Vingança e Redenção – 2 – Mentira

Capítulo 2 – Mentira

9 anos depois – Penitenciária Federal de Istambul

– Vou sentir sua falta – disse Ceren com lágrimas nos olhos. – Não sei o que será de mim aqui sem você.

Ayla ficou tocada ao ver rosto de Ceren banhado em lágrimas. Nos últimos oito anos, Ceren foi muito mais do que sua companheira de cela. Ceren fora uma amiga sincera e tornou sua estadia na Penitenciária Federal de Istambul um pouco mais amena do que o primeiro ano sem ela.

– Você só precisa aguentar mais algumas semanas. – falou Ayla, tentando dar força à amiga – Sua entrevista da condicional foi marcada para o mês que vem. Então, quem sabe não é desta vez, Ceren? Eu vou te escrever e prometo que venho te visitar. E quando você sair, vamos nos ver, certo?

– Você sabe que eu sempre me dou mal na entrevista. – reclamou a amiga.

Isso bem era verdade. O crime de Ceren foi muito mais brando do que o de Ayla, mas ela ainda estava li na prisão, enquanto Ayla conseguira a tão sonhada liberdade condicional.

Ceren era apenas cúmplice em tráfico de drogas. As provas eram circunstanciais. Se a garota tivesse arranjado um bom advogado como o Dr. Aslan, talvez não estivesse ali.

– Você vai se dar bem, Ceren…- disse Ayla, dando um último abraço na amiga.

– Vamos, Ayla… – apressou o guarda na porta da sua cela.

Enquanto passava pelo corredor, Ayla tentou não desviar seu olhar. Em algumas celas, algumas mulheres diziam-lhe palavras de coragem, já em outras, chamavam-na de vagabunda. Isso era normal. Pois era o que acontecia naquela penitenciária.

Foram os piores anos de Ayla. Naqueles anos, ela perdeu muito mais do que sua liberdade, perdeu também sua vontade de viver. Ter sido condenada por um crime que ela sabia que não poderia ter cometido foi muito ruim, mas perder sua filha, foi realmente insuportável.

Os primeiros dias na prisão foram horríveis. Teve que se acostumar àquela vida de privação. De falta de privacidade. Conviveu com mulheres instáveis, muitas delas truculentas que a ameaçavam simplesmente porque podiam. Mas o pior foi quando tiraram dela sua pequena Nimet.

Depois disso, tentou falar com o padrasto. Desde que ela fora presa, o padrasto não falava com ela. Quando implorou a ele que adotasse a criança em uma carta, o padrasto mandou-lhe uma resposta: “Já saldei a dívida que fiz a sua mãe: cuidei de você até os 18. Você está por si, agora”.

Ayla se viu só e abandonada naquele lugar abarrotado de gente.

Trinta e seis anos era muito tempo.

Quando imaginou que não havia qualquer esperança de ver sua filha novamente, Ayla recebeu a notícia de que poderia solicitar a soltura condicional em alguns anos. Desde então, caprichou para não entrar em nenhuma briga e em nada que pudesse atrapalhar o processo de condicional e passou a trabalhar com afinco.

Durante as manhãs, trabalhava na lavanderia, à tarde na biblioteca e fazia tudo o que os carcereiros lhe pediam, tendo um comportamento exemplar.  

E agora, em que o dia de sua liberdade finalmente chegara, Ayla só tinha um pensamento: Nimet.

Será que a menina ainda se lembraria dela, será que a chamaria de mãe? Nem sequer vira os primeiros passos da filha. Nimet tinha oito anos agora e faria nove em alguns meses. Era tempo demais para uma menina lembrar da mãe, mas apesar de estar com medo de que a menina a rejeitasse, Ayla faria de tudo para recompensar a filha por sua falta.

Depois de passar pelo procedimento de soltura, Ayla colocou a mesma roupa que usara no dia de seu julgamento. Era uma saia e um terninho bonitinho, apesar de a cor em azul forte estar fora de moda. Antes, Ayla era um pouco acima do peso, agora, a roupa ficava realmente muito estranha: ela emagrecera 10 quilos na cadeia, mas ganhara músculos com o trabalho pesado. Ainda assim, era a única coisa que tinha para vestir.

Assim que saiu, viu que seu advogado de defesa a esperava. Ela o abraçou. Ele foi o único amigo que lhe restara no mundo. Além de tê-la defendido, ele a visitara com frequencia na cadeia, sempre levando frutasMal o conhecia, mas o abraçou, imaginando que ele era única pessoa que lhe viera visitar na cadeia.

