Capítulo 11 – O Carro Suspeito
Irene parou na casa de sua amiga, para deixar a bicicleta que havia emprestado. Junto à casa, na parte da frente. Íris sua amiga, tinha um salão de beleza. Primeiramente, deixou a bicicleta trancada na lavanderia e entrou. O sino que era preso na porta, avisou sua presença. Em seguida, Íris se virou e sorriu.
– Foi bom que você chegou, uma cliente marcou para amanhã manicure e pedicure às 9 horas, também tenho corte e pintura, estarei acordada cedo.
– Hoje aconteceu algo bem esquisito comigo no supermercadão! Mas, te conto amanhã! Já deixei a bicicleta trancada e obrigada por emprestar. Tenho que ir, quero deixar tudo preparado pro meu filhote.
Em seguida, Irene reparou que tinha duas clientes esperando sentadas no sofá e uma, na cadeira sendo atendida pela amiga.
– Já tem dezoito anos e ainda trata o rapaz como um bebê! Deixa eles crescerem, nunca vi os teus piás na rua com a molecada. Você tem que soltar um pouco, senão vão crescer sem conhecer a vida direito. Serão presas fácil. O mundo de agora, não é brinquedo não! – aconselhou Íris.
– Se você tivesse filhos, seria mais pegajosa que eu! Vive mimando seus sobrinhos. Contudo, tua irmã nem merece o esforço que você faz por eles.
– Seus sobrinhos não! Só a minha afilhada. (Íris responde alto devido ao barulho do secador).
– Vamos deixar de inventar desculpas! Tenho que ir, para deixar, tudo ajeitado para amanhã.
Ao sair pelo portão, notou um carro suspeito, pois era preto com vidros escuros.
Aquele carro era novo, de marca cara e suspeito, só gente de grana poderia ter. Apressou os passos, para entrar no beco e quando estava na metade, começou correr com medo de ser seguida.
Já estava no pátio de sua casa, quando viu o carro suspeito vira a esquina.
Havia negociado uma dívida, fazia 4 meses, garantindo que iria pagar. Mas como as coisas continuavam apertadas deu o calote e não era a primeira vez.
Quando vieram cobrar, pediu para uma vizinha dizer que havia se mudado do local. Então, como um dos seus filhos estava na escola e o outro trabalhando, ela e a mãe conseguiram recolher as roupas do varal, trancar a casa e convencer a vizinha a mentir.
Assim que Íris ligou, avisando que um cobrador entrou em contato com ela. (Irene dava sempre o telefone residencial da Íris, como contato e dizia que não tinha celular).
E daquele dia em diante, estava sempre preocupada que seus credores voltassem, para cobrar o que ela não tinha.
Agora um carro suspeito lhe seguindo?! Quando o carro parou, ela e a mãe estavam espiando pela fresta da cortina.
O senhor Kim não desceu, apenas virou a volta e passou devagarinho observando a casa e anotando o nome da rua e o número. Mais a frente parou o carro e pediu informações. Em seguida, foi colhendo, tudo que poderia encontrar.
Ao falarem que ela trabalhava no mercado ali perto, foi até lá para saber como seria sua conduta.
O seu patrão o Sr. Choi contou toda a história do filho Goon. O Sr. Choi queria saber se a tal mulher seria de bom caráter. Mesmo acreditando no Xamã, ele também tinha suas dúvidas.
Senhor Kim entrou no mercadinho que era muito simplório. Não deveria ganhar muito bem trabalhando ali. Um Homem carrancudo olhou ele com desconfiança.
A mulher que estava no caixa sorriu sendo amistosa.
– No que podemos ajudar?
– Estou procurando uma Senhora chamada Irene Tomaselli? Soube que ela trabalha aqui.
O velho já resmungou.
– Cobradores! Que racinha mais chata! Não dá para perceber que a coitada não tem onde cair morta!? Se ela tivesse dinheiro ela já teria pagado!
– De quanto é a dívida dela?
– Você é que deve saber, não veio cobrar a coitada?
– Não senhor, soube que ela é contadora formada!? É isso mesmo?
