7 – A Beleza da Alma – Farsa

Capítulo 7 – Farsa

Anya acordou com a mais terrível dor de cabeça e levou alguns segundos para processar sua mente. Quando percebeu que não estava em sua casa, sentou-se apavorada.

– Meu Deus! – gritou ela, tapando a boca com a mão. Olhou em volta tentando decifrar aquele enigma. Estava num quarto muito branco, mas não era um hospital. Hospitais não tinham camas redondas, nem a colcha mais macia que já sentira em sua pele! Sua pele?! Estava nua! Por alguma razão estava nua! – Oh, Deus!!!

Ela pensou nas piores coisas que uma mulher poderia pensar ao acordar nua numa cama estranha e as coisas pioraram gradativamente quando percebeu um homem entrando em seu quarto. Gritou ela novamente, já tomada pelo desespero.

– O que foi? O que aconteceu? – quando reconheceu a voz de Do Jin, acalmou-se por alguns segundos. Olhou fixamente para ele e percebeu que pouco a pouco sua visão se clareava. Ele vestia um roupão cinza-azul e se sentou ao lado dela na cama.

– Onde eu estou? – perguntou ela, puxando a colcha até o pescoço. – O que o senhor fez comigo?

Ele sorriu.

– Não fiz nada, Anya, fique calma – respondeu ele, com uma voz suave. – Você passou mal e vomitou em seu vestido. Minha governanta tirou o seu vestido e nós te lavamos.

– N-nós? O senhor também? – disse ela, com uma vozinha fraca. Ela queria abrir um buraco, enterrar-se nele e nunca mais sair.

– Você é bem pequena, mas minha governanta também o é e não conseguiria segurar você. Sinto muito por isso, Anya. Mas saiba que eu agi como um cavalheiro e não me detive a olhar seu corpo sem consentimento.

– Oh, Deus!  – disse ela, corando de vergonha. – Eu quero morrer!

– Não tenha vergonha, Anya. Eu sou o culpado. Vi que você não era acostumada a beber e fiquei insistindo em servir dondonju pra você. Eu percebi que você fica muito tensa em ocasiões sociais e achei que o vinho deixaria você mais confortável durante a festa. Não imaginei que eu poderia estar lhe causando um mal.

– Tudo bem, doutor. Eu não deveria ter bebido tanto, mas, na verdade, creio que o senhor tem a razão, eu não me sinto confortável em ocasiões sociais. Já aprendi a ignorar os olhares das pessoas, mas as vezes, é muito difícil pra mim. – disse ela, sem graça. – Será que o senhor pode me arrumar algo para vestir? Eu juro que vou sumir daqui em pouco tempo.

– Uhm…. há algumas roupas no closet que talvez te sirvam. Sobre sumir daqui, primeiro você vai descer e tomar o café da manhã comigo, você precisa se reidratar. Eu te levo depois.

– Não é necessário, doutor. Não quero ficar ocupando seu tempo. Já estou bem e posso pegar um ônibus.

Do Jin fez um muxoxo.

– Obedeça, Anya. Não quero minha secretária andando por aí de ônibus depois de ter passado mal.

– Está bem! – disse Anya, ainda envergonhada. No fundo, gostava daqueles cuidados que Do Jin lhe fazia. Além do seu pai, Do Jin era a primeira pessoa que demonstrava preocupação com ela e isso a fazia se sentir muito bem, como se ela fosse querida por ele, mesmo que esse alguém só a apreciasse como uma secretária. Bem, claro, também havia sua amiga Beth que também se importava com ela e provavelmente deveria estar preocupada com sua demora

– Beth, ó céus… ela deve estar muito preocupada. Eu preciso avisá-la.

– Não é necessário, eu já avisei ontem a noite! – respondeu ele, levantando-se. – Vou deixa-la a sós, por enquanto, para que você se prepare. Pode usar qualquer roupa que quiser do closet

Quando Do Jin saiu do quarto, Anya pulou da cama e correu para o closet. Todas as roupas estavam em plásticos como se tivessem sido compradas e jamais usadas.

Sem graça por estar escolhendo roupas que não pertenciam a ela, Anya resolveu escolheu calças jeans e uma camiseta, tudo muito simples e possível de pagar, caso Do Jin exigisse um reembolso por elas.

Misteriosamente, todas as peças serviram perfeitamente em seu corpo, fazendo Anya indagar-se sobre o destino daquelas roupas. Para quem ele as comprou? Quem iria usá-las? Provavelmente era para uma mulher como Anya. Mas quem?  

Nunca se preocupou antes em saber se Do Jin tinha uma namorada, até porque, Do Jin sabia muito sobre ela, mas ela não sabia quase nada dele. E todos os encontros de Do Jin, não pareciam se repetir.

A não ser que houvesse alguma namorada secreta. Aquilo fazia sentido. Talvez para proteger a identidade da namorada secreta, Do Jin a usara na noite anterior para que as pessoas pensassem que Anya era sua namorada. Só podia ser isso.