– Tenho uma dívida com o senhor, Dr. Aslan, não sei como lhe pagar.

– Não se preocupe com isso, venha… – disse ele, apontando para o carro.

– O senhor vai me levar até minha casa? – perguntou Ayla, quando ele entrou no carro.

– Na verdade não, Ayla. Seu padrasto a expulsou e disse que não quer você lá.

Ayla arregalou os olhos, surpresa. 

Dr. Aslan, advogado de defesa de Ayla Aksoy

– Mas a casa é minha. Mais do que dele, a casa é minha. Era da minha mãe. – reclamou ela. Achava justo que o padrasto vivesse na casa que fora de sua mãe, mas agora que estava solta, queria aquilo que lhe pertencia. A casa sempre fora de sua mãe.

– Não é mais. – respondeu o advogado. – Achei que havia entendido isso, quando assinou os papéis na cadeia.

Ayla lembrava-se vagamente de que o advogado iria usar a casa para financiar a sua defesa, mas ela não estava em seu juízo perfeito para entender o que realmente estava acontecendo quando assinou a papelada.

– Olha, Ayla. Eu estava perdendo muito dinheiro para tentar te defender. Quando falei com o seu padrasto, ele concordou em comprar a parte da casa que estava em seu nome. Eu usei o dinheiro no processo. O que restou, coloquei na poupança que está no seu nome. Foi esse dinheiro que eu usei para alugar o apartamento que eu arranjei para você agora. Se está desconfiando de mim, eu te entregarei todos os recibos. Não fiz nada que pudesse te prejudicar. E se fiz isso, Ayla, foi porque conhecia a tua mãe e ela foi uma boa amiga quando precisei. Estou pagando minha dívida com ela, não com você.

– Eu sei, Dr. Aslan, não quero ser ingrata, sei o quanto o senhor me ajudou. Mas preciso saber quando me restou desse dinheiro, pois é tudo o que tenho pra reconstruir a minha vida. A casa valia 500 mil.

mentira

– Consegui apenas 100 mil com a venda da parte da casa para o teu padrasto. Ele tinha o testamento da tua mãe. Eu entrei com o processo, mas achei melhor um acordo. Você precisava de dinheiro urgentemente, Ayla.  Gastei quase todo o dinheiro no teu processo. Agora, adiantei três meses de aluguel. O aluguel do apartamento é Mil liras turcas por mês. Você terá que conseguir um emprego logo, pois sobrou apenas 5 mil.

– Cinco mil… – repetiu Ayla desanimada. Não que não pudesse trabalhar. Trabalhou arduamente na prisão e poderia fazê-lo novamente, mas sabia que o fato de ter sido uma detenta por sete anos não era uma boa coisa para se colocar num currículo.

– Não se preocupe, Ayla. Eu já tenho um emprego em vista. É como garçonete. Sei que é ruim, mas por enquanto, pode quebrar o seu galho. Eles vão te pagar duas mil liras turcas.

– Isso é bom? – perguntou Ayla, sem noção exata da quantia. Nos últimos anos, a sua moeda de troca na cadeia foi cigarro. Voltar a usar dinheiro era estranho.

– É pouco menina, mas pelo menos, eles sabem do seu histórico e não vão encrencar com isso. E isso é bom. Mesmo agora, você não está totalmente livre. Tem que se apresentar todo mês na polícia federal para reportar o seu progresso. Por isso, você não pode ficar mais do que um mês desempregada. Se tiver problemas, deve me procurar. Eu vou te ajudar como eu puder…

– Certo, obrigada, Dr. Aslan, novamente…

– Chegamos… – disse o advogado parando diante de um apartamento. O bairro não era bom. Mas parecia ser um prédio bem cuidado. – Não vou poder te acompanhar, pois tenho um cliente e preciso estar na audiência dele. Você vai ficar bem, Ayla? Já comeu? Se quiser, posso voltar mais tarde com algo para você comer.

– Não precisa, doutor. Eu quero descansar um pouco antes de ir ao orfanato.

O advogado entregou a chave do seu apartamento em que o número 508 estava gravado e junto, uma caixa de papelão.

– Orfanato?

– É… buscar minha filha. – afirmou ela, com brilho nos olhos. Mal podia conter a ansiedade em rever sua filha.

Dr. Aslan franziu o cenho.

– Sua filha? O bebê que nasceu na prisão? – perguntou ele, com um estranho olhar que fez Ayla tremer.

– O senhor tem alguma informação da Nimet? Está tudo bem com ela, não está? – perguntou ela, com uma nota de desespero em sua voz.

