Vingança e Redenção – 3 – Acordo

Capítulo 3 – Acordo

Ayla sentia o coração pulsar violentamente em seu peito. Achava que tudo aquilo só poderia ser um pesadelo. Naquela manhã, estava animada com a possibilidade de ficar livre e ter sua filha em seus braços. Agora, agonizava com a possibilidade de perdê-la para sempre ou de perder sua própria vida. Ayla já não se importava consigo mesma. Sua vida já estava perdida. Não poderia voltar pra cadeia. Preferia a morte, mesmo. E se sua morte trouxesse benefícios para sua filha, então, ela deveria encarar a possibilidade. Seu sacrifício pela segurança de sua filha era algo gratificante para seu coração de mãe. Mas isso se Demir Ylmaz cumprisse a promessa.

– Como deseja me matar? E como eu sei que vai proteger minha filha, mesmo depois que eu morrer? – perguntou ela, tentando negociar com o vingativo Demir.

– Aceitou o acordo assim tão rápido? – perguntou ele, empertigando-se em seu assento.

Acordo

Aquilo desconcertou-o. De fato, ele não imaginou que ela viria até ele assim tão facilmente. E depois, imaginou que teria que ameaçá-la mais, ou até sequestrá-la para colocar sua vingança em movimento. Se ofertar como um cordeiro para o abate, não era algo que ele esperava de uma mulher capaz de matar uma menininha.

– Ainda não.  – respondeu Ayla, respirando fundo. – Preciso saber como você deseja me matar. Como quer que isso aconteça?

Ele sorriu. Parecia se divertir com seu tormento.

– Eu criei uma cela especial no meu porão. Será o seu caixão. Você ficará isolada do mundo e da luz do sol para todo o sempre. Só o que terá é a escuridão, assim, você nunca poderá fazer mal a ninguém.  Eu vou manter sua vida tanto quanto eu conseguir. Mas quero que você sofra. Não quero que morra logo. Desejo ver seu sofrimento todos os dias. Quero ver o desespero em seus olhos. Quero ver o desânimo, quero ver a dor. Assim como eu tenho sentido todos esses anos, sabendo o que aconteceu com minha filha.  – disse ele, com os olhos marejados. Uma lágrima escorreu em seu rosto agora, mas o rosto parecia impassível como pedra. – Ninguém consegue viver dessa forma. Então, você irá morrer aos poucos ou quando eu decidir.

Ayla também chorou. Mas ao contrário dele, escondeu o rosto entre as palmas da mão, enquanto seu corpo chacoalhava com os soluços. Ela já tinha sofrido muito por um crime que nem se lembrava de ter cometido. Perdera anos preciosos de sua vida, perdera a paz de espírito e sua liberdade. Perdeu os sonhos e o ânimo de viver e sua filha tão amada.

Seria sua sina ter que viver tal agonia, isolada no mundo, na escuridão completa?

Acordo

Se isso garantisse a vida de Nimet, sim. E ela o cumpriria.

– E… e quanto à minha filha… e quanto à Nimet? Como você garante que vai protegê-la e cuidar dela, deixa-la à salvo, sem que eu veja isso acontecendo…

– Uhm… Mais do que a salvo. Sua filha será minha filha. E ela terá tudo o que sempre quiser. Tenho muito dinheiro. Ela será a herdeira do meu império, poderá ter uma vida plena estudar e se tornar quem ela quiser. Isso eu lhe garanto. E sou um homem de palavra. Eu olharei por ela para sempre e tenho certeza de que ela terá uma vida feliz.

– E você promete que eu poderei vê-la mais uma vez? – perguntou ela, levantando os olhos para ver o rosto do homem que seria seu algoz.

Novamente, Demir empertigou-se no sofá. Aquilo era bem arriscado, pois não queria que Nimet sofresse sabendo que sua mãe era quem era. Ayla Aksoy poderia usar aquele momento para criar uma situação difícil entre ele e Nimet a fim de sair impune de seus crimes. E ainda, quebrar o coração de Nimet. Nimet era uma menina vivaz e alegre, mas ele sabia que ela tinha algumas feridas.

Lembrava-se de quando adotou Nimet pela primeira vez. Seu intento inicial, era jogar toda a sua raiva e vingança na menina. Mas aquilo se tornou infrutífero. Na primeira noite, a menina de apenas 2 anos e meio, segurou sua mão com seus dedinhos e fez um sorriso que limpou de sua intenção, qualquer maldade contra aquela criança. E a partir dali, ele a amou profundamente como sua filhinha. Ayla lhe roubara Reyhan, mas o destino acabou enviando Nimet para ele.

Meio a contragosto e profundamente preocupado com aquele encontro, ele anuiu:

– Sim. Se concordar com isso. Iremos agora mesmo para a minha casa e você verá sua filha. Mas eu insisto para que não diga a menina que você é sua mãe. Se gosta mesmo da sua filha, como você quer me fazer crer, você não revelará a verdade.

– Está bem, eu aceito. – falou ela, enxugando as lágrimas. Lágrimas agora eram inúteis. Aquele homem não se compadeceria dela. Tudo o que tinha que fazer agora era ver Nimet. Se a menina estivesse bem, então, ela concordaria com aquela maldição. Se não, ela lutaria e arrancaria Nimet dele de alguma forma.

Demir deu um muxoxo e se levantou.

Esaret

– Achei que seria mais difícil fazer esse acordo. Achei que teria que te torturar psicologicamente antes de você aceitar meu acordo. Uma psicopata com um agudo senso materno. Isso é raro… ou é um teatro?

– Só aceitei esse acordo horrível, pelo bem da minha filha… – disse Ayla. Ela tentou se levantar, mas sentiu-se mal e antes que caísse, sentiu que Demir a segurava pela cintura.

– Não me impressiono muito com esses teatrinhos… – disse ele, parecendo tão impassível quando antes. – E antes que você possa imaginar que,  de alguma forma, pode sequestrar a menina e deixar minha casa , quero que saiba que isso não irá acontecer. Decida agora, pois se você resolver vir comigo, não saíra viva de minha residência…