Capítulo 14 – O Cartão.
Na manhã seguinte, Irene estava na cozinha. Após ter fritado as coxinhas, preparava agora as porções na caixa de isopor. O dia seria igualmente puxado.
Enquanto estava absorta em seu trabalho, ouviu uma buzina que vinha da frente da sua casa.
Assustada, ela correu para janela da sala, olhando por detrás da cortina. Enquanto isso, viu um carro de cor prata parado no seu portão.
Logo depois disso, foi até o banheiro e falou ao seu caçula:
– Tem um carro parado aqui na frente! Corre logo e vai ver o que a pessoa quer.
O rapaz balançou a cabeça, terminou de escovar os dentes, às pressas. Então, foi para a cozinha e pergunta:
– Mãe! E se perguntarem por você, o que digo?
– Diz que sua mãe já saiu para trabalhar, e só volta depois das 10 horas da noite. Só pergunta qual é o motivo de me procurarem!?
– Que tipo de trabalho é esse!? Que a pessoa sai antes das 7 h de casa e só voltas depois das 10 horas da noite? Tá na cara que é mentira!
– Diz que sou que nem o pai do Cris (seriado: Todo Mundo Odeia o Cris), tenho dois empregos! Saio de um e vou para o outro.
– Acha mesmo que vai colar?!
– Vai logo João Gabriel! Dispensa rápido quem está aí na frente, pois sabe que a vizinhança já vai comentar!
– Essa hora a maioria ainda está dormindo!
– Só com a buzina, a metade da rua deve estar atrás da cortina!
– A mãe e suas neuroses! – disse o garoto, saindo da casa.
Quando o jovem entra novamente na cozinha, ela foi surpreendida, pois ele trazia nas mãos uma enorme cesta de café da manhã e um cartão.
– A mulher falou que é para a senhora! Além disso, tem um cartão. Nossa como é pesado esse troço!
– Tem certeza? – Irene perguntou, sem acreditar.
– Sim! A mulher entregou, confirmando o seu nome e o endereço! Tive até que assinar a entrega!
Ele colocou na mesa a cesta e imediatamente correu para o quarto falando alto, fazendo irmão acordar. Dava de escutar na casa toda.
– A mãe tem um admirador! Ela recebeu uma cesta de café da manhã, com flores e bichinho de pelúcia e até um cartão. Coisa de homem apaixonado!
A avó veio confirmar o que ouviu. Em seguida, o filho mais velho chegou na cozinha com os cabelos arrepiados e esfregando a cara marcada pelo sono. A mãe de Irene ergue as mãos para o céu dizendo.
– Deus escutou as minhas preces! Finalmente, essa vai desencalhar de novo!
O rapaz faz cara feia, depois disso, fala chateado.
– Quem é esse sem vergonha que está dando bola para mãe?! Não é o idiota do “Encrenca” de novo? Ou é?
– Claro que não pode ser, afinal aquele não tem onde cair morto! E uma cesta como essa, não deve ser barato! Quem mandou tem dinheiro! – a velha fala xeretando os produtos dentro na cesta. – Tem um cartão! Irene abra logo, estamos curiosos para saber quem mandou!?
Irene fica sem jeito com os 3 olhando para ela como abutres. Com o cartão na mão, estava duvidosa se abria ou não. Respirou fundo e fechou os olhos antes de abrir.
Abriu o cartão e os olhos em simultâneo. Depois disso, leu o que estava escrito em letras impressas. E nem tinha assinatura. Só uns rabiscos de símbolos sem graça.
– Não é nada de mais! É só um pedido de desculpas! Um esquisitão que falou coisas absurdas para mim no mercado. Mandou por estar arrependido de me ofender!
– Não é comum mandar uma cesta como essa, só para pedir desculpas!? O que a mãe está escondendo de nós, hem? Senhora Irene!?
– Aí, só sou eu a desconfiada nessa casa?! Carlos Gabriel! Está duvidando de sua mãe?! – o jovem responde sem jeito.
– Claro que não! Mas, penso que esse homem, está com segundas intenções!