– Ah… Ayla… eu sinto muito. Ela foi adotada.

– O que? Como assim? Ela não pode ter sido adotada. Eu sou a mãe dela! Ela tem uma família.

O advogado ficou mudo olhando para ela, como se tivesse alguma peça faltando.

– Dr. Aslan, eu lhe falei para ficar de olho na minha filha. Pedi em cada carta que mandei para o senhor.

– Eu sei, Ayla. E juro que tentei fazer isso. Entrei com o pedido de guarda. Para que a ida da menina para um lar adotivo fosse apenas temporária. Mas a menina apresentava sinais de abuso quando ela chegou ao orfanato. E com a sua condenação por estupro de menor, o caso foi perdido. Você não pode ter a guarda da menina. Eu mandei o aviso pra cadeia e te expliquei numa das minhas visitas. Você não se lembra?

Ayla realmente não se lembrava. Durante muito tempo, Ayla ficou letárgica, em depressão e não conseguia prestar atenção em muita coisa.

De qualquer forma, o sangue de Ayla ferveu. Havia saído há poucos minutos da cadeia e já pensava em cometer um crime, pois mataria quem quisesse lhe tirar a filha.

– Eu nunca machuquei minha filha. Isso é mentira. – disse ela, alterada – Quem a adotou? Onde ela está?

– A Vara de Família jamais divulgará a identidade da família. Mas tenho requerido informações sobre o caso de Nimet e eles me informaram que é uma família muito boa e que não faltará nada a menina. Sei que é difícil, mas você precisa aceitar isso… Você não poderá reaver sua filha. Perdemos o caso em todas as instâncias.

– Eu não posso aceitar isso. Minha filha é minha filha. Nenhum juiz pode tirar um filho de uma mãe.

– Quando a mãe abusa da criança, pode, Ayla. E as provas…

– Mas eu não abusei. – interrompeu Ayla. Parecia que o mundo havia cavado outro buraco e a sugava para dentro das profundezas do inferno. – Meu Deus, nunca machucaria meu bebê.

– Eu não sei o que dizer, Ayla. Havia fotos e o depoimento de uma pediatra falando sobre o mau trato que a bebê estava sofrendo. Disse que a menina tinha os braços e as pernas quebrados. Disse que os maus tratos datavam desde o nascimento da bebê. Depois disso, não tive o que fazer, Ayla. Eu mandei essas informações para você. Você deveria estar sabendo disso.

Ayla sentiu que o mundo novamente lhe dava uma bofetada.

– Quem é essa pediatra? Eu preciso saber o nome dela.

mentira

– Ayla, não faça o que eu acho que você quer fazer. – aconselhou o Dr. Aslan, visivelmente preocupado – Qualquer coisa pode colocar você de novo na cadeia. E dessa vez, você terá que todos os anos que lhe faltam. Eu sei que é difícil, mas você precisa superar e seguir sua vida… você é jovem, querida, pode refazer sua vida…

– Não se preocupe. Eu sei ser discreta. Por favor, Dr. Aslan. O nome da pediatra.

Ayla enxugou as lágrimas e então abriu o apartamento 508. Era pequeno. Apenas uma cozinha-sala, um quarto, um banheiro e uma pequena lavanderia. Era mais do que precisava. Imaginou que ainda hoje poderia resgatar sua filha do orfanato e trazê-la para morar consigo. Agora, seu sonho parecia estatelado no chão.

Na caixa de papelão que o Dr. Aslan lhe dera, havia um lençol, uma xícara, algumas panelas e talheres. Depois de ajeitar tudo no lugar e limpar o ambiente com um pano úmido, Ayla amarrou os cabelos, esfregou a roupa e saiu do apartamento, com o papel que Dr. Aslan lhe dera. A única chance que tinha para achar sua filha era encontrar com a pediatra que depôs contra ela. A médica mentira. Por qual razão, ela não entendia… porque a médica iria querer tirar um bebê de sua mãe?

Apesar de viver os primeiros meses de vida numa cadeia, Nimet era tratada como princesa.

Ayla confeccionava as roupinhas do bebe. Ela era constantemente lavada, tratada. E quando ficava doente, o que era raro, a menina era imediatamente levada à enfermaria. Nada de pernas, nem braços quebrados.

Aquilo era muito estranho. Então, como estava na cadeia, não pôde se defender. Mesmo assim, se aquilo fosse mesmo verdade, a acusação de maus tratos iria indeferir sua saída da prisão. Será que o Dr. Aslan estava mentindo? Não queria acreditar nisso. Ele foi o único amigo que lhe restou.

