Capítulo 2 – O Julgamento do Ano
Um ano depois…
Yumi esfregava as mãos nervosamente enquanto aguardava o júri que já estava deliberando por mais de uma hora. Aquilo não era bom.
O Dr. Park Hong, promotor que se tornou um amigo de Yumi, virava-se de vez em quando para trás e dava um sorriso tranquilizante, mas Yumi não conseguia deixar de se preocupar.
Há um ano, desde que Yumi deu seu depoimento na Polícia, ela vivia num abrigo de proteção a testemunha em Hongpa, uma cidadezinha longe de Hadong-ri e só saiu de lá naquela manhã para novamente dar fé contra Tae Joon Ki, o homem mais poderoso da cidade.
Joon Ki estava sentado no lado da defensoria e também lhe lançava olhares furtivos. Ele sorria como se sua vida não estivesse em jogo. Era enervante.
Era aquele mesmo olhar penetrante e perigoso que ela vira naquela noite fatídica de um ano atrás quando testemunhou Tae Joon Ki assassinando Kim Elborn friamente, só que vinha acompanhado de um sorriso misterioso e confiante.
O depoimento de Yumi não saíra como planejado. O advogado de Defesa praticamente destruiu Yumi quando perguntou sobre os medicamentos que ela tomava.
Quando sua mãe morreu num acidente há 10 anos atrás, Yumi simplesmente surtou. Ficou meses fora de órbita, completamente alheia ao seu entorno.
O psiquiatra então lhe prescreveu um antipsicótico além de outros psicotrópicos. O problema é que o antipsicótico podia causar como efeito colateral terríveis alucinações, paranoia, euforia e outros males.
Isso, é claro, não acontecia com Yumi, mas foi o suficiente para invalidar seu testemunho. Enquanto o advogado de defesa remexia em sua ferida mais dolorosa, o Sr Tae Joon Ki apenas sorria como se soubesse que aquela batalha estava ganha.
Também havia o fato de que o idoso Kim Elborn era conhecido por ser um dependente de drogas e devia seu peso em wones para várias bocas de traficantes na cidade, por isso, a defensoria sustentou a tese de que o assassinato dele poderia ser um acerto de contas que não tinha nada a ver com o Sr. Tae Joon Ki que estava em sua casa, com sua irmã, naquele mesmo horário, colocando em cheque o testemunho de Yumi.
Agora Yumi tinha medo de que as outras provas fossem circunstanciais. Se Tae Joon Ki fosse absolvido, Yumi teria que abandonar o programa de apoio à testemunha e não teria nenhum abrigo onde se esconder de Tae Joon Ki.
Sem dinheiro, sem família, sem nenhum amigo a quem recorrer, Yumi sabia que isso seria seu fim.
– Todos de pé para a entrada da Meritíssima Sra. Juiz Gong Na Ri e os membros do júri.
Primeiramente, Yumi achou que era uma boa ideia ter uma juíza mulher, assim ela poderia entendê-la e ser sensível com aquela situação.
Entretanto, sempre que a juíza chamada Tae Joon Ki, ficou claro que a juíza era ‘só sorrisos’ para ele, ofuscada pelo poder que ele exercia.
Yumi e todos os presentes ficaram de pé, imediatamente quando a juíza, menos o Sr. Joon Ki que ainda levou alguns segundos para colocar-se de prontidão.
– O Juri chegou a um veredicto? – perguntou a Juiza olhando para o representante do Juri, um homem jovem.
– Sim, Meritíssimo. O júri considera o acusado, Sr. Tae Joon Ki, INOCENTE de todas as acusações.
Yumi sentou-se para não cair, pois suas pernas tremiam e sua respiração estava irregular. Quando olhou para o Sr. Joon Ki que estava sendo envolto por uma série de pessoas para parabenizá-lo, percebeu que ele olhava diretamente para ela.
O julgamento havia sido um desastre. Ela não só deixou de condenar Tae Joo Ki, como havia mostrado o seu rosto para ele e lhe apontado o dedo publicamente.
Com medo daquele olhar, ela levantou-se imediatamente e esgueirou-se para fora da sala. Já ganhava o corredor para fora do Tribunal quando escutou a voz do Dr. Park Hong chamando por ela.
– Yumi, querida… – disse ele, com uma cara de preocupado, correndo para alcançá-la – Eu sinto muito pelo resultado desse julgamento. Eu me sinto culpado. Eu deveria ter te preparado pelo para o seu depoimento.
– O senhor não tem culpa. Eu fui a única culpada. Eu deveria ter dito que fazia isso dos remédios.
O advogado revirou o bolso, tirando de lá um maço de notas altas enroladas em um elástico.
– Pegue esse dinheiro e fuja de Hadong-ri o mais rápido possível!
Yumi olhou para o maço de dinheiro na mão de Dr. Park Hong sem acreditar.
– Não posso aceitar seu dinheiro, Dr. Park – disse ela, afastando a mão do advogado. – O senhor fez muito por mim. Não quero mais essa conta nas minhas costas.
– Minha cara, ambos sabemos que você não tem dinheiro, nem ninguém que possa lhe ajudar. Não seja orgulhosa agora, você sabe o que pode lhe acontecer. Eu vou entrar com uma apelação, mas você sabe que essa situação não irá mudar. Se eu conseguir mais provas, poderemos ter um novo julgamento, mas é melhor ter cuidado até lá.
Sem jeito, Yumi tirou o maço de dinheiro da mão do advogado e enfiou- no bolso da calça.
– Assim que chegar, ligue pra mim e me avise onde vai ficar, tudo bem? Talvez eu ainda precise do seu depoimento. Agora, vá. Yumi, boa sorte, querida…
– Adeus, Dr. Park. – disse ela, virando-se em direção a saída.
Uma leva de repórteres veio na direção de Yumi na escadaria do Tribunal, mas ela conseguiu se afastar e assim que Joon Ki surgiu no alto da escada, os jornalistas não mais a perseguiram.
Yumi apressou o passo, afastando-se rapidamente do Tribunal. O julgamento havia atraído reporteres locais, regionais e internacionais.
Com toda aquela gente, Joon Ki não deveria ter visto aonde ela estava indo e a Rodoviária ficava há apenas cinco minutos dali. Logo estaria longe de Hadong-ri e da vida de Tae Joon Ki para sempre.
Não sabia quanto Dr. Park lhe dera, mas com certeza era o suficiente para começar sua vida em outro lugar. Alugar um flat por um mês ou dois até conseguir um novo emprego.
Sorriu pensando que poderia conseguir finalmente livrar-se daquele pesadelo, daquele julgamento que só a colocara em evidência e olhou adiante. Faltava apenas uma rua para chegar a Rodoviária.
Atravessou rapidamente, sem olhar direito para os dois lados. Quando percebeu, um carro avançava na sua direção. Tentou correr, mas era tarde demais.
O carro a acertou em cheio. Ela foi jogada por cima do capô com violência, foi arrastada por cima do veículo e depois caiu com estrondo ao chão. Sentiu alguma coisa se quebrar dentro dela e a dor que a invadiu foi tão intensa que pouco a pouco seus sentidos se dissiparam.