A Beleza da alma – 10 – Um amor fadado à morte

Capítulo 10 – Um amor fadado à morte.

Os dias foram passando como uma chuva cinza e monótona na mansão do Dr. Do Jin, que não quis ir a empresa por uma semana.

Anya sabia que era apenas um faz de conta, para fazer todos acreditarem que os dois estavam em lua de mel.

Na verdade, sempre que podia, Do Jin se trancava na Biblioteca e trabalhava no computador.

Anya até achou que em algum momento ele a chamaria para resolver algum problema no computador, mas ele se manteve a distância durante todos os dias. E durante a noite, vinha para cama bem depois que Anya já havia se deitado e não lhe dizia uma palavra.

Quando Anya percebeu que ele a evitava, passou a colaborar com ele, esperando que ele terminasse o café para então se servir. E durante o almoço, ela permanecia em silêncio. Com certeza, os empregados estariam fazendo comentários sobre aquele casal frio e silencioso, mas como Do Jin não se importava, tampouco Anya se importaria.

Depois de uma semana, foram juntos para o trabalho. Quando desceu do seu quarto, já vestida para a ocasião, viu que Do Jin a esperava no lobby de entrada.

– Está atrasada! – disse ele, simplesmente, depois de uma semana de silêncio e distanciamento.  
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– Eu posso ir de metro ou de ônibus, não quero incomodá-lo.

– Precisamos manter as aparências. Você vem comigo. – respondeu ele, evidenciando o seu desagrado.

Anya não quis discutir. Anuiu em silêncio, pensando que seria muito difícil para ela manter as aparências agora que eram casados. As pessoas esperariam uma intimidade que eles nunca compartilharam.   

O trajeto até a empresa foi feito num silêncio constrangedor e pesado. Do Jin simplesmente grudou na janela e só desviava o olhar da paisagem para responder às mensagens do WhatsUp.

Contudo, quando chegaram, antes mesmo de saírem do estacionamento, Do Jin segurou sua mão, enlaçando seus dedos nos dela. Anya sentia-se estranha com aquilo, mas ele parecia impassível.

As pessoas cochichavam por onde os dois passavam e Anya sabia exatamente o motivo. Provavelmente, os funcionários da Do Jin se perguntavam se era um casamento por amor ou por interesse. Talvez imaginassem que Anya fosse a interesseira e golpista.

Durante toda a sua vida, sempre foi o foco dos olhares e cochichos, mas sempre foi em razão de sua aparência grotesca. Certamente, aquela era  aprimeira vez que os comentários sobre ela eram diferentes.

Anya queria poder simplesmente desaparecer, por isso, agradeceu quando chegaram na presidência. Só então, Do Jin largou sua mão e foi para a sua sala. Anya fez um muxoxo, aborrecida com a indiferença que Do Jin lhe reservava. Não esperava uma história de amor sincero com ele, mas não imaginou que ele a trataria como um dos móveis da casa e da empresa.

Aborrecida, Anya foi para sua sala e quando abriu a porta, levou um susto. Rachel estava ali, com um sorriso que ia de uma orelha a outra.

– Rachel, não esperava que você viesse tão cedo. – falou ela, surpresa por ver a recepcionista sentada em sua cadeira, como se ela fosse a dona da sala.

– O Almeida falou que você é obrigada a me treinar. – disse a agora secretária.

– Sim, claro… – falou Anya se aproximando. Mesmo sabendo que Anya agora era a esposa do presidente, Rachel ainda mantinha aquela pose arrogante.

– Agora… acho que tenho que te chamar de madame, não é, Anya – falou Rachel, carregada de cinismo e ciúme.

– Não sou madame, mas serei sua chefe por enquanto. Trate-me como Sra. Anya ou Sra. Do Jin… – falou Anya, contente com aquela breve vingança. Não queria o mal para Rachel. Sabia que ela era amarga porque nunca havia conseguido o emprego que queria, mas também, Rachel fora muito má com ela quando deveria ser grata. Afinal, se Rachel finalmente conseguira aquele emprego de secretária da presidência, era graças à Anya.

Treinar Rachel não foi tão simples quanto imaginou. A ex-recepcionista era teimosa e tinha dificuldades em escrever.

– Você terá que desenvolver sua técnica de escrita. – Concluiu Anya quando já era perto do meio dia.

Rachel estava frustrada, mas não respondeu nada. Ambas saíram para o hall de entrada da presidência, onde Anya tomou mais um susto. Sua amiga Beth estava sentada no sofá que Anya às vezes usava para conversar com algum fornecedor.

– Beth, o que está fazendo aqui? – perguntou ela, aproximando-se de sua amiga. Depois de abraça-la, segurou as mãos da amiga. Estava realmente feliz por vê-la. Antes conversava com ela todo dia e sentia sua falta. Já estavam uma semana afastadas uma da outra.