– Posso lhe perguntar uma coisa? – disse ela, minutos mais tarde, enquanto se servia de chá e torradas, sentada diante de Do Jin que deixou o jornal de lado para acompanha-la no desjejum.

– Fique a vontade, Anya! – disse ele, colocando um estranho patê sobre suas torradas. Tudo ali parecia ser de origem coreana.

– Eu percebi que o senhor me usou na noite passada. Fez questão em fazer todos acreditarem que eu sou sua namorada. Não só suas primas, mas todos os seus familiares e alguns empregados da empresa que provavelmente irão comentar sobre isso na segunda feira. Isso pode nos colocar numa posição desconfortável. Qual é o seu objetivo com isso, Dr.?

Do Jin parou de comer a torrada e ficou alguns segundos em silêncio.

– Você é perspicaz, apesar de ser extremamente ingênua.  Fiquei imaginando quando e se perceberia.

Anya se sentiu desconfortável com aquilo, pois ele a fazia se sentir tola e infantil.

– Eu achei que eu era valiosa para o senhor como sua secretária. O senhor teve tanto trabalho para achar uma secretária, todos dizem isso no trabalho. Está me dispensando agora, Dr. Kim, é isso? – perguntou ela, sentindo-se ressentida. – Por que o senhor sabe que isso resultará na minha dispensa, não é?

– Você é valiosa para mim como minha secretária, de fato. E eu confio em você. Eu tenho te observado, Anya. Você é a pessoa mais honesta que me rodeia e por isso, só posso confiar em você para isso. – disse ele, colocando sua mão sobre a dela – Não estou te dispensando e nem posso ficar mais sem você.

Anya estremeceu, sem saber o que pensar e retirou discretamente a mão.

– Infelizmente, Anya, eu preciso enganar minha família, a fim de proteger nossos bens e tudo aquilo que conquistei.

– Como assim enganar sua família? – perguntou ela, querendo saber mais.

– De acordo com o testamento do meu avô, eu só tenho mais alguns meses para arranjar uma esposa. Se eu não me casar até os 40, a empresa voltará para as mãos dos meus tios. O problema é que meu tempo está acabando e meus tios e minha mãe estão me pressionando e eu não quero me casar.

– O senhor perderá a empresa então?

– Parte dela, sim.

– Como assim?

– Anya, quando eu assumi a presidência da minha empresa, o negócio da minha família, que meu avô lutou tanto para conseguir estava definhando e enfrentávamos uma falência eminente. Com muito esforço e trabalho, em poucos anos eu mudei essa situação, expandi os negócios e enriqueci muito além dos nossos melhores sonhos. – explicou Do Jin.

Ele parecia seguro, mas ao mesmo tempo, muito amargo. Não parecia ser fácil para ele falar sobre sua família.

– E comigo, toda a minha família enriqueceu. – continuou ele. – Antes disso, quando a empresa era controlada por meus tios todos nós poderíamos ficar na miséria. Eu não acho justo que meus tios voltem a ter minha empresa depois de todo trabalho que tive.

Do Jin respirou muito e Anya percebeu que seu punho estava fechado e sua mandíbula tensa ao falar dos tios.

– Eu sacrifiquei muito… muito mesmo para ter o que tenho hoje. Por isso, preciso que eles pensem que eu tenho uma namorada e que eu vou me casar como uma distração. Isso é temporário, porque eu estou planejando uma divisão na empresa. Isso é legal, pois a maior parte da empresa foi adquirida depois que eu a assumi. Mesmo assim, meus tios vão ficar com metade de tudo o que eu tenho. Isso é mais do que eles merecem.

– Isso não é arriscado? – perguntou Anya, desconfortável com aquela situação. Anya não era nenhuma ignorante. Ela mesma já vira outras empresas falindo por conta de fusões e divisões mal planejadas.

– Sim, claro que é. Minha empresa perderá força e meus tios incompetentes podem colocar metade dos negócios a perder. Ainda assim, ficar com metade da empresa é melhor do que não ficar com nada. A partir da minha metade, tentarei reerguer meus negócios.

– E por que o senhor não se casa? – perguntou ela, inocentemente, sem notar que aquela pergunta causara um certo desconforto em Do Jin – Sua prima é muito bonita, e mesmo que não se case com ela, você pode arranjar outra mulher. Se fizer um bom acordo pré-nupcial, o senhor se arriscará menos do que perder metade da empresa e correr o risco de ir à falência.

Do Jin ficou em silêncio, olhando para Anya de forma profunda, intensa. Ela não conseguia entender o que ele queria dizer com aquilo.

– O senhor… já não tem uma namorada? – perguntou ela, sabendo que poderia estar entrando numa seara perigosa, pois sabia que Do Jin gostava de sua discrição e ela não queria cometer o crime de ser indiscreta.