– Tomara! Sua mãe está há tempo viúva, já está na hora se casar de novo! Não vê que a vida está passando rápido! Eu que foi burra, que não me casei quando fiquei viúva!
A vó suspirou pensando na vida da filha.
– Em primeiro lugar você deveria ficar feliz que tem alguém interessado por ela! Significa que ela não vai ficar sozinha. Vocês logo estarão namorando e se casando! Será que vão cuidar de sua mãe?! Eu estou com vocês porque seu pai era um homem bom! Que Deus o tenha! Mas nem toda nora vai querer morar com a sogra?!
O menor pega a caixa de isopor e a mochila. Beija a mãe no rosto.
– Já vou indo, se não me atraso! Bença mãe!
– Deus te abençoe filho. E cuida, que aquele turco é ligeiro! Conta na frente dele, para ele não dizer que mandei a menos. Como fez ontem!
A velha senhora senta na frente da cesta, olhando como quem não quer nada.
– Pega mãe! Pode escolher o que quer comer! Eu já tomei o meu café! Mas deixa pra mim e para o João. Também quero provar dessas gostosuras.
O rapaz e a velha senhora se servem das tortas e dos biscoitos, enquanto isso Irene pega o cartão e coloca no bolso do avental. Pega as flores e o bicho de pelúcia, levando para a sala. Coloca as flores no vaso e o bichinho no sofá.
Prende os cabelos como sempre, de maneira que eles, mesmo presos parecem estar despenteados. Então tira o avental e pega o cartão. Sai e vai voando para casa da amiga.
O Sr. Kim estava estacionado na esquina. Viu quando Irene saiu de sua casa e foi em direção do beco. Deduziu que iria ao salão de beleza. Então, ligou o carro e foi rápido. Chegando bem antes dela, ele trocou de carro.
Percebeu que a mulher desconfiou de ter sido seguida por ele. Agora seu novo carro alugado, era de outra marca e de cor azul metálico.
Ele ficou há dez metros, estacionado do portão do salão de beleza. Dava para ver que ela trazia o cartão da cesta em sua mão direita. Ela deveria ter uma forte ligação com a dona do local.
Deveriam ser amigas de longa data, para conversarem sobre um assunto como aquele. O salão estava trancado, mas Irene foi para porta na lateral da casa. Com o binóculo, o Sr. Kim viu a mulher que abriu a porta para Irene, era mais baixa que ela e um pouco mais magra. Não deveria ter 40 anos pela aparência. Estava com cara de sono, bocejando e se espreguiçando na porta.
– Entra! O que foi que aconteceu, para madrugar na minha porta? – Perguntou Íris.
– Que exagero! Já passam das 7 e meia!
– Sabe que só me levanto às 8 horas!? Cedo, só quando tem cliente marcado! O que tu queres?
– Menina eu nem te conto! (quando Irene falava assim, é quê o babado era dos grandes).
– Qual é a novidade?
– Olha aqui! Não é que aquele maluco me mandou um pedido de desculpas! Isso veio com uma cesta de café da manhã – estendeu o cartão para Íris ver. – Não colocou assinatura, mas mencionou o supermercadão. Só deve ser o tarado daquele dia!
– Como não colocou assinatura? Está aqui!
– Onde? Isso!? É só uns símbolos rabiscados sem graça!? Como pode ser assinatura?
– Aíiiiiiiiiiiii, Irene! Antes de mais nada, está escrito em coreano! Não lembra dos doramas que assistimos! Têm vários que iniciam com essa escrita! Se toca! Agora está provado que não é da máfia chinesa!
– E se escreveu assim só para me enganar!?
– Para quê ele faria isso!? Se quisesse te matar mesmo, a essa hora, você já estaria morta! Não se brinca com a máfia! Além do mais, se ele fosse um assassino contratado, não perderia tempo tentando te enganar com uma cesta de café da manhã! Para quê ele iria gastar dinheiro contigo?
– Então o que ele quer comigo?
– Jantar com você! Você não leu o cartão?
