12 – A Beleza da Alma – E se eu te amar…?

Anya se levantou a contragosto. Estava cansada, exausta, pior do que estava no dia anterior, mas insistiu em ir trabalhar, mesmo contra a vontade de Do Jin que queria que ela ficasse em casa descansando. Entretanto, ela tinha que terminar o projeto para mandar ao Gil da empresa Bender e aquele contrato era importante para a Do Jin.

Na empresa, passaram quase todo o dia separados. Do Jin tinha um almoço marcado em outra empresa que queria comprar espaço em um dos shoppings da Do Jin, mas ele não a convidou como era de praxe, talvez pensasse que mais um almoço de negócios seria estressante para ela. Por isso, Anya resolveu almoçar com Beth.

O dia transcorreu sem maiores incidentes. O único problema era ensinar Rachel a escrever um relatório. Rachel tinha muitos problemas de escrita para uma pessoa com MBA, como ela dizia. Até Beth conseguia escrever melhor do que ela. Contudo Rachel se esforçava muito. Até fez uma agenda anotando tudo o que Anya dizia.

Quando já era seis horas da tarde, Do Jin surgiu em sua sala.

– Vamos, Anya? Já está tarde…

– Eu ainda tenho algumas coisas para fazer – respondeu ela.  Era verdade. Como havia passado a tarde auxiliando Rachel, ela não conseguiu terminar as pautas da reunião com a diretoria que havia no dia seguinte.

– O teu chefe está mandando você ir pra casa. Obedeça! – disse ele, com um sorriso. Ele parecia bem diferente do ar forçado do dia anterior.

– Mas… eu…

– Ah… menina teimosa! – disse ele, se aproximando dela, segurando o rosto dela em suas mãos. – Vamos pra casa, Anya… você precisa descansar…

– Eu estou bem, juro… – disse ela, arrumando sua mesa, mas Do Jin, a segurou pelo braço e praticamente a arrastou para fora.

– Se não obedece o teu chefe, obedece o teu marido… – disse ele, abraçando Anya em direção ao elevador.

Anya olhou para os lados, mas não havia ninguém na diretoria, então porque ele ainda fingia ser delicado com ela?

Mesmo depois no elevador, Do Jin manteve-se ao seu lado.

Quando a porta do elevador se abriu no estacionamento, Do Jin fez questão de enlaçar sua mão na sua e a guiou até o carro.

Ele abriu a porta do automóvel para ela, e deu a volta para entrar. Como ela se enrolou para colocar o cinto, ele puxou para ela e o encaixou no lugar. Estava tão próximo dela que ela não conseguiu resistir e segurou a respiração, o que não passou despercebido por ele.

– Fique calma, Anya, eu nem cheguei a tocar em você.

Do Jin ligou o carro e partiu com destreza, alcançando logo a rua. Na estrada, a chuva embaçava a visão o que deixou Anya um pouco tensa. Não conseguiu deixar de lembrar do acidente. Ela tentava inutilmente esquecer, mas algumas memórias invadiram sua mente.

– Tudo bem, Anya? Você parece um pouco nervosa… – disse ele, alternando entre olhar para e estrada e para ela. – Quer que eu pare… ?

– Tudo bem… está tudo bem… – disse ela, batendo o peito com a palma, como que para fazer o pulmão se controlar e respirar calmamente.

– Por que parece tão pálida, agora? Você está passando mal? – perguntou ele, genuinamente preocupado.

– Estava chovendo quando o acidente aconteceu.

Do Jin estacionou no meio fio de alguma rua e ligou o alerta.

– Você está bem? – disse ele, se aproximando dela. Apoiando uma mão em seu ombro.

– Desculpe… eu não queria ficar assim… eu só…  – disse ela, marejando os olhos. – Acho que estou sensível demais…

– Tudo bem, Anya… tudo bem… – disse ele, envolvendo-a em um abraço – Eu estou aqui… não precisa ficar com medo…

Anya recostou-se nos ombros de Do Jin enquanto se concentrava para controlar a sua respiração. Tinha medo de desmaiar. Tinha medo de chorar. Não queria mostrar-se tão fraca, mas as dores da perda de seu pai e do horror que viveu durante o acidente ainda eram muito fortes.