– Eu saio com algumas mulheres, mas isso não fazem delas minhas namoradas – disse ele, num tom profundo.

Anya pensou em perguntar sobre as roupas incólumes no closet do quarto que ela estava ocupando, mas achou melhor não comentar nada.

– Eu não posso me casar. Nem com minha prima, nem com mulher alguma.

– E por que não? – insistiu ela, sem poder se conter – O senhor é um homem muito bonito… quero dizer… – ela ficou enrubescida, pois percebeu que ele sorria.

– Você é adoravelmente honesta. Fala o que vem a sua mente. Isso é algo realmente raro nos dias de hoje, principalmente comigo. As pessoas têm a tendência de me bajular, mas o que vem de você é sincero. Quanto ao fato de me não me casar… – disse ele, respirando fundo. Anya percebeu que era algo difícil e talvez ela não devesse insistir.

– Desculpe, Dr. Kim. Não quero me intrometer em sua vida.

– Não se desculpe. É que esse assunto é muito delicado e não o compartilho com ninguém.  Infelizmente, tudo o que posso lhe contar é que fiz uma promessa a alguém e não posso quebrá-la.

Anya segurou a língua. Estava prestes a perguntar se a promessa fora feita a uma mulher, mas percebeu que Do Jin não queria mais falar sobre esse assunto. Ele era um homem muito enigmático.  De qualquer forma, ela imaginou que só poderia haver uma mulher envolvida naquela promessa, talvez a mesma mulher para a qual as roupas incólumes no closet foram compradas.

– De qualquer forma, Anya, preciso de sua ajuda. Preciso que as pessoas continuem pensando que somos namorados. Isso não lhe custará nada. Você continuará no seu emprego: eu preciso de você lá. E eu ainda a recompensarei com uma boa soma. Por favor, você é a única pessoa em quem eu confio… Precisa ser você.

– Tudo bem, Doutor. Não precisa me dar nenhum dinheiro. Meu salário é o suficiente. E vou fazer o possível para manter essa cena. Só que as pessoas vão julgá-lo por estar comigo. Eu sou pobre, sem educação, desajeitada e deformada. Nunca, nem em mil anos, um homem como o senhor olharia para mim. Isso pode causar ainda mais estranhamento nos seus tios.

– Eu cuido deles, Anya. Não se preocupe. Só preciso que você confirme que somos namorados. E… bem… se eu lhe der um beijo ou segurar suas mãos enquanto estivermos em público, eu lhe imploro para não me rejeitar.

Novamente, Anya enrubesceu.

– Isso é necessário, Doutor?

– Acho que é, Anya. Ninguém acreditará se não agirmos com intimidade.

– Mas… mas… as pessoas tem nojo e asco de mim. Não consigo entender por que o senhor me tocaria em público…

– Não seja boba, Anya e pare de falar assim de si mesma. É verdade que sua aparência causa um certo impacto à primeira vista. Mas depois de um tempo, já não a vejo como o monstro que você se pinta. Você é uma garota jovem e inexperiente e quer muito provar que pode ter sucesso na sua vida. Nesse ponto, Anya, somos muito parecidos. De fato, você é a única mulher com a qual eu posso conversar. Acho que você é única amiga que já tive. Isso é bom, Anya, isso é muito bom… Você nem imagina o quanto.

Anya sentiu os olhos marejando, pois nunca imaginou que, além de Beth, alguém poderia tê-la como amiga. Secretamente, em seu coração, jurava que jamais trairia a confiança de Do Jin e que seria para ele, a amiga que ele necessitava.

]Entretanto, aquilo era muito estranho, pois Do Jin um dia lhe falara que não fazia amizades com seus empregados. Então, por que agora queria ser seu amigo?

Depois de provar de algumas delícias coreanas no café da manhã, Do Jin a levou até a porta de sua mansão. Era a principal casa do condomínio que pertencia a ele. Diante da casa, um carro já estava pronto para que ele utilizasse. Enquanto ele abria porta para ela, Anya notou que na próxima casa, bem distante da mansão de Do Jin, um dos tios os observava.

Anya pensava que aquilo daria a impressão de que Do Jin e ela passaram a noite juntos.  Talvez Do Jin tenha pensado nisso ao decidir trazê-la para sua casa ao invés de levá-la até seu apartamento no Burbúrio na noite passada. Isso era um pouco injusto com ela.

Ele tomou aquela decisão, sem consultá-la.

Na manhã seguinte, conforme Anya havia imaginado, não havia uma viva alma no Edifício Do Jin que não comentava algo sobre ela enquanto ela passava.

– Jura? Nunca que Do Jin iria ficar com ela? – escutou uma voz atrás dela.

– Com a ‘monstrinho’, duvido?

– Com a Goemul? – disse um outro funcionário, usando a mesma palavra que a prima de Do Jin usara para se referir a ela.

