram.

Ele mantinha a respiração em suspenso, parecendo visivelmente abatido.

– Sim… graças a Deus – disse ele, respirando aliviado – Por favor, Sra. Baek, não tire os olhos de Na Ra. Avise os seguranças para redobrar os cuidados. Não… não sei, Sra. Baek… parece que há o risco de Na Ra ser sequestrada, Sra. Baek. Não… acalme-se Sra. Baek. Sim, avisarei a empresa de segurança, mas por hora, ela não deve sair de casa, por nada desse mundo. Como assim??? Um estranho??? Roubou o casaco da escola? Que estranho? Quando isso aconteceu? Por que não me disse isso antes, pelo amor…???? Está bem… fique atenta, por favor.

Depois que o doutor psicopata desligou o telefone, ainda levou alguns segundos para voltar sua atenção para Han Kio. Parecia agitado. Abriu o frigobar e passou a tomar uma garrafa de água como se bebesse Soju.

– Parece que semana passada um homem roubou o casaco da Na Ra…. a senhorita acha que pode ser o psicopata? – perguntou ele, após sorver o conteúdo da garrafa em segundos.

– Só pode ser – concluiu então o advogado que parecia tão agitado quanto o Dr. Cho – Como o meu cliente pode ser um suspeito se o maldito psicopata está atrás do meu cliente e da filha dele? Hein, responda srta. Ji.

Han Kio ficou surpresa que o advogado soubesse seu nome.

Talvez o Dr. Cho tivesse dito, ou talvez ele se lembrasse dela do caso do marido assassino, mas não poderia saber com certeza.

– É muito cedo para dizer qualquer coisa. Mas eu precisarei conversar com essa Sra. Baek.  – disse ela, meio animada. Afinal, essa era a primeira pessoa que dizia ter visto o tal psicopata, se aquela encenação do Dr. Cho fosse mesmo verdade. Do seu lado, Han Kio não descartava nenhuma possibilidade. – Também gostaria de saber se existe alguém que o tenha como inimigo, Dr. Cho. Alguém que tenha algum tipo de ressentimento contra o senhor.

– Ah, por Deus, meu cliente é o CEO de um grande hospital e membro do partido que provavelmente elegerá o próximo prefeito e o próximo presidente. – berrou o advogado, visivelmente alterado. – Então, é óbvio que ele deve ter muitos inimigos. Qualquer ex-empregado pode guardar rancor contra ele.

– Jin… eu quero falar em particular com a senhorita Ji, por favor. – disse ele ao advogado que pareceu surpreso. – Desça até a recepção e tome alguns goles de whisky no meu nome. Suba quando Bert chegar.

Bert deve ser o tal presidente do partido liberal, imaginou Han Kio. Partido, sempre a p… do partido.

– Jack… não é inteligente falar com uma policial sem um advogado junto. – reprovou o advogado. E de fato, ele tinha um pouco de razão.

– Não se preocupe, eu posso me virar sozinho.

Han Kio ficou um pouco animada e apreensiva ao mesmo tempo. Dispensando o advogado, sabia que ele poderia dar alguma informação importante que não queria que ninguém soubesse. Então, precisava ficar muito atenta.

Entretanto, ele poderia atacá-la também, se quisesse. Afinal, a suspeita de que ele fosse o tal psicopata da lua cheia ainda persistia. Inconscientemente, levou a mão, em seguida, até o coldre e se certificou de que sua Beretta ainda estava lá.