– Para de ser debochada! Isso aí?! De pedir desculpas e jantar, é muito estranho!? Não acha?
– Na Coreia a educação é bem diferente do Brasil! Em primeiro lugar, lá eles até se ajoelham para pedir desculpas. Pedem desculpas com o devido respeito. Aqui, se alguém pedir desculpas! Tem que agradecer a Deus que o indivíduo reconhece que errou! Alguns são bem assim!
– Mas, eu não vou ligar para ele, marcando o jantar! Já mandou a cesta! Então, está de bom tamanho o pedido de desculpas! Pronto!
– Sim, ele não é bonitão? Não vai querer ver de novo? E, se ele quiser fazer a proposta! Vai perder a gana assim de bobeira? Ele falou em indenização!
– Não vê que pediu desculpas! Então, é claro que se arrependeu do que fez!
– Mas, mandar uma cesta com cartão! Tá na cara, que está com segundas intenções!
– Íris, você está sonhando!? Aquele homem deveria estar delirando quando fez aquilo! Impossível um homem como ele querer algo comigo!?
Irene revirou os olhos enquanto se lembrava do homem que a havia abordado no supermercado.
– Só se estiver macumbado! Vai que alguém fez uma macumba para o coitado? Você sabe que tem pessoas más para fazerem isso! Querendo desgraçar a reputação dele!? – colocou Irene.
– Vai que seja, tipo o “filme, Proposta Indecente”. Você pode lembrar alguém do passado dele.
– Depois, sou eu que estou assistindo muito filmes e doramas!?
– Vamos à mulher do morro, ela pode dar uma orientação. Podemos saber quais são as intenções dele! Vamos?! – Irene fica confusa, coçando a cabeça pensativa.
– Eu vou tomar um banho e o meu café. Enquanto isso você decide-se. Pode deixar que eu pago!
Quando voltaram do leilão, Goon resolveu alugar uma casa por um mês mas não era uma casa simples. Era um casarão luxuosamente mobiliado. Com muito conforto e afastada do centro da cidade.
Se o seu plano desse certo, a mulher teria que ficar com ele por 7 dias consecutivos, mas fazer isso no hotel chamaria a atenção. Por isso, achou melhor evitar aquele transtorno.
Ele estava impaciente, então mal conseguiu dormir, levantou cedo indo para a piscina nadar. Desistiu, a água não era quente. Mesmo com o dia ensolarado o vento frio de inverno causava arrepio. Logo entrou e encontrou o primo acendendo a lareira.
– Suponho que o condicionador de ar não funciona?! Não pensei que essa região aqui fosse fria assim?!
– Usa a cabeça! Estamos no sul do país! Mais próximo do Polo Sul! O clima quente fica na região próxima à linha do Equador. Fugiu das aulas de geografia? – agulhou Goon.
– Sua explicação não ajudou em nada! A casa continua gelada! Mando virem consertar o ar condicionado?
– Sim, fala com a imobiliária! Eles garantiram que tudo estava em perfeito estado! Mas já deu de perceber que foi conversa fiada! Ah! Antes que eu esqueça! Já entregaram as flores?
– Eu pensei bem, e enviei uma cesta de café da manhã. É mais romântico. Não precisa me agradecer! Sendo entregue as 7:00 horas em ponto.
– Não quero parecer romântico! Apenas educado! – Goon ficou chateado e, preocupado. – Já são 9 meia! E ela ainda não ligou?!
– Espera um pouco! Ela tem que ter: primeiro, tempo para se lembrar de quem é o pedido de desculpa. Segundo, tempo para avaliar a situação. Terceiro, tempo para decidir se liga ou não liga.
– Em primeiro lugar, é impossível, ter me esquecido tão rápido. Em segundo lugar, é óbvio que a situação é favorável para ela. Terceiro: Se ela não ligar, é uma tremenda burra!
– Vai que você não seja o tipo dela!?
– Eu sou o tipo perfeito para qualquer mulher decente e normal! Já estou falando normal, caso cite a Yan Min, como da outra vez! Pois aquele monstro não conta como mulher! – responde Goon, irritado.