As pessoas riam e apontavam o dedo para ela, enquanto ela passava. Rachel, a secretária, estava emburrada, olhando para ela, como se quisesse comê-la viva. Por isso, Anya atravessou o lobby de entrada e apertou o botão do elevador, rezando para que ele viesse logo. Enquanto aguardava, uma multidão de pessoas começou a se acumular ao seu redor, fingindo que aguardavam pelo elevador como ela. Ela olhava para seus próprios pés, mas podia sentir os olhares sobre sua nuca.

– Não dá pra acreditar.

– É mentira!

– Por que não pergunta pra ela?

– Acha que a ‘Goemul’ vai confirmar?

Goemul significava ‘monstro’ em coreano, agora Anya sabia. Era óbvio. Esse só podia ser seu apelido na empresa.

Ela escutava os cochichos indiscretos sem saber exatamente como reagir. Já aprendera a se defender daqueles olhares de asco e pena, como se livraria daqueles olhares maldosos? Por outro lado, poderia até ser bom. Assim que ouvisse os comentários que os funcionários estavam fazendo, talvez Do Jin voltasse atrás e dissesse que não estavam namorando e que ele jamais ficaria com uma mulher como ela. E ela voltaria a ter que lidar com os olhares de pena como antes. O problema é que Do Jin tinha outros planos.

– Anya, querida, tudo bem?

Quando escutou a voz de Do Jin, Anya se virou. Ele estava no meio de toda aquela gente e sorria para ela. Anya estava tensa sem saber o que ele poderia estar pensando. Ela o avisou que haveria comentários. Ela sabia. Só não sabia que seria execrada daquela forma. Ela estava ali, querendo se afundar no chão enquanto ele aparecia impecável e implacável como sempre. 

E então aconteceu. Do Jin deu dois passos e a alcançou e antes que ela pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, seu chefe a segurou pela cintura, envolveu-a em seus braços e a beijou nos lábios.

Aquilo criou uma comoção entre os funcionários e era possível escutar muxoxos e suspiros ao redor da cena. Enquanto isso, Anya sentiu seu corpo todo estremecer e achou que desmaiaria se ele não a sustentasse.

Ele percebeu o impacto que aquele toque causou nela e então se afastou. Os dois se encararam como se não houvesse mais ninguém no mundo, mas um segundo depois, a porta do elevador se abriu e os dois entraram. Ao se virarem, Anya percebeu que todos estavam parados e os encaravam com curiosidade. Envergonhada, Anya se afastou de Do Jin, mas ele a puxou para si e a abraçou. Era visível a consternação nas faces dos funcionários, mas eles não diriam nada, nem a ofenderiam na frente dele. Por mais que estivesse envergonhada, reconhecia que nos braços dele, sentia-se protegida daqueles olhares maldosos.

Quando a porta do elevador se fechou, Do Jin se afastou um pouco dela, mas ainda manteve uma mão nas costas dela.

Ela ainda estava trêmula com o beijo que Do Jin lhe dera enquanto ele parecia impecável. Ela sabia o que aquilo significava. Embora não tivera um namorado desde que se acidentara, Anya teve um namorado antes no Ensino Médio.

Era o mesmo rapaz que estudava em sua classe. Seu pai não lhe dera autorização para namorar naquela época, pois ela tinha só quatorze anos, mas às escondidas Anya costumava desaparecer durante a aula de biologia para beijar o rapaz atrás da quadra de Educação Física. 

Ainda lembrava daquela emoção. De estar apaixonada e nos braços de alguém. Não imaginou que pudesse ter isso agora, depois que se transformara num monstro ambulante e ela sabia que não era verdadeiro o que Do Jin fazia. Era apenas teatro. Entretanto, a emoção era a mesma. Estaria ela se apaixonando por Do Jin?

Não… não poderia se dar a esse luxo. Não poderia fazer isso consigo mesma. Ilusões só poderiam machucá-la ainda mais.

Durante todo o trajeto até a sala da presidência, os dois mantiveram-se em silêncio, mas assim que eles entraram na sala de Do Jin, ele virou Anya para ele, segurando-a pelos ombros.

– Tudo bem? – perguntou ele, parecendo preocupado – – Você está pálida? Eu te assustei, Anya? Eu gostaria de evitar contatos íntimos se eu pudesse, mas se não a beijasse, eles iriam achar que é invenção, que não somos namorados.

– Está tudo bem. – mentiu Anya, sentindo aquele turbilhão de emoções dentro dela.

Podia sentir a leve pressão dos dedos de Do Jin em seus ombros. Aquilo não podia estar acontecendo. Ela não podia estar se apaixonando por ele. Isso não.

– Você não parece bem. Está tão pálida. Você passou mal novamente? Quer que eu chame o médico?

– Não é necessário. – disse ela, afastando-se. Embora quisesse perpetuar aquele contato com Do Jin, imaginou que quanto mais distante dele ficasse, melhor seria para ela. – O senhor quer passar a agenda?