O velho franziu a testa desconfiado.
– Está jogando o verde para colher o maduro!?
– Desculpe senhor, mas eu não entendi, o que o senhor quis dizer com isso? Eu não sou daqui!
– Quer o que com ela, então?
Nessa hora passou um cliente para o fundo do mercado e foi para onde ficava o açougue.
O velho balançou a cabeça para a mulher, fazendo sinal para despachar o homem e foi atender o cliente.
– A senhora poderia me responder algumas perguntas?
– Sendo rápido, posso sim!? Tenho que trabalhar!
– Que horário ela trabalha aqui? Ela é boa funcionária?
– Porque essas perguntas?
– Tem alguém interessado no trabalho dela! Ela é mesmo contadora?
– Sim, ela é boa pessoa. É ela que faz todo balanço do nosso mercado. E cuida para que todos os impostos estejam em dia.
– Desde quando trabalha aqui?
– Ah! Assim que veio morar no bairro. Ela entrou aqui preenchendo a vaga que oferecemos, dizendo ser provisório até arrumar outro emprego e isso já faz uns 7 anos.
– Ela é casada? No currículo que mandou, não especificou.
– Coitada, é viúva 8 anos! Está nessa situação devido à morte do marido!
– Como assim. O marido não deixou nada?
– Pobrezinha, foi roubada pela ex sogra e pelos cunhados. Veja só o senhor! No dia do funeral passaram a perna nela! Deixaram a coitada com toda a dívida do funeral, sendo eles que compraram tudo. Caixão, flores, capela e deixaram tudo no nome dela. E ainda por cima, o seguro de vida do marido, eles carregaram, nem um tostão para ajudar a coitada com o enterro, não deram. Eles adulteraram a apólice. Depois veio o advogado do dono do carro em que o marido bater.
– O marido morreu num acidente?
– Sim, praticamente! Deu um piripaque nele quando dirigia, então, deu ruim! Ele avançou para a outra pista e bateu de frente, com uma picape. A picape nem foi tão amassada, comparada com o carro dele. Quer dizer, dela.
– O carro era dela? Ela estava junto?
– Ela mal voltara a trabalhar, o filho mais novo iria para o jardim. Então ela poderia voltar a trabalhar fora. Moravam em um apartamento bem pequeno. Venderam o apartamento e o carro dele para dar a entrada em um novo, 3x maior que o primeiro. Ela tem a dívida dessa batida. Nem esperaram o defunto esfriar, e já estavam cobrando no emprego. Foi tanto constrangimento, que foi mandada embora.
– Ela recebe bem trabalhando aqui?
– Ela trabalha meio período. Quer dizer. Começa meio-dia e meia, temos que aproveitar o horário das crianças indo para escola. Então não fechamos para o almoço. Ela começa nessa hora e vai até às 18:30. Nós pagamos para ela o salário-mínimo mais o vale-transporte, que ela pega para o filho. E quando ela faz o balanço e organiza a papelada, nós pagamos pouco mais por isso.
– O serviço de um contator não é barato!?
– Eu sei disso! Nós já tivemos um contador. Por mim eu pagaria mais para ela. Mas meu marido é turco, pão duro, que nossa! Ela trabalha até 18:30, porque ele não quer pagar o adicional da noite. Aí minha filha, que chega do trabalho fica no caixa, no lugar dela.
– Amanhã ela começa a trabalhar ao meio-dia e meia? Vou achá-la aqui?
– Não! Amanhã ela trabalha no salão de beleza de uma amiga, trabalha de manicure. Ela não trabalha no sábado, porque minha filha fica no sábado, ajudando no mercado. Meu filho também, depois que chega do serviço assume o posto dele que é no açougue.
– Ah! Sei, fica tudo em família. A senhora Irene têm 2 trabalhos então?!
– Ela também faz salgadinho, vende nos bares aqui na redondeza. A maioria dos botecos por aqui compram dela.
– E mesmo assim, ainda não conseguiu quitar a dívidas?