– Foi culpa minha… Foi culpa minha ele ter morrido… – ela disse, de repente. Nunca dissera isso a ninguém. No entanto, nos braços do seu marido, aquela declaração simplesmente brotara em seus lábios sem que pudesse se controlar.

– Anya… foi um acidente. E se alguém tem culpa, foi o motorista do caminhão, não você. – disse ele, enfaticamente.

– Fui eu, doutor. – disse ela, sentindo a voz embargada. – Meu pai estava me levando para a capital. Eu tinha desenvolvido um programa para a feira de ciências. Como eu passei na etapa regional, eu iria participar da estadual. Meu pai estava todo orgulhoso e insistiu em me levar. Minha mãe queria que eu fosse de ônibus. Meu pai estava doente já há algum tempo e ela não queria que ele fosse me levar. Os dois tiveram uma briga feia, mas eu não liguei. Queria ele comigo. Queria que ele estivesse lá comigo. E isso custou a vida do meu pai… Eu fui a culpada… Somente eu.

– Querida… não é culpa sua… – disse ele, em seus ouvidos.

Do Jin disse “querida” de modo tão suave que Anya o envolveu com os braços, adorando estar daquela forma com seu marido. Seu marido a chamando de querida.  Ela estava triste com a lembrança da perda de seu pai, mas sentia-se reconfortada por ter Do Jin ao seu lado. Ela não estava mais desamparada.

Os dois ficaram assim por um bom tempo, sem falar nada. Apenas escutavam a respiração um do outro e as gotas de chuva baterem contra o para-brisa.

Quando Do Jin viu que Anya parecia mais calma, resolveu ligar novamente o carro e seguiu viagem. Em pouco tempo, estavam no condomínio. Anya se sentia um pouco tonta quando o carro parou diante de casa de Do Jin e quando ele abriu a porta ela precisou se escorar nele para entrar em casa.

– Você está bem? Está com febre? – perguntou ele, colocando as costas da mão sobre a testa de Anya.

– Não… na verdade não. É só a síndrome de pânico. Eu vou ficar bem em alguns minutos.

Embora Anya estivesse melhor depois de um tempo, Do Jin continuou a mimá-la como nunca antes. Ele mandou que a governanta lhe preparasse uma sopa e forçou Anya a se alimentar, observando-a com cuidado durante o jantar.

– Estou bem, doutor… mesmo… – falou ela, depois de terminar a sopa. – A tontura já passou. Estou bem agora…

Como o celular de Do Jin começou a tocar, Anya achou que era a hora de subir. Ela tomou um banho quente e arrumou o sofá. Já estava se deitando quando Do Jin entrou no quarto.

– Você vai dormir comigo novamente, Anya… – disse ele, e entrou no banheiro.

Anya não sabia o que ele queria dizer com aquilo. Ela já estava bem para dormir no lugar que lhe pertencia e não queria aborrecê-lo dormindo ao seu lado.

Continuou no sofá e já estava quase conciliando o sono, quando se viu içada ao ar.

– Do Jin… – disse ela, quando ele a levantou nos braços.

– Eu falei que você iria dormir comigo. Não estou certo se você está bem ou não… prefiro que seja assim…

Ele a depositou na cama e a cobriu com a colcha. Depois, deu a volta na cama e deitou-se ao seu lado.

– Tudo certo? Você está se sentindo bem? – perguntou ele, cobrindo-se também com a colcha.

Anya sentiu a cocha de Do Jin, encostando-se na sua. Na noite anterior, ele fez questão de ficar bem longe, a não ser pela manhã quando a beijou, então por que agora se aproximara daquela forma?

– Estou bem… – respondeu ela, segurando a respiração. Cada toque de Do Jin, fazia seu corpo todo se arrepiar.

– Você parece pálida… – disse ele, tocando o seu rosto com a ponta dos dedos.