– Está me evitando? É difícil para você, o meu toque, Anya? O que você sente quando eu a toco?

Por que é que ele lhe perguntava aquilo?

– Não, doutor… é que…

– Seja sincera… – disse ele, olhando-a profundamente, como se quisesse ler seus olhos – Se for muito difícil pra você. Se você me detesta, ou se é difícil para você minha presença, terminaremos nosso acordo agora.

– Não é isso, doutor…

– Então o que é? Já lhe disse, eu confio em você porque você é honesta e eu aprecio isso. Não ficarei bravo se você disser que tem nojo de mim. Eu posso aceitar isso.

– Não tenho nojo, pelo contrário. – disse ela, olhando para os próprios pés – É que… eu… não sei o que fazer…

– Sei, entendo. Você é inexperiente. É por isso? Se eu fosse além, Anya. – disse Do Jin, colocando novamente as mãos em seus ombros. Se fizesse uma carícia mais íntima, você tentaria me evitar, ou me afastaria?

– Eu não sei… – sentindo-se ainda mais tensa com a pressão psicológica dele – Isso é necessário, doutor? Eu sei que para o senhor é apenas encenação, mas… mas… é difícil pra mim…

– Por que é difícil? – disse ele, insistindo naquela conversa que Anya gostaria de evitar com todas as forças.

– Por que eu não quero me acostumar com algo que não posso ter no futuro! – declarou ela, de uma só vez e depois mordeu os lábios.

– Está com medo de se apaixonar por mim? – disse ele, sorrindo, mas não parecia feliz. Parecia ser um deboche – Não se apaixone por mim, Anya, isso é uma ordem. Entendeu? É uma ordem!

Depois disso, Do Jin simplesmente saiu de sua sala.

O resto do dia passou-se normalmente. É claro, onde Anya fosse, sentia olhares sobre ela e dessa vez não era somente por ela ter aquela cicatriz. À tarde, quando desceu ao RH para solicitar um relatório detalhado de Almeida, passou por um grupo de garotas que não a viu e que comentavam sobre ela:

– Favores sexuais, foi por isso que ela conseguiu o emprego na presidência.

– Agora tá explicado.

– Ela deve ser realmente boa na cama, porque a aparência não ajuda em nada…

– A Goemul? Deve ser exótica, só pode… Deve fazer coisas que nenhuma outra mulher faria, só pode… E está cobrando muito caro pelo programa.

– Quanto ganha uma prostituta de elite nos dias de hoje?

Anya sentiu-se profundamente atingida por aquelas palavras. Além de tecerem comentários sobre sua aparência, eles supunham que ela era uma prostituta que só conseguira aquele emprego por conta de talentos sexuais ocultos.

Andando cabisbaixa, ela retornou a sua sala. Quando havia acabado de se sentar em sua mesa, o telefone tocou:

– Sala da Presidência, Anya, bom dia. – disse ela, sem a animação habitual.

– Desça imediatamente ao restaurante do shopping. – disse uma voz que Anya desconhecia.

– Desculpe, quem fala?

– Sou a mãe de Do Jin, Kim Dae Sun! – disse aquela voz de forma grosseira.

– Ah… bom dia, Senhora! – Anya tentou simular a animação que não sentia.

– Obedeça e desça imediatamente até o restaurante do Shopping.

– Só um minuto! Vou ver se… – antes que pudesse terminar de falar, a ligação foi interrompida.

Anya ficou alguns segundos sem saber exatamente o que fazer, mas achou que não poderia simplesmente desobedecer a mãe de seu chefe. Contudo, não poderia se abster do trabalho sem informar Do Jin.

Discretamente, Anya caminhou até a sala do presidente e batendo na porta, entreabriu-a.

– Dr. Kim? – disse ela, com a voz um pouco trêmula.

– Sim? – disse ele, sem levantar os olhos do relatório que lia.

– Vou precisar descer um pouco até o shopping, o senhor irá precisar de mim agora?

Do Jin ergueu os olhos e parecia que ele queria ler sua mente, novamente.

– Não, talvez mais tarde, você vai demorar muito? – perguntou ele.

– Espero que não… – disse ela, sem jeito.

– Está bem, então…  deixe o celular ligado, em qualquer caso – respondeu ele, voltando novamente sua atenção ao relatório.

Anya tomou o elevador, mas na medida em que ela descia, pessoas de diferentes departamentos da empresa lançavam olhares furtivos para ela, condenando-a por algo que ela nem tinha feito. O que ela não fazia por Do Jin e para manter aquele emprego?

Passando pela recepção, Anya estava caminhando em direção ao Shopping, mas foi impedida por Rachel, que a puxou agressivamente pelo ombro.