– Vendeu o apartamento ainda financiado por uma pechincha, só para pagar o enterro e o terreno no cemitério. Teve que vir morar de aluguel. Com crianças pequenas, uma mãe doente. O que o senhor esperava? Teve alguns processos, por caso do carro. Móveis novos que tinham comprados sob medida para o apartamento novo. Veio morar para cá, com uma mão na frente e a outra atrás.
– Mas, já faz 8 anos que é viúva! Não arrumou outro homem para se casar?
– Quando veio para cá era uma boneca de linda! Cabelos cacheados, olhos claros. Bonita de corpo. Dava para ver, que era mulher que se cuidava. Diz ela que fazia academia e a natação. Teve pretendentes, mas ela não quis nem um. Com tantas dívidas, só pensava em quitar tudo. E o tempo foi passando e nada de resolver os problemas. As contas viraram uma bola de neve. Agora correndo o dia todo, não tem tempo, nem de se olhar no espelho.
Nesse momento o cliente que entrou, chega no caixa. Em seguida, empurrou o Sr. Kim para o lado.
– Me dá licença um pouquinho.
O marido da mulher então se aproxima com cara feia.
– O senhor não vai comprar nada? Se não vai comprar, o que ainda faz aqui? – falou o senhor enxugando as mãos na toalha, que antes estava pendurada no seu ombro.
Para evitar atrito, o Sr. Kim pega 2 pacotes de salgadinhos e uma lata de refrigerante. E fica atrás do outro cliente.
– Só vai levar isso? – fala o homem incomodado.
– Sim, senhor. Já estou de saída.
Passando pelo caixa agradece a senhora, sai do mercado, olhando onde tem algum boteco. Depois que ele entra no carro, o marido reclama.
– Não te fiz sinal para despachar o cara, e você dando corda, mulher!?
– Eu já estava despachando. Nem falei nada! Sabe que não sou de dar corda para os desconhecidos.
– O que vocês tanto falaram então?
– Só quis saber da Irene! Falei o que ele precisava saber. Se é cobrador, já sabe que ela não tem condição de pagar as dívidas.
– Ela não pediu para não dar informações sobre ela!? Nada de falar o que não deve. A coitada já tem problemas de mais! Esse tem pinta de ser advogado. Se ela entrar em confusão, é você a culpada!
– Não tem cara de ser mau-caráter, ele disse ser sobre um emprego!
– Ainda bem que hoje ela saiu mais cedo, por causa do aniversário do filho, senão teria encontrado com ela aqui. Assim, se ele voltar, temos que dizer, que demos a conta para ela. Ouviu?!
– Sim, ouvi muito bem!
Como de rotina, diariamente Irene acordava as 5:30 da manhã, assim que saía da cama, fritavas os salgadinhos, que já estavam congelados.
Fazia mais uma quantidade além do que já tinha vendido para congelar para o outro dia. Em seguida, preparava o café da família. E como era aniversário do filho, fez o cachorro-quente especial que ele lhe pediu.
Arrumou as encomendas na caixa de isopor, que seu filho menor iria entregar. Logo após, saiu de casa com um casaco marrom que ganhara de aniversário de seu ex marido. Já estava velho, mas gostava dele. Trazia boas lembranças.
Chegou no salão de beleza as 8:00Hs. Entretanto, Íris já estava de porta aberta, com toca térmica na cabeça.
– Entre logo, sobrou um pouco de creme hidratante, então vamos dar um jeito nesses seus cabelos rebeldes! – mal entrou e foi puxada e forçada a sentar na cadeira. Em seguida, Íris espalhou o creme e pos uma toca de plástico dessas simples.
– Vamos deixar agir por 2 horas, assim não tem rebeldia que resista! Vou amarrar um lenço, vai ficar melhor para trabalhar.
– Você e suas experiências, meu cabelo está assim, de tanto me fazer de sua cobaia! Vou te processar se cair meu cabelo!
– Essa receita é de confiança, não vê que até eu estou usando. Se cair os cabelos, eu também fico careca! Mas se der certo! Eu vou ganhar muita grana! Tenho que escolher um bom nome para esse creme.
