9 – Tsunami de Amor – Banho de Sangue

Capítulo 9 – Banho de Sangue

Gao Rim ajeitou-se como pôde no traje de gala, puxando a saia o suficiente para cobrir seus sapatos velhos. Depois disso arrumou um coque improvisado e passou batom em seus lábios. Usando um espelho velho na lavanderia, percebeu que até poderia ser confundida com um dos convidados.

Pensou se deveria continuar ali, na lavanderia. Talvez os homens esquecessem dela, mas ficou com medo e resolveu subir.

Silenciosamente, avançou as escadas até o andar B5. Ela havia escutado que o prédio estava com os portões fechados, mas talvez pudesse usar o carro para abrir uma saída para ela. Se ela conseguisse sair, chamaria por ajuda.

Quando surgiu no estacionamento, ela se assustou com o que viu: era certo que aqueles homens haviam estado ali, pois haviam cartuchos de balas para todo o canto. E os motoristas estavam todos mortos. Alguns dentro de seus carros, alguns fora, como se tivessem tentado fugir.

Gao Rim levou a mão a boca. Estava tonta, sentindo todo o conteúdo do estômago voltando pela sua garganta.

Se ela estivesse ali, estaria morta, assim como eles. Pensava em ir para o carro, quando escutou uma voz atrás de si:

– Mãos para o alto!

Gao Rim levantou as mãos e se virou lentamente, sem nenhum movimento brusco.

Na sua frente, um estrangeiro loiro com um terno todo preto apontava-lhe uma arma.

– Quem é você? – ele perguntou, notando que ela vestia um traje de gala.

– Er… Eu sou Kim Gao Rim, sou uma produtora… da… KBS – mentiu ela, torcendo para que o homem acreditasse. Se soubesse que ela era uma motorista, com certeza ele a mataria. “Quem não estiver de traje de gala deve ser eliminado”, foi o que escutara, por isso, não poderia dizer jamais que era apenas a motorista, ou se juntaria a seus camaradas mortos.

– O que estava fazendo? Nós vimos você nas câmeras. Você estava lá embaixo. O que estava fazendo, onde você foi?

– Er… Eu me perdi. – continuou ela a mentir – Queria ir a recepção, porque… meu motorista não pode ficar me esperando e eu queria ligar para ele vir me buscar… não estava me sentindo muito bem para ficar na festa.

O homem apertou os olhos, como se ponderasse o que ela estava dizendo. Tentava radiografá-la para saber se ela mentia ou falava a verdade. De fato, Gao Rim não se sentia bem, suava frio e tinha vontade de vomitar.

– Muito bem, moça, venha comigo… – ordenou ele, por fim, indicando que ela passasse a sua frente – Entre no elevador.

Gao Rim obedeceu e assim que entraram, o rádio que o homem tinha na cintura fez um estranho barulho.

– Chefe! Achou a garota?

– Sim… – respondeu o homem ao lado de Gao Rim. “Então, ele era o chefe da operação”, pensou Gao Rim – Achei ela no estacionamento, ela é uma produtora. Estou indo para o terraço. Alguma novidade?

– Sim… Uma péssima novidade. O Galvin acabou morrendo com o tiro do guarda.

– É por isso que eu falei que os pilotos deveriam aguardar no terraço. Quem foi que mandou o Galvin descer?  Agora, teremos que dar um jeito no helicóptero. E os homens da Sala de Controle?

– Apagando tudo. Sobem em meia hora.

– Entendido.

Gao Rim escutou atentamente a conversa. Não sabia direito o que pensar, mas sabia que havia pilotos de helicópteros envolvidos, então, provavelmente, eles invadiram o edifício pelo heliporto que havia no terraço do prédio e descido até a sala de controle e a recepção que ficavam no térreo.

E, uma vez, tendo o controle do prédio, avançaram para os andares acima, matando todos que não fossem ‘de gala’. Provavelmente, era um sequestro muito bem orquestrado.

O elevador surgiu no salão de festas do prédio.

Se não estivesse naquela situação tão tensa, Gao Rim provavelmente admiraria a decoração do lugar.

Salões de Festas Casa Grande Espaço de Festas - Salões de Festa

No entanto, tudo o que Gao Rim podia perceber era que todos os convidados em traje de gala, estavam rendidos, sentados no chão, no centro do salão, enquanto mais de 20 homens os circundavam com rifles em mãos.

Imediatamente, viu que Lee Min Ho estava no meio da terceira fileira, ao lado de Joo-Joo que se esvaía em lágrimas. Assim que ele a viu, ele levantou a cabeça, mas Gao Rim, fez um pequeno movimento com mão indicando que ele não se levantasse, nem tentasse nada.