– Já vai fazer compras? Imagino que o Dr. Do Jin tenha lhe dado um cartão de crédito polpudo pelo “trabalho” que você vem desempenhando na empresa, não é? – disse a recepcionista carregada de cinismo, mas Anya simplesmente desvencilhou-se dela e caminhou para o shopping. Havia muitos restaurantes da praça de alimentação do shopping que dispunham mesas por todo o ambiente. Entretanto, somente um restaurante era privativo e também, era o mais luxuoso. Era um restaurante quase sempre vazio, visitado apenas por figuras ilustres, presidentes e chefes de departamentos da Do Jin e outras pessoas que ostentavam um melhor padrão aquisitivo. Dae Sun estava sentada numa dessas mesas. Ela tinha pedido um vinho de origem coreana e lia uma revista de moda qualquer.

– Bom dia! – disse Anya e achou de bom tom curvar-se.

– Pelo menos, parece educada… – disse a mãe de Do Jin, com uma expressão severa.  – Sente-se, precisamos conversar.

Anya sentou-se, nervosa, sem imaginar o que a mãe de seu chefe tinha para lhe dizer.

– Chegou até a mim a informação de que você passou a noite com meu Do Jin na casa dele. Meu Do Jin já teve diversas amantes, mas nunca, até hoje, ele levou suas amantes para dormir na casa. Eu sei que ele tem um apartamento aqui no centro e que ele usa para seus encontros amorosos. Então, por mais que isso me surpreenda, eu imagino que a situação entre vocês dois é mais séria do que eu gostaria de imaginar…

Anya engoliu em seco. Ela teria que manter aquele teatro para a mãe de Do Jin, ou deveria lhe contar a verdade?

– Já que você não está desmentindo essa informação. Devo supor então que o namoro de vocês é sério.

– Ah… – Anya não sabia o que dizer, mas não precisou responder, pois a mãe de Do Jin continuou.

– Meu Do Jin sabia que havia um prazo para se casar, mas tem evitado isso a todo custo, por que agora ele está com tanta pressa em mostrar você para todo mundo. Eu não posso crer que ele espera realmente se casar com… com uma garota como você.

– Uma garota como eu? – perguntou Anya, percebendo a humilhação que viria em seguida.

– Pobre e feia… como você  – respondeu a mãe de Do Jin, sem reservas. – Desculpe ofendê-la, mas essa é a verdade. Meu Do Jin é o presidente de uma das maiores corporações do país. Ele  é um homem influente, proeminente nos negócios.

– Eu sei, Sra. Kim. Tenho percebido que seu filho é um gênio dos negócios.

– Então, garota? Como é que você quer que ele fique com você? Uhm? De qualquer forma, vamos resolver essa situação agora. Eu trouxe 50 mil reais para você e vou lhe dar 100 mil depois que você pedir a demissão e sumir da vida do meu Do Jin.

– Sra. Kim. Eu não vou fazer isso! – disse Anya, sentindo um mal estar contínuo. – Esse emprego é muito importante para mim. E mesmo que não fosse, jamais aceitaria dinheiro por esse motivo. Eu  não sou…

– Cale a boca, menina! Apenas obedeça.

– ANYA NÃO IRÁ OBEDECER!!!

Anya se empertigou quando viu Do Jin se aproximando. Como ele sabia que ela estava aqui? Como ele poderia saber?

Ele, por outro lado, sentou-se ao lado de Anya defronte a mãe e colocou um dos braços sobre os ombros de Anya.

– Meu filho, o que você pensa que está fazendo? Mostrando essa mulher por aí como se fosse se casar com ela.

– Eu vou me casar com ela. – respondeu ele, num tom sério.

Dae Sun arregalou os olhos como se quisesse bater no próprio filho, mas um segundo depois, esticou os lábios num sorriso forçado.

– Não está falando sério? Você sabe o que isso quer dizer? Sabe a repercussão que isso pode causar?

– Não me importa. – falou ele.

Anya o admirava. Ele não parecia ter medo de ninguém, nem mesmo da própria mãe e ela era bem apavorante, na opinião de Anya.

– Você não está falando sério, Do Jin…

– Já tenho até a data marcada, mãe. Nós nos casaremos daqui a um mês. Como Anya é católica, iremos nos casar de acordo com as tradições da igreja dela. Já marquei com o padre na catedral.

Dae Sun lacrimejou os olhos. Ela olhou para Anya e depois para Do Jin e depois novamente para Anya.

– Deus do Céu!

– Pense, mãe. Apenas pense por um segundo. Anya é a pessoa que mais confio neste mundo. E ela será minha esposa. O controle da Do Jin ficará em minhas mãos e os tios não poderão fazer nada. Você deveria estar radiante. Ao invés de me casar com uma garota fútil que faria isso por interesse, arrancando cada centavo de mim depois, eu irei me unir a uma mulher que faz parte do meu mundo e que entende minhas necessidades.