Como foi caminhando até o consultório da pediatra, Ayla chegou esbaforida ao lugar. Era um hospital privado no centro de Istambul. O primeiro andar era luxuoso demais para um hospital. Era óbvio que somente gente rica se tratava ali.

– Bom dia – disse Ayla para a recepcionista. – Eu queria falar com a Dra. Nusfat. Ela é pediatra.

– Você tem hora marcada? – perguntou a recepcionista, olhando estranhamente para a sua roupa.

– Não. Mas eu só quero falar com ela, não consultar.

– Olha, moça. Só aceitamos cliente pagantes. Não fazemos consultas sociais, nem aceitamos plano de saúde. – disse a recepcionista, analisando-a de alto a baixo.  

– Eu quero falar com a Dra. Nusfat, por favor, é pessoal. – insistiu Ayla, tentando se controlar. Não podia fazer escândalos. Isso a mandaria para a cadeia. – Ela tem uma informação que eu preciso. É rápido, não vou incomodá-la, moça. Por favor, me ajude, tenho certeza de que a Dra. Nusfat pode me receber por alguns minutos…

– Se não sair daqui agora, vou chamar a segurança… – disse a recepcionista rispidamente.

– Senhorita Aksoy?

mentira

Ayla se virou para um homem que se aproximava da recepção. Ele vestia um jaleco branco. Parecia ser um dos médicos.  Emanava uma aura de autoridade. Quando encontrou seus olhos é que reconheceu de quem se tratava: Demir Ylmaz, o pai da menina que ela supostamente assassinara.

– Senhor… Ylmaz? – ela sentiu sua perna tremer diante daquele olhar aterrador.

– Venha comigo. – disse ele, apontando para uma das salas.

Ayla estremeceu. Não poderia ser presa novamente. Precisava achar sua filhinha. Era a única coisa que importava. Por isso, começou a se afastar. Seu plano era ir embora, talvez voltar mais tarde, quando aquele homem não estivesse ali.

– Eu preciso ir embora… desculpe se fiquei um pouco alterada. Já estou indo… – disse Ayla, virando as costas para ele.

– Eu tenho a informação que precisa.

Ayla parou no mesmo lugar e se virou para ele novamente, curiosa com aquilo.

– Sobre Nimet… – reiterou ele, fazendo Ayla marejar os olhos.

– Você sabe onde está minha filha? – perguntou ela, aproximando-se dele. A simples menção do nome de sua filha fê-la ter toda a coragem do mundo.

– Venha comigo até minha sala.

Os dois pegaram o elevador. Todo o trajeto foi feito em um silêncio pesado e denso. Ela queria dizer alguma coisa, mas não sabia o que dizer. Ele havia perdido a filha. Embora ela tivesse sido presa por aquele crime, sabia em seu íntimo que era inocente. Mas não sabia se dizer aquilo a ele, abrandaria a raiva contida em seus olhos.

Ele começou a caminhar, mas desta vez, Ayla o seguiu. Eles entraram em uma sala muito bonita. Não era como um consultório. Parecia ser mais a sala de direção do hospital. Havia computadores e muitos livros em estantes. Passaram por outra recepção, onde uma recepcionista loira também a olhou feio. Por fim, entraram em uma sala enorme, com um grande sofá.

O homem pediu que ela se sentasse e depois, ele sentou-se na sua frente. Apenas uma mesinha de vidro os separava.

– Eu só quero saber onde está minha filha. Se puder me dizer onde ela está, eu vou embora. Não incomodo mais. Nunca mais vou aparecer na sua frente.  

– Se quiser ver sua filha novamente, sente-se. – disse ele, num tom firme.

Como ele cruzou as pernas e continuou a fitá-la, impassível, Ayla não teve outra opção a não ser se sentar.

– Eu estava no seu julgamento.  – revelou ele.

Ela sabia. Lembrava-se do seu olhar fustigante e acusador.

Ayla olhou para Demir Ylmaz com admiração. Ele tinha um rosto marcante. O maxilar era bem definido com uma barba farta, mas bem-feita. Era um homem alto e parecia destacar-se em qualquer ambiente.

Ayla sentiu um nó no estômago, pois estava na frente do pai da criança que ela supostamente assassinara. Que pai não surtaria com aquilo? Se os dois trocassem de lugar, com certeza, ela já teria pulado no pescoço dele e o apertado até ele parar de respirar, mas ele parecia um perfeito cavalheiro olhando para ela com paciência, como se fossem apenas conhecidos.