Goon parecia ansioso com a situação, mas não queria fazer um movimento errado.
– Vou esperar a ligação dela até amanhã. Caso não ligue, vou usar o plano B! – o primo fica intrigado, Goon não comentou nada sobre outro plano. E a cara dele não era das boas. Tinha algo obscuro por trás daquela impaciência.
– Quê plano B é esse? – Goon dá um sorriso malicioso para Jun. Fica indeciso em falar.
– Enfim, quê plano B é esse, que eu não estou sabendo?- insiste o primo.
– Vou sequestrá-la!
– Tá brincando né?!
– Não! O plano é o seguinte: Nós a sequestramos, ficamos com ela por 7 dias, sempre usando um saco preto na cabeça, para ela não nos reconhecer. Ao mesmo tempo, eu faço o que tenho que fazer. Aí libertamos ela com uma maleta, com quinhentos mil reais.
– Em primeiro lugar! Nós, uma ova! Não vou participar de um plano sujo desse! Além disso, 7 dias a coitada com um saco na cabeça. Você vai liberar o corpo dela. Em 7 dias ela morre de fome! De onde tirou esse plano?
– Tudo bem, nós… – Goon corrige.- Portanto, você alimenta ela. Tira o saco e dá comida. Mas, usa uma máscara para ela não te reconhecer. Ela te viu no Supermercadão! E depois liberamos ela com muita grana. Você pensa que ela vai reclamar!? Tendo uma mala cheia de dinheiro nas mãos?! Ela não vai nos denunciar, principalmente tendo dinheiro!
– Sim, mas ela não tem parentes que vão achar falta dela por sete dias?
– Ela é pobre! A polícia não vai dar bola para isso?
O primo abria a boca e fechava, tentando achar as palavras certas.
– Goon, em primeiro lugar se o teu pai souber que você está pensando algo hediondo como isso! Ele te deserda! E o meu, corta a minha cabeça! Não acredito que quer fazer de mim um criminoso!? Mas, nem pensa em contar comigo para fazer essa loucura.
– Se não vai me ajudar, então, é melhor contratar alguns capangas para mim.
– Não acredito que está levando a sério!? Antes de mais nada, você acha que é fácil achar pessoas desse tipo em qualquer esquina?
– Pessoas de mau-caráter existem em todo lugar! Não vai ser difícil achar!
– Sim! Claro que não. Nesse momento, tem um bem na minha frente!
– Engraçadinho! Portanto, se não quer que isso aconteça, vai rezando para a feiosa me ligar! E não fala nada disso para o Sr. Kim. Vou dispensar ele, se precisar fazer isso!
Jun fica assustado com a frieza do seu primo. Afinal, Goon nunca agiu daquele jeito!
– Você está me assustando!?
– É divertido te ver assim!
Às duas saem de casa de carro, entretanto, o Sr. Kim deixou elas passarem por ele.
Em seguida, ele dirigiu o carro deixando uma distância satisfatória. Mesmo assim, elas não foram muito longe. O morro que subiram era muito íngreme, cansativo para subir a pé.
Estacionaram, por fim, na frente de uma casa amarela no topo do morro.
Pelo que o Sr. Kim pode colher de informação, a casa pertencia a uma cartomante. De fato, era uma mulher estranha, assustadora. Por isso, alguns vizinhos citavam ela como bruxa! Mas muitos comentaram que ela conseguia ler o destino das pessoas nas cartas.
CARTÃO:
Prezada Senhora Irene Tomaselli.
Peço desculpas pelo ocorrido no supermercado.
Não quero que me entenda mal.
Disponho-me a dar melhores explicações.
E me retratar com a senhora, e até indeniza-la caso se sinta ofendida pelo que aconteceu.
Dessa forma, quero convidá-la para jantar.
Segue um número de celular.
Entre em contato com o meu secretário para marcarmos o dia.
Desde já, agradeço pela sua compreensão.
Secretário: Jun Ho + 011 82 02 123-7667
최궁윤