– Na Coréia, os casamentos das boas famílias são arranjados pelos pais – disse Dae Sun, com orgulho. – Essa menina não vem de uma boa família e tampouco tem beleza e elegância para ser a companheira do meu Do Jin. Isso me leva a crer que você a escolheu não por amor, mas por conveniência. Você não a ama…

– Não, de fato, eu não a amo. Está satisfeita com isso? Eu não quero me preocupar com romance agora. Por isso, Anya é perfeita! – perguntou Do Jin.

De alguma maneira, as palavras dele atingiram Anya no âmago e ela abaixou a cabeça para evitar mostrar os olhos marejados. Sabia que aquilo tudo era encenação, mas ainda assim, ele não precisava tratá-la como um objeto para ser uso.

– Ora, ora…– Dae Sun olhou para Anya como se tivesse sido a vencedora de um furioso embate – Sendo assim, Do Jin, eu concordo com isso…

Anya franziu o cenho sem poder acreditar. A mãe concordara com aquele arranjo porque era um arranjo? Se Do Jin fosse mesmo apaixonado por ela, ela NÃO aceitaria? Que coisa estranha e funesta. Que família doida! Entretanto, Do Jin parecia conhecer muito a mãe, pois falou o que era necessário para convencê-la… ou quase.

– É claro que tenho condições… – colocou a mãe, como se estivesse negociando o melhor preço na compra de uma TV.

– Diga o que quer… – disse Do Jin, tão sério e barganhador como Dae Sun.

– Primeiro: será um GRANDE evento, por isso, você vai me deixar no controle da festa e da cerimônia. No mínimo, 500 convidados e eu vou revisar sua lista de convidados, garota.

– Eu só convidaria minha amiga Beth ao meu casamento. Não tenho ninguém mais. – disse Anya, com sinceridade. Sabia que ela não iria se casar com Do Jin, que aquele teatro era só uma forma de ganhar tempo, mas ainda assim se ela fosse se casar, não tinha ninguém além de Beth para convidar. Era triste pensar que nem sua mãe ela convidaria.

– Oh, Deus… – disse a mãe de Do Jin, revirando os olhos  – Bem, tanto melhor. Então os 499 convidados restantes serão meus e EU farei a lista.

– Tudo bem, e a outra condição, qual é? – perguntou Do Jin.

– Eu escolho o vestido, a maquiagem, o sapato, tudo. Por que é óbvio que essa garota não tem classe… – disse Dae Sun, olhando para ela com ferocidade.

– Não seja desagradável, mãe… – disse Do Jin, puxando Anya para si.  – E você precisa ser generosa com Anya, afinal, ela está nos salvando de uma divisão onerosa dos nossos fundos. Você não quer que a Do Jin entre em falência, não é?

– Não, não quero. Mas certamente, você disse a essa garota que ela irá assinar um contrato pré-nupcial, não é?

– Sim, Anya está consciente disso. – disse Do Jin, falando por ela, enquanto Anya apenas observava a forma comercial com que mãe e filho lidavam com aquilo.

– E quais foram as condições dela? – perguntou Dae Sun, deixando Do Jin desconfortável em seu assento.

– Bem… uhm… bem… eu pensei em recompensá-la financeiramente por tudo, mas não perguntei à Anya. – disse Do Jin, virando-se para ela. – Existe algo que você queira que eu coloque em nosso contrato? Existe algum valor que você queira estipular?

Anya suspirou.

– É incrível… – disse ela, deixando extravasar seu desapontamento – Como vocês podem ser tão frios e calculistas.

Tanto Do Jin quando Dae Sun ficaram boquiabertos sem responder.

– Mas já que estamos nos falando dessa forma, existe sim, uma coisa que eu desejo. – disse Anya, entrando naquele jogo de faz de conta – Imagino que quando nos casarmos, eu não poderei mais ser sua secretária, não é?

– É claro que não. – disse Do Jin. Eu não posso estar casado com uma secretária. Mas você poderá assumir um cargo de confiança, como a gerência de tecnologia. Que tal?

– Sim, acho que é conveniente, mas eu quero que você promova a recepcionista Rachel. Ela estudou muito e tem tentado durante muito tempo ser sua secretária. E minha amiga Beth será a recepcionista. Ela precisa de um emprego melhor.

– Rachel é uma cobra venenosa e fofoqueira. – disse Do Jin, com uma cara de reprovação. – Não a quero como minha secretária.  Sua amiga Beth pode ser a secretária, se você a ensinar.

– Rachel é venenosa por que está infeliz como recepcionista. Dê uma chance a ela. Ao menos uma chance. Se ela falhar como sua secretária, você poderá despedi-la, porque ela não foi merecedora, mas você será injusto se não deixar que ela tente pelo menos uma vez. Beth poderá ser a recepcionista, ou então, minha secretária. – disse Anya, sorrindo internamente, porque sabia que nada daquilo seria verdade.  Mas era até satisfatório pensar em ter Beth como sua secretária.