– Sou a recepcionista da presidência.

– A presidência não tem recepcionista.

– Agora tem.

Anya franziu o cenho. Havia feito realmente aquela solicitação. Deixar Rachel como secretária da presidência e Beth como recepcionista do Centro Comercial.

Não imaginou que seria tão cedo, nem que teria Beth perto de si. Imaginou se aquela ideia não fora de Do Jin. Teria ele sido sensível ao contratar Beth para ser a recepcionista da presidência? Se fora ideia do seu marido ou não, Anya agradecia profundamente. Beth era muito mais do que sua amiga… era uma irmã.

– Seu marido deve gostar mesmo de você para me dar essa chance. Como está a vida de casada…..?

Anya não respondeu de imediato. Nunca mentia para Beth. Ela tinha a capacidade de saber a verdade no que se tratava de Anya. Durante o período de noivado, conseguiu evitá-la, mas agora seria bem difícil.

– Vamos almoçar juntas e você não vai me esconder nada. – reiterou Beth.

– Acho que terei que arruinar esses planos. – falou Do Jin com um belo sorriso, saindo da sala dele. – Tenho um almoço com um fornecedor. Queria que você fosse comigo, querida…

– Ah, que pena. Não faz mal, conversamos outra hora – disse Beth, entrando no elevador junto com Rachel que permanecia quieta até o momento.

– Vamos…? – disse Anya, fazendo menção em entrar no elevador.

– Espera…- disse ele, segurando sua mão. Em seguida, sem que Anya pudesse antecipar, Do Jin puxou-a para si, segurou seu rosto com ambas as mãos e beijou-a.
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Anya ficou sem saber direito o que fazer, mas ao sentir aquela carícia doce e terna em seus lábios, não conseguiu controlar as próprias emoções. Seus braços enlaçaram seu marido e ela fechou os olhos, sentindo estranhas sensações em seu corpo. Seria amor o que sentia?

Entretanto, tão imprevisível quanto o beijo iniciou, ele terminou, com Do Jin afastando-se dela. Anya ficou surpresa. Seu corpo ainda desejava aquele contato. Ruborizada, Anya percebeu que a porta do elevador havia fechado. Não havia mais testemunhas. Por isso, Do Jin retornou a sua usual frieza.

– O Gil da Bender está reclamando do nosso próximo contrato. Preciso que vá comigo no almoço para acertar esse contrato. Acho que ele vai pedir para aumentar o preço dos produtos…. Mas… – Do Jin parou de falar ao ver que Anya fizera uma cara de indignada. – O que foi Anya? Você devia imaginar que eu pudesse fazer alguma manifestação de carinho próximo de outras pessoas.

– Sim, eu sabia. Só não imaginei que seria assim… – disse ela, sem conseguir segurar um tom amargurado.

– Assim como?

– Eu não consigo fingir tão bem. Um beijo pode não ser nada pra você. Mas pra mim é muito importante. Pra mim é um carinho que só deve ser trocado com as pessoas que você ama de verdade. Um beijo de amor.

Do Jin sorriu ironicamente, fazendo Anya sentir-se ainda pior.

– Anya, Anya… Percebi no beijo que você está desenvolvendo sentimentos por mim. Eu lhe disse, menina, não se apaixone por mim. Não posso retribuir o seu amor.

Anya sentiu sua face ferver e virou o rosto, apertando o botão do elevador.

– Vou lhe dizer algo para o seu bem – disse Do Jin, num tom sério – Se você se apaixonar por mim, você irá sofrer. Eu não sou o homem que pensa que sou. Não sou o seu príncipe encantado que salvou você de sua mãe. Eu estou mais para o lobo mau. Se eu tiver que destruir você para salvar minha empresa, eu o farei, Anya. Por isso, não aja como uma esposa ofendida. Aja sempre como a minha funcionária, pois é isso que você é… Nada mais.

A porta do elevador se abriu para o alívio de Anya que entrou rapidamente. Do Jin ficou ao seu lado e apertou o botão para descer ao estacionamento. Amargando as palavras de Do Jin, Anya tentava controlar a respiração, os batimentos cardíacos e as lágrimas que vieram rapidamente aos olhos.

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Já era tarde. O aviso veio tarde. Ela já havia se apaixonado por ele. Sentiu isso em cada fibra do seu ser durante aquele beijo que para ele foi só encenação.

Para ela, contudo, cada carícia, cada toque que ele lhe fazia acendia emoções que Anya julgava mortas em si. O desejo para amar ainda vibrava nela. Contudo, o que ele lhe falara também estava correto.

Ele a fazia sofrer com sua indiferença, com o seu escárnio. Aquele casamento era só um negócio para ele. Ela é que estava confundindo as coisas.

Ela precisava matar aquele amor. Mas como matar um amor que não pediu autorização para nascer?