Ela foi colocada na primeira fileira, bem distante dele e, mesmo assim, os dois cruzaram olhares.

Quando mais alguns homens surgiram naquele andar, Gao Rim sabia que já haviam se passado mais de meia hora e que eles estavam se preparando para ir embora, pois cochichavam coisas entre eles.

– Muito bem. Vou chamar 18 convidados. – disse o chefe deles, o loiro atraente que havia capturado Gao Rim, em um tom bem alto e assustador – Os que forem chamados, devem subir para o terraço, junto com aqueles três homens simpáticos.

Gao Rim olhou para os três homens assustadores e um turbilhão de pensamentos passava em sua mente.

 Convidado, atrás de convidado, as pessoas foram subindo para o terraço. Gao Rim percebeu que Lee Min Ho foi um dos chamados.

Ao passar pela primeira fileira, Lee Min Ho demorou alguns segundos olhando para Gao Rim. Ao perceber essa hesitação, Gao Rim fez um sinal com a cabeça para que ele fosse logo.

Assim que o homem acabou de ler a lista e o último convidado saiu, os homens vestidos de preto ergueram seus rifles e começaram a atirar. Quando os primeiros convidados começaram a cair, uma grande mancha de sangue aproximou-se de Gao Rim, que chorava desesperadamente.

– NÃO ME MATEM, EU SEI PILOTAR HELICÓPTERO!!!! – gritou ela, a plenos pulmões.

– Parem de atirar! – ordenou o chefe. – o que foi que você disse, garota?

– Eu disse que sei pilotar helicóptero! – repetiu ela, tentando controlar o soluço de nervosismo que lhe atacara, enquanto o banho de sangue deixara os sobreviventes totalmente em choque com o que acontecia.

– Você disse que era produtora… – disse o homem desconfiado de sua história.

– Meu pai era tão rico que tinha dois helicópteros. – mentiu ela, só o que queria era sobreviver e falaria qualquer mentira que lhe desse apenas uma chance – Eu aprendi a pilotar quando era muito jovem.

– Se estiver mentindo, você sobrevive aqui e morre no helicóptero.

– Não estou mentindo… Eu sei até dirigir pequenas aeronaves se for preciso.

– Muito bem, então…. – disse o homem, olhando para o papel que tinha nas mãos – Vamos escolher mais 6 convidados.

– Eu só vou se Baek Joo-Joo for comigo. Ela é atriz do filme que estou produzindo. Não vou sem ela. – exigiu Gao Rim. Nem sabia ao certo porque fazia aquilo. Joo-Joo nem era sua amiga, porque ela estava arriscando sua vida por ela?

– Baek Joo-Joo não está na minha lista, moça, e você não está em condições de exigir nada.

– Então me mate… e você perderá o resgate de 6 pessoas a mais. Com certeza, esse é um sequestro, não é? – disse ela, pensando que nunca fora tão ousada na vida quanto agora. – E ainda vou dar um ‘jeito’ no helicóptero. Você não quer deixar o helicóptero para trás, não é? Sabe que a polícia pode rastrear o helicóptero se ficar para trás.

– Nada que uma explosão não resolva! – disse o homem, mantendo o sorriso debochado para ela.

– Quantos milhões seis pessoas a mais podem lhe render?

O homem olhou para Gao Rim com aqueles olhos estreitados novamente. Como se ponderasse a exigência de Gao Rim.

– Você parece espertinha demais para uma produtora riquinha! – disse ele, suspirando pesado – Quem é Baek Joo-Joo?

– Sou eu… por favor, não me mate!!! – disse Baek Joo Joo, tremendo da cabeça aos pés, pois o homem ao lado dela estava morto e ela seria a próxima a morrer. – Gao Rim nem é produtora. Ela é minha motorista. Não sei onde ela achou esse vestido, mas ela não é produtora.

– Cale a boca, Joo-Joo! – esbravejou Gao Rim. – Estou tentando salvar a nós duas!

– Motorista, é??? Agora faz mais sentido. – disse o homem, sorrindo.  

– Está bem… é verdade. Eu sou a motorista. – confessou Gao Rim, com raiva de Joo-Joo –  Mas também piloto helicópteros e você precisa de um piloto, então… Não pode me matar…

O homem sorriu misteriosamente e em seguida, chamou mais 5 pessoas.

– Agora… vocês duas… – disse ele por último, quando terminou de ler. – Podem subir.

– O que vai fazer com os demais ! – perguntou Gao Rim, olhando para trás. Ainda havia restado a maior parte das pessoas. Deveria ter umas quatrocentas ou quatrocentas e cinquenta pessoas ali. – Você não precisa matá-los.