– Está bem… eu concordo com isso… estamos todos satisfeitos? – disse Do Jin, olhando para Anya e para Dae Sun.

Dae Sun levantou-se com um muxoxo.

– Fique atenta, garota. Vou marcar com meu estilista. Quando combinarmos de nos encontrar, não demore como hoje.

Assim que Dae Sun saiu, Anya fez menção em levantar-se mas Do Jin a segurou no lugar, ele parecia preocupado, cansado daquele embate com a própria mãe.  

– Anya, fique um instante e coma comigo.

– Tudo bem, Dr. Kim… –  disse ela, ajeitando-se no lugar. – Eu entendi tudo e fingi direitinho, não fingi? Ela acreditou que nós iríamos nos casar. Eu só queria saber até quanto tempo eu tenho que manter a farsa. Sua mãe deve começar a planejar o casamento em breve e vai custar muito dinheiro. Um dinheiro jogado fora. Não é justo com as pessoas que irão trabalhar a vida inteira e nunca poderão ter nem um por cento da quantidade gasta nessa festa.

– Isto não é mais uma farsa… – disse ele, num tom grave e sério.

– O que? Eu acho que não entendi direito! – disse ela, sentindo-se nervosa com toda aquela situação.

– Então eu serei bem claro, Anya: nós dois vamos nos casar daqui a um mês.  Tudo o que disse para minha mãe é verdade. Eu já marquei a data, até já comprei as roupas que você irá usar depois que nós nos casarmos. Você deve ter percebido ontem, quando foi até o closet na minha casa.

– O senhor está me assustando com essa brincadeira – disse Anya, sentindo que ar estava lhe faltando. – Não deveria brincar com isso.

– Não estou brincando… – respondeu Do Jin, sério. – Eu preciso me casar, Anya e você irá se casar comigo. Eu tenho pensado sobre isso a algum tempo e queria que fosse diferente, mas precisa ser assim.

– Já cansei dessa brincadeira, doutor. Vou fingir que não escutei isso… – disse ela, levantando-se e dando-lhe as costas, mas antes que ela tivesse a oportunidade de se afastar dele, ele segurou seu pulso e com habilidade, fez com que ela se sentasse novamente, desta vez diante dele.

– Você não precisa se preocupar com nada. Eu já organizei tudo e minha mãe se ocupará com os convidados. E fique segura de que o contrato pré-nupcial será muito generoso com você. Você irá ganhar uma boa soma e…

– O senhor fala como se eu já tivesse concordado com isso. – reclamou Anya, sentindo seu coração apertado. Do Jin estava indo longe demais com aquela brincadeira. Uma coisa era fingir que iria se casar, outra, era se casar de verdade.

– E por que não concordaria, Anya? Se bem me lembro, você estava desesperada quando chegou a esta empresa. Este casamento é o fim do seu desespero. Você irá ganhar muito dinheiro e jamais terá que retornar à casa de sua mãe. E não precisará morar naquele cortiço que tem como apartamento. Qualquer outra mulher nas suas condições, Anya, estaria aos meus pés, agradecendo-me por esta oportunidade. Você sabe que não irá se casar com ninguém mais. E que jamais conseguirá outro emprego se sair daqui. Você tem certeza que pode viver para o resto de sua vida com o que você economizou durante esse ano? Sei que o curso que você faz é caro. Tem certeza de que pode viver sem minha ajuda? Você depende de mim, Anya e eu dependo de você.

Anya estava em choque. Nunca Do Jin a tratara como agora. Ele sempre se mostrou sem preconceito quanto a cicatriz que ela portava.

Sempre foi um cavalheiro. Ríspido e crítico, às vezes, mas sempre a tratou com bondade. Agora, parecia que a máscara havia caído e por trás do rosto perfeito de Do Jin residia um demônio ainda mais feio do que Anya.

– Eu jamais me casaria desta forma. E se o senhor está me propondo isso, não me conhece nem um pouco… – disse ela, levantando-se do seu assento novamente. – E como o senhor pode ver… não estou aos seus pés.

Anya correu para longe e para fora do restaurante. Entrou novamente no Centro Comercial, mas ao invés de esperar pelo elevador resolveu usar as escadas.

Na presidência, Anya juntou seus relatórios e desceu para o setor de Recursos Humanos. Queria ficar bem longe de Do Jin e usaria aquela desculpa. Só subiu quando já era quase seis da tarde, por que sabia que ele tinha uma reunião importante.

Terminava de imprimir sua carta de demissão quando Do Jin invadiu sua sala perto das sete horas.

– Precisamos conversar… – disse Do Jin, aborrecido.

– Não precisamos, não…  Já fiz meu trabalho, já coloquei tudo em dia. Espero que possa aceitar isso – disse Anya, estendendo-lhe a carta de demissão.

– Vai ser assim, então? – perguntou ele, abrindo o envelope.

Antes que ele terminasse de ler, Anya já havia saído da presidência, correndo escada abaixo.