– Doutor… – disse ela, sentindo que explodiria se não dissesse o que havia em seu coração. – Se não for me amar, por favor, não me toque…

Do Jin parou de chofre ao escutar aquelas palavras e se afastou por alguns centímetros.

– Desculpe… – disse ele, parecendo sem graça – Eu… eu só… eu…

– Você… o quê, doutor? – disse ela, com um sorriso nos lábios. Ele parecia tenso. Era raro vê-lo, assim. Ele sempre parecia estar no controle da situação, enquanto ela era apenas um fantoche, mas naquele instante, naquele breve instante, ele parecia confuso e abalado.

– Eu não deveria fazer isso… – respondeu ele, com os olhos fixos nela e a respiração levemente alterada.

– Isso o quê? – perguntou ela.

Do Jin aproximou-se de Anya, passou a ponta dos dedos por seu rosto e então depositou um beijo sobre a cicatriz. Anya fechou os olhos, sentindo uma gota de lágrima escapar de seus olhos.

Ele afastou o rosto por um instante, mas depois se aproximou novamente e beijou seus olhos e secou a lágrima com o polegar.

– E se eu te amar, Anya…. posso te tocar? – perguntou ele, provocativo.

Anya abriu os olhos e balançou levemente a cabeça, dando-lhe o consentimento que ele queria.

Ela sentiu a mão de Do Jin em sua cintura, puxando-a levemente para ele. Depois disso, a mão dele subiu para suas costas e os dedos habilmente livraram-na do sutiã.

Ela suspirou pesadamente e arqueou levemente o corpo, desejando diminuir a distância entre seus corpos. O calor do corpo dele parecia atrair o seu. E enquanto ele deslizava a mão pela sua cintura, Anya deu-se o direito de abrir o pijama dele e espalmar seu peito. Queria escutar o som das batidas do coração de Do Jin.

– Por que mudou de ideia, doutor? – perguntou ela, com medo de continuar as carícias e ao mesmo tempo, ansiando por elas. – Pela manhã, você disse que não poderia me amar…

Ele se afastou um pouco dela, para contemplá-la e passou os dedos em seus cabelos.

– Eu sei que disse isso, mas não consigo mais resistir…  Você não é a única com suas batalhas internas… Não sabe o quanto eu tenho me refreado para não fazer amor com você. Eu não quero te machucar, Anya, mas já que estamos casados. Acho que não há problema se nós… nos amarmos… não é?

Anya sorriu. Era a primeira vez que Do Jin falava daquela maneira com ela.

– Você se sente atraído por mim, Do Jin? Apesar das minhas cicatrizes?

– Talvez por causa das suas cicatrizes, Anya. Não imagina o quanto você é única e especial. – disse ele, acariciando o lado direito de seu rosto, por sobre as marcas da dor que um dia sentiu ao ser esmagada por um caminhão. – Eu não queria isso. Não queria que nos envolvêssemos assim. Mas você já se apaixonou por mim. Agora é tarde demais…

Do Jin se apossou de seus lábios, enquanto suas mãos hábeis deslizaram pelo seu corpo, detiveram-se sobre seus seios por alguns segundos, fazendo pequenas carícias com o polegar.

Ela, atrevidamente, também aventurou suas mãos nas costas de Do Jin e afundou os dedos naqueles cabelos negros e sedosos.  

– Anya… – ele sussurrou no seu ouvido, beijando seu pescoço, enquanto sua mão a livrava da calcinha que ela vestia. – Não sabe o quanto eu te desejo, Anya…

– Eu te amo, Do Jin…

Ele parou imediatamente ao escutar aquela declaração. Ela mordeu os lábios, sem saber direito se o que fez foi bom ou ruim para aquele momento. Tinha medo de ser uma idiota para um amante experiente e perspicaz.

Ele a olhou por alguns segundos, seus olhos carregados com um estranho sentimento. Os olhos de Do Jin brilharam como se ele estivesse emocionado e ele novamente a beijou. Docemente, apaixonadamente.

– Minha doce esposa… – disse ele, com um sorriso, beijando as cicatrizes do seu ombro. – Minha doce e linda esposa…