– Eles viram o meu rosto… então… é claro que preciso!

Gao Rim engoliu em seco. Ela também o tinha visto. Certamente, ele a mataria quando o helicóptero chegasse ao seu destino. E talvez matasse os demais convidados, depois de receber o resgate.

– Por favor… não os mate… você não precisa fazer isso…

– Não, não preciso – disse o homem com ar zombeteiro – Mas quando os parentes dos meus sequestrados virem o que eu fiz, eles não vão hesitar em pagar o resgate, pois sabem que eu não hesitarei em matar, se preciso…

Gao Rim colocou as mãos no ouvido enquanto os homens continuavam a matança. Um após o outro, os convidados caíam sem vida mesmo os que ousavam tentar fugir.

Ela gritou alto tentando em vão dissipar o som de disparos em sua mente. O belíssimo salão de festas transformou-se em um show de horrores. Pessoas dizimadas sem a mínima chance de se defender.

Quando tudo silenciou, Gao Rim e Joo-Joo tremiam da cabeça aos pés.

– Nós vamos morrer… – sussurrou Joo-Joo.

Gao Rim já ouvira aquilo antes. De si mesma, quando parecia que o tsunami os encurralava contra a morte na ilha de Jeju. Embora fosse uma situação totalmente diferente, parecia que a vida novamente a testava até os seus limites.

– Não, não vamos… – disse ela, mais a si mesma do que a Joo-Joo.

Elas subiram as escadas junto com os homens que restavam. Os outros convidados que aguardavam no terraço estavam assustados, pois haviam escutado os gritos e os sons dos tiros. Assim que avistaram Min Ho, Joo-Joo correu para ele e o abraçou.

– O que aconteceu? – perguntou ele para Gao Rim que não conseguia falar nada. As lágrimas corriam pelo rosto dela abundantemente. Ela queria poder se afundar nos braços calorosos de Lee Min Ho como Joo-Joo agora fazia, mas não poderia. Ela ainda tinha o desafio de se manter viva de alguma maneira.

– Venha, você vai comigo, moça! – disse o homem loiro, segurando Gao Rim pelo braço e a arrastando pelo heliporto.

Haviam seis helicópteros ali. Todos os helicópteros cabiam de 8 a 10 pessoas cada. Eram muito grandes, mas o terraço era ainda maior, o suficiente para que os seis helicópteros fossem estacionados com espaço suficiente entre eles.

Ela já havia dirigido um daquele modelo quando fazia aula de pilotagem, então não teria problemas, mas estava tão nervosa que a sua mão, sempre firme, parecia agora uma gelatina.

Os homens haviam sido bem financiados só olhando para os helicópteros. E isso era uma vantagem para Gao Rim. O homem não queria deixar um helicóptero ali, pois sabia que poderia ser rastreado até nele ou em que financiara o crime. Por isso, o chefe havia concordado em arriscar-se com Gao Rim e Joo-Joo. O problema era que a vida de Gao Rim não seria mais útil ao chegar ao fim da viagem.

– Entre! – disse o homem, empurrando Gao Rim para um dos helicópteros.

Ela entrou e o homem se sentou ao seu lado.

– Vamos ver se você falou alguma verdade no que disse – disse o homem, apontando para ela um revólver.

Ela rapidamente mexeu nos controles e as hélices começaram a se mover.

– Muito bem, não se mova! YinKa… manda seis convidados aqui… traz a Baek Joo Joo aqui também.

Pela janela, Gao Rim observou Joo-Joo sendo arrancada dos braços de Lee Min Ho. No mesmo instante, ele olhou para Gao Rim e os dois cruzaram os olhares novamente.

Gao Rim estava tão feliz por tê-lo encontrado novamente. E ainda mais contente por saber que ele se lembrava dela, lembrava-se do seu nome e agora, ambos estavam novamente em uma situação em que suas vidas ficavam por um fio.

– Meu Deus, ajudai-me!!! – disse ela, baixinho, apertando as mãos para que elas parassem de tremer.

– Acalme-se! – disse o homem, segurando sua mão. – Não vou matar você, se você conseguir me levar em segurança… Aqui está o plano de voo. Você vai voar muito baixo para não ser rastreada por radares e vai seguir até esse ponto.

Gao Rim olhou para o mapa. O destino final era uma ilha: Yeongheungdo, a oeste de Seul. Novamente, em uma ilha, Gao Rim teria a chance de olhar uma vez mais para Lee Min Ho.

1 Comment

  1. Saber descrever uma cena de terror com arte faz uma grande diferença, é uma obra de arte e não um amontoado de palavras.

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