Capítulo 18 – Minutos
Ah-Lis retornou ao quarto, com o pensamento em turbilhão. Sentiu-se mal. O peito pesava e o ar parecia cada vez mais rarefeito. Não sabia se era em função do acidente ou em função do que havia bebido naquele chá que Na Kyo havia lhe dado.
Era veneno, só podia ser. Tentou dar alguns passos mais caiu no lado da cama. Apoiou-se na cômoda e levantou-se. Divisou seu rosto no espelho da cômoda e assustou-se: estava rosada, como se estivesse sufocando.
Por um instante, sua aparência a alarmou mais ainda e tomada com o desespero caiu novamente de costas ao chão. Ela olhou para o teto e tudo ficou escuro.
Faltava ar e quanto mais ela puxava menos conseguia respirar. “Deus, eu não posso morrer agora!”, disse a si mesma e fechou os olhos. “Concentre-se, acalme-se, há pessoas que precisam da sua ajuda!”.
Aquilo pareceu acalmá-la um pouco e um pequeno fio de ar encheu seus pulmões. Expeliu com calma o ar e puxou novamente.
Era difícil e levou alguns segundos, mas conseguiu controlar a respiração o suficiente para não perder os sentidos e renovada, ajoelhou-se. Precisava pensar rápido e agir rápido, mas o que ela poderia fazer contra três homens armados e uma mulher má intencionada?
Escutou um barulho – um toque em vibração – e procurou com o olhar sua bolsa. Estava perto dela, entre a cômoda e a cama.
Abriu depressa o zíper da bolsa e achou o celular tateando com a mão. Era o celular de Liz-Ah e no mostrador do celular estava seu nome: Ah-Lis. Como elas haviam trocado de celular, era Liz-Ah quem ligava para ela agora, por isso, ela atendeu imediatamente:
– Liz-Ah, Liz-Ah, é você? – perguntou ela, em sussurro, não queria que ninguém a escutasse.
– Não, Srta. Kim Tae Hoon, aqui é Park Hae Soo, o detetive que estava cuidando do caso do assassinato de Baek Ha Ri…
Ah-Lis lembrava-se de Park Hae Soo. Ele fora o homem que a prendera.
– Oh, por favor, eu preciso de ajuda. A mansão foi invadida e pegaram Tae Gun, o bebê, a babá e Han Kyo de reféns, o senhor precisa me ajudar…
– Sim, Senhora, não se preocupe, estamos conscientes da situação. Há câmeras instaladas na mansão, estamos monitorando já há alguns minutos. Estou, na verdade, preocupado com a senhora. Ao que parece, a senhora Baek Na Kyo a envenenou com um algo a base de Cianeto, achávamos que a senhora estava morta.
– Estava muito próxima disto. Tenho dificuldades para respirar, mas estou melhor agora.
– A senhora não está entendendo, Sra. Kim Tae Hoon. Cianeto é um veneno letal, causa asfixia, parada cardíaca ou isquemia cerebral! Se foi acometida com o veneno, a senhora pode vir a falecer…
– Eu vomitei, creio que tenha vomitado todo o conteúdo. – explicou Ah-Lis, mesmo sabendo que não estava bem – Estou bem, o senhor precisa fazer alguma coisa para ajudar Tae Gun e os outros.
– Há uma ação em andamento, Sra. Kim Tae Hoon. Vamos invadir a mansão, mas eu quero que a senhora procure um abrigo, um banheiro se possível, e tranque-se até que a situação esteja sob controle.
– Está bem! – falou Ah-Lis e desligou o celular, mas manteve-o na mão.
Ela não iria se esconder. Não dessa vez. Já havia cansado de se esconder durante toda a sua vida: de seu maldito padrasto, do seu marido idiota. Sempre que se escondia, mais cedo ou mais tarde, Ah-Lis era descoberta e o castigo era muito pior.
Cansou-se. Cansou-se e não iria deixar que nada acontecesse com Tae Gun ou o bebê. E tinha poucos minutos para agir. Precisava se apressar.
Por isso, respirou fundo e aproximou-se da janela, abrindo-a.
Uma golfada de ar invadiu o quarto e bradou-lhe os cabelos. Deveria ter feito isso antes, pois aqui a ajudou a respirar. Estava frio na fora, mas não havia tempo para mudar de roupa.
Pulou a mureta da janela, equilibrando-se no parapeito e mirando uma árvore perto, pulou. Bateu com força sobre um galho de arvore e quase escapou, mas conseguiu se segurar.
Quando foi se equilibrar melhor na árvore, o celular caiu de sua mão, atingindo o chão.
Por sorte, havia grama e cascalhos lá embaixo para amortecer a queda.
Arrastou-se para baixo o mais rápido possível. Quando alcançou o chão, seu pijama estava completamente sujo e rasgado, mas não ligava. O celular, apesar de sujo, também estava funcionando. Era hora de fazer algo. Havia perdido minutos preciosos.
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– Não acredito! – falou Liz-Ah observando a ação de Ah-Lis nos monitores da Van. Não havia câmeras no quarto, mas os monitores externos cobriam quase todo o entorno da mansão – A idiota vai acabar se matando. Virou macaca pra ficar pulando em árvores?
– É, não dá pra acreditar, pois como é que uma pessoa que acabou de se recuperar de um acidente e de um envenenamento por Cianeto pode estar bancando a heroína? – falou Park Hae Soo, com calma.
Park Hae Soo analisava se poderia esgueirar-se pelos jardins e resgatar Ah-Lis. O problema é que Ah-Lis estava na parte de trás da casa e para chegar até ela era preciso passar pelo labirinto verde. Park Hae Soo odiava labirintos. Se entrasse em um, dificilmente sairia a tempo de fazer algo.
– Senhor… a equipe de assalto chegou – disse um outro policial, abrindo a porta da Van.
– É, o show vai começar! – falou Park Hae Soo, observando Ah-Lis esgueirar-se pela parede da casa até encontrar uma das janelas do que parecia ser o porão.
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Ah-Lis quebrou com os pés os vidros da janela a um centímetro do chão. Eram três vidros pequenos e chatos o suficiente para uma pessoa exageradamente magra como ela passar. Apesar de esgueirar, fez pequenos cortes nas mãos, nos pés e nas pernas. Precisava se apressar: havia perdido minutos preciosos.
Ah-Lis nunca tinha estado antes no porão, mas era como qualquer outro: escuro e empoeirado. Ela utilizou a lanterna do celular para tentar divisar um caminho. Encontrou logo a escada para cima, mas não subiu.
Na verdade, procurava outra coisa e quando encontrou, procurou no celular o seu próprio nome e discou:
– Sr. Park Hae Soo? – falou ela, em seguida, quando o outro lado atendeu:- Escute-me bem: eu tenho um plano!
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– Estou escutando – Falou Park Hae Soo, observando o monitor que mostrava Ah-Lis diante dos disjuntores de luz no porão. Então, no mostrador digital do monitor o horário apontava: faltava apenas três minutos para a meia noite!