Ele havia mudado um pouco desde o dia em que lhe vira no julgamento. Agora, ele parecia mais cansado, muitos cabelos grisalhos entre os fios negros. Mas ainda parecia muito altivo e autoritário. Acima de tudo, aquele homem diante de si, era sombrio e parecia muito perigoso.

– Então, o senhor é médico? – perguntou ela, para quebrar o gelo enervante.

– Neurologista. – adicionou ele, com um sorriso – Eu soube que você iria fazer medicina… não é uma ironia. Você poderia estar aqui… trabalhando no meu hospital.

“Meu hospital”… pensou Ayla, ainda mais envergonhada. Ele era o dono do hospital?

– Bem, devo dizer que sua aparência mudou com o tempo. – disse ele, analisando-a demoradamente. – Imagino que os anos da prisão não lhe foram gentis. Está extremamente abaixo do peso.

– Olha… eu não sei o que o senhor está fazendo aqui ou o que quer de mim. – disse ela, sentindo as mãos tremerem enquanto falava. – Eu só quero saber onde está minha filha, só isso. Uma médica daqui testemunhou dizendo que eu abusei de minha filha, mas isso é mentira.

– Eu sei. A dra. Nusfat usou as fotos de uma criança que realmente sofreu abuso. Era a única forma que encontramos para tirar a guarda de você. Eu adotei Nimet. Ela é minha filha agora.

– O que? – disse Ayla, levantando-se bruscamente. Sentiu seu coração disparar – Eu quero minha filha de volta. Onde ela está?

– Sente-se, se quiser vê-la, novamente. Você só sairá daqui quando eu disser. – disse ele, ameaçadoramente. Novamente, Ayla se sentou.

– Por favor, Dr. Ylmaz. Eu só quero minha filha. Por favor. Eu quero minha filha. Quero minha filhinha – implorou Ayla, sentindo as lágrimas escorrerem pelo seu rosto.

– Então… eu também só queria a minha filhinha Reyhan. Infelizmente, não podemos ter o que queremos.

– Se você a machucar, eu juro por Deus que mato você…- disse Ayla, avançando contra ele. Ela o segurou pela lapela, mas ele nem se moveu com aquela ameaça.

– Não sou como você! – respondeu ele, estreitando os olhos – Jamais machucaria uma criança inocente. Agora, tire suas mãos imundas de mim!

Ayla o largou e novamente, em segudia, sentou-se em seu lugar, completamente abatida.

– O que quer de mim? Eu farei o que você quiser… – disse ela, enxugando o rosto com as costas da mão.

– Eu quero fazer um acordo com você. – disse ele, ajeitando-se na cadeira. – Eu deixarei que você veja sua filha. Porém, ela não pode saber que você é a mãe dela.

– Mas eu sou a mãe dela. Você precisa devolvê-la para mim, por favor, Dr. Ylmaz. Não deixe a minha filha sem a mãe dela.

– Não, Ayla. Você não pode ser mãe. Você é um monstro.  – Havia uma sombra nos olhos de Demir que fizeram Ayla estremecer, mas ela não poderia desistir. Nunca desistiria de sua filha.

– Por favor, Dr. Ylmaz…

– Eu deixarei você ver sua filha mais uma vez. E depois disso, eu vou matar você. Lenta e tortuosamente.

mentira

– Por que eu aceitaria isso? – Falou Ayla assustada. – Você é louco. Se eu for a polícia e disser o que está acontecendo, eles vão saber que isso é uma armação para mim. E vão devolver a minha filha e o senhor irá para a prisão.

– Acha mesmo? – disse ele, sem nem mesmo piscar. – Antes que você chegue a polícia, eu a terei denunciado. Direi que você está me perseguindo. Em quem você acha que a polícia irá acreditar: em um médico filântropo que ajuda a manter um orfanato ou em você, uma mulher condenada por cúmplice em um estupro de menor?

– Isso não é verdade…  – disse Ayla, mais para si mesma do que para ele. Em seguida, ela sentiu as pernas tremerem e cairia se não estivesse sentada. Havia saído da prisão apenas para descobrir que estava sob o jugo de Demir Ylmaz.

– Se você for presa, Ayla, jamais sairá da cadeia. Se saiu agora, foi porque eu mexi os pauzinhos. Mas se for presa novamente, você terá que cumprir toda a pena. Então, eu não terei outra alternativa a não ser, mandar sua filha para muito longe, e ela terá uma vida sofrida de privações. Mas se aceitar o que eu proponho. Então sua filha será minha filha. Ela terá uma vida confortável para o resto da vida. E eu prometo que sempre a protegerei. Você decide.