– Sonha! Ouço você dizer isso faz tempo! Se queria inventar produtos de beleza, deveria ter feito a faculdade de química e não pedagogia!
– Mal tinha dinheiro para pagar a faculdade de pedagogia, então pensa que iria conseguir pagar uma de química!? E eu sou péssima em contas complicadas. Mas conta o que te aconteceu, estou curiosa desde ontem!
Irene pulou da cadeira gesticulando muito.
– Menina nem te conto! Assim, tirando o Lee Min Ho que é lindo de morrer! Fala o nome de um galã de dorama.
– Ji Chang Wook!?
– Não, outro.
– Jang Keun Suk!?
– Outro.
– Kim Hyun Joong!? Lee Jong Suk? Lee Joon Gi!? – Irene balançava a cabeça negativamente.
– Não, esses são novinhos! Com carinha de bebê! Um com cara de homem feito! Um pouco mais velho!
– Uh, So Ji Sub?! Hyun Bin!?
– Todos esses são bonitos, contudo o cara que eu vi no supermercadão, era parecido com aquele que fez a Bela e a Fera! (Minha Leal Kong Shim)
– Nan Goong Min?
– Sim, esse mesmo! Um homem parecido com ele. Todo bem-vestido. Traje impecável. Um sobretudo fino. – Íris estava com os olhos vidrados na amiga. – Não acredita no que ele perguntou para mim!?
– Fala logo!
– Se eu queria 100 mil, para transar com ele! Como eu não aceitei essa oferta, ele me ofereceu 500 mil reais! – (Irene contou tudo como aconteceu entre ela e esse homem tarado).
– Não acredito! E você falou o quê para ele?
– Claro que não aceitei! Imagina um homem desse nível, falando isso!? No mínimo era pegadinha! Até olhei em volta para ver se não tinha câmera escondida. Mas suponho ser brincadeira dele. Ou é mesmo um tarado, ou tem problemas psiquiátricos.
– Irene, minha amiga, quando você vai aprender que não se pode perder oportunidades!? Faz quanto tempo que você não se envolve com um homem?
– Faz tempo! Bem, antes, teve aquele louco que todo mundo chamava de Tranqueira ou Encrenca! Entretanto, o apelido já diz tudo! Nem pensar em ter algo com um homem como aquele! E meus filhos não querem que eu tenha namorado ou algo assim!
– Vai guardar para as minhocas da terra?! Tem que usar enquanto pode!
– Ai, Íris você é sempre desbocada. Nada de falar assim. Não sei se vou achar um homem como meu João! Ele me entendia muito bem. Só se o Lee Min Ho me quisesse! Aí eu esquecia o falecido.
– Lee Min Ho! Esqueceu que ele já é meu!? Eu vi primeiro! Fui eu que apresentei ele no primeiro dorama que você assistiu comigo!
– Já se esqueceu que nós tiramos ele no par ou ímpar, e eu ganhei!?
– Isso, foi pela única almofada que tinha na loja. Não tem nada a ver com ele. Minha própria amiga Já quer roubar meu pretendente.
Em seguida, as duas começaram a rir.
– É Íris, podemos sonhar o quanto quisermos, sonhos não custam nada. Ainda bem! Que ainda é de graça!
– Mas me diga!? E esse homem, o que fez depois disso? Ele não te seguiu?
– Não. Tinha mais um maluco com ele, assim orientou, que julgou que eu estava roubando, fiquei tão (P) da vida, que logo saí soltando fogo. Esse quando chegou perto dele, tentou reanimá-lo. Mas falando sério, o homem estava num estado, que me assustou! Pensei estar tendo um ataque do coração! Eu toda preocupada e ele fala aquilo! Deu vontade de bater. Eu me segurei, para não bater!
– Vive rezando para conseguir dinheiro para pagar as dívidas!? E quando aparece uma oportunidade, chuta o balde!?
– Será mesmo que um homem lindo, como aquele estaria realmente interessado em me pagar para transar com ele!?
– Então, porque ele diria isso, num momento daquele?
– Não sei!? Mas para mim, é muito